17ª edição - Hospital Sírio Libanês
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Boletim do NADDM<br />
Publicação trimestral do Núcleo Avançado de Dor e Distúrbios do Movimento do HSL<br />
Novidades no<br />
tratamento da dor<br />
Mariana Bucci Sanches, enfermeira do Serviço de Tratamento<br />
da Dor do HSL, COREN-SP 11.4605<br />
Em agosto, foi realizado na cidade de Milão (Itália), o 14º<br />
Congresso Mundial de Dor, evento que possibilita aos profissionais<br />
que lidam com a dor ter acesso aos avanços científicos<br />
e tecnológicos sobre esse tema. A programação incluiu<br />
a abordagem de uma grande diversidade de assuntos<br />
relacionados à dor, como o seu impacto no câncer, fatores<br />
genéticos e aumento do consumo de opioides no cenário<br />
mundial.<br />
Um dos pontos centrais tratados no evento foi a dor no<br />
paciente idoso – faixa etária em crescimento na população –<br />
com apresentação dos recentes esforços clínicos e pesquisas<br />
com foco em abordagens psicossociais à dor, destacando-se<br />
a terapia cognitivo comportamental.<br />
Também foram levantadas questões importantes e direções<br />
futuras a serem consideradas, como a presença de<br />
obesidade e depressão em associação à dor, o uso de novas<br />
tecnologias e como integrar as intervenções nos centros de<br />
saúde onde esses pacientes são assistidos.<br />
Entre as novidades tecnológicas do congresso, mereceu<br />
destaque o Cefaly, um neuroestimulador externo portátil<br />
para o tratamento da enxaqueca e do estresse, que com<br />
sessões regulares de vinte minutos promete restabelecer o<br />
bem-estar e diminuir os episódios de dor de cabeça. Como<br />
vantagens, tem segurança, efeito rápido e eficaz, é fácil de<br />
utilizar, além de ser econômico e não invasivo. Com a colocação<br />
de um adesivo, o neuroestimulador é fixado na região<br />
frontal da cabeça. Estudos sugerem que, com o uso desse<br />
aparelho, há diminuição de consumo de analgésicos.<br />
Outra proposta mostrada durante o congresso foram<br />
os comprimidos híbridos (ou seja, que reúnem dois medicamentos<br />
com ações diferentes) oxicodona/naloxona, que<br />
além de serem analgésicos tratam da constipação (intestino<br />
preso), um dos efeitos indesejados decorrentes do uso<br />
de opioides. Foram discutidas, ainda, vias de administração<br />
diferentes da nossa prática, como o spray nasal e os table-<br />
Ano 2013 - 17 ª <strong>edição</strong><br />
tes de absorção sublingual com efeito rápido, assim como<br />
os adesivos usados como auxílio no tratamento da neuralgia<br />
pós-herpética, condição dolorosa que afeta as fibras nervosas<br />
e a pele.<br />
Todas essas novidades tecnológicas ainda demorarão a<br />
chegar ao mercado brasileiro, mas um ponto fundamental<br />
levantado nesse encontro – e que independe da incorporação<br />
desses avanços – foi a importância da comunicação<br />
adequada entre a equipe profissional e os pacientes, que é a<br />
chave para garantir a adesão ao tratamento.<br />
No cuidado com a dor crônica, a comunicação influencia<br />
de maneira decisória na adesão às recomendações de<br />
tratamento, pois muitas vezes os pacientes deixam de tomar<br />
a medicação ou prosseguir na reabilitação para o tratamento<br />
da dor devido a equívocos (como o vício) e à subjetividade<br />
da tolerência de cada um à dor. Por vezes, esses pacientes<br />
sentem que as opções não foram devidamente explicadas<br />
ou que suas preocupações não foram ouvidas.<br />
Assim, a comunicação eficaz é vital para estabelecer<br />
uma relação de confiança, para desenvolver uma discussão<br />
aberta, em que equívocos podem ser abordados, as barreiras<br />
podem ser superadas e uma decisão compartilhada<br />
sobre o controle da dor pode ser alcançado. Este, sim, continua<br />
sendo o maior desafio, o principal aliado e a maior<br />
inovação.<br />
Nesta <strong>edição</strong><br />
Ataxias degenerativas<br />
Cuidados paliativos e a busca por<br />
qualidade de vida durante a doença<br />
A dor nos cuidados paliativos<br />
pág. 2<br />
pág. 3<br />
pág. 4
2<br />
Ataxias degenerativas<br />
A palavra ataxia vem do grego e significa sem ordem ou<br />
sem coordenação. As pessoas com ataxia usualmente têm<br />
problemas de coordenação porque partes de seu sistema<br />
nervoso que controlam o equilíbrio e os movimentos estão<br />
afetadas (sistema cerebelar, sensibilidade profunda ou sistema<br />
vestibular). Na medicina, a palavra ataxia é usada para<br />
descrever o sintoma de falta de coordenação, que pode afetar<br />
qualquer parte do corpo (dedos, mãos, braços, pernas,<br />
tronco e até mesmo a fala e os movimentos oculares).<br />
