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Leituras de Bocage - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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1 leituras <strong>de</strong> bocage<br />

poeta e filólogo Padre Joaquim Foios o seu director espiritual e vive ali pacificamente na companhia<br />

<strong>do</strong>s Néris. Aproveitan<strong>do</strong> as obras encontra<strong>da</strong>s na biblioteca, inicia-se no trabalho <strong>da</strong> tradução com As<br />

Metamorfoses <strong>de</strong> Ovídio e a Henria<strong>de</strong> <strong>de</strong> Voltaire.<br />

O calvário só termina em 31 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1798, o poeta completara trinta e três anos. Quan<strong>do</strong><br />

sai em liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, sai diferente, pegou-se-lhe à alma uma incan<strong>de</strong>scência emocional a emprestar outra<br />

<strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> na poesia posterior. <strong>Bocage</strong> apren<strong>de</strong> também um certo gosto pelo isolamento. Sai <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong><br />

e “reeduca<strong>do</strong>” (?) como pretendiam - “Não sou [...]/Ímpio, cruel, sacrílego, blasfemo,/Um<br />

Deus a<strong>do</strong>ro, a Eterni<strong>da</strong><strong>de</strong> temo,/Conheço que há vonta<strong>de</strong>, e não <strong>de</strong>stino” -, frequenta a tertúlia <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> Agulheiro <strong>do</strong>s Sábios, no Botequim <strong>da</strong>s Parras, anima<strong>do</strong> “somente <strong>de</strong> pessoas as mais<br />

reputa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Lisboa”, no dizer <strong>do</strong> proprietário, José Pedro <strong>da</strong> Silva, mais conheci<strong>do</strong> pelo José Pedro<br />

<strong>da</strong>s Luminárias, cui<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua poesia e, como ganha-pão, traduz e faz revisões <strong>de</strong> provas para a “Casa<br />

Literária <strong>do</strong> Arco <strong>do</strong> Cego”. Encontrara, enfim, um meio <strong>de</strong> sustento. Entretanto cresce em prestígio<br />

ao publicar o 2.º volume <strong>da</strong>s Rimas, em 1799, (com reimpressão em 1802), que, a exemplo <strong>do</strong> primeiro,<br />

não só recebe o aplauso público como goza <strong>do</strong> reconhecimento <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r.<br />

Procurámos enquadrar alguns elementos biográficos e sugerir a ambiência <strong>de</strong> intolerância inquisitorial<br />

e terrorismo policial respira<strong>da</strong> por Mace<strong>do</strong> e <strong>Bocage</strong>, a fim <strong>de</strong> melhor compreen<strong>de</strong>rmos os<br />

condicionamentos sócio-culturais que <strong>de</strong>terminaram as suas opções, mas também enten<strong>de</strong>rmos como<br />

os seus percursos diversos nalguns aspectos se entrecruzam e até são idênticos. Ser fra<strong>de</strong> por vonta<strong>de</strong><br />

paterna e, à falta <strong>de</strong> outro emprego, presbítero, correspondia a possuir estatuto respeita<strong>do</strong>, o que,<br />

claramente, a condição <strong>de</strong> poeta não ofereceu a <strong>Bocage</strong>. Se o século XVIII, através <strong>da</strong>s Luzes, tomou<br />

consciência <strong>de</strong> si mesmo, socialmente não dignificou o papel <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r.<br />

2. A sátira no duelo poético<br />

Tu és vadio, és magro, és pobre, és feio<br />

[...] Mas louvar-te a ti mesmo! Ah, pobre Elmano<br />

Doente imaginário, não te queixes<br />

De um mal que ain<strong>da</strong> não sentes nem mereces;<br />

Mace<strong>do</strong>, “Satira a Manuel Maria du <strong>Bocage</strong><br />

Mas venha o mais! Epístolas, sonetos,<br />

O<strong>de</strong>s, canções, metamorfoses, tu<strong>do</strong>...<br />

Na frente põe teu nome, e estou vinga<strong>do</strong>.<br />

<strong>Bocage</strong>, “A Pena <strong>de</strong> Talião”<br />

É na primeira fase muitíssimo prolonga<strong>da</strong> e agita<strong>da</strong> pela vadiagem <strong>de</strong> Frei Mace<strong>do</strong>, leitor <strong>da</strong>s Luzes<br />

e mais ou menos literato, que se inicia a amiza<strong>de</strong> com <strong>Bocage</strong>. Torna<strong>do</strong> à capital (1790), sem emprego e<br />

<strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>de</strong> bens, <strong>de</strong>pressa reencontra na fra<strong>da</strong>ria <strong>de</strong>vassa e na fi<strong>da</strong>lguia marialva o companheirismo<br />

<strong>de</strong> outrora.<br />

O ano <strong>do</strong> seu regresso <strong>da</strong> Índia coinci<strong>de</strong> com o <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Belas-Letras, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong><br />

Nova Arcádia. Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo Padre Domingos Cal<strong>da</strong>s Barbosa (Lereno), tinha por objectivo<br />

fazer renascer a Arcádia Lusitana, extinta em 1774. O Castelo <strong>de</strong> São Jorge (coincidência interessante)<br />

é o pouso certo <strong>do</strong>s árca<strong>de</strong>s, dádiva <strong>do</strong> nosso conheci<strong>do</strong> Inten<strong>de</strong>nte, certamente interessa<strong>do</strong> em que<br />

o grupo, apenas empenha<strong>do</strong> em questões literárias e alheio aos anúncios <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> em <strong>de</strong>rroca<strong>da</strong>,<br />

assim continuasse para seu sossego. A suspeita <strong>de</strong> filosofismo recaía sobre quem se <strong>de</strong>dicava às letras<br />

e tanto a Intendência <strong>da</strong> Polícia como o Santo Ofício vigiavam a propagação <strong>da</strong>s <strong>do</strong>utrinas filosóficas<br />

e/ou políticas.<br />

Em 1791, José Maria du <strong>Bocage</strong> publica o 1.º volume <strong>da</strong>s Rimas - 108 sonetos, sete o<strong>de</strong>s, quatro<br />

canções, duas epístolas e cinco idílios - obra muito bem recebi<strong>da</strong> pelo público e que lhe granjeia gran<strong>de</strong><br />

prestígio, fama que, sempre crescente, chega à Corte. O árca<strong>de</strong> Mace<strong>do</strong>, Elmiro Tagi<strong>de</strong>u, até lhe <strong>de</strong>dica

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