Modelagem matemática no futebol - Programa de Pós-Graduação ...
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FUTEBOL: ENTRAM EM CAMPO A<br />
MODELAGEM MATEMÁTICA E O MÉTODO<br />
DO CASO.<br />
CÉLIO ROBERTO MELILLO<br />
OURO PRETO, 2011<br />
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA
CARTA DE APRESENTAÇÃO<br />
Caro(a) leitor(a);<br />
Este material chega até você como produto educacional, gerado a partir <strong>de</strong> uma<br />
pesquisa <strong>de</strong> Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />
<strong>de</strong> Ouro Preto – UFOP. Tal pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida sob a orientação do Prof. Dr. Dale<br />
Bean, e a dissertação completa po<strong>de</strong>rá ser obtida na página do programa.<br />
Nosso intuito é oferecer, ao professor em exercício, uma sugestão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong>, conduzida pelo método do caso, <strong>de</strong>ixando-a aberta para<br />
adaptações e, principalmente, <strong>de</strong>sejando que sirva <strong>de</strong> inspiração para a criação <strong>de</strong><br />
outras ativida<strong>de</strong>s, a<strong>de</strong>quadas a condições institucionais <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> espaço, e<br />
ajustadas a diferentes aptidões e anseios <strong>de</strong> professores e alu<strong>no</strong>s.<br />
A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> aqui apresentada consiste em uma situação<br />
em que os alu<strong>no</strong>s são encarregados <strong>de</strong> construir mo<strong>de</strong>los matemáticos que atribuam<br />
probabilida<strong>de</strong>s a resultados <strong>de</strong> jogos <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>. Em tor<strong>no</strong> do tema, surgem condições<br />
apropriadas para discussões que extrapolam a natureza da previsão <strong>de</strong> resultados,<br />
como o mercado <strong>de</strong> apostas em eventos esportivos e a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong><br />
subjetiva, ainda não contemplada na maioria dos livros didáticos <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso<br />
conhecimento.<br />
Ao longo <strong>de</strong>ste texto, <strong>de</strong>screveremos o que <strong>no</strong>s levou à elaboração <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> e o<br />
porquê <strong>de</strong> acreditarmos em sua a<strong>de</strong>quação a <strong>no</strong>ssos propósitos educacionais que, em<br />
linhas gerais, consistem na aproximação entre atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>ntro e fora da<br />
escola – reflexão, argumentação, formulação <strong>de</strong> hipóteses, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgamento,<br />
entre outras competências que acreditamos serem benéficas para a formação do<br />
indivíduo.<br />
Faremos uma caracterização do método do caso, levantando algumas <strong>de</strong> suas<br />
potencialida<strong>de</strong>s e limitações. Traremos uma <strong>de</strong>scrição do <strong>de</strong>senvolvimento e aspectos<br />
da realização da ativida<strong>de</strong>, incluindo fontes <strong>de</strong> consulta para o enriquecimento e,<br />
finalmente, faremos algumas pon<strong>de</strong>rações pertinentes à avaliação da ativida<strong>de</strong>.<br />
Célio Melillo
SUMÁRIO<br />
1. RESGATANDO A FONTE DE INSPIRAÇÃO....................................................... 05<br />
2. A IDEIA DE MODELAGEM E PROBABILIDADE SUBJETIVA NO FUTEBOL........... 07<br />
3. EXPLICITANDO OS OBJETIVOS DE NOSSA ATIVIDADE.................................... 10<br />
4. A EDUCAÇÂO CONCEBIDA POR JOHN DEWEY: a “escola <strong>de</strong> Dewey............... 11<br />
5. A ATIVIDADE DE MODELAGEM NO FUTEBOL ENCAMINHADA PELO<br />
MÉTODO DO CASO ...................................................................................<br />
5.1. Parte 1: Probabilida<strong>de</strong> subjetiva e a problematização................................ 19<br />
5.2. Parte 2: <strong>Mo<strong>de</strong>lagem</strong> <strong>matemática</strong>................................................................ 24<br />
5.3. A construção <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso mo<strong>de</strong>lo ilustrativo.................................................. 29<br />
CONSIDERAÇÕES.................................................................................................<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 43<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
1. RESGATANDO A FONTE DE INSPIRAÇÃO<br />
“Os homens ainda querem o apoio do dogma, das crenças<br />
impostas pela autorida<strong>de</strong>, para se livrarem do embaraço <strong>de</strong> ter<br />
<strong>de</strong> pensar e da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dirigir sua ativida<strong>de</strong> pela<br />
reflexão” (John Dewey).<br />
Dewey enunciou há décadas o que <strong>no</strong>s parece absolutamente atual, pelo<br />
me<strong>no</strong>s <strong>no</strong> que concerne à atitu<strong>de</strong> dos estudantes <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula.<br />
I<strong>de</strong>ntificamos, entre <strong>no</strong>ssos alu<strong>no</strong>s, uma vonta<strong>de</strong> latente <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar em seu grupo<br />
social, seja pelo modo <strong>de</strong> agir, <strong>de</strong> falar, <strong>de</strong> se vestir ou, inclusive, <strong>de</strong> pensar. Contudo,<br />
essa vonta<strong>de</strong> parece per<strong>de</strong>r força durante as ativida<strong>de</strong>s escolares. Ainda que alguns<br />
estudantes – aqueles rotulados como “alu<strong>no</strong>s interessados” – apresentem uma<br />
motivação intrínseca para propor/expor soluções alternativas, levantar hipóteses,<br />
questionar as sugestões do professor, sentimos que o alu<strong>no</strong> padrão é aquele que vê a<br />
ativida<strong>de</strong>, em sala <strong>de</strong> aula, como mera preparação para a prova, sem significado em<br />
sua plena formação como ser huma<strong>no</strong>. Não é raro ouvirmos frases vindas <strong>de</strong>sses<br />
estudantes, como: “professor... estou com preguiça <strong>de</strong> pensar...” ou “não dá pra<br />
passar uma fórmula que serve sempre?” ou, ainda, “não explique <strong>de</strong> duas formas<br />
senão eu fico confuso”.<br />
Esse sentimento <strong>no</strong>s motiva a (re)pensar <strong>no</strong>ssa prática, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> propor<br />
conteúdos e métodos <strong>de</strong> estudo que interessem ao alu<strong>no</strong> e ao professor, e que<br />
contribuam para a integração dos estudantes à socieda<strong>de</strong>, por meio <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong><br />
crítica e <strong>de</strong> um posicionamento lúcido e produtivo diante <strong>de</strong> situações in<strong>de</strong>terminadas<br />
do dia-a-dia. Queremos convidar o estudante a conjecturar, analisar, pon<strong>de</strong>rar,<br />
argumentar, avaliar, enfim, a pensar!<br />
O gosto pessoal pelo <strong>futebol</strong> já me fez pensar, durante muito tempo, que<br />
<strong>de</strong>veria existir uma maneira <strong>de</strong> aliar o assunto, para mim tão prazeroso, aos objetivos<br />
<strong>de</strong> minha prática docente. Tais objetivos eram claros para mim, embora nunca os<br />
tivesse sistematizado, o que veio a acontecer neste programa <strong>de</strong> Mestrado<br />
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6 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
Profissional. Dentre eles, sempre se <strong>de</strong>stacou a minha busca pela realização <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s que proporcionassem o maior envolvimento possível dos alu<strong>no</strong>s. Sempre<br />
tive a convicção <strong>de</strong> que, com o alu<strong>no</strong> verda<strong>de</strong>iramente envolvido numa ativida<strong>de</strong>, o<br />
ambiente escolar torna-se favorável ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> diversas competências.<br />
Acreditava (e acredito cada vez mais) que, em condições emocionais positivas,<br />
aumentam-se as chances <strong>de</strong> obter êxito <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>. O conteúdo abordado passa a ter<br />
sentido; a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma tarefa <strong>de</strong>sagradável a ser cumprida; os<br />
estudantes assumem papel <strong>de</strong> protagonistas e suas ações ten<strong>de</strong>m a ser coor<strong>de</strong>nadas<br />
na solução <strong>de</strong> um problema encarado como legítimo.<br />
Não é raro percebermos, na prática docente, uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> inércia dos<br />
estudantes. Isso <strong>no</strong>s preocupa e caminha em direção oposta ao que enten<strong>de</strong>mos como<br />
objetivo da educação. Atribuir a causa <strong>de</strong>sse problema (pelo me<strong>no</strong>s, assim<br />
enten<strong>de</strong>mos essa situação) exclusivamente aos próprios alu<strong>no</strong>s beiraria a uma atitu<strong>de</strong><br />
hipócrita. Se as ativida<strong>de</strong>s propostas pela escola, pela mediação do professor, não<br />
encontram ressonância nas atitu<strong>de</strong>s dos alu<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>vemos questionar o método e,<br />
sobretudo, o que vem antes <strong>de</strong>le: <strong>no</strong>ssas concepções sobre educação e o papel da<br />
escola na formação do indivíduo e, consequentemente, a influência disso na vida<br />
social, extra-escolar.<br />
Em algumas experiências realizadas em sala <strong>de</strong> aula – umas bem sucedidas,<br />
outras, nem tanto – tentei usar vários contextos como tema dos estudos, sejam temas<br />
abstratos e que estimulam o raciocínio lógico e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> argumentação, sejam<br />
temas do cotidia<strong>no</strong>, como epi<strong>de</strong>mias, racismo, eco<strong>no</strong>mia, entre outros que aproximam<br />
as reflexões e as atitu<strong>de</strong>s, na escola, do uso, <strong>no</strong> dia-a-dia, pelos alu<strong>no</strong>s. Em particular,<br />
em aulas sobre cálculo combinatório e probabilida<strong>de</strong>s, eu costumava utilizar como<br />
contexto os jogos com cartas, dados, moedas, etc., com avaliação positiva do efeito<br />
<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> trabalho.<br />
Sempre me interessei por prognósticos e discussões sobre <strong>futebol</strong>. Em<br />
particular, as probabilida<strong>de</strong>s anunciadas na mídia, atribuindo mais ou me<strong>no</strong>s chances<br />
<strong>de</strong> sucesso para meu clube <strong>de</strong> coração, mexem com meu humor e aguçam minha<br />
curiosida<strong>de</strong>. Inclusive, é comum respon<strong>de</strong>r a meus alu<strong>no</strong>s perguntas sobre tais<br />
números: “Como são calculadas essas chances?” ou “Você concorda com a<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal time ser campeão?”. Esses momentos eram <strong>de</strong> pura<br />
<strong>de</strong>scontração. Respondia aos alu<strong>no</strong>s o que eu pensava e “encerrava o assunto”.<br />
Ironicamente, nunca havia passado por minha cabeça a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> trazer esse tema para<br />
a sala <strong>de</strong> aula, como objeto <strong>de</strong> estudo, até que comecei a assimilar i<strong>de</strong>ias sobre<br />
mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> – que, em <strong>no</strong>sso caso, parte <strong>de</strong> uma premissa, levantando<br />
aspectos e formulando pressupostos (MELILLO e BEAN, 2011). Na mesma época, fui<br />
“apresentado” à <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> subjetiva, a qual será <strong>de</strong>finida com maiores<br />
<strong>de</strong>talhes mais adiante. A partir daí, a tarefa passou a ser: <strong>de</strong>senvolver uma ativida<strong>de</strong><br />
envolvendo mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> <strong>no</strong> <strong>futebol</strong>, <strong>de</strong> modo a contribuir com a prática <strong>de</strong><br />
quem se interesse pelo assunto, ou ainda, inspirar a adaptação <strong>de</strong>sta ou a criação <strong>de</strong><br />
outras ativida<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas às condições e aos objetivos <strong>de</strong> outros educadores. Tal<br />
ativida<strong>de</strong> consistiria na construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los matemáticos, por parte dos alu<strong>no</strong>s,<br />
capazes <strong>de</strong> atribuir probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resultados em jogos <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>.<br />
2. A IDEIA DE MODELAGEM E PROBABILIDADE SUBJETIVA NO FUTEBOL<br />
Ao planejar como po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem<br />
<strong>matemática</strong> <strong>no</strong> <strong>futebol</strong>, levantamos questões relativas a este planejamento. Chegamos<br />
à conclusão que seria necessário construirmos um mo<strong>de</strong>lo que <strong>no</strong>s permitisse<br />
antecipar situações que ocorreriam ao longo da mo<strong>de</strong>lagem. Antes disso, <strong>de</strong>finimos<br />
que os resultados pretendidos seriam expressos em probabilida<strong>de</strong>s atribuídas, levando<br />
em consi<strong>de</strong>ração o julgamento pessoal dos mo<strong>de</strong>ladores.<br />
Muitas das <strong>no</strong>ssas atitu<strong>de</strong>s, <strong>no</strong> dia-a-dia, são tomadas com base em crenças e<br />
expectativas pessoais quanto à ocorrência <strong>de</strong> certos eventos. Quantificar essas<br />
crenças, em termos <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s, conduzem a uma <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> que,<br />
embora possua aplicação em diversas áreas da ativida<strong>de</strong> humana, não costuma ser<br />
contemplada pelos livros didáticos <strong>de</strong> Matemática: a probabilida<strong>de</strong> subjetiva.<br />
Pensamos que a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> <strong>no</strong> <strong>futebol</strong> seria uma oportunida<strong>de</strong> ímpar <strong>de</strong><br />
