conto crônica poema coelho de moraes 1 - Página de Ideias
conto crônica poema coelho de moraes 1 - Página de Ideias
conto crônica poema coelho de moraes 1 - Página de Ideias
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>conto</strong> <strong>crônica</strong> <strong>poema</strong> <strong>coelho</strong> <strong>de</strong> <strong>moraes</strong><br />
“Eu não posso”, Martes retorquiu cuidadoso, “eu não posso. Já percebo que a mandrágora<br />
está plantada em algum chão da campina, mas eu não posso.”<br />
“Po<strong>de</strong> sim.”<br />
**<br />
Na manhã seguinte Abigail está diferente. Talvez grávida. Está diferente. Mãe naquela mesma<br />
noite. É o sangue do meio-dia. Lembra Rama e Sita e a queda da montanha, ainda virgem e<br />
solene. Naquele meio-dia há muito aroma e sombras, há sabores acres e a busca pelo vinho<br />
medicamentoso. O Ramayana <strong>de</strong>sdobrado em pétalas.<br />
O fato é que Abigail transcen<strong>de</strong> mirra e canela e parece haver dormitado sobre esses incensos<br />
durante meses. Há tanto óleo <strong>de</strong> mirra que parece suficiente para três cadáveres.<br />
Ela, já mãe enternecida, e Martes, se encaminham para o poente, numa caravana <strong>de</strong><br />
camelos ordinários, pensando na vida que se abre entre o odor insípido <strong>de</strong> lírios flutuantes e o<br />
amaro rancoroso do aloé que a cada <strong>de</strong>z anos dará sua flor.<br />
Lembra cuidadoso... a cada <strong>de</strong>z anos, não menos.<br />
40