17.04.2013 Views

a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

tornavam, enfim, positivas; para Kuhn, isso não é possível, e as <strong>ciência</strong>s sociais s<strong>em</strong>pre<br />

permanecerão pré-paradigmáticas. Isso faz com que as <strong>ciência</strong>s sociais não sejam<br />

capazes <strong>de</strong> progredir, pois o progresso somente se dá a partir <strong>de</strong> um paradigma único,<br />

que será <strong>de</strong>senvolvido e verificado continuamente. S<strong>em</strong> ele, as <strong>ciência</strong>s permanec<strong>em</strong><br />

imersas <strong>em</strong> uma profusão <strong>de</strong> questionamentos, s<strong>em</strong> nenhuma diretriz possível, como<br />

ocorre com as <strong>ciência</strong>s sociais, porque “na ausência <strong>de</strong> um paradigma ou <strong>de</strong> um<br />

candi<strong>da</strong>to a paradigma, todos os fatos que possivelmente são pertinentes ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> <strong>ciência</strong> têm a probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> parecer<strong>em</strong> igualmente<br />

relevantes” (KUHN, 1978, p. 35).<br />

Assim, a ausência <strong>de</strong> paradigmas impediria o <strong>de</strong>senvolvimento linear <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> científica. Kuhn coaduna-se, nesse ponto, portanto, com as concepções<br />

positivistas, l<strong>em</strong>brando, inclusive que a coleta aleatória <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> Bacon (BACON,<br />

2007), por sua ausência <strong>de</strong> método, não é capaz <strong>de</strong> gerar um paradigma, e n<strong>em</strong> <strong>ciência</strong>,<br />

consequent<strong>em</strong>ente. Segundo ele, quando um cientista se recusa a se a<strong>da</strong>ptar ao<br />

paradigma, seu <strong>de</strong>stino será a exclusão <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica ou irá envere<strong>da</strong>r pela<br />

elucubração filosófica. Talvez, este último seja o caso do próprio Kuhn, que, ao<br />

escrever esse ensaio, d<strong>em</strong>onstra seu <strong>de</strong>scontentamento com a mera reprodução<br />

paradigmática e, aqui, aproveita para fazer um reconhecimento autobiográfico.<br />

Diferent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> Sousa Santos, Kuhn é mais concreto nos seus diagnósticos,<br />

d<strong>em</strong>onstrando, por ex<strong>em</strong>plo, que o esoterismo e a ultraespecialização do conhecimento<br />

científico estão evi<strong>de</strong>nciados pela predileção dos cientistas à publicação artigos<br />

exclusivamente <strong>de</strong>stinados à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> acadêmica, <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> ampla<br />

circulação. Ain<strong>da</strong> assim, volta a admitir que a rigi<strong>de</strong>z paradigmática e a restrição <strong>da</strong><br />

visão do cientista são cruciais ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>. Nesse sentido, a <strong>ciência</strong><br />

<strong>mo<strong>de</strong>rna</strong> é, por essência, verificadora e atestadora <strong>de</strong> paradigmas, sendo as teorizações e<br />

sua não-verificabili<strong>da</strong><strong>de</strong> características comuns <strong>da</strong> “<strong>ciência</strong> normal”. Os paradigmas,<br />

então, não passam <strong>de</strong> convenções teóricas e “tal como uma <strong>de</strong>cisão judicial aceita no<br />

direito costumeiro, o paradigma é um objeto a ser melhor articulado e precisado <strong>em</strong><br />

condições novas ou mais rigorosa” (KUHN, 1978, p. 44). Daí, <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> os probl<strong>em</strong>as<br />

<strong>da</strong> “<strong>ciência</strong> normal”, quais sejam: a in<strong>de</strong>terminação do fato significativo; a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> harmonização dos fatos com a teoria; e a própria articulação <strong>da</strong> teoria.<br />

Esses <strong>de</strong>sencaixes são, portanto, inerentes à prática científica e, por isso,<br />

insuficientes para que se consi<strong>de</strong>re um paradigma inválido. Há, portanto, uma marg<strong>em</strong><br />

136<br />

PROMETEUS - Ano 4 - Número 7 - Janeiro-Junho/2011 - ISSN: 1807-3042 - E-ISSN: 2176-5960

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!