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a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

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Política ou <strong>da</strong> Filosofia? E respon<strong>de</strong>: primeiro, porque o termo “<strong>ciência</strong>” está reservado<br />

para áreas do conhecimento que progrid<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma maneira óbvia, com as técnicas e<br />

objetivos <strong>de</strong>scritos no seu ensaio; segundo, porque uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

científica trabalha sobre um único paradigma ou sobre um conjunto <strong>de</strong> paradigmas<br />

<strong>de</strong>terminados e a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> precípua <strong>de</strong>sse trabalho é o progresso. Nesse sentido, a arte<br />

e a filosofia até po<strong>de</strong>riam progredir tal qual a <strong>ciência</strong>, to<strong>da</strong> vez que um grupo <strong>de</strong> artistas<br />

ou filósofos se <strong>de</strong>dicass<strong>em</strong> a <strong>de</strong>senvolver um mesmo paradigma. “O progresso<br />

científico não é diferente <strong>da</strong>quele obtido <strong>em</strong> outras áreas, mas a ausência, na maior parte<br />

dos casos, <strong>de</strong> escolas competidoras que question<strong>em</strong> mutuamente seus objetivos e<br />

critérios, torna b<strong>em</strong> mais fácil perceber o progresso <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica<br />

normal” (KUHN, 1978, p. 205).<br />

Reflete Thomas Kuhn: os cientistas estão muito mais preocupados com a<br />

avaliação que seus pares farão do seu trabalho, ao passo que teólogos e poetas, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, direcionam suas produções aos leigos. Uma vez que o cientista sabe que será<br />

avaliado por seus colegas, po<strong>de</strong> pressupor um conjunto <strong>de</strong> critérios específicos, que o<br />

teólogo e o poeta não pod<strong>em</strong>. E o mais importante é que a pretensa superiori<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

racional do cientista sobre o resto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> lhe permite escolher sobre qual<br />

probl<strong>em</strong>a vai <strong>de</strong>bruçar seu estudo arbitrariamente. Segundo o autor, essa é uma<br />

diferença crucial entre os cientistas <strong>da</strong>s <strong>ciência</strong>s naturais e <strong>da</strong>s <strong>ciência</strong>s sociais, pois<br />

somente estes últimos se preocupam <strong>em</strong> justificar a escolha <strong>de</strong> seu objeto <strong>de</strong> pesquisa<br />

com a importância social que possa possuir. Outra diferença, segundo Kuhn, é que os<br />

cientistas sociais estu<strong>da</strong>m to<strong>da</strong> a obra <strong>de</strong> seus pre<strong>de</strong>cessores, enquanto os cientistas<br />

naturais se fiam apenas no paradigma já consoli<strong>da</strong>do e sist<strong>em</strong>atizado. Por isso, quando a<br />

<strong>crise</strong> surge, estes últimos estão b<strong>em</strong> menos preparados para superá-la, pois o treino<br />

científico rígido não foi forjado para ser crítico. A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> cientifica é<br />

extr<strong>em</strong>amente eficiente para resolver quebra-cabeças <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu paradigma, e, por<br />

isso, está atrela<strong>da</strong> ao progresso, mas quando o paradigma fracassa, há uma imensa<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> superação.<br />

O ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro progresso, para Kuhn, contudo, é o trazido pelas revoluções<br />

científicas oculta<strong>da</strong>s pela alteração <strong>da</strong> história. Segundo ele, isso é evi<strong>de</strong>nciado pelo<br />

fato <strong>de</strong> que somente o conhecimento oriundo na civilização helênica prospera até os<br />

dias atuais. Muito <strong>em</strong>bora to<strong>da</strong>s as civilizações <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> possuíss<strong>em</strong> algum nível<br />

<strong>de</strong> <strong>ciência</strong> e tecnologia, somente o saber produzido pelos gregos foi propagado pela<br />

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PROMETEUS - Ano 4 - Número 7 - Janeiro-Junho/2011 - ISSN: 1807-3042 - E-ISSN: 2176-5960

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