SEGUNDOS CANTOS Gonçalves Dias - Saco Cheio
SEGUNDOS CANTOS Gonçalves Dias - Saco Cheio
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E as sombras, e o silêncio;<br />
Bem como o cervo insonte,<br />
Que às setas foge pávido<br />
Do fero caçador!<br />
Salve, ó astro fúlgido,<br />
Que brilhas docemente.<br />
Melhor que o lume trêmulo<br />
D’estrela inquieta, ardente,<br />
Melhor que o brilho esplêndido<br />
Do sol ferindo o mar.<br />
Eu te amo, ó Lua pálida,<br />
Vagando em noite bela,<br />
Rompendo as nuvens túrdidas<br />
Da ríspida procela;<br />
Eu te amo até nas lágrimas<br />
Que fazes derramar.<br />
A NOITE<br />
Eu amo a noite solitária e muda,<br />
Quando no vasto céu fitando os olhos,<br />
Além do escuro, que lhe tinge a face,<br />
Alcanço deslumbrado<br />
Milhões de sóis a divagar no espaço,<br />
Como em salas de esplêndido banquete<br />
Mil tochas aromáticas ardendo<br />
Entre nuvens d’incenso!<br />
Eu amo a noite taciturna e quêda!<br />
Amo a doce mudez que ela derrama,<br />
E a fresca aragem pelas densas folhas<br />
Do bosque murmurando:<br />
Então, mau grado o véu que involve a terra,<br />
A vista, do que vela, enxerga mundos,<br />
E apesar do silêncio, o ouvido escuta<br />
Notas de etéreas harpas.<br />
Eu amo a noite taciturna e quêda!<br />
Então parece que da vida as fontes<br />
Mais fáceis correm, mais sonoras soam,<br />
Mais fundas se abrem;<br />
Então parece que mais pura a brisa<br />
Corre, -- que então mais funda e leve a fonte<br />
Mana, -- e que os sons então mais doce e triste<br />
Da música se espargem.