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Empoderamento e direitos no combate à pobreza - ActionAid Brasil

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— ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTRATÉGIAS DE EMPODERAMENTO E DE DIREITOS —<br />

A abordagem processual ou generativa<br />

Em finais dos a<strong>no</strong>s 1970 e início dos 1980, <strong>no</strong>vos esforços analíticos apontam para <strong>no</strong>vas<br />

conceitualizações de poder. Focalizando em processos e não <strong>no</strong>s resultados, o poder pode assumir<br />

outras formas que, de maneira geral, podem ser descritas como poder para, poder com e poder<br />

de dentro, que levam <strong>à</strong> construção de outras perspectivas de empoderamento.<br />

Poder para não envolve necessariamente a dominação de alguém sobre outro, mas o poder<br />

é enfocado como um processo generativo que leva <strong>à</strong> realização de capacidades em outros<br />

(Hartsock). É o tipo de liderança que decorre do desejo de ver um grupo desenvolver suas capacidades,<br />

e onde não há necessariamente conflito de interesses.<br />

Foucault utiliza uma outra perspectiva de poder. Para ele o poder não é uma substância finita<br />

que pode ser alocada a pessoas ou grupos. Para Foucault, o poder é relacional, é algo que somente<br />

existe quando se usa, é constituído numa rede de relações sociais entre pessoas que têm algum<br />

grau mínimo de liberdade. Sem poder as relações não existiriam. Esta compreensão inclui a resistência<br />

como uma forma de poder (uma ação sobre outra ação), onde há poder há resistência.<br />

Foucault focaliza na micropolítica, <strong>no</strong> exercício do poder em pontos localizados e enraizados em<br />

redes sociais.<br />

Esta linha do movimento feminista constrói um modelo de poder tendo como base muito do<br />

modelo de Foucault, mas incorporando a análise das relações de gênero, o que incluiu a opressão<br />

internalizada percebida como sendo uma barreira ao exercício do poder por parte das mulheres e<br />

levando <strong>à</strong> manutenção das desigualdades com os homens.<br />

É importante diferenciar os vários tipos de exercício de poder. O poder sobre como controle<br />

que pode ser respondido com resistência ou aceitação. O poder para como um poder generativo<br />

ou produtivo que cria possibilidades e ações sem dominação. Pode-se também diferenciar o poder<br />

com, que envolve um sentido de que o todo é maior do que a soma das partes, especialmente<br />

quando um grupo enfrenta os problemas de maneira conjunta. A união faz a força. Muitas pessoas<br />

agindo juntas podem produzir mudanças mais facilmente. Há também o poder de dentro, que é<br />

a força espiritual que reside em cada um de nós e que <strong>no</strong>s faz huma<strong>no</strong>s – é a base da autoaceitação<br />

e do auto-respeito, que por sua vez significa o respeito e aceitação dos outros como<br />

iguais. Este poder pode permitir que uma pessoa mantenha uma posição ainda que a grande<br />

maioria possa estar contra.<br />

<strong>Empoderamento</strong> não é somente o resultado de se alcançar o poder sobre, mas pode ser<br />

também o desenvolvimento de poder para, poder com ou poder de dentro. Estes tipos de poder<br />

não são finitos (com princípio e fim), mas ele pode crescer com o seu exercício. Um grupo<br />

exercendo estes poderes não necessariamente reduz o poder dos outros.<br />

Nesta perspectiva de empoderamento, a compreensão da dominação está associada <strong>à</strong>s relações<br />

de poder, que são múltiplas e estão profundamente enraizadas em sistemas de redes sociais.<br />

O empoderamento de pessoas ou grupos nesta perspectiva não implica necessariamente a perda<br />

de poder de outros, embora implique mudanças que podem levar a que isso possa ocorrer.<br />

Então, temos várias possibilidades de empoderamento, processos que levam os grupos a<br />

posições de poder sobre, mas também a possibilidade de exercício de poder generativo. Como isto se<br />

relaciona com o processo histórico do empoderamento das mulheres?<br />

“Poder com”, “poder de dentro” ou “poder para” levam a uma conceitualização de empoderamento<br />

bastante diferente. Aqui a <strong>no</strong>ção de poder privilegia a capacidade do ser huma<strong>no</strong> de<br />

expressão e ação, a capacidade de realização do ser, sua liberdade de expressão.<br />

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