17.04.2013 Views

a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

muita coisa que está além ou aquém <strong>de</strong>le, mas <strong>de</strong>scompassado <strong>em</strong> relação a tudo que o<br />

habita.” (SANTOS, 1996, p. 06). Ensina-nos o catedrático que, nos períodos <strong>de</strong><br />

transição, <strong>de</strong> <strong>crise</strong>, é necessário regressarmos a perguntas simples e el<strong>em</strong>entares, como<br />

as que Rousseau formulara no século XVIII, quais sejam: 1. Há alguma relação entre a<br />

<strong>ciência</strong> e a virtu<strong>de</strong>? 2. Há alguma razão <strong>de</strong> peso para substituirmos o conhecimento<br />

vulgar que t<strong>em</strong>os <strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e que partilhamos com homens e mulheres <strong>da</strong><br />

nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo conhecimento científico produzido por poços e inacessível à<br />

maioria? 3. Contribuirá a <strong>ciência</strong> para diminuir o fosso crescente na nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

entre o que se é e o que se aparenta ser, o saber dizer e o saber fazer, entre teoria e<br />

prática? Rousseau, do <strong>de</strong>sabrochar <strong>da</strong>s luzes <strong>da</strong> razão, já respondia categoricamente a<br />

to<strong>da</strong>s essas perguntas: Não! (ROUSSEAU, 1971, p. 52).<br />

Para Boaventura, ain<strong>da</strong> nos faz<strong>em</strong>os estas mesmas perguntas, porque estamos<br />

novamente perplexos e vacilantes, confrontados pela necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nos questionarmos<br />

sobre as relações estabeleci<strong>da</strong>s entre <strong>ciência</strong> e ética; conhecimento científico e senso<br />

comum; progresso e felici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por isso, estamos imersos <strong>em</strong> uma <strong>crise</strong>, que, no sentido<br />

hipocrático, é o momento certo para realizar a intervenção e promover a “cura”.<br />

Estamos no fim <strong>de</strong> um ciclo <strong>de</strong> heg<strong>em</strong>onia <strong>de</strong> uma certa ord<strong>em</strong><br />

científica. As condições epistêmicas <strong>de</strong> nossas perguntas estão<br />

inscritas no avesso dos conceitos que utilizamos para <strong>da</strong>r-lhes reposta<br />

[...] começa a <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fazer sentido a distinção entre <strong>ciência</strong>s<br />

naturais e <strong>ciência</strong>s sociais [...] as <strong>ciência</strong>s sociais terão <strong>de</strong> recusar<br />

to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong> positivismo lógico ou <strong>em</strong>pírico ou <strong>de</strong> mecanismo<br />

materialista ou i<strong>de</strong>alista com a conseqüente revalorização do que se<br />

convencionou chamar <strong>de</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou estudos humanísticos [...]<br />

(SANTOS, 1996, pp. 09-10)<br />

Na sua égi<strong>de</strong>, o racionalismo mo<strong>de</strong>rno foi marcado por uma ultraconfiança<br />

epist<strong>em</strong>ológica, e por uma crença profun<strong>da</strong> e genuína <strong>em</strong> que uma a<strong>de</strong>quação fi<strong>de</strong>digna<br />

ao método seria realmente capaz <strong>de</strong> conferir ao hom<strong>em</strong> pleno conhecimento do mundo.<br />

Conforme Boaventura, encontramos sinais explícitos <strong>de</strong>ssa fé entusiasma<strong>da</strong> no escritos<br />

<strong>de</strong> Bacon, Descartes e Kepler. Conquanto, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que o conhecimento metódico<br />

seria capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>scortinar todos os mistérios existentes, as outras formas <strong>de</strong> saberes e<br />

fazeres não eram idôneas a constituir qualquer resultado aceitável. Esse exclusivismo <strong>da</strong><br />

razão renascentista encontrou seu apogeu nos postulados do iluminismo, o qual, além<br />

do apego metodológico, também possuía a intenção <strong>de</strong>libera<strong>da</strong> <strong>de</strong> eliminar tudo o que<br />

144<br />

PROMETEUS - Ano 4 - Número 7 - Janeiro-Junho/2011 - ISSN: 1807-3042 - E-ISSN: 2176-5960

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!