trazer essa <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> para a sala <strong>de</strong> aula. Não vemos outra maneira <strong>de</strong><br />
quantificar as chances <strong>de</strong> resultados, em jogos <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>, que não seja com a<br />
presença das crenças pessoais, da intuição, da subjetivida<strong>de</strong>.<br />
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A mo<strong>de</strong>lagem que vislumbramos consistiria na adoção <strong>de</strong> uma premissa (uma<br />
i<strong>de</strong>ia mais geral que <strong>no</strong>rteia o pensamento dos estudantes), seguida do levantamento<br />
<strong>de</strong> aspectos (aquilo que influencia o resultado <strong>de</strong> um jogo, <strong>no</strong> caso da mo<strong>de</strong>lagem <strong>no</strong><br />
<strong>futebol</strong>) e da formulação <strong>de</strong> pressupostos (consi<strong>de</strong>rações feitas pelos alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> como<br />
os aspectos levantados exercem influência).<br />
Como exemplo do ponto <strong>de</strong> chegada que preten<strong>de</strong>mos para os estudantes, a<br />
tabela a seguir (tabela 1) mostra probabilida<strong>de</strong>s atribuídas para a 22ª rodada do<br />
campeonato brasileiro do a<strong>no</strong> 2010, fruto <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>lagem <strong>no</strong>ssa (MELILLO e BEAN,<br />
2011) antes <strong>de</strong> levar a ativida<strong>de</strong> à sala <strong>de</strong> aula.<br />
Tabela 1: Nossas probabilida<strong>de</strong>s subjetivas para a 22ª<br />
rodada do campeonato brasileiro <strong>de</strong> 2010 (valores<br />
percentuais arredondados).<br />
Vejamos as probabilida<strong>de</strong>s que essa mo<strong>de</strong>lagem gerou, como percentuais, para<br />
os resultados <strong>no</strong>s jogos: a coluna indicada por m é o percentual <strong>de</strong> chance <strong>de</strong> vitória<br />
do mandante, e é o percentual <strong>de</strong> chance <strong>de</strong> empate e v é o percentual <strong>de</strong> chance <strong>de</strong><br />
vitória do visitante. A mo<strong>de</strong>lagem, para se chegar às porcentagens, partiu da premissa:<br />
À expectativa sobre o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um time <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>,<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
em uma partida, quanto ao resultado final (vitória, empate<br />
ou <strong>de</strong>rrota) po<strong>de</strong> ser atribuída uma probabilida<strong>de</strong>, a partir<br />
<strong>de</strong> aspectos consi<strong>de</strong>rados relevantes levantados antes do<br />
início da partida.<br />
Foi a partir <strong>de</strong>ssa premissa que levantamos aspectos como, por exemplo, o<br />
mando <strong>de</strong> campo. Em <strong>no</strong>ssa mo<strong>de</strong>lagem, pressupusemos que o time mandante tem<br />
vantagem. Mais ainda, que certos times têm vantagem mais significativa que outros,<br />
ao jogar <strong>no</strong> próprio campo. Essa diferenciação advém do fato <strong>de</strong> que cada time tira<br />
proveito do fato <strong>de</strong> jogar em casa <strong>de</strong> maneira diferente. Quanto melhor é o<br />
<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um time, <strong>no</strong>s jogos anteriores em seus domínios, maior será a<br />
vantagem esperada para esse time, ao ser mandante dos jogos seguintes.<br />
A matematização dos pressupostos formulados na mo<strong>de</strong>lagem foi feita por<br />
meio da criação <strong>de</strong> fatores. O fator campo, indicado por c, por exemplo, foi subdividido<br />
em dois valores: cm é o fator campo <strong>no</strong> caso do time em questão ser o mandante, e cv,<br />
<strong>no</strong> caso em que este for o visitante. Quantificamos (ou matematizamos) esse fator,<br />
pensando em <strong>no</strong>sso eventual mo<strong>de</strong>lo que <strong>de</strong>veria atribuir probabilida<strong>de</strong>s (ver valores<br />
na tabela 1) aos resultados possíveis (vitória mandante, empate, vitória visitante). Para<br />
isso, <strong>de</strong>cidimos que, se um time jogará em seus próprios domínios (time mandante),<br />
<strong>de</strong>finimos cm como a média <strong>de</strong> pontos obtida 1 em cada jogo por esse time, até então,<br />
<strong>no</strong>s jogos que realizou em casa. A escolha <strong>de</strong>sse método <strong>de</strong> cálculo do fator cm advém<br />
da crença <strong>de</strong> que tal média expressa a<strong>de</strong>quadamente esse fator. 2 De forma análoga ao<br />
pressuposto para o time mandante, foi atribuído para o visitante um fator campo cv,<br />
dado pela média <strong>de</strong> pontos por jogo que o time obteve, quando jogou nessa mesma<br />
condição. Desse modo, a cada time foram atribuídos dois fatores campo, um como<br />
mandante e o outro como visitante. Em cada rodada, apenas um <strong>de</strong>sses fatores será<br />
efetivamente consi<strong>de</strong>rado, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do local on<strong>de</strong> o jogo será realizado.<br />
1 Para classificação <strong>no</strong> campeonato são atribuídos pontos para os times, com base <strong>no</strong>s resultados <strong>de</strong><br />
cada jogo (vitória: 3, empate: 1 e <strong>de</strong>rrota: 0).<br />
2 Salientamos que um pressuposto po<strong>de</strong> admitir matematizações diferentes. Exemplificando: o cálculo<br />
do fator cm po<strong>de</strong>ria ser realizado utilizando a pontuação mais frequente quando o time joga em casa<br />
(moda) ou ainda, a média <strong>de</strong> gols por jogo, quando o time joga em casa.<br />
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Assim como o fator c, foram criados outros fatores em <strong>no</strong>ssa mo<strong>de</strong>lagem<br />
ilustrativa, e a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vitória <strong>de</strong> cada time foi concebida relacionando-se a<br />
média pon<strong>de</strong>rada <strong>de</strong>sses fatores com a média pon<strong>de</strong>rada dos fatores do time<br />
adversário. A atribuição <strong>de</strong> pesos na média pon<strong>de</strong>rada foi <strong>de</strong>finida com base em<br />
crenças e experiências <strong>no</strong>ssas. Isso significa subjetivida<strong>de</strong> embutida nas <strong>de</strong>cisões e<br />
matematizações, gerando a tabela <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s subjetivas.<br />
Para analisar a situação e chegar a conceituações e matematizações, como as<br />
que acabamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver, esperamos que o alu<strong>no</strong> formule justificativas, seja capaz<br />
<strong>de</strong> argumentar, <strong>de</strong> forma consistente, para <strong>de</strong>stacar suas opiniões, tenha a criativida<strong>de</strong><br />
aguçada e o olhar crítico necessário para testar suas próprias conjecturas, reforçando<br />
ou <strong>de</strong>scartando crenças e avaliando os resultados obtidos – <strong>no</strong> caso da mo<strong>de</strong>lagem,<br />
testando a a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> seus mo<strong>de</strong>los.<br />
Voltaremos com a <strong>de</strong>scrição da mo<strong>de</strong>lagem, após <strong>de</strong>linear <strong>no</strong>ssos objetivos<br />
educacionais para a ativida<strong>de</strong>, situá-la em uma concepção <strong>de</strong> educação e fazer a<br />
escolha <strong>de</strong> um método para conduzi-la.<br />
3. EXPLICITANDO OS OBJETIVOS DE NOSSA ATIVIDADE<br />
Até agora, falamos em objetivos ou propósitos educacionais, <strong>de</strong> maneira geral.<br />
A seguir, enumeramos os objetivos da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> <strong>no</strong> <strong>futebol</strong><br />
que concebemos<br />
I) diminuir o distanciamento entre a maneira <strong>de</strong> se agir e pensar, <strong>no</strong>s problemas<br />
propostos em sala <strong>de</strong> aula, com o modo <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões em situações extra-<br />
escolares;<br />
II) fortalecer a capacida<strong>de</strong> dos alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> argumentar, formular i<strong>de</strong>ias-guia, justificar e<br />
testar suas conjecturas por meio <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong>, a partir<br />
da adoção <strong>de</strong> premissas e formulação <strong>de</strong> pressupostos; e<br />
III) criar uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
matemáticos, trabalhando o pensamento, a linguagem, e conceitos matemáticos<br />
diversos.<br />
Os objetivos listados foram estipulados para a <strong>no</strong>ssa ativida<strong>de</strong> específica,<br />
porém os consi<strong>de</strong>ramos pertinentes a uma visão mais global <strong>de</strong> educação, que<br />
chamaremos <strong>de</strong> “escola <strong>de</strong> Dewey”.<br />
4. A EDUCAÇÃO CONCEBIDA POR JOHN DEWEY: a “escola <strong>de</strong> Dewey”<br />
Dewey <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a chamada “educação progressiva” que é uma “reorganização<br />
ou reconstrução da experiência, que esclarece e aumenta o sentido <strong>de</strong>sta e também a<br />
<strong>no</strong>ssa aptidão para dirigir o curso das experiências subsequentes” (DEWEY, 1979, p. 83,<br />
grifo do autor). Assim acreditamos que se <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r a educação, promovendo a<br />
aquisição da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reorganizar atos e pensamentos, <strong>de</strong> forma a melhorar a<br />
qualida<strong>de</strong> da relação entre o indivíduo e o mundo em que este se situa. Um elemento<br />
importante para que a educação cumpra tal papel é a atitu<strong>de</strong> mental dos alu<strong>no</strong>s<br />
apresentar o pensamento reflexivo, “espécie <strong>de</strong> pensamento que consiste em<br />
examinar mentalmente o assunto e lhe dar consi<strong>de</strong>ração séria e consecutiva”. (DEWEY,<br />
1959, p. 13).<br />
Dewey (1979) apresenta a <strong>de</strong>finição etimológica da palavra educação como o<br />
processo <strong>de</strong> dirigir, <strong>de</strong> conduzir, <strong>de</strong> elevar. Devemos tomar cuidado com a<br />
interpretação do sentido <strong>de</strong> palavras como conduzir, dirigir. Por um lado, essas<br />
palavras carregam uma co<strong>no</strong>tação <strong>de</strong> manipulação, <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> métodos. Por outro<br />
lado – o que queremos apontar – significam orientar, não <strong>de</strong>ixar sem algum rumo. Um<br />
navegador po<strong>de</strong> utilizar-se das estrelas <strong>no</strong> céu para orientar sua viagem e atingir seus<br />
objetivos, e isso não quer dizer que uma estrela seja capaz <strong>de</strong> mudar a direção do<br />
barco e <strong>de</strong>finir o caminho que o navegador irá seguir.<br />
As ativida<strong>de</strong>s em sala <strong>de</strong> aula, como enten<strong>de</strong>mos, <strong>de</strong>vem estimular hábitos<br />
ativos que, para Dewey, “subenten<strong>de</strong>m reflexão, investigação e iniciativa para dirigir as<br />
aptidões a <strong>no</strong>vos fins” (1979, p.57). Nesse caminho, Dewey afirma que o “objetivo da<br />
educação é habilitar os indivíduos a continuar a sua educação” (p. 108). Dessa<br />
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afirmação, enten<strong>de</strong>mos que a educação começa <strong>no</strong> dia em que nascemos e dura<br />
enquanto <strong>no</strong>ssos sentidos forem capazes <strong>de</strong> receber qualquer estímulo. A fase escolar<br />
é quando estamos submetidos a condições que proporcionam – ou pelo me<strong>no</strong>s,<br />
<strong>de</strong>veriam proporcionar – uma ampliação na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvermos uma<br />
relação harmoniosa com as coisas, os indivíduos e as emoções.<br />
Para que a escola cumpra o ambicioso objetivo <strong>de</strong> “ensinar a apren<strong>de</strong>r”, <strong>no</strong><br />
sentido <strong>de</strong>scrito anteriormente, <strong>de</strong>vem-se promover ativida<strong>de</strong>s na quais o estudante<br />
seja o ator principal do processo. Despertar o interesse do alu<strong>no</strong>, <strong>de</strong>safiá-lo, motivá-lo<br />
a resolver uma situação problemática. Não esperamos encontrar pessoa engajada <strong>no</strong><br />
processo educativo, a quem tais situações não seriam bem-vindas. Entretanto,<br />
reconhecemos, em <strong>no</strong>ssa prática, um domínio in<strong>de</strong>sejável <strong>de</strong> práticas engessadas<br />
sobre as práticas flexíveis: das listas <strong>de</strong> exercícios sobre os verda<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>safios ao<br />
intelecto; das respostas exatas sobre a apreciação <strong>de</strong> hipóteses alternativas; da<br />
autorida<strong>de</strong> sobre a auto<strong>no</strong>mia.<br />
A análise dos resultados <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa ativida<strong>de</strong> em sala <strong>de</strong> aula apontou para uma<br />
atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> constante indagação por parte dos alu<strong>no</strong>s participantes. A incerteza<br />
subjacente ao material <strong>de</strong> estudo (resultados <strong>de</strong> jogos <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>) fez com que os<br />
alu<strong>no</strong>s não conseguissem chegar a conclusões estáveis. Com esse caráter da ativida<strong>de</strong>,<br />
os alu<strong>no</strong>s foram conduzidos a uma constante busca por informações, <strong>de</strong> modo a<br />
refinar suas conjecturas e a própria capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliá-las.<br />
O cuidado para formular e julgar conjecturas é uma característica saudável do<br />
ato <strong>de</strong> pensar. Acreditamos que a escola tem o papel primordial, além <strong>de</strong> árduo e<br />
controverso, <strong>de</strong> “ensinar a pensar”. Primordial <strong>no</strong> sentido em que as atitu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntro e<br />
