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Quando o corpo conta histórias 1 Ursula Patrícia Neves Leite2 Devo ...

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<strong>Devo</strong> dizer que as particularidades da formação destes grupos nunca nos autorizaram a<br />

falar, com tranqüilidade, que se tratava de um grupo terapêutico nos moldes que<br />

conhecemos.<br />

As cenas falam, e, no primeiro dia de grupo, loucura e caos. Somos,<br />

terapeutas e crianças, abrigados em um grande pavilhão com um palco alto ao fundo.<br />

Deparo-me com <strong>corpo</strong>s que se atiram e grudam ao meu, com mãos estiradas a solicitar<br />

insistentemente para que seus nomes sejam escritos nelas e no meu caderno. Essa cena<br />

me choca, incomoda, mobiliza; penso que elas parecem ter a necessidade dessa<br />

inscrição nos seus <strong>corpo</strong>s e fora deles.<br />

Nesse momento, um movimento se destaca: pular do palco alto ao som<br />

da música, uma vez, vezes repetidas; o mais impressionante é que pulam sem esperar<br />

que me coloque em sua frente para segurá-los. Assim, eles acabam caindo, mas não<br />

choram. Parece que não lhes dói o <strong>corpo</strong>.<br />

Meu olhar se volta para o lugar ocupado pelo <strong>corpo</strong> nessa realidade, o<br />

modo como cada criança usa seu próprio <strong>corpo</strong> para se mostrar, experimentar e falar.<br />

Observo a falta de limites e o transbordamento pulsional quando vejo crianças se<br />

expondo a situações de perigo, subindo em parapeitos de janelas, paredes e móveis; se<br />

jogando de mesas; escalando os <strong>corpo</strong>s dos outros; desafiando as leis da física tentando<br />

passar por espaços estreitos e impossíveis; e reagindo sempre aos berros, chutes e tapas<br />

frente a qualquer situação de frustração.<br />

Nesses primeiros momentos a leitura de Maria Helena Fernandes 6<br />

adverte e, em certa medida, me tranqüiliza quando diz “que a escuta, tomada em seu<br />

sentido analítico, supõe que exista sempre uma palavra a ser ouvida, mais<br />

precisamente a ser acolhida. Mas será que a escuta implica apenas o que pode ser<br />

6 FERNANDES, Maria Helena. Corpo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.<br />

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