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Quando o corpo conta histórias 1 Ursula Patrícia Neves Leite2 Devo ...

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uma colega que desenvolvia um trabalho de estimulação cognitiva com crianças d’A<br />

Casa 5 , inspira um grupo de estagiárias e um projeto ao nos apresentar João, criança que<br />

chegou na Casa bebê, e àquele tempo, já menino com pouco mais de dois anos, é<br />

apontado como louco, por não falar e se comunicar aos gritos e pontapés.<br />

Encarregada de fazer a primeira visita à CASA para apresentar o projeto<br />

de trabalho, prevendo a escuta à instituição e o atendimento a grupos de crianças,<br />

formado por aquelas apontadas pelos técnicos do abrigo como as que apresentavam<br />

maiores dificuldades, me deparo com um casarão de dois andares e janelas altas que se<br />

abrem para o jardim e pátios. Não podendo precisar o que mais impressiona nessa<br />

primeira visita, lembro-me apenas dessa casa “aberta” como sendo “sem cor”, cinza; e<br />

qual não é meu espanto ao descobrir, meses depois, que o casarão tem paredes brancas<br />

ornadas de rosa e verde. Nunca antes tinha visto essas cores, somente o cinza que lá não<br />

estava. Lembro-me, também, dos rostinhos das crianças, e de <strong>corpo</strong>s feridos e olhar de<br />

angústia, uma visão igualmente cinza. Pergunto-me se não vejo a casa “cinza, esse lugar<br />

sem cor” com e através do olhar desamparado das crianças que encontro por lá.<br />

Ao chegar lá não encontro João. Ele fora adotado na semana anterior e<br />

mudou para outra casa. Já mais tranqüilo, seu terror, expresso aos gritos, parece ter<br />

encontrado um lugar de acolhida e contenção junto ao trabalho feito pela colega e a<br />

esses pais que lhe escolhem e abrigam.<br />

Iniciam-se os atendimentos, em dois grupos que chamamos oficinas<br />

terapêuticas, um com crianças em idade que variavam entre 3 e 5 anos e outro com<br />

crianças entre 5 e 7 anos. A proposta é um espaço que propicie a brincadeira; então, fico<br />

responsável por acompanhar o grupo de crianças entre 3 e 5 anos. Posteriormente<br />

chamamos o espaço de oficina do brincar, e por fim entendemos tratar-se de um Espaço<br />

Terapêutico, uma vez que possibilita elaborações e produz um efeito sobre as crianças.<br />

5 Abrigo de menores órfãos, abandonados e/ou sob proteção judicial, mantido pela FUNDAC, órgão público estadual.<br />

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