fora da escola, serão mais ou me<strong>no</strong>s qualificadas quanto for o indivíduo apto a pensar.<br />
Árduo, pois o hábito <strong>de</strong> pensar não po<strong>de</strong> ser imposto, nem mesmo conseguido<br />
mediante avisos ou conselhos. Controverso, pois, ao assumir que ensinar a pensar é o<br />
papel da escola, faz-se necessário <strong>de</strong>clarar o que enten<strong>de</strong>mos por pensar.<br />
Dewey (1979, p. 165) afirma que<br />
Pensar é o ato cuidadoso e <strong>de</strong>liberado <strong>de</strong> estabelecer relações entre<br />
aquilo que se faz e suas consequências. Por ele <strong>no</strong>ta-se não somente<br />
que estas coisas estão relacionadas, como também as<br />
particularida<strong>de</strong>s da sua associação. [...] Aparece o estímulo ao ato <strong>de</strong><br />
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pensar quando queremos <strong>de</strong>terminar a significação <strong>de</strong> algum ato<br />
realizado ou a realizar-se. Pelo pensamento nós prevemos as<br />
consequências. Isto subenten<strong>de</strong> que a situação do modo que ela é,<br />
quer por si mesma, quer para nós, é incompleta e, por isso,<br />
in<strong>de</strong>terminada. A antevisão <strong>de</strong> consequências significa uma solução<br />
proposta ou tentada. Para se aperfeiçoar esta hipótese, <strong>de</strong>vem ser<br />
cuidadosamente analisados as condições existentes e o conteúdo da<br />
hipótese adotada. Então a solução sugerida – a i<strong>de</strong>ia ou teoria tem <strong>de</strong><br />
ser posta em prova, proce<strong>de</strong>ndo-se <strong>de</strong> acordo com ela. [...] O ato <strong>de</strong><br />
pensar implica todos estes atos – a consciência <strong>de</strong> um problema, a<br />
observação das condições, a formação e a elaboração racional <strong>de</strong><br />
uma conclusão hipotética e o ato <strong>de</strong> a pôr experimentalmente em<br />
prova.<br />
Po<strong>de</strong>mos extrair da citação que o ato <strong>de</strong> pensar não se limita a uma i<strong>de</strong>ia que<br />
vem à mente, uma intuição ou impulso aleatório <strong>de</strong> se tentar uma solução para um<br />
problema, assim como um amontoado <strong>de</strong> ingredientes não necessariamente levarão à<br />
produção <strong>de</strong> um prato saboroso. Não que tais i<strong>de</strong>ias, que “surgem” <strong>de</strong> repente, não<br />
tenham valor na formação do hábito <strong>de</strong> pensar, mas é que esse hábito não po<strong>de</strong> se<br />
reduzir a pensamentos <strong>de</strong>sconexos. Isso quer dizer que, para se pensar<br />
reflexivamente, a conexão entre as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>ve ser intencional e coor<strong>de</strong>nada.<br />
Contudo, pouco ou nada adiantariam os esforços <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> estimular o<br />
pensamento – mais especificamente, o pensamento reflexivo – se este movimento for<br />
unidirecional, <strong>no</strong> sentido professor-alu<strong>no</strong>. É preciso que o alu<strong>no</strong> sinta-se<br />
verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>safiado e interessado em solucionar um problema para provocar a<br />
imersão <strong>de</strong>ste <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> reflexão. O combustível da reflexão é a dúvida. A chama<br />
que acen<strong>de</strong> esse combustível é o interesse pelo problema.<br />
Dewey (1979) acentua a importância <strong>de</strong> se prolongar o estado <strong>de</strong> dúvida. De<br />
fato, se não há dúvida, não há problema; se não há problema, não há o que investigar,<br />
procurar, buscar, enfim, não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer. Assim, concordamos com<br />
Dewey, quando ele atribui ao interesse do estudante pelo problema um papel<br />
fundamental para o encaminhamento da ativida<strong>de</strong>. O autor enumera as acepções mais<br />
comumente usadas para a palavra interesse: I) Interesse pela ativida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rada<br />
em seu todo; II) Os resultados objetivos previstos e <strong>de</strong>sejados; e III) A pessoal<br />
propensão emocional. (p. 138).<br />
O interesse do alu<strong>no</strong> por uma situação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, em certa medida, da maneira<br />
UFOP – 2011<br />
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14 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
pela qual esta situação lhe é apresentada. Cabe ao educador uma postura <strong>de</strong> utilizar<br />
temas e métodos que <strong>de</strong>spertem e/ou mantenham o interesse do alu<strong>no</strong> sempre vivo,<br />
para que este assuma constante posição ativa e indagadora. Mais adiante,<br />
abordaremos como o método do caso, na fase <strong>de</strong> narração e problematização, po<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>spertar interesse para os estudantes.<br />
Assim, concluímos, a respeito <strong>de</strong> um papel da escola, que esta <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>dicar-se<br />
a formar um indivíduo pessoal e socialmente apto a assumir uma posição reflexiva e<br />
crítica perante as situações que lhe são apresentadas. Mas isso é pouco. Para que a<br />
escola realmente cumpra o proposto, <strong>de</strong>ve-se ampliar essa discussão para a escolha <strong>de</strong><br />
métodos e conteúdos. Acreditamos que o método, o objeto <strong>de</strong> estudo e as concepções<br />
<strong>de</strong> educação <strong>de</strong>vem estar integrados para que se aumente a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se obter<br />
os resultados <strong>de</strong>sejados.<br />
Buscamos, a partir das i<strong>de</strong>ias expostas, elaborar uma ativida<strong>de</strong> com potencial<br />
para cumprir, ainda que em parte, cinco condições enumeradas por Anísio Teixeira <strong>no</strong><br />
prefácio <strong>de</strong> Dewey (1967):<br />
1. Só se apren<strong>de</strong> o que se pratica. – Seja uma habilida<strong>de</strong>, seja uma<br />
i<strong>de</strong>ia, seja um controle emocional, seja uma atitu<strong>de</strong> ou uma<br />
apreciação, só as apren<strong>de</strong>mos se as praticamos. [...];<br />
2. Mas não basta praticar. – A intenção <strong>de</strong> quem vai apren<strong>de</strong>r tem<br />
singular importância. [...] Não posso adquirir um <strong>no</strong>vo modo <strong>de</strong> agir,<br />
se não tenho a intenção <strong>de</strong> adquiri-lo.[...];<br />
3. Apren<strong>de</strong>-se por associação. – Não se apren<strong>de</strong> somente o que se<br />
tem em vista, mas as coisas que vêm associadas com o objetivo mais<br />
claro da ativida<strong>de</strong>. [...];<br />
4. Não se apren<strong>de</strong> nunca uma coisa só. – Como acabamos <strong>de</strong> ver, à<br />
medida que apren<strong>de</strong>mos uma coisa, várias outras são<br />
simultaneamente aprendidas. [...];<br />
5. Toda aprendizagem <strong>de</strong>ve ser integrada à vida, isto é, adquirida em<br />
uma experiência real <strong>de</strong> vida, on<strong>de</strong> o que for aprendido tenha o<br />
mesmo lugar e função que tem na vida. (TEIXEIRA, em DEWEY, 1967,<br />
pp. 33-36, grifo do autor).<br />
Seguimos, então, com a discussão sobre a escolha apropriada <strong>de</strong> métodos e<br />
materiais <strong>de</strong> estudos a<strong>de</strong>quados para uma escola que associa o conhecimento<br />
produzido, em sala <strong>de</strong> aula, à vida cotidiana dos estudantes, discussão necessária e<br />
explicitada por Dewey (1959).<br />
UFOP – 2011
Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
Coerentemente com as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Dewey, enxergamos que o método do caso,<br />
que também será mais bem <strong>de</strong>talhado a seguir, apresenta-se como um método <strong>de</strong><br />
ensi<strong>no</strong> a<strong>de</strong>quado para estimular a atitu<strong>de</strong> mental mencionada. Enten<strong>de</strong>mos que esse<br />
método, ou uma adaptação <strong>de</strong>le, po<strong>de</strong> servir como inspiração para o enca<strong>de</strong>amento<br />
<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que estimulem o pensamento reflexivo.<br />
5. A ATIVIDADE DE MODELAGEM NO FUTEBOL ENCAMINHADA PELO MÉTODO DO<br />
CASO<br />
Dewey afirma que, diante <strong>de</strong> uma situação problemática, o estudante <strong>de</strong>ve,<br />
preferencialmente, agir pelo método da reflexão. Sobre esse método, é preciso:<br />
Primeiro, o alu<strong>no</strong> <strong>de</strong>ve estar, em verda<strong>de</strong>ira situação <strong>de</strong> experiência –<br />
que haja uma ativida<strong>de</strong> contínua a interessá-lo por si mesma;<br />
segundo, que um verda<strong>de</strong>iro problema se <strong>de</strong>senvolva nesta situação<br />
como um estímulo para o ato <strong>de</strong> pensar; terceiro, que ele possua os<br />
conhecimentos informativos necessários para agir nessa situação e<br />
faça as observações necessárias para o mesmo fim; quarto, que lhe<br />
ocorram sugestões para a solução e que fique a cargo <strong>de</strong>le<br />
<strong>de</strong>senvolvê-las <strong>de</strong> modo bem or<strong>de</strong>nado; quinto, que tenha<br />
oportunida<strong>de</strong>s para pôr em prova suas i<strong>de</strong>ias, aplicando-as,<br />
tornando-lhes clara a significação e <strong>de</strong>scobrindo por si próprio o valor<br />
<strong>de</strong>las (DEWEY, 1979, p. 179).<br />
Antes que se argumente em <strong>de</strong>fesa da utilização <strong>de</strong>ste ou daquele método, em<br />
sala <strong>de</strong> aula, é preciso ficar claro que não esperamos ter uma receita do ensi<strong>no</strong>, que<br />
funcionará sem restrições. Um método a<strong>de</strong>quado, bem como um objeto <strong>de</strong> estudo,<br />
<strong>de</strong>ve ser apropriado para o professor, para os alu<strong>no</strong>s, para a administração escolar, em<br />
<strong>de</strong>terminado contexto <strong>de</strong> tempo, espaço, socieda<strong>de</strong> e cultura. Seria pretensão sugerir<br />
que houvesse o método <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> a ser adotado. Enxergamos <strong>no</strong> método do caso uma<br />
possibilida<strong>de</strong> promissora e coerente com as concepções <strong>de</strong> educação apresentadas na<br />
seção anterior, e apropriado para conduzir uma ativida<strong>de</strong> com uma situação posta e<br />
objetivo pré-estabelecido, como a <strong>no</strong>ssa ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>no</strong> <strong>futebol</strong>.<br />
UFOP – 2011<br />
15
16 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
O método do caso – não se confunda com método do estudo <strong>de</strong> caso 3 – é uma<br />
metodologia <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvida há pouco mais <strong>de</strong> um século, por Christopher<br />
Columbus Lang<strong>de</strong>ll, na escola <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Harvard (MENEZES, 2009). Ele consiste em<br />
colocar os alu<strong>no</strong>s frente a frente com uma situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Uma situação é<br />
relatada pelo professor (um caso), <strong>de</strong> modo claro e, ao mesmo tempo, in<strong>de</strong>finido. Essa<br />
situação po<strong>de</strong> ser algo acontecido, algo que esteja acontecendo, ou algo plausível <strong>de</strong><br />
se imaginar acontecendo. A partir da exposição do caso, cabe aos alu<strong>no</strong>s, sempre com<br />
o suporte do professor, assumir uma posição relacionada ao caso, fundamentando tal<br />
posição e analisando as consequências <strong>de</strong>ssa postura.<br />
Antecipamos que as ambiguida<strong>de</strong>s principais em <strong>no</strong>sso caso iriam se referir à<br />
questão <strong>de</strong> quais aspectos interferem, significativamente, <strong>no</strong>s resultados dos jogos e,<br />
além disso, a questão <strong>de</strong> como conceituá-los em pressupostos que admitem uma<br />
matematização. Isso <strong>de</strong>veria gerar uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias com base em diferenças <strong>de</strong><br />
crenças, a respeito do que interfere <strong>no</strong> resultado <strong>de</strong> um jogo. Essa diversida<strong>de</strong><br />
forneceria material para discutir, argumentar e refletir; avaliando as justificativas para<br />
a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões a respeito das mo<strong>de</strong>lagens, em consonância com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />
o material <strong>de</strong> casos complexos <strong>de</strong>ve permitir que o mesmo seja<br />
estudado individualmente, <strong>de</strong>batido em peque<strong>no</strong>s grupos e <strong>de</strong>pois,<br />
em plenário, <strong>de</strong> modo que o alu<strong>no</strong> possa <strong>de</strong>senvolver suas<br />
habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise e síntese, <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias e <strong>de</strong><br />
suas <strong>de</strong>cisões, <strong>de</strong>ntre tantas outras habilida<strong>de</strong>s que o método do<br />
caso proporciona. (CESAR, 2005, f. 11).<br />
Ao realizar essa ativida<strong>de</strong>, durante a fase final do campeonato, pretendíamos<br />
aproveitar a repercussão do assunto na mídia e na socieda<strong>de</strong> em geral. Isso está <strong>de</strong><br />
acordo com Cesar quando afirma que o <strong>de</strong>senvolvimento do caso<br />
<strong>de</strong>ve contextualizar a situação <strong>de</strong> tal forma que, aos olhos do leitor<br />
[estudante], o caso possa se apresentar como uma situação vivida,<br />
da qual ele faz parte, o que justifica a inclusão <strong>de</strong> dados subjetivos<br />
relacionados à visão que as pessoas envolvidas na situação têm da<br />
mesma. (CESAR, 2005, f. 11).<br />
3 O Estudo <strong>de</strong> Caso é uma metodologia <strong>de</strong> pesquisa qualitativa. Ver, por exemplo, Fiorentini e Lorenzato<br />
(2006) ou Alves-Mazotti (2009).<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
