a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa
a crise da ciência moderna em thomas kuhn e boaventura de sousa
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No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> qualquer <strong>ciência</strong>, admite-se habitualmente que<br />
o primeiro paradigma explica com bastante sucesso a maior parte <strong>da</strong>s<br />
observações e experiências facilmente acessíveis aos praticantes<br />
<strong>da</strong>quela <strong>ciência</strong>. Em conseqüência, um <strong>de</strong>senvolvimento posterior<br />
comumente requer a construção <strong>de</strong> um equipamento elaborado, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um vocabulário e técnicas esotéricas, além <strong>de</strong> um<br />
refinamento <strong>de</strong> conceitos que se ass<strong>em</strong>elham ca<strong>da</strong> vez menos com os<br />
protótipos habituais do senso comum. Por um lado, essa<br />
profissionalização leva a uma imensa restrição <strong>da</strong> visão do cientista e<br />
uma resistência consi<strong>de</strong>rável à mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> paradigma. A <strong>ciência</strong><br />
torna-se s<strong>em</strong>pre mais rígi<strong>da</strong>. Por outro lado, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s áreas para as<br />
quais o paradigma chama a atenção do grupo, a <strong>ciência</strong> normal conduz<br />
a uma informação <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> e a uma precisão <strong>da</strong> integração entre a<br />
observação e a teoria que não po<strong>de</strong>ria ser atingi<strong>da</strong> <strong>de</strong> outra maneira.<br />
Ao assegurar que um paradigma não será facilmente abandonado, a resistência<br />
garante que os cientistas não serão perturbados s<strong>em</strong> um importante motivo. A esses<br />
fenômenos construtivo-<strong>de</strong>strutivos <strong>de</strong> um paradigma, Kuhn chama “<strong>de</strong>scobertas”, as<br />
quais, segundo ele, não são as únicas com esse potencial. A criação <strong>de</strong> novas teorias<br />
produz mu<strong>da</strong>nças similares b<strong>em</strong> mais amplas: uma nova teoria surge após o fracasso<br />
contínuo <strong>da</strong>s várias tentativas <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>da</strong> teoria anterior e a solução<br />
para os fracassos <strong>de</strong> uma teoria costuma ser antecipa<strong>da</strong> por vários estudos prece<strong>de</strong>ntes,<br />
porém, estes só passam a ser consi<strong>de</strong>rados relevantes quando a <strong>crise</strong> se apresenta. “[...]<br />
A teoria científica, após ter atingido o status <strong>de</strong> paradigma, somente é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong><br />
inváli<strong>da</strong> quando existe uma alternativa disponível para substituí-la” (KUHN, 1978, p.<br />
108). Por isso, para ele, o principal sintoma <strong>da</strong> <strong>crise</strong> <strong>de</strong> um paradigma é a proliferação<br />
<strong>de</strong> diversas versões <strong>de</strong> uma mesma teoria. A partir <strong>da</strong>í, quanto mais se investiga, mais as<br />
investigações passam a apontar para conclusões opostas ao paradigma – está montado o<br />
palco <strong>da</strong> revolução. E os cientistas precisam ser capazes <strong>de</strong> suportar <strong>crise</strong>s, uma vez que<br />
“rejeitar um paradigma s<strong>em</strong> simultaneamente substituí-lo por outro é rejeitar a própria<br />
<strong>ciência</strong>” (KUHN, 1978, p. 110). No entanto, os cientistas “normais” não foram<br />
preparados para sustentar a <strong>crise</strong>, os estu<strong>da</strong>ntes não são estimulados a formular leituras<br />
críticas <strong>de</strong> uma teoria, ao contrário, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> aceitá-las <strong>de</strong> pronto, somente com base na<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong> do professor.<br />
Os próprios contornos do paradigma científico permit<strong>em</strong> que ele seja<br />
transformado, ou porque ele traz <strong>em</strong> seu bojo uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> múltipla <strong>de</strong><br />
interpretações viáveis, ou porque sua rigi<strong>de</strong>z é tão severa, que faz <strong>de</strong> qualquer fator<br />
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PROMETEUS - Ano 4 - Número 7 - Janeiro-Junho/2011 - ISSN: 1807-3042 - E-ISSN: 2176-5960