17.04.2013 Views

a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ele. Na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que as pretensas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s científicas se apóiam <strong>em</strong> paradigmas cujas<br />

asserções são confirma<strong>da</strong>s por mecanismos internos, o que diferencia a <strong>ciência</strong> do mito?<br />

Em que medi<strong>da</strong> a <strong>ciência</strong> seria, por assim dizer, mais confiável que as mitificações?<br />

Kuhn, luci<strong>da</strong>mente, reconhece: “Se essas crenças obsoletas pod<strong>em</strong> ser chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

mitos, então os mitos pod<strong>em</strong> ser produzidos pelos mesmos tipos <strong>de</strong> métodos e mantidos<br />

pelas mesmas razões que hoje conduz<strong>em</strong> ao conhecimento científico” (KUHN, 1978, p.<br />

21). A aproximação paradoxal entre <strong>ciência</strong> e mito é muito mais clara e <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> outros autores, como, por ex<strong>em</strong>plo, na primeira geração frankfurtiana (ADORNO;<br />

HORKHEIMER, 2006), mas é sintomático encontrar a mesma conclusão <strong>em</strong> um teórico<br />

que se formou nas <strong>ciência</strong>s exatas, s<strong>em</strong> nenhuma tradição no pensamento crítico. E esse<br />

esclarecimento acerca <strong>da</strong> inquestionabili<strong>da</strong><strong>de</strong> paradigmática <strong>da</strong>s <strong>ciência</strong>s propulsiona<br />

to<strong>da</strong> a angústia do autor, que o leva às d<strong>em</strong>ais reflexões e constatações do ensaio.<br />

Assim, <strong>de</strong>nuncia que o método <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> <strong>mo<strong>de</strong>rna</strong> (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que obe<strong>de</strong>ça às suas<br />

<strong>de</strong>terminações paradigmáticas para ser consi<strong>de</strong>rado idôneo) é capaz <strong>de</strong> chegar a<br />

qualquer resultado. A mesma aferição também está presente <strong>em</strong> Horkheimer, para qu<strong>em</strong><br />

a razão eclipsa<strong>da</strong> é um pensamento cegamente pragmatizado, que per<strong>de</strong> absolutamente<br />

seu caráter superador e sua potencial relação com a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> (HORKHEIMER, 2007, p.<br />

84).<br />

Des<strong>de</strong> que seja comprovável <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s estruturas metodológicas aceitas,<br />

qualquer resultado po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado científico; assim, se mantivermos a crença <strong>de</strong><br />

que o método leva a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s científicas, a <strong>ciência</strong> na<strong>da</strong> mais é do que uma arte <strong>de</strong> se<br />

produzir infinitas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s, tantas quantas for<strong>em</strong> as intenções dos cientistas, <strong>de</strong>correntes<br />

<strong>da</strong> “incomensurabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suas maneiras <strong>de</strong> ver o mundo e nele praticar a <strong>ciência</strong>”<br />

(KUHN, 1978, p. 23). Conquanto, essa epifania <strong>de</strong> Kuhn, capaz <strong>de</strong> abrir-lhe os olhos<br />

para a falibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos paradigmas e a manipulabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos métodos, não o leva a<br />

questionar a <strong>ciência</strong> <strong>mo<strong>de</strong>rna</strong> na sua radicali<strong>da</strong><strong>de</strong>, como faz<strong>em</strong> os frankfurtianos e como<br />

ver<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Boaventura, mas lhe permite, mais mo<strong>de</strong>stamente, reconhecer que a<br />

substituição contínua <strong>de</strong> paradigmas não é somente aceitável, como também necessária.<br />

Nessa toa<strong>da</strong>, estabelece duas formas <strong>de</strong> se produzir conhecimento científico: a<br />

“<strong>ciência</strong> normal”, que “significa a pesquisa firm<strong>em</strong>ente basea<strong>da</strong> <strong>em</strong> uma ou mais<br />

realizações científicas passa<strong>da</strong>s (KUHN, 1978, p. 29); e a <strong>ciência</strong> extraordinária,<br />

atrela<strong>da</strong> ao que ele chama <strong>de</strong> “revoluções científicas”, as quais seriam “os<br />

compl<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>sintegradores <strong>da</strong> tradição à qual a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> normal está<br />

134<br />

PROMETEUS - Ano 4 - Número 7 - Janeiro-Junho/2011 - ISSN: 1807-3042 - E-ISSN: 2176-5960

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!