Utilizando o método do caso, e tendo como base as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>weyanas,<br />
preten<strong>de</strong>mos promover o pensamento reflexivo, incluindo a postura crítica, perante<br />
uma situação, e atribuir a responsabilida<strong>de</strong> do aprendizado ao próprio estudante, além<br />
<strong>de</strong> possibilitar a significação <strong>de</strong> informações, conceitos e técnicas, e <strong>de</strong>senvolver a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colaboração, tornando “vivo” o ambiente <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula.<br />
No contexto das ciências econômicas, Hammond (2002) simplifica a <strong>de</strong>finição<br />
do método como uma discussão <strong>de</strong> situações da vida real com as quais executivos se<br />
<strong>de</strong>pararam (grifo do autor). Por situações da vida real enten<strong>de</strong>mos acontecimentos em<br />
qualquer parte relatados em qualquer tipo <strong>de</strong> mídia: TV, internet, livros, revistas,<br />
jornais, relatórios empresariais, ou outras fontes <strong>de</strong> consulta, nas quais os alu<strong>no</strong>s terão<br />
a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar os dados que julgarem relevantes, incentivando a prática<br />
da pesquisa entre estes estudantes. Em <strong>no</strong>sso contexto, a situação em questão é o<br />
campeonato brasileiro <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>.<br />
Na literatura consultada, não encontramos uma <strong>de</strong>finição explícita do método<br />
do caso, embora tenhamos encontrado uma série <strong>de</strong> caracterizações <strong>de</strong>ste, o que <strong>no</strong>s<br />
levou a sistematizar o método <strong>de</strong> acordo com <strong>no</strong>sso entendimento. Construímos a<br />
figura 1 para auxiliar essa sistematização.<br />
Estudantes Professor<br />
Figura 1: Cenário do caso envolve os estudantes, o<br />
professor e a situação em estudo a ser problematizada e<br />
solucionada. O professor é um mediador na interação do<br />
alu<strong>no</strong> com a situação.<br />
Concebemos que o método do caso se inicia com a escolha <strong>de</strong> uma situação a<br />
ser estudada, que po<strong>de</strong> ser encontrada em qualquer contexto. Após a escolha da<br />
situação, uma fase expositiva consiste na apresentação e problematização, levantando<br />
aspectos <strong>de</strong> tal situação, <strong>de</strong> modo que os próprios estudantes apropriem-na como<br />
sendo problemática. Aspectos da situação não po<strong>de</strong>m ser confundidos com dados a<br />
serem diretamente aplicados na solução do problema. Para <strong>de</strong>ixar os alu<strong>no</strong>s<br />
confortáveis, o professor <strong>de</strong>ve sugerir fontes <strong>de</strong> consulta e ficar à disposição para<br />
UFOP – 2011<br />
Situação<br />
(problemática)<br />
17
18 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
esclarecimentos, ao longo da ativida<strong>de</strong>. Contudo, a partir da exposição inicial, feita<br />
pelo professor, ele assume um papel coadjuvante, tornando-se um facilitador da<br />
interação do alu<strong>no</strong> com o objeto <strong>de</strong> estudo, fornecendo mais perguntas do que<br />
respostas para este alu<strong>no</strong>.<br />
Para conduzir a mo<strong>de</strong>lagem <strong>no</strong> <strong>futebol</strong>, amparados nesse método, levamos<br />
para a sala <strong>de</strong> aula uma sequência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s composta <strong>de</strong> duas etapas, claramente<br />
<strong>de</strong>limitadas, embora integradas na intenção <strong>de</strong> alcançar objetivos comuns. Alguns<br />
aspectos permearam todos os momentos da ativida<strong>de</strong>; em <strong>de</strong>staque, a aproximação<br />
<strong>de</strong> fenôme<strong>no</strong>s sociais, econômicos e culturais dos conteúdos abordados em sala <strong>de</strong><br />
aula.<br />
A primeira etapa foi pensada como um momento para discussões acerca da<br />
presença <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los na socieda<strong>de</strong>; em particular, os mo<strong>de</strong>los que envolvem<br />
probabilida<strong>de</strong>s e suas interferências (positivas ou negativas) sobre hábitos e relações<br />
do <strong>no</strong>sso cotidia<strong>no</strong>. Presente em muitos <strong>de</strong>sses mo<strong>de</strong>los, está o conceito <strong>de</strong><br />
probabilida<strong>de</strong> subjetiva, cuja abordagem também foi contemplada em <strong>no</strong>sso<br />
planejamento.<br />
É nessa etapa que <strong>de</strong>senvolvemos a problematização da ativida<strong>de</strong>, para que os<br />
estudantes assumissem a mo<strong>de</strong>lagem <strong>no</strong> campeonato como situação <strong>de</strong> interesse<br />
próprio. Além disso, os estudantes po<strong>de</strong>riam se familiarizar com a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong><br />
probabilida<strong>de</strong> subjetiva e com questões sobre o controverso mercado <strong>de</strong> apostas em<br />
eventos esportivos.<br />
A segunda parte da sequência consistiria numa mo<strong>de</strong>lagem a ser realizada<br />
pelos alu<strong>no</strong>s, divididos em grupos, na qual eles <strong>de</strong>veriam atribuir probabilida<strong>de</strong>s para<br />
resultados <strong>de</strong> jogos do campeonato brasileiro <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>. Para <strong>no</strong>sso caso do<br />
campeonato <strong>de</strong> 2010, o cenário a ser fornecido aos estudantes incluiria: a) o objetivo<br />
<strong>de</strong> construir mo<strong>de</strong>los que atribuem probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vitória, empate e <strong>de</strong>rrota para<br />
os jogos; b) a premissa supracitada na seção 2; c) amostras <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> informações<br />
disponíveis que po<strong>de</strong>m ser consultadas, por exemplo, revistas e sites da internet; d)<br />
informações a respeito <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> subjetiva; e e) encaminhamentos por meio <strong>de</strong><br />
discussões em classe. No final da ativida<strong>de</strong>, a apreciação da a<strong>de</strong>quação dos mo<strong>de</strong>los<br />
remeteria aos resultados dos jogos, nas últimas rodadas do campeonato.<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
5.1. Parte 1: Probabilida<strong>de</strong> subjetiva e a problematização<br />
Em <strong>no</strong>sso dia-a-dia, tomamos várias <strong>de</strong>cisões, algumas <strong>de</strong> forma automática ou<br />
impulsiva, outras <strong>de</strong> forma metódica, minuciosamente planejadas. Quando saímos <strong>de</strong><br />
casa em um dia fresco, pensamos em levar ou não um agasalho. Não acreditamos que<br />
seja natural alguém quantificar a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> precisar daquele agasalho, antes <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cidir entre levá-lo ou não. Contudo, quanto mais certeza temos <strong>de</strong> que sentiremos<br />
frio, maior é a <strong>no</strong>ssa tendência <strong>de</strong> carregar o agasalho co<strong>no</strong>sco. Esse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />
baseia-se numa crença, a crença <strong>de</strong> que certo fenôme<strong>no</strong> ocorrerá (ou não), <strong>de</strong> modo a<br />
direcionar <strong>no</strong>ssas atitu<strong>de</strong>s e ações relacionadas à ocorrência <strong>de</strong>sse fenôme<strong>no</strong>. Em<br />
contextos mais complexos, essas crenças necessitam <strong>de</strong> quantificação, em termos <strong>de</strong><br />
probabilida<strong>de</strong>s, e os valores obtidos po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar <strong>de</strong>cisões, cujo efeito po<strong>de</strong><br />
mudar o rumo <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas vidas, ou transformações significativas da realida<strong>de</strong>. Um<br />
investimento do patrimônio <strong>de</strong> uma família, a adoção <strong>de</strong> certa política econômica por<br />
um gover<strong>no</strong>, são exemplos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões baseadas na crença <strong>de</strong> sucesso.<br />
formas.<br />
A probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> um evento po<strong>de</strong> ser concebida <strong>de</strong> diferentes<br />
De acordo com Gne<strong>de</strong>nko (2008, p. 24) a maioria das <strong>de</strong>finições para o<br />
conceito <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidas a partir das seguintes<br />
concepções: probabilida<strong>de</strong> clássica, que remete à <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> distribuição<br />
equiprovável <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> eventos; probabilida<strong>de</strong> frequentista (ou<br />
empírica), que se baseia na frequência que um dado evento ocorre em um<br />
gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> experimentos; e probabilida<strong>de</strong> subjetiva, que é uma<br />
medida que representa o “grau <strong>de</strong> certeza” do observador a respeito <strong>de</strong><br />
ocorrência <strong>de</strong> eventos. (MELILLO e BEAN, 2011).<br />
Bernabeu (1999) <strong>de</strong>fine probabilida<strong>de</strong> subjetiva como “uma crença ou<br />
percepção pessoal. (...) Ela me<strong>de</strong> a confiança que um indivíduo particular tem sobre a<br />
veracida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma proposição particular e, portanto, está univocamente<br />
<strong>de</strong>terminada.” (p. 32).<br />
Um julgamento (equivocado) que po<strong>de</strong> ser feito da probabilida<strong>de</strong> subjetiva é<br />
que, usando essa i<strong>de</strong>ia como “pretexto para não pensar”, o indivíduo se dá o direito <strong>de</strong><br />
UFOP – 2011<br />
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20 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
atribuir qualquer probabilida<strong>de</strong> a qualquer evento, como se tudo fosse válido, por se<br />
tratar <strong>de</strong> opinião. Antes <strong>de</strong> correr esse risco, planejamos algumas discussões, em sala<br />
<strong>de</strong> aula, conduzidas <strong>de</strong> modo a incentivar a reflexão em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong>ssas “opiniões”. Mais<br />
que opiniões, as consi<strong>de</strong>rações sobre a ocorrência <strong>de</strong> certos fenôme<strong>no</strong>s <strong>de</strong>vem ser<br />
tidas como crenças justificadas.<br />
Preparamos, para a sala <strong>de</strong> aula, discussões sobre diversas situações em que a<br />
probabilida<strong>de</strong> subjetiva tem efeitos sobre a ativida<strong>de</strong> humana. Seguradoras, pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, previsão do tempo, mercado financeiro, são algumas <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s<br />
(BERNABEU, 1999). Questionários foram elaborados e discussões em grupo foram<br />
planejadas.<br />
Em particular, traçamos um caminho que conduzisse à <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong><br />
subjetiva, presente <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> apostas, em eventos esportivos. A realização da<br />
ativida<strong>de</strong>, em a<strong>no</strong> <strong>de</strong> Copa do Mundo <strong>de</strong> Futebol, forneceu um e<strong>no</strong>rme número <strong>de</strong><br />
citações do tema na mídia, o que permitiria uma constante conexão entre assuntos<br />
repercutidos fora da escola e as discussões <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, facilitando uma aproximação<br />
entre os estudantes e a situação a ser mo<strong>de</strong>lada, com o intuito <strong>de</strong> fornecer<br />
informações que indicariam o teor da mo<strong>de</strong>lagem e <strong>de</strong>spertar o interesse pelo <strong>de</strong>safio<br />
que estava por vir.<br />
Reservamos um espaço, em <strong>no</strong>sso planejamento, para inserir discussões acerca<br />
dos benefícios e malefícios do bilionário mercado <strong>de</strong> apostas, <strong>de</strong>stacando-se a<br />
discussão sobre os prós e contras <strong>de</strong> uma eventual legalização <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />
<strong>no</strong> Brasil. Todas as discussões e ativida<strong>de</strong>s foram elaboradas <strong>de</strong> modo a fazer com que<br />
os alu<strong>no</strong>s justificassem as posições assumidas, seja com base em reflexões sobre<br />
experiências anteriores, seja com base em dados apresentados. Com isso,<br />
pretendíamos estimular a reflexão e a argumentação dos estudantes, visando atitu<strong>de</strong>s<br />
coerentes com <strong>no</strong>ssos propósitos educacionais.<br />
Ao fim <strong>de</strong>ssa parte da sequência, a <strong>no</strong>ssa expectativa era que os alu<strong>no</strong>s (mesmo<br />
aqueles para os quais o assunto <strong>futebol</strong> tivesse status <strong>de</strong> <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>) estivessem<br />
relativamente inteirados do assunto, para iniciar a construção <strong>de</strong> seus próprios<br />
mo<strong>de</strong>los.<br />
Dentre reportagens selecionadas sobre apostas em eventos esportivos, e<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
ví<strong>de</strong>os que permitiam levantar questões sobre probabilida<strong>de</strong> subjetiva, <strong>de</strong>stacamos os<br />
links <strong>de</strong> alguns dos ví<strong>de</strong>os que utilizamos nesta etapa da sequência:<br />
ví<strong>de</strong>o sobre mo<strong>de</strong>lagem da Copa do Mundo <strong>de</strong> 2010:<br />
<br />
ví<strong>de</strong>os sobre probabilida<strong>de</strong> subjetiva 4 :<br />
http://www.youtube.com/watch?v=U5qRK5EZbMY<br />
http://www.youtube.com/watch?v=xqSlnsGPgq8<br />
Os recursos utilizados tiveram relevância <strong>no</strong> a<strong>no</strong> em que realizamos a ativida<strong>de</strong><br />
com a turma. Isso não quer dizer que faríamos as mesmas escolhas <strong>de</strong> instrumentos,<br />
