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confundi a adrenalina com os nervos. Por que eu estou tão nervoso? O<br />
desconhecido? O fato de pela primeira vez eu ter confrontado alguém? A<br />
possibilidade das minhas mãos brilharem? Provavelmente as três alternativas.<br />
Vou para o banheiro, entro em um reservado vazio e tranco a porta atrás de<br />
mim. Abro minhas mãos. Há uma luz fraca na direita. Fecho meus olhos e<br />
suspiro, me concentrando em respirar devagar. Um minuto depois a luz ainda<br />
está ali. Balanço minha cabeça. Eu não achava que o Legado seria tão<br />
sensível. Permaneço no reservado. Uma fina camada de suor cobre minha<br />
testa; minhas duas mãos estão quentes, mas felizmente a esquerda ainda está<br />
normal. As pessoas entram e saem do banheiro, mas eu fico ali esperando. A<br />
luz continua acesa. Felizmente, o sinal da primeira aula toca e o banheiro fica<br />
vazio.<br />
Balanço minha cabeça de desgosto e aceito o inevitável. Eu não estou com<br />
meu celular e Henri está indo para o banco. Eu estou sozinho com minha<br />
própria estupidez e não tenho ninguém para culpar além de mim mesmo. Pego<br />
as luvas do meu bolso traseiro e coloco-as. Luvas de couro de jardinagem. Se<br />
eu estivesse vestindo sapatos de palhaço com calças amarelas, pareceria<br />
menos ridículo. Dificilmente passarei despercebido. Percebo que devo desistir<br />
do Mark. Ele ganhou. Ele pode ficar com meu celular; eu e Henri compraremos<br />
outro a noite.<br />
Saio do banheiro e caminho pelo corredor vazio até minha sala. Todos me<br />
encaram quando eu entro, depois olham minhas luvas. Não há como escondêlas.<br />
Eu pareço um idiota. Eu sou um alienígena, tenho poderes extraordinários,<br />
com outros ainda por vir, e posso fazer coisas que os humanos nem sonham,<br />
mas eu ainda pareço um idiota.<br />
Sento-me no meio da sala. Ninguém me diz nada e estou muito atordoado para<br />
ouvir o que o professor diz. Quando o sinal toca, eu junto minhas coisas,<br />
coloco-as na mochila e ponho as alças no meu ombro. Eu ainda estou usando<br />
as luvas. Quando saio da sala, dou uma olhada na mão direita. Ainda está<br />
brilhando.<br />
Caminho pelo corredor com passos firmes. Respirando devagar. Estou<br />
tentando esvaziar minha mente, mas isso não está funcionando. Quando entro<br />
na outra sala, Mark está sentado no mesmo lugar do dia anterior, com Sarah<br />
ao seu lado. Ele zomba de mim. Na sua tentativa de parecer corajoso, ele não<br />
nota minhas luvas.<br />
— E aí, fujão? Ouvi falar que o time de cross-country está procurando por<br />
novos membros.<br />
— Não seja idiota- Sarah diz para ele. Olho para ela enquanto passo por sua<br />
carteira, dentro de seus olhos azuis que fazem com que eu me sinta tímido e