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1ª edição - Hospital Sírio Libanês

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2<br />

Anorexia Nervosa<br />

Dr. José Antonio Miguel Marcondes,<br />

Médico do Núcleo Avançado de Obesidade e Transtornos Alimentares do HSL<br />

A anorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado<br />

por baixo peso corporal (15% abaixo do ideal) e um medo<br />

intenso de engordar, associado a uma distorção da imagem<br />

corporal, que leva o paciente a se enxergar obeso, apesar de<br />

seu baixo peso. Acomete aproximadamente 0,6% dos adultos,<br />

principalmente mulheres (90% dos casos) jovens de situação<br />

socioeconômica elevada. Entretanto, pode também<br />

ocorrer em homens, na razão de um para cada três mulheres,<br />

e pessoas de menor poder aquisitivo. Tem sido diagnosticada<br />

cada vez com mais frequência em adolescentes, o que levou<br />

a Organização Mundial de Saúde a incluir a anorexia nervosa<br />

e os transtornos alimentares como prioridade dentre os distúrbios<br />

mentais em crianças e adolescentes.<br />

O emagrecimento, em geral, ocorre em um curto espaço<br />

de tempo. Com o objetivo de perder e manter o peso, os<br />

pacientes desenvolvem uma obsessão com a alimentação,<br />

reduzindo a ingestão principalmente daquela com valor calórico<br />

mais elevado. Frequentemente realizam períodos prolongados<br />

de jejum e associam à dieta uma prática de atividade<br />

física intensa e diária. Tornam-se irritados, com tendência<br />

ao isolamento e refratários a qualquer tipo de ajuda.<br />

Os pacientes do sexo feminino param de menstruar,<br />

enquanto que os do sexo masculino apresentam uma diminuição<br />

dos pelos corporais e impotência. Quando ocorre na<br />

adolescência ou antes, pode comprometer o desenvolvimento<br />

da puberdade e o crescimento. Em ambos os sexos, desenvolve-se<br />

anemia e diminuição da pressão arterial, o que pode<br />

levar à fraqueza, tontura e quedas. A prisão de ventre pode<br />

estar presente, assim como a redução de massa muscular.<br />

Nos casos mais avançados, pode-se desenvolver desnutrição,<br />

desidratação e osteoporose.<br />

A causa da anorexia nervosa é desconhecida, sendo<br />

uma doença complexa que envolve fatores genéticos, biológicos,<br />

ambientais e culturais. Um dos fatores de risco mais<br />

importantes é o paciente ser do sexo feminino, embora não<br />

se possa determinar com certeza se esse risco esteja ligado<br />

Boletim do NOTA<br />

ao sexo em si ou decorrente de fatores culturais, que impõem<br />

à mulher um padrão de beleza caracterizado pela magreza.<br />

Ao mesmo tempo, estudos de pacientes gêmeos com anorexia<br />

nervosa e familiares de pacientes indicam um importante<br />

componente genético. De fato, pais e mães de pacientes<br />

apresentam com frequência um nivel mais elevado de perfeccionismo<br />

e preocupação com o peso corporal e com a forma<br />

física.<br />

É comum que pacientes com anorexia nervosa apresentem<br />

outros distúrbios de comportamento, como déficit<br />

de atenção, hiperatividade, transtorno obsesivo-compulsivo<br />

e ansiedade, bem como dependência de álcool e tabaco.<br />

Essas alterações em geral antecedem o aparecimento<br />

da anorexia e muitas vezes persistem após o tratamento, o<br />

que implica um acompanhamento dos pacientes a longo<br />

prazo.<br />

A maior parte das manifestações da doença é reversível<br />

com o tratamento, que deve ser iniciado o mais precocemente<br />

possível, pois há risco de morte decorrente de arritmia cardíaca,<br />

infecções e suicídio. Em geral, quanto menor a idade e<br />

duração da anorexia, maior a chance de cura, o que ocorre,<br />

parcial ou totalmente, em 75% das vezes.<br />

Seu tratamento é multidisciplinar, envolve médicos, psicólogos<br />

e nutricionistas, com o objetivo de ganho de peso<br />

para o paciente. O retorno da menstruação nas mulheres é<br />

um indício de sucesso do tratamento. A realimentação deve<br />

ser feita de maneira gradual e a reposição vitamínica está<br />

indicada. Associado ao programa nutricional deve ser oferecido<br />

ao paciente psicoterapia, principalmente a terapia cognitivo-comportamental,<br />

que enfatiza a relação de pensamentos<br />

e sentimentos ao comportamento e ajuda os pacientes a<br />

aprender a reconhecer o que os levou ao distúrbio alimentar.<br />

Em adolescentes, a terapia familiar costuma ser associada a<br />

uma maior chance de cura. O uso de medicamentos deve ser<br />

individualizado, levando em consideração a presença de outros<br />

distúrbios psiquiátricos.

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