com os mesmos ví<strong>de</strong>os, em outro a<strong>no</strong> ou outro contexto.<br />
Ainda com essa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> aproximar as ativida<strong>de</strong>s com os acontecimentos fora<br />
da escola <strong>no</strong> espaço / tempo da realização das ativida<strong>de</strong>s, elaboramos um questionário<br />
(a seguir) envolvendo temas abordados nas discussões. Algumas perguntas foram<br />
formuladas fazendo alusão a acontecimentos com repercussão na época (eleição e<br />
caso Bru<strong>no</strong>), enquanto outras questões tentavam provocar reflexões quantitativas e<br />
qualitativas a partir <strong>de</strong> passagens corriqueiras das vidas dos estudantes.<br />
QUESTIONÁRIO – PROBABILIDADE SUBJETIVA E APOSTAS<br />
1. Consi<strong>de</strong>re a seguinte escolha: Os 14 jogos da LOTECA são realizados e os resultados<br />
<strong>de</strong>finem os prêmios, ou os resultados dos 14 jogos são sorteados. Em qual <strong>de</strong>stas<br />
situações você se consi<strong>de</strong>ra mais apto a acertar os 14 resultados? Por quê?<br />
2. Escreva, sucintamente, os principais aspectos que você levaria em consi<strong>de</strong>ração ao<br />
preencher os seus palpites em uma aposta da LOTECA:<br />
3. As casas <strong>de</strong> apostas em resultados <strong>de</strong> eventos esportivos, proibidas <strong>no</strong> Brasil,<br />
<strong>de</strong>veriam ser liberadas, em sua opinião? Por quê?<br />
4 Um dos ví<strong>de</strong>os mostra uma situação inusitada, utilizada para levantar questões sobre a probabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va ocorrência daquele evento. O outro mostra um comercial <strong>de</strong> uma companhia <strong>de</strong> seguros<br />
que atribui probabilida<strong>de</strong>s à ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes com pessoas em seu dia-a-dia.<br />
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21
22 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
4. Qual é, na sua opinião, a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>:<br />
a) Chover amanhã?__________<br />
b) A candidata Dilma Roussef ser eleita presi<strong>de</strong>nte do Brasil?__________<br />
c) Você viver mais <strong>de</strong> 80 a<strong>no</strong>s?__________<br />
d) Ocorrer um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trânsito na sua volta para casa, esta <strong>no</strong>ite?__________<br />
e) O candidato José Serra ser eleito presi<strong>de</strong>nte do Brasil?__________<br />
f) O ex-goleiro Bru<strong>no</strong> ter sido mandante da morte <strong>de</strong> Eliza Samudio?__________<br />
Foram múltiplas as razões para a elaboração dos itens <strong>no</strong> questionário. Na<br />
primeira questão, os alu<strong>no</strong>s expuseram a sensação <strong>de</strong> que são mais aptos a prever os<br />
resultados a partir <strong>de</strong> uma análise da situação dos clubes envolvidos em cada jogo<br />
(inclusive os que assumiram “não enten<strong>de</strong>r” <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>). A segunda questão foi o<br />
primeiro passo da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem. Ainda que sem a separação dos<br />
estudantes da turma em grupos que construiriam os mo<strong>de</strong>los, foi possível estabelecer<br />
um continuum na abordagem da situação. Na terceira questão, o foco foi o estímulo à<br />
reflexão e à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um posicionamento crítico dos estudantes. Muitas das<br />
respostas dos alu<strong>no</strong>s, com opiniões divididas, mostraram gran<strong>de</strong> temor <strong>de</strong>stes quanto<br />
ao risco <strong>de</strong> frau<strong>de</strong>s e manipulações <strong>de</strong> resultados que po<strong>de</strong>riam ser causadas <strong>no</strong> caso<br />
<strong>de</strong> uma eventual legalização do mercado <strong>de</strong> apostas <strong>no</strong> Brasil. A quarta questão tinha<br />
por propósito que os alu<strong>no</strong>s tentassem quantificar suas expectativas <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong><br />
certos fenôme<strong>no</strong>s, estimulando o pensamento em termos <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s<br />
subjetivas.<br />
As discussões e o questionário formam pensados, conduzidos e elaborados <strong>de</strong><br />
forma coerente com a dinâmica que o uso do método do caso tem por intuito<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar. Entre os objetivos <strong>de</strong>sse método, Boehrer e Linsky (1990) citam:<br />
Promover o pensamento crítico;<br />
Atribuir a responsabilida<strong>de</strong> do aprendizado ao próprio estudante;<br />
Assimilação <strong>de</strong> informações, conceitos e técnicas;<br />
Avivar a dinâmica da sala <strong>de</strong> aula;<br />
Desenvolver a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colaboração;<br />
Questionar o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> tradicional centrado <strong>no</strong> professor.<br />
Acrescentaríamos, pela experiência <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s, a essa lista, mais dois<br />
UFOP – 2011
Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
propósitos:<br />
Promover o pensamento dialógico (não linear);<br />
Possibilitar a percepção <strong>de</strong> outras interpretações do fenôme<strong>no</strong> em<br />
estudo (o aspecto da alterida<strong>de</strong>).<br />
Dando sequência ao método, satisfeitos, já que a situação fora a<strong>de</strong>quadamente<br />
problematizada e os estudantes ficaram <strong>de</strong>vidamente familiarizados com a<br />
probabilida<strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>, julgamos que eles se encontravam prontos para formular<br />
seus próprios juízos na mo<strong>de</strong>lagem do campeonato; especificamos a situação e<br />
explicitamos o objetivo da construção dos mo<strong>de</strong>los.<br />
Os estudantes partiram da premissa (enunciada na seção 2), que foi exposta <strong>no</strong><br />
quadro da sala <strong>de</strong> informática on<strong>de</strong> foi feito, por meio da internet, o levantamento<br />
inicial <strong>de</strong> informações a respeito do que po<strong>de</strong>ria ser utilizado na mo<strong>de</strong>lagem.<br />
A premissa:<br />
À expectativa sobre o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um time <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> em<br />
uma partida quanto ao resultado final (vitória, empate ou<br />
<strong>de</strong>rrota) po<strong>de</strong> ser atribuída uma probabilida<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong><br />
aspectos consi<strong>de</strong>rados relevantes levantados antes do início<br />
da partida.<br />
O objetivo, partindo <strong>de</strong>ssa premissa, é construir um mo<strong>de</strong>lo matemático que<br />
fornecesse probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vitória, empate e <strong>de</strong>rrota, a cada time, <strong>no</strong>s jogos <strong>de</strong> uma<br />
rodada do campeonato brasileiro.<br />
Com a problematização, o ponto <strong>de</strong> partida – a premissa – e o objetivo<br />
explicitado, os alu<strong>no</strong>s estavam diante <strong>de</strong> uma situação problemática – um caso – para<br />
a qual elaborariam uma solução.<br />
Durante a interação dos alu<strong>no</strong>s com a situação problemática, tentando<br />
construir uma solução para o caso, é possível que alguns <strong>de</strong>les não se sintam<br />
suficientemente esclarecidos quanto ao tema <strong>futebol</strong>, <strong>de</strong> modo que indicamos fontes<br />
<strong>de</strong> consulta para facilitar essa interação. Na ativida<strong>de</strong> que realizamos, os alu<strong>no</strong>s<br />
UFOP – 2011<br />
23
24 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
receberam, por escrito, a lista <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> informações:<br />
Dados oficiais:<br />
Confe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Futebol – CBF: www.cbf.com.br<br />
Informações sobre cartões, transferências, ranking, campeonatos<br />
anteriores, punições, etc.<br />
Imprensa esportiva especializada:<br />
Globo Esporte: globoesporte.globo.com<br />
Jornal Lance: www.lancenet.com.br<br />
ESPN Brasil: www.espn.com.br<br />
Diários Associados: www.superesportes.com.br<br />
Revista Placar: placar.abril.com.br<br />
Reportagens, análises táticas, estatísticas, avaliação <strong>de</strong> jogadores, etc.<br />
Probabilida<strong>de</strong>s <strong>no</strong> <strong>futebol</strong>:<br />
Departamento <strong>de</strong> <strong>matemática</strong> da UFMG: mat.ufmg.br/<strong>futebol</strong><br />
Tristão Garcia: www.infobola.com.br<br />
Marcelo <strong>de</strong> Leme Arruda: www.chance<strong>de</strong>gol.com.br<br />
Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> previsão do campeão, rebaixados, resultados <strong>de</strong> cada<br />
rodada, etc.<br />
Além disso, os alu<strong>no</strong>s foram orientados a ficarem à vonta<strong>de</strong> para buscar<br />
informações em outras fontes <strong>de</strong> sua preferência. Alguns alu<strong>no</strong>s, inclusive,<br />
<strong>de</strong>sprezaram as fontes sugeridas e trabalharam integralmente com base em fontes<br />
escolhidas por eles próprios.<br />
Mediante a situação problemática, com a premissa e objetivo estabelecidos, e<br />
<strong>de</strong> posse <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> consulta às quais recorrerem, os alu<strong>no</strong>s seguiram adiante com a<br />
mo<strong>de</strong>lagem, conforme <strong>de</strong>screvemos a seguir.<br />
5.2. Parte 2: mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong><br />
Nesta segunda etapa da sequência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, o eixo dos trabalhos foi a<br />
UFOP – 2011
Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong>, <strong>no</strong>s jogos do campeonato brasileiro <strong>de</strong> 2010. A tarefa dos<br />
alu<strong>no</strong>s seria construir mo<strong>de</strong>los capazes <strong>de</strong> atribuir probabilida<strong>de</strong>s dos possíveis<br />
resultados dos jogos (empate, vitória ou <strong>de</strong>rrota), <strong>no</strong>s últimos jogos <strong>de</strong>sse<br />
campeonato. Antes <strong>de</strong> exemplificar a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong>, esclarecemos a<br />
respeito do que enten<strong>de</strong>mos por mo<strong>de</strong>lagem.<br />
Concebemos mo<strong>de</strong>lagem como uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conceituação criativa que<br />
remete aos objetivos, conhecimentos e valores do mo<strong>de</strong>lador (BEAN, 2005, 2007,<br />
2009; MELILLO e BEAN, 2011). Tal ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conceituação é conduzida mediante a<br />
adoção <strong>de</strong> premissas e a formulação <strong>de</strong> pressupostos frente a uma situação<br />
problemática. Uma premissa é como uma i<strong>de</strong>ia-guia 5 (DEWEY, 1959, p.136) que serve<br />
como foco para todas as ações e reflexões realizadas durante a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lagem. Geralmente, uma premissa é uma i<strong>de</strong>ia que não parte necessariamente<br />
do mo<strong>de</strong>lador. Ela é aceita previamente, <strong>de</strong> modo que a adoção <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va premissa<br />
conduz a uma <strong>no</strong>va mo<strong>de</strong>lagem. Os pressupostos, por sua vez, são conceituações <strong>de</strong><br />
aspectos específicos da situação em questão.<br />
Por exemplo, mencionamos, <strong>no</strong> início do texto, sobre o fator campo; um<br />
conceito <strong>no</strong>sso cuja construção remete à i<strong>de</strong>ia que o aspecto referente ao lugar on<strong>de</strong> o<br />
jogo será realizado tem influência <strong>no</strong> resultado <strong>de</strong>sse jogo. Qualificamos esse aspecto,<br />
isto é, formulamos um pressuposto; com base em <strong>no</strong>ssas experiências e a i<strong>de</strong>ia que o<br />
mandante do campo ten<strong>de</strong> a ter uma maior chance <strong>de</strong> vitória, em relação ao visitante.<br />
Em <strong>no</strong>sso mo<strong>de</strong>lo ilustrativo 6 , matematizamos esse pressuposto (como exposta<br />
em seção 2) em termos da média <strong>de</strong> pontos ganhos quando um time joga em cada<br />
situação (mandante ou visitante).<br />
É importante salientar que um mesmo pressuposto admite matematizações<br />
diferentes. Alguns estudantes que participaram da ativida<strong>de</strong> também pressupuseram<br />
que o mandante ten<strong>de</strong> a ter uma maior chance <strong>de</strong> vitória em relação ao visitante, e<br />
utilizaram estratégias próprias para matematizar esse pressuposto:<br />
5 Dewey concebe a i<strong>de</strong>ia-guia como uma hipótese, ou uma estratégia posta para a resolução <strong>de</strong> uma<br />
situação problemática ou in<strong>de</strong>terminada. Estamos ressignificando essa <strong>no</strong>ção na concepção <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lagem para aproximá-la <strong>de</strong> um princípio ou teoria, utilizada para guiar ou <strong>no</strong>rtear o pensamento<br />
<strong>no</strong> levantamento <strong>de</strong> aspectos e formulação <strong>de</strong> pressupostos na construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los.<br />
6 Mais adiante, <strong>de</strong>talharemos os passos na construção <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso mo<strong>de</strong>lo ilustrativo (MELILLO e BEAN,<br />
2011).<br />
UFOP – 2011<br />
25
26 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
“Jogo em casa – se o time joga em casa, ele tem mais chances <strong>de</strong> vitória.<br />
Então, atribuímos <strong>no</strong>ta 2 para quem joga em casa e 1 para o visitante.”<br />
“Após discussão, chegamos à conclusão que alguns pressupostos são mais<br />
importantes que outros, então <strong>de</strong>cidimos atribuir uma porcentagem para cada<br />
fator e adotamos 45% para o aproveitamento, 30% para o jogo <strong>de</strong>ntro ou fora<br />
