a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa
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1. INTRODUÇÃO<br />
Estabelecer um paralelo entre dois teóricos <strong>de</strong> orientações tão diversas para se<br />
chegar, <strong>em</strong> última instância, ao mesmo resultado, qual seja, à salutar <strong>crise</strong> por que passa<br />
a <strong>ciência</strong>, perfaz uma estratégia acadêmica oportuna e responsável. O escopo do<br />
presente trabalho, portanto, mais do que <strong>de</strong>notar o período transitório <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os,<br />
é d<strong>em</strong>onstrar que sua inexorabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ita a crítica nas mentes mais heterogêneas,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que lúci<strong>da</strong>s e dispostas a enxergar o evi<strong>de</strong>nte.<br />
A <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> que a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>mo<strong>de</strong>rna</strong> se encontra num processo altamente<br />
crítico t<strong>em</strong> sido sist<strong>em</strong>aticamente realiza<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu próprio amadurecimento. Essa<br />
<strong>crise</strong> se <strong>de</strong>ve claramente à sua incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong> conhecer tudo<br />
absolutamente, como intentara, estabelecendo conceitos e teorias fixas e imutáveis, e ao<br />
seu <strong>de</strong>slocamento <strong>em</strong> relação à ontologia do conhecimento, apartando-se<br />
completamente <strong>da</strong> ética e <strong>da</strong> filosofia. Esse fracasso <strong>da</strong> panacéia <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao<br />
lado <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sprezo pelo humanismo genuíno, é patente, senão óbvio. Conquanto, o<br />
que há <strong>de</strong> interessante e salutar nos pensamentos <strong>de</strong> Kuhn e Santos, especificamente, é<br />
que suas críticas à razão <strong>mo<strong>de</strong>rna</strong> part<strong>em</strong> do seu próprio interior teórico. Ambos os<br />
autores procuram <strong>de</strong>sconstruir a supr<strong>em</strong>acia paradigmática <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> a partir <strong>da</strong>s suas<br />
próprias estruturas, d<strong>em</strong>onstrando sua falência inevitável.<br />
O norte-americano Thomas Kuhn iniciou sua carreira como físico teórico,<br />
orientando-se para a História <strong>da</strong> Ciência, por se sentir extr<strong>em</strong>amente angustiado ao não<br />
encontrar respostas aos seus questionamentos subjetivos na rigi<strong>de</strong>z dos paradigmas<br />
dominantes. Viu-se compelido a buscar reflexões filosóficas, questionando a<br />
organização epist<strong>em</strong>ológica <strong>de</strong> uma <strong>ciência</strong> que nega qualquer subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> sua<br />
metodologia. Boaventura <strong>de</strong> Sousa Santos, professor <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia <strong>de</strong><br />
Coimbra, mais ousado, realiza um discurso que abrange todo o pensar científico,<br />
apartando qualquer preceito <strong>de</strong> especialização positivista, e procurando evi<strong>de</strong>nciar a<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do resgate <strong>de</strong> uma gnosiologia que tenha a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> seu interior.<br />
Kuhn e Boaventura, mutatis mutandis, acabam por afirmar que a <strong>crise</strong> do<br />
racionalismo instrumental mo<strong>de</strong>rno clama pelo resgate do pensar filosófico, que se<br />
encontrava rechaçado ao limbo <strong>da</strong> indiferença pelo cartesianismo e pelo positivismo<br />
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PROMETEUS - Ano 4 - Número 7 - Janeiro-Junho/2011 - ISSN: 1807-3042 - E-ISSN: 2176-5960