SEGUNDOS CANTOS Gonçalves Dias - Saco Cheio
SEGUNDOS CANTOS Gonçalves Dias - Saco Cheio
SEGUNDOS CANTOS Gonçalves Dias - Saco Cheio
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O Deus, que mais perdoa a quem mais ama,<br />
Talvez da vida a negra mancha apaga<br />
A quem as asas de algum anjo orvalha<br />
De lágrimas contritas.<br />
Mas não a aquela, em cujo peito mora<br />
Torpeza só, - onde o amor se cobre<br />
De vícios – a nutrir-se d’impurezas,<br />
Como vermes de Iodo.<br />
Se porém te aproveita o meu conselho,<br />
À quem, mais do que a mim, tens ofendido,<br />
Que entre os risos do mundo, ve tua alma<br />
E lê teus pensamentos;<br />
Se não crês noutra vida além da morte,<br />
Roga se quer a Deus, que te não rompa<br />
À luz do sol divino da Justiça<br />
QA máscara d’enganos!<br />
Que a rainha da terra inamolgável,<br />
A dura opinião – te não entregue,<br />
Sozinha, e nua, e d’irrisão coberta,<br />
À popular vindicta!<br />
OS SUSPIROS<br />
Muitas vezes tenho ouvido,<br />
Como lânguidos gemidos,<br />
Frouxos suspiros partidos<br />
Dentre uns lábios de coral:<br />
A fina tez lhes deslustram,<br />
Bem como o alento que passa<br />
Sobre o candor duma taça<br />
De transparente cristal.<br />
Ouvido os tenho mil vezes<br />
Do coração arrancados,<br />
Sobre lábios desmaiados<br />
Sussurrando esvoaçar!<br />
Como flor submarinha<br />
Da funda gleba arrancada,<br />
De vaga em vaga arrastada,<br />
Correndo de mar em mar!