<strong>de</strong> casa, 15% para a posição na tabela e 10% para o histórico.” [Nota: Neste<br />
trecho, o pressuposto referente ao mando <strong>de</strong> campo é um dos quatro<br />
pressupostos utilizados pelo grupo. O aspecto mando <strong>de</strong> campo, ao qual<br />
seriam atribuídos valores 2 ou 1, respon<strong>de</strong> por uma contribuição <strong>de</strong> 30% <strong>no</strong><br />
cálculo das probabilida<strong>de</strong>s. Os outros aspectos possuem pesos <strong>de</strong> 45%, 15% e<br />
10%.].<br />
Embora esses trechos extraídos <strong>de</strong> trabalhos dos alu<strong>no</strong>s não contenham as<br />
justificativas das escolhas, eles são suficientes para observar duas características da<br />
matematização <strong>de</strong> um pressuposto. No primeiro trecho, vemos que os alu<strong>no</strong>s<br />
matematizaram a influência do mando <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> maneira diferente da <strong>no</strong>ssa. No<br />
segundo, os alu<strong>no</strong>s, por meio da atribuição <strong>de</strong> pesos, estipularam a importância<br />
relativa <strong>de</strong> cada um dos quatro aspectos por eles levantados.<br />
Também é relevante <strong>de</strong>stacar que os alu<strong>no</strong>s, os quais cursavam a disciplina<br />
<strong>Mo<strong>de</strong>lagem</strong> Matemática I, <strong>no</strong> curso <strong>de</strong> Licenciatura em Matemática da UFOP, já<br />
haviam estudado a <strong>no</strong>ssa concepção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem (BEAN, 2009) e realizado<br />
ativida<strong>de</strong>s nessa ótica. Assim, foi natural, para eles, trabalhar com a linguagem<br />
premissa/aspectos/pressupostos.<br />
Ainda, outro grupo escreveu:<br />
Aspecto: Mando <strong>de</strong> campo (MC)<br />
Pressuposto: O time, que é mandante do jogo, possui mais chances <strong>de</strong> vencer<br />
a partida <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> jogar com a torcida a seu favor, além <strong>de</strong> conhecer<br />
as dimensões do gramado e do estádio.”<br />
Este grupo justificou tanto a formulação do pressuposto quanto a<br />
matematização, apoiados em fontes <strong>de</strong> informações que utilizaram para tratar seu<br />
UFOP – 2011
Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
conceito <strong>de</strong> fator mando <strong>de</strong> campo, em termos <strong>de</strong> porcentagens:<br />
Fator mando <strong>de</strong> campo: Em consulta a um site <strong>de</strong> informes esportivos<br />
encontramos a porcentagem referente a cada resultado dos jogos acontecidos<br />
até a 36º rodada do campeonato brasileiro <strong>de</strong> 2010, encontrando-se: 46,9% <strong>de</strong><br />
vitória do Mandante, 31,2 % empate, 21,9% <strong>de</strong> vitória do visitante, ou seja,<br />
essas porcentagens foram transformadas em <strong>no</strong>ssas probabilida<strong>de</strong>s para este<br />
fator.<br />
Este grupo, em um momento posterior, também atribuiu pesos para cada um<br />
dos seus quatro aspectos levados em consi<strong>de</strong>ração na mo<strong>de</strong>lagem:<br />
MC: Mando <strong>de</strong> campo – peso 4;<br />
DE: Desenvolvimento econômico da cida<strong>de</strong> que sedia o time [índice econômico<br />
da cida<strong>de</strong> do time – similar às questões <strong>de</strong> PIB entre países que disputaram a<br />
Copa do Mundo <strong>no</strong> ví<strong>de</strong>o – ver referência na seção 5.1] – peso 3;<br />
SG: Saldo <strong>de</strong> gols – peso 2;<br />
CV: Cartões vermelhos – peso 1.<br />
Convém <strong>no</strong>tar que os três aspectos levantados por esse grupo, além do mando<br />
do campo, não se encontram nas mo<strong>de</strong>lagens dos outros quatro grupos que<br />
participaram da ativida<strong>de</strong>. Interpretamos essa peculiarida<strong>de</strong> como efeito do<br />
conhecimento diferenciado que estes alu<strong>no</strong>s possuíam do tema <strong>futebol</strong>, antes do<br />
início da mo<strong>de</strong>lagem. Apesar disso, a eficácia dos mo<strong>de</strong>los não foi <strong>de</strong>terminada por tal<br />
nível <strong>de</strong> conhecimento. De qualquer forma, é interessante observar que algumas das<br />
conceituações <strong>de</strong>sse grupo não vieram à mente dos outros.<br />
O levantamento <strong>de</strong> aspectos cabe ao mo<strong>de</strong>lador. Ao qualificar a influência<br />
<strong>de</strong>sses aspectos <strong>no</strong> fenôme<strong>no</strong> mo<strong>de</strong>lado, formulam-se os pressupostos. Uma única<br />
premissa po<strong>de</strong> levar à formulação <strong>de</strong> vários pressupostos diferentes. A conceituação<br />
<strong>de</strong> um único aspecto também po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong> várias formas por indivíduos ou grupos<br />
diferentes, culminando na construção <strong>de</strong> inúmeros mo<strong>de</strong>los distintos.<br />
Como <strong>no</strong>ssa preocupação com o conceito elaborado estudantes, acerca da<br />
situação, era gran<strong>de</strong>, enten<strong>de</strong>mos ser apropriado estimular uma sistematização do<br />
trabalho, na fase <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> aspectos e a formulação <strong>de</strong> pressupostos,<br />
UFOP – 2011<br />
27
28 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
pedimos que os alu<strong>no</strong>s relatassem essa conceituação:<br />
“A partir da interação inicial com o caso apresentado, enumere os<br />
aspectos que o grupo, em consenso, acredita que possam<br />
influenciar na atribuição <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s para os resultados dos<br />
próximos jogos do campeonato. Se possível, explicite o aspecto a<br />
ser consi<strong>de</strong>rado e, em seguida, formule um pressuposto, a partir<br />
da conceituação <strong>de</strong>ste aspecto.<br />
Exemplo:<br />
Aspecto a ser consi<strong>de</strong>rado: Horário <strong>de</strong> realização da partida.<br />
Pressuposto: Jogos <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>s diminuem a chance <strong>de</strong> vitória <strong>de</strong><br />
times, <strong>no</strong>s quais os jogadores têm problemas <strong>de</strong> visão<br />
Os estudantes foram capazes <strong>de</strong> levantar aspectos e formular pressupostos<br />
sem muitas dificulda<strong>de</strong>s, entretanto o <strong>de</strong>senvolvimento matemático (<strong>no</strong> intuito <strong>de</strong><br />
atribuir probabilida<strong>de</strong>s aos resultados dos jogos) <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> pressupostos,<br />
principalmente incorporar o conceito <strong>de</strong> proporcionalida<strong>de</strong>, após atribuir pesos e<br />
médias pon<strong>de</strong>radas, mostrou se tratar <strong>de</strong> uma “tarefa” mais <strong>de</strong>safiadora; não em<br />
termos dos conteúdos matemáticos empregados, mas em se tratando do<br />
reconhecimento da aplicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les <strong>no</strong> contexto da mo<strong>de</strong>lagem.<br />
Por matematizar os pressupostos, enten<strong>de</strong>mos a utilização explícita <strong>de</strong><br />
métodos, conceitos, pensamento, linguagem ou representação <strong>matemática</strong> para<br />
construção do mo<strong>de</strong>lo. A seguir, trazemos a expressão <strong>matemática</strong>, criada pelos<br />
alu<strong>no</strong>s que apresentaram os aspectos mando do campo (MC), <strong>de</strong>senvolvimento<br />
econômico (DE), saldo <strong>de</strong> gols (SG) e cartões vermelhos (CV):<br />
4MC 3DE<br />
2SG<br />
CV<br />
10<br />
Devidamente explicitadas, <strong>no</strong> relatório dos alu<strong>no</strong>s, são as justificativas, tanto<br />
para o uso dos aspectos quanto para a formulação dos pressupostos. Cada uma das<br />
quatro variáveis na expressão assumiria um valor ente 0% e 100%, assim, a expressão<br />
forneceria um valor entre 0% e 100% para um dado time.<br />
UFOP – 2011
Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
Além da linguagem utilizada, ou seja, a expressão em termos <strong>de</strong> operações<br />
<strong>matemática</strong>s, há conceitos matemáticos subjacentes, como a média pon<strong>de</strong>rada, na<br />
expressão exemplificada. Ainda há outra etapa da matematização, tendo em vista a<br />
atribuição <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s, que é a transformação dos valores obtidos pela<br />
expressão <strong>de</strong>stacada em valores percentuais.<br />
Para ilustrar como po<strong>de</strong> se dar o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem, em sua totalida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>talharemos, a seguir, a construção <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso mo<strong>de</strong>lo ilustrativo. Ao falar em<br />
“totalida<strong>de</strong>” do processo, referimo-<strong>no</strong>s às etapas <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> aspectos,<br />
formulação <strong>de</strong> pressupostos, matematização e avaliação do mo<strong>de</strong>lo – todas as etapas<br />
<strong>de</strong>vidamente justificadas. Durante este texto, já fizemos alusão ao <strong>no</strong>sso mo<strong>de</strong>lo, o<br />
qual será explicitado na próxima seção.<br />
5.3. A construção <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso mo<strong>de</strong>lo ilustrativo<br />
Quando falamos em um mo<strong>de</strong>lo que atribua probabilida<strong>de</strong>s para cada<br />
resultado, em um jogo <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>, estamos interessados em respon<strong>de</strong>r às seguintes<br />
perguntas: No confronto que acontecerá entre as equipes A e B, qual é a probabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vitória do time A? E do time B? E qual é a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrer um empate?<br />
Para tanto, construímos um mo<strong>de</strong>lo ilustrativo, <strong>no</strong> intuito <strong>de</strong> antever problemas, obter<br />
subsídios práticos para conduzir a ativida<strong>de</strong>, em sala <strong>de</strong> aula, e avaliar a viabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>la. Po<strong>de</strong>ríamos utilizar qualquer mo<strong>de</strong>lo construído por alu<strong>no</strong>s em sala <strong>de</strong> aula, mas<br />
trazemos <strong>no</strong> presente texto, a mo<strong>de</strong>lagem feita por nós, que po<strong>de</strong> ser encontrada em<br />
Melillo e Bean (2011). A escolha pela <strong>no</strong>ssa própria mo<strong>de</strong>lagem para ser utilizada<br />
como exemplo se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> termos maiores <strong>de</strong>talhes para justificar e <strong>de</strong>screver<br />
<strong>de</strong> cada escolha realizada <strong>no</strong> processo.<br />
Para exemplificar tal mo<strong>de</strong>lagem, escolhemos a situação que <strong>no</strong>s era<br />
apresentada após a 21ª rodada do campeonato brasileiro <strong>de</strong> 2010. As informações<br />
disponíveis para a mo<strong>de</strong>lagem incluíam todo o conjunto <strong>de</strong> resultados ocorridos, ao<br />
longo do campeonato, até então (inclusive dados <strong>de</strong> a<strong>no</strong>s anteriores), bem como todos<br />
os elementos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m técnica, financeira, física e emocional dos clubes, existentes <strong>no</strong><br />
momento da análise da situação.<br />
UFOP – 2011<br />
29
30 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
Para atribuir as probabilida<strong>de</strong>s dos resultados <strong>no</strong>s 10 jogos da 22ª rodada,<br />
iniciamos <strong>no</strong>ssa interação com o problema, pon<strong>de</strong>rando sobre quais aspectos<br />
antece<strong>de</strong>ndo uma partida <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>, pelo <strong>no</strong>sso ver, seriam importantes para<br />
construir tais probabilida<strong>de</strong>s. Enten<strong>de</strong>mos que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ve ser fundamentado em<br />
uma ou algumas premissas ou i<strong>de</strong>ias-guia, ou <strong>no</strong>rtear sua construção. Apropriamos e<br />
ressignificamos o conceito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ia-guia (ver página 25) <strong>de</strong> Dewey que, ao discorrer<br />
sobre pensamento reflexivo e hipóteses levantadas em investigações, coloca: “Sem<br />
uma i<strong>de</strong>ia-guia, os fatos seriam amontoados como grãos <strong>de</strong> areia; não se organizam<br />
em unida<strong>de</strong> intelectual.” Para nós, em termos <strong>de</strong> premissas da mo<strong>de</strong>lagem,<br />
aproximamos o conceito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ia-guia com a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> um princípio que orienta a<br />
construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo. Não querendo ser repetitivos, mas <strong>no</strong> intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar o<br />
“caminho” <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa mo<strong>de</strong>lagem, retomaremos, <strong>no</strong>vamente, a premissa adotada:<br />
Premissa para guiar o pensamento<br />
Nossa premissa, ponto <strong>de</strong> partida da mo<strong>de</strong>lagem, foi a mesma postada para a<br />
turma:<br />
À expectativa sobre o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um time <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> em uma partida<br />
quanto ao resultado final (vitória, empate ou <strong>de</strong>rrota) po<strong>de</strong> ser atribuída uma<br />
probabilida<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> aspectos consi<strong>de</strong>rados relevantes levantados antes do<br />
início da partida.<br />
Aspectos levados em consi<strong>de</strong>ração<br />
A partir da premissa adotada, resolvemos <strong>no</strong>s orientar em três aspectos que<br />
consi<strong>de</strong>ramos pertinentes:<br />
Primeiro: o local on<strong>de</strong> a partida é realizada influencia <strong>no</strong>ssa expectativa;<br />
Segundo: características <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m técnica e emocional, vividas recentemente<br />
pelos times, são capazes <strong>de</strong> influenciar resultados;<br />
Terceiro: o <strong>de</strong>sempenho <strong>no</strong> campeonato como um todo (e não apenas o<br />
<strong>de</strong>sempenho recente) <strong>de</strong>ve ser levado em consi<strong>de</strong>ração, por representar o<br />
nível técnico das equipes, <strong>de</strong> um modo geral.<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
A formulação <strong>de</strong>sses aspectos foi orientada por crenças pessoais, baseadas em<br />
<strong>no</strong>ssa experiência em relação ao tema. Outros aspectos po<strong>de</strong>riam ter sido levados em<br />
consi<strong>de</strong>ração, mas a dificulda<strong>de</strong> em lidar com eles <strong>no</strong>s motivou a <strong>de</strong>scartá-los do<br />
mo<strong>de</strong>lo. Entre alguns <strong>de</strong>les, po<strong>de</strong>mos citar: conflitos inter<strong>no</strong>s na administração <strong>de</strong><br />
clubes, atrasos <strong>de</strong> pagamentos, jogadores que não estariam habilitados a jogar,<br />
<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> setores específicos, como ataque ou <strong>de</strong>fesa, etc.<br />
Pressupostos a partir dos aspectos e a sua matematização<br />
A partir da conceituação <strong>de</strong>sses três aspectos, formulamos três pressupostos<br />
numa linguagem que admite quantificação (BLUM e NISS, 1991; SKOVSMOSE, 2001;<br />
CIFUENTES e NEGRELLI, 2009). Para tanto, criamos três parâmetros, <strong>de</strong><strong>no</strong>tados por c,<br />
m e g, que representam, respectivamente, o que <strong>de</strong><strong>no</strong>minamos fator campo, o fator<br />
momento técnico-emocional e o fator <strong>de</strong>sempenho global <strong>de</strong> cada time. O conjunto<br />
<strong>de</strong>sses três parâmetros <strong>de</strong>termina o número f que chamamos força do time, em uma<br />
rodada específica.<br />
O fator campo, <strong>de</strong>scrito na seção 2 e retomado aqui, indicado por c, foi<br />
subdividido em dois valores: cm é o fator campo, <strong>no</strong> caso do time em questão ser o<br />
mandante, e cv, <strong>no</strong> caso em que este for o visitante. De acordo com <strong>no</strong>ssas crenças,<br />
julgamos que, se um time jogará em seus próprios domínios (time mandante),<br />
<strong>de</strong>finimos cm como a média <strong>de</strong> pontos obtida em cada jogo por este time, até então,<br />
<strong>no</strong>s jogos que realizou em casa. De forma análoga ao pressuposto para o time<br />
mandante, foi atribuído para o visitante um fator campo cv, dado pela média <strong>de</strong> pontos<br />
por jogo que o time obteve quando jogou nessa mesma condição. Desse modo, a cada<br />
time foram atribuídos dois fatores campo, um como mandante e o outro como<br />
visitante. Em cada rodada, apenas um <strong>de</strong>sses fatores será efetivamente consi<strong>de</strong>rado,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do local on<strong>de</strong> o jogo será realizado. As tabelas 2a e 2b mostram os<br />
valores <strong>de</strong> cm e cv.<br />
UFOP – 2011<br />
31
32 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
Tabela 2a: Valor <strong>de</strong> cm Tabela 2b: Valor <strong>de</strong> cv<br />
Para o fator momento técnico-emocional, assumimos como pressuposto que os<br />
resultados mais recentes têm um impacto significativo em relação às expectativas dos<br />
resultados <strong>de</strong> jogos, e o indicamos por m em <strong>no</strong>sso mo<strong>de</strong>lo. O fator m foi <strong>de</strong>finido<br />
como a média pon<strong>de</strong>rada da pontuação obtida pelo time nas últimas 6 rodadas. Nesse<br />
cálculo, a rodada mais recente tem peso 6, e o peso <strong>de</strong>cresce (por números inteiros),<br />
até a rodada mais remota, cujo peso da pontuação obtida é igual a 1. O valor <strong>de</strong> m<br />
po<strong>de</strong> ser observado na tabela 3.<br />
UFOP – 2011
Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
Tabela 3: Valor do fator momento técnico-emocional(m).<br />
A escolha <strong>de</strong> 6 jogos está relacionada ao tempo (<strong>no</strong>rmalmente, essa é a média<br />
<strong>de</strong> jogos realizados em um mês) e a escolha da média pon<strong>de</strong>rada se dá pela i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
que, quanto mais recente é um resultado obtido, mais fortemente esse resultado<br />
representa o momento vivido pelo time.<br />
O terceiro fator, o <strong>de</strong>sempenho global <strong>de</strong> um time, g, representa uma medida<br />
da qualida<strong>de</strong> técnica <strong>de</strong> um time, ao longo <strong>de</strong> todo o campeonato. Consi<strong>de</strong>ramos que<br />
a média aritmética dos pontos obtidos pelo time por jogo matematiza a<strong>de</strong>quadamente<br />
esse fator. Na Tabela 4, po<strong>de</strong>mos observar os valores <strong>de</strong> g para cada time.<br />
Tabela 4: Valor do fator <strong>de</strong>sempenho global (g).<br />
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33
34 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
Para transformar esses três fatores na força f <strong>de</strong> um time, para uma<br />
<strong>de</strong>terminada rodada, calculamos a média pon<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> c, m e g, com pesos<br />
respectivos 5, 4 e 1. Os pesos foram atribuídos por meio <strong>de</strong> critérios subjetivos, que<br />
expressam <strong>no</strong>ssa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> quanto cada um <strong>de</strong>les influencia <strong>no</strong> resultado,<br />
comparativamente entre eles. Como a pontuação obtida pelos times, individualmente,<br />
em um jogo, varia <strong>de</strong> 0 a 3 pontos, optamos por estipular que os valores <strong>de</strong> todos os<br />
parâmetros consi<strong>de</strong>rados também variassem <strong>de</strong> 0 a 3, incluindo a força f <strong>de</strong> cada time.<br />
Na tabela 5 a seguir, estão representados o momento técnico-emocional (fator<br />
m), o <strong>de</strong>sempenho global (fator g), o <strong>de</strong>sempenho específico como mandante e como<br />
visitante (fatores cm e cv) e a força (f) <strong>de</strong> cada um dos 20 times para a próxima rodada.<br />
Isto é, a tabela mostra o mo<strong>de</strong>lo matemático que construímos para criar o que<br />
chamamos forças dos times:<br />
4m 5c<br />
g<br />
f <br />
10<br />
Esses fatores, em conjunto, constituem a matematização do que Bean (2009)<br />
chama <strong>de</strong> isolado. A tabela 6 apresenta os confrontos da 22ª rodada.<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
Tabela 5: Valor da força (f) Tabela 6: Confrontos da 22ª rodada<br />
A escolha <strong>de</strong> pesos <strong>de</strong> maneira subjetiva, bem como a escolha <strong>de</strong> medidas<br />
estatísticas, como média aritmética e média pon<strong>de</strong>rada, conduz a um resultado<br />
matemático que expressa <strong>no</strong>ssa expectativa pessoal a respeito dos fatores que afetam<br />
o <strong>de</strong>sempenho das equipes. Ao transformar essa expectativa em termos <strong>de</strong><br />
probabilida<strong>de</strong>s, que é a última fase da matematização do mo<strong>de</strong>lo, chegamos à<br />
probabilida<strong>de</strong> subjetiva <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> cada resultado.<br />
A atribuição das probabilida<strong>de</strong>s remete à subjetivida<strong>de</strong> embutida na atribuição<br />
<strong>de</strong> forças para cada time. Além disso, enten<strong>de</strong>mos que a chance <strong>de</strong> vitória <strong>de</strong> um time<br />
<strong>de</strong>ve ser proporcional à sua força (f). Devemos lembrar, ainda, que o espaço amostral<br />
dos resultados <strong>de</strong> um jogo <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> possui três eventos. Além da vitória do<br />
mandante e da vitória do visitante, existe o empate como uma possibilida<strong>de</strong>.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos que, quanto mais próximas estão as forças <strong>de</strong> dois times, maior é a<br />
chance <strong>de</strong> empate entre eles. Utilizamos a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a chance <strong>de</strong> empate em um<br />
jogo, por mais equilibrado que este seja, não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada superior a 50%.<br />
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36 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
Este valor tem caráter altamente subjetivo, e foi um consenso entre pessoas que<br />
participaram da construção do mo<strong>de</strong>lo, após uma rica discussão. Um dado que foi<br />
levantado durante esta discussão foi o seguinte: <strong>no</strong>s últimos 5 a<strong>no</strong>s, pouco me<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />
27% dos jogos do campeonato brasileiro terminaram empatados. Chegamos, então, à<br />
seguinte forma para calcular a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empate: a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empate é<br />
a razão entre a me<strong>no</strong>r e a maior das forças, multiplicada por 0,5. Dessa forma, a<br />
chance <strong>de</strong> empate (e) será sempre me<strong>no</strong>r ou igual a 50%, diminuindo na medida em<br />
que a diferença entre as forças aumenta.<br />
Como exemplo, <strong>de</strong>stacamos o cálculo da chance <strong>de</strong> empate <strong>no</strong> jogo realizado<br />
na 22ª rodada entre Corinthians e Fluminense, os dois times que disputavam a<br />
li<strong>de</strong>rança do campeonato até então. Como a força da equipe do Fluminense para este<br />
jogo era <strong>de</strong> 1,83 e a força do Corinthians era <strong>de</strong> 1,15, calculamos a chance <strong>de</strong> empate,<br />
(1,15/1,83) x 0,5 = 0,31. Ou seja, consi<strong>de</strong>ramos que 31% é a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrer<br />
empate nesse jogo.<br />
As probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vitória, <strong>de</strong> cada um dos dois times, são calculadas<br />
dividindo-se o percentual <strong>de</strong> chance <strong>de</strong> haver um vencedor (1 - e) em partes<br />
proporcionais às forças dos dois times. Para o jogo Fluminense x Corinthians, a chance<br />
<strong>de</strong> haver um vencedor é <strong>de</strong> 0,69, ou seja, um (1) me<strong>no</strong>s a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empate (e).<br />
Os 69% <strong>de</strong> chance <strong>de</strong> não ocorrer empate <strong>de</strong>vem, então, ser divididos em partes<br />
proporcionais a 1,83 e 1,15, gerando assim, as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vitória <strong>de</strong> Fluminense<br />
e Corinthians, respectivamente.<br />
Retomamos aqui a tabela 1, já exposta <strong>no</strong> início do texto, como resultado final<br />
da mo<strong>de</strong>lagem. Vejamos as probabilida<strong>de</strong>s que essa mo<strong>de</strong>lagem gerou, como<br />
percentuais, para os resultados <strong>no</strong>s jogos da 22ª rodada. A coluna indicada por m é o<br />
percentual <strong>de</strong> chance <strong>de</strong> vitória do mandante, e é o percentual <strong>de</strong> chance <strong>de</strong> empate e<br />
v é o percentual <strong>de</strong> chance <strong>de</strong> vitória do visitante.<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
Nesta 22ª rodada, o mo<strong>de</strong>lo “acertou” os resultados <strong>de</strong> três dos <strong>de</strong>z jogos, o<br />
que consi<strong>de</strong>ramos um índice peque<strong>no</strong>. Chamamos <strong>de</strong> “acerto” o fato <strong>de</strong> atribuir maior<br />
probabilida<strong>de</strong> para o resultado <strong>de</strong> fato ocorrido. Naturalmente, não se po<strong>de</strong><br />
consi<strong>de</strong>rar a<strong>de</strong>quado ou ina<strong>de</strong>quado o mo<strong>de</strong>lo, a partir da comparação com os<br />
resultados <strong>de</strong> uma única rodada. Esse mo<strong>de</strong>lo se auto-ajusta por meio <strong>de</strong> uma<br />
realimentação realizada, a partir dos resultados <strong>de</strong> cada rodada. Nas rodadas<br />
subsequentes, <strong>de</strong>vemos estar atentos à comparação entre previsões do mo<strong>de</strong>lo e<br />
resultados observados. Se as previsões do mo<strong>de</strong>lo não correspon<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> forma<br />
a<strong>de</strong>quada, aos resultados do campeonato, <strong>de</strong>vemos reavaliar a construção do mo<strong>de</strong>lo,<br />
ora revendo parâmetros e métodos <strong>de</strong> cálculos, ora questionando pressupostos<br />
assumidos. Além disso, é importante estar ciente <strong>de</strong> que o índice <strong>de</strong> acertos po<strong>de</strong> estar<br />
abaixo do esperado, por se tratar <strong>de</strong> um experimento com alto grau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong><br />
e inúmeros fatores envolvidos, além da subjetivida<strong>de</strong> presente na construção do<br />
mo<strong>de</strong>lo.<br />
Levaríamos então, para a sala <strong>de</strong> aula, a sequência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scrita. Os<br />
alu<strong>no</strong>s não teriam acesso a <strong>no</strong>sso mo<strong>de</strong>lo ilustrativo. Imaginamos que isso seria<br />
prejudicial para a mo<strong>de</strong>lagem, pois <strong>no</strong>sso mo<strong>de</strong>lo carregaria consigo o rótulo <strong>de</strong><br />
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38 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
mo<strong>de</strong>lo “correto”, <strong>de</strong>vido à autorida<strong>de</strong> intelectual <strong>no</strong>rmalmente atribuída às opiniões<br />
do professor. Esse tipo <strong>de</strong> juízo <strong>de</strong>scaracterizaria toda a ativida<strong>de</strong>, cujo espírito é <strong>de</strong><br />
valorizar a criativida<strong>de</strong>, a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções e, sobretudo, o processo acima do<br />
produto.<br />
Para que os alu<strong>no</strong>s participantes da ativida<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>ssem apreciar seus próprios<br />
processos na construção dos mo<strong>de</strong>los e conhecer as mo<strong>de</strong>lagens <strong>de</strong> colegas,<br />
realizaram trabalhos escritos, ao longo da ativida<strong>de</strong>, e elaboraram relatórios finais com<br />
apresentações <strong>de</strong>sses trabalhos. Um roteiro para os relatórios finais (a seguir) foi<br />
fornecido aos alu<strong>no</strong>s para ajudá-los a concatenar as i<strong>de</strong>ias.<br />
RELATÓRIO FINAL – MODELAGEM MATEMÁTICA NO FUTEBOL:<br />
Favor relatar, por escrito, os principais passos da mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong><br />
realizada nas últimas aulas, constando, por exemplo, os seguintes dados:<br />
- Argumentações <strong>de</strong>ntro do grupo;<br />
- Mudanças <strong>de</strong> curso na construção do mo<strong>de</strong>lo;<br />
- De on<strong>de</strong> surgiram as i<strong>de</strong>ias (intuição, pesquisa, <strong>de</strong>bate, etc.);<br />
- Dificulda<strong>de</strong>s (seja na escolha <strong>de</strong> aspectos, formulação <strong>de</strong> pressupostos,<br />
matematização, etc.);<br />
- Conteúdos matemáticos utilizados;<br />
- Conhecimentos prévios do grupo;<br />
- Fontes <strong>de</strong> pesquisa utilizadas;<br />
- O que foi aprendido pelo grupo;<br />
- Pressupostos “abandonados” ao longo do caminho;<br />
- Critérios <strong>de</strong> avaliação da a<strong>de</strong>quação do mo<strong>de</strong>lo;<br />
- Pressupostos ou parâmetros reformulados <strong>no</strong> refinamento do mo<strong>de</strong>lo;<br />
- Outras informações que o grupo consi<strong>de</strong>rar relevantes.<br />
Além disso, preparar uma apresentação <strong>de</strong> aproximadamente 15 minutos,<br />
para comunicar aos colegas como foi sua mo<strong>de</strong>lagem, bem como apresentar<br />
as probabilida<strong>de</strong>s atribuídas pelos mo<strong>de</strong>los construídos.<br />
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Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
Os relatórios produzidos pelos alu<strong>no</strong>s permitiram um olhar para o processo <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lagem como um todo, adicionalmente às observações que realizamos durante as<br />
aulas. Algumas das consi<strong>de</strong>rações feitas por eles são <strong>de</strong>stacadas a seguir:<br />
“O grupo apren<strong>de</strong>u que um mo<strong>de</strong>lo matemático sempre será <strong>de</strong>senvolvido a<br />
partir <strong>de</strong> um conhecimento prévio, mas que nem sempre será o melhor mo<strong>de</strong>lo.<br />
Mo<strong>de</strong>los diferentes po<strong>de</strong>m representar a mesma situação chegando a<br />
resultados diferentes o que não significa que existe um mo<strong>de</strong>lo certo ou<br />
errado.”<br />
“Concluímos que não é preciso ter gran<strong>de</strong> conhecimento sobre o assunto para<br />
criar um mo<strong>de</strong>lo matemático, que é possível aplicar o método em diversas<br />
séries do ensi<strong>no</strong> médio e fundamental para diferentes conteúdos a serem<br />
ministrados.”<br />
“Po<strong>de</strong>mos afirmar que quanto ao assunto <strong>de</strong> ‘<strong>futebol</strong>’ apren<strong>de</strong>mos muito e isto<br />
<strong>no</strong>s <strong>de</strong>ixou satisfeitas, pois o <strong>futebol</strong> faz parte da cultura brasileira.”<br />
No primeiro trecho <strong>de</strong>stacado, alu<strong>no</strong>s avaliam a ativida<strong>de</strong> do ponto <strong>de</strong> vista da<br />
construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los, e <strong>no</strong> segundo, do ponto <strong>de</strong> vista da aproximação do conteúdo<br />
escolar dos temas do dia-a-dia.<br />
CONSIDERAÇÕES<br />
Retomando os objetivos à luz da realização e análise 7 da ativida<strong>de</strong>, é pertinente<br />
<strong>no</strong>s questionarmos: Em que medida conseguimos alcançar cada um <strong>de</strong>les?<br />
I – diminuir o distanciamento entre a maneira <strong>de</strong> se agir e pensar, <strong>no</strong>s problemas<br />
propostos em sala <strong>de</strong> aula, com o modo <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões em situações extra-<br />
escolares.<br />
Po<strong>de</strong>mos inferir da análise da ativida<strong>de</strong> que esse foi um objetivo cumprido a<br />
contento. Algumas passagens observadas, durante a ativida<strong>de</strong>, explicitaram relações<br />
entre a vida escolar e a vida cotidiana dos alu<strong>no</strong>s, em geral. Essas relações pu<strong>de</strong>ram<br />
ser observadas tanto em assuntos discutidos (<strong>futebol</strong>, probabilida<strong>de</strong>, apostas, etc.)<br />
quanto em atitu<strong>de</strong>s (tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, auto<strong>no</strong>mia, etc.). A ativida<strong>de</strong> mostrou<br />
7 A dissertação que gerou este texto contém a análise <strong>de</strong>talhada, realizada pelo método da análise <strong>de</strong><br />
conteúdo.<br />
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40 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
potencial para conscientizar os estudantes <strong>de</strong> que o mundo não é dividido em dois<br />
fragmentos disjuntos e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, um <strong>de</strong>ntro e outro fora da escola.<br />
II – fortalecer a capacida<strong>de</strong> dos alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> argumentar, formular i<strong>de</strong>ias-guia, justificar e<br />
testar suas conjecturas por meio <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong>, a partir<br />
da adoção <strong>de</strong> premissas e formulação <strong>de</strong> pressupostos.<br />
Aspectos do pensamento reflexivo que, em certos momentos, foram<br />
contemplados <strong>no</strong> trabalho. Esses aspectos remetem, principalmente, a atitu<strong>de</strong>s<br />
intelectuais <strong>de</strong> previsão, <strong>de</strong> antecipação <strong>de</strong> consequências e da tentativa <strong>de</strong> empregar<br />
o pensamento (mais que isso, o pensamento reflexivo) antes <strong>de</strong> agir impulsivamente,<br />
diante <strong>de</strong> uma situação problemática.<br />
A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem, na ótica <strong>de</strong> premissas e pressupostos, associou-se,<br />
<strong>de</strong> forma produtiva, ao estímulo do pensamento reflexivo. A responsabilida<strong>de</strong><br />
conferida aos alu<strong>no</strong>s, para levantar aspectos, formular pressupostos e avaliar seus<br />
próprios mo<strong>de</strong>los contribuiu para que tais alu<strong>no</strong>s tivessem domínio das possíveis<br />
consequências <strong>de</strong> cada uma das suas escolhas. Tamanha consciência do processo <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lagem estimulou, na maneira <strong>de</strong> pensar dos estudantes, uma consecução das<br />
i<strong>de</strong>ias, <strong>no</strong> intuito <strong>de</strong> construir soluções satisfatórias para a situação problemática,<br />
diante da qual os alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>veriam se posicionar.<br />
III – criar uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<br />
matemáticos, trabalhando o pensamento, a linguagem e conceitos matemáticos<br />
diversos.<br />
Ainda que os conceitos matemáticos utilizados pelos alu<strong>no</strong>s para a construção<br />
<strong>de</strong> seus mo<strong>de</strong>los tenha sido básicos, foi interessante perceber a liberda<strong>de</strong> dada a eles<br />
para escolher, além dos próprios conceitos, a linguagem <strong>matemática</strong> a ser usada.<br />
Principalmente, os alu<strong>no</strong>s tiveram liberda<strong>de</strong> para pensar matematicamente, isto é,<br />
utilizar diferentes estratégias para lidar com o caso apresentado.<br />
Finalmente, concluímos sobre o método do caso que este apresentou potencial<br />
para conduzir a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem, estimulando atitu<strong>de</strong>s e competências<br />
UFOP – 2011
Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
referentes à escola <strong>de</strong> Dewey.<br />
Contudo, embora tenhamos analisado cuidadosamente os resultados <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa<br />
pesquisa <strong>de</strong> Mestrado Profissional, em antecedência à confecção <strong>de</strong>ste produto<br />
educacional, é preciso ter em mente que as conclusões da análise são, mais<br />
precisamente, interpretações da situação observada.<br />
Uma interpretação plausível para os resultados <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa pesquisa é que eles<br />
tenham apontado indícios <strong>de</strong> que a ativida<strong>de</strong> proposta foi coerente com princípios da<br />
educação progressiva. Apenas po<strong>de</strong>mos refletir em que medida os objetivos <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa<br />
pesquisa foram atingidos. O próprio Dewey (2010) alerta que<br />
não é suficiente que certos materiais e métodos tenham sido<br />
eficientes com outros indivíduos em outras ocasiões. Deve haver uma<br />
razão para se acreditar que certos materiais e métodos funcionarão<br />
na produção <strong>de</strong> uma experiência que tenha qualida<strong>de</strong> educativa com<br />
<strong>de</strong>terminados indivíduos em <strong>de</strong>terminado tempo. (p.47).<br />
Ao julgar <strong>no</strong>ssas conclusões sobre o trabalho, convém inferir o que se po<strong>de</strong><br />
generalizar, ou melhor dizendo, o que se po<strong>de</strong> aproveitar/adaptar para diferentes<br />
contextos e objetivos educacionais em que se tenha a intenção <strong>de</strong> utilizar <strong>no</strong>ssa<br />
ativida<strong>de</strong> como inspiração.<br />
Outra pon<strong>de</strong>ração relevante é com o método a ser adotado para conduzir uma<br />
ativida<strong>de</strong> da natureza da que propusemos. O método do caso é apenas uma opção que<br />
acreditamos ser a<strong>de</strong>quada, <strong>de</strong>ntre outros métodos que po<strong>de</strong>riam ser utilizados.<br />
Inclusive, enten<strong>de</strong>mos que o método do caso não seria a<strong>de</strong>quado para conduzir várias<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem em contextos e sob óticas que po<strong>de</strong>mos encontrar na<br />
literatura. Po<strong>de</strong>mos ilustrar essa incompatibilida<strong>de</strong> com o trabalho <strong>de</strong> Franchi e<br />
Mattos (2009), em que o problema em estudo foi reformulado algumas vezes, durante<br />
a ativida<strong>de</strong>, ou com a ótica <strong>de</strong> Araújo (2009), segundo a qual o tema <strong>de</strong> estudo na<br />
ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong>ve ser escolhido pelos alu<strong>no</strong>s. Em ambos os casos,<br />
enten<strong>de</strong>mos que a utilização <strong>de</strong> outro método <strong>de</strong>va ser apreciada pelo professor.<br />
Seria um contrassenso <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa parte <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que <strong>de</strong>terminado método <strong>de</strong>ve<br />
ser utilizado sem restrições, por qualquer professor e em qualquer contexto.<br />
UFOP – 2011<br />
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42 PRODUTO EDUCACIONAL<br />
Preferimos corroborar com o que enuncia Dewey (2010, p.59): “O professor <strong>de</strong>ve<br />
planejar com flexibilida<strong>de</strong> e direcionamento.”<br />
Flexibilida<strong>de</strong>, para nós, é uma condição necessária para se enten<strong>de</strong>r os<br />
diferentes pontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> estudantes e para adaptar as concepções do educador às<br />
condições objetivas e institucionais às quais os envolvidos <strong>no</strong> processo educacional<br />
estão submetidos. Direcionamento também, pois o alu<strong>no</strong> precisa estar <strong>de</strong>safiado e ter<br />
claro um propósito.<br />
Acreditamos que, ao propor a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> <strong>no</strong> <strong>futebol</strong>,<br />
possamos ter contribuído para o <strong>de</strong>bate educacional, oferecendo uma estratégia <strong>de</strong><br />
construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los matemáticos na solução <strong>de</strong> uma situação, apresentando uma<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encaminhamento didático em sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> Matemática (o método<br />
do caso) e escolhendo um contexto apropriado para a concepção da ativida<strong>de</strong> (o<br />
Campeonato Brasileiro <strong>de</strong> Futebol).<br />
Um ponto alto da ativida<strong>de</strong>, a <strong>no</strong>sso ver, foi a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada alu<strong>no</strong><br />
trabalhar a partir <strong>de</strong> suas próprias experiências <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>ixando aberto o “portão” da<br />
escola, para que crenças, atitu<strong>de</strong>s e conhecimentos pu<strong>de</strong>ssem “entrar e sair a<br />
qualquer momento”, diminuindo o distanciamento entre esses dois “mundos”.<br />
Ao associar a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula às atitu<strong>de</strong>s, conhecimentos e<br />
experiências do cotidia<strong>no</strong> dos estudantes, tentamos <strong>no</strong>s aproximar <strong>de</strong> uma escola há<br />
décadas vislumbrada e <strong>de</strong>fendida por Dewey, em que competências capazes <strong>de</strong><br />
incrementar a qualida<strong>de</strong> das experiências dos alu<strong>no</strong>s roubam o lugar <strong>de</strong> fórmulas<br />
prontas, estratégias únicas, busca por respostas fechadas e acabadas... Em suma: uma<br />
escola que preza pelo fim das “mentes fechadas”. Para nós, a ativida<strong>de</strong> mostrou que<br />
essa escola não é mera utopia. É possível!<br />
UFOP – 2011
Futebol: entram em campo a mo<strong>de</strong>lagem <strong>matemática</strong> e o método do caso.<br />
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