A causa desse sintoma é muito variada, podendo ser<br />
associada com processos infecciosos, traumatismos cranianos<br />
ou outras doenças (como tumores ou carência de vitaminas),<br />
mas especialmente trataremos aqui do grupo cuja<br />
origem tem causa degenerativa (perda progressiva de células<br />
nervosas em determinadas partes do sistema nervoso<br />
central). As Ataxias Degenerativas (AD) formam um grupo<br />
específico de doenças do sistema nervoso que podem ser<br />
hereditárias (familiares) ou esporádicas. Caracteristicamente,<br />
como sintoma inicial, o equilíbrio e a coordenação<br />
motora são afetados. Andar torna-se progressivamente difícil,<br />
o que em geral leva a pessoa a separar as pernas para<br />
manter o equilíbrio (alargamento da base de sustentação).<br />
A falta de coordenação motora dos braços faz com a pessoa<br />
perca a habilidade de realizar tarefas rotineiras, como<br />
manusear talheres e escrever, embora a força motora esteja<br />
preservada. Os movimentos dos olhos podem ser lentos e<br />
entrecortados em algumas AD. Com a evolução do problema,<br />
a fala pode se tornar de difícil articulação (disartria) e a<br />
deglutição também pode ser prejudicada. As AD evoluem<br />
com piora lenta e progressiva ao longo de anos. A intensidade<br />
de comprometimento que o indivíduo vai sofrer<br />
depende do tipo de AD e de uma série de outros fatores<br />
pouco conhecidos.<br />
Os sintomas e a forma de instalação das AD variam de<br />
acordo com o tipo de ataxia. As AD do tipo hereditário recessivas<br />
(nas quais é preciso ter herdado o defeito genético<br />
do pai e da mãe) em geral iniciam-se na infância. O tipo mais<br />
comum deste grupo é a chamada Ataxia de Friedreich, que<br />
costuma ocorrer simultaneamente com problemas cardíacos<br />
sérios. As AD do tipo dominante (basta herdar o gene<br />
defeituoso de um dos genitores) começam mais tarde, em<br />
Boletim do NADDM<br />
Dra. Mônica Santoro Haddad, neurologista do Núcleo de Dor e<br />
Distúrbios do Movimento do HSL, CRM-SP 62.327<br />
geral por volta dos 20 aos 30 anos ou além dessa idade. Esse<br />
grupo de AD hereditárias dominantes tem dezenas de subtipos,<br />
conhecidos como Ataxias Espino-Cerebelares (SCA).<br />
Mesmo portando o gene defeituoso, muitos indivíduos nunca<br />
desenvolvem os sintomas de AD.<br />
Um grande número de pessoas com AD iniciam seu<br />
quadro na vida adulta ou até em idades avançadas e não<br />
têm história conhecida de acometimento familiar. São as<br />
chamadas AD esporádicas. Para confirmar esse diagnóstico,<br />
as causas de ataxias adquiridas (nas quais a ataxia é apenas<br />
um sintoma) devem ser descartadas (vale ressaltar aqui causas<br />
tóxicas, como álcool e medicamentos; acidentes vasculares<br />
cerebrais; esclerose múltipla; paraneoplásicas; autoimunes<br />
e infecciosas, entre outras). As AD esporádicas podem<br />
ser puramente cerebelares, nas quais só o cerebelo é afetado,<br />
ou podem vir acompanhadas de neuropatias (disfunção<br />
de nervos periféricos); demência (declínio cognitivo); rigidez<br />
e sintomas parkinsonianos, entre outros. Essas formas que<br />
afetam outros sistemas além do cerebelar são mais graves e<br />
evoluem mais rápido. Também são conhecidas como ataxia<br />
olivo-ponto-cerebelar ou, mais modernamente, como atrofia<br />
de múltiplos sistemas.<br />
O diagnóstico de AD é feito com base na história médica<br />
do paciente, histórico familiar e um exame neurológico<br />
completo e detalhado. Além disso, o exame de ressonância<br />
magnética do encéfalo e exames de sangue são relevantes,<br />
pois podem ajudar a descartar causas não degenerativas do<br />
sintoma de falta de coordenação. Testes genéticos podem<br />
ser realizados para alguns tipos de AD hereditárias, para<br />
confirmar um diagnóstico ou para predizer se um indivíduo<br />
de uma família de afetados é portador do gene defeituoso,<br />
mesmo que não apresente sintomas.<br />
A avaliação médica especializada é de extrema importância<br />
para o diagnóstico correto da causa da ataxia, que<br />
eventualmente pode ser tratada. Entretanto, infelizmente<br />
não há ainda tratamento medicamentoso eficaz para as<br />
AD. O tratamento consiste em fisioterapia para melhora do<br />
equilíbrio e fonoterapia para treino de fala e deglutição. A<br />
adaptação de órteses e andadores também facilita a vida<br />
dos portadores de ataxia.
www.hospitalsiriolibanes.org.br<br />
Entre em contato com o NADDM pelo telefone: (11) 3155-0854<br />
Cuidados paliativos e a busca por<br />
qualidade de vida durante a doença<br />
Cuidado paliativo, segundo define a Organização Mundial<br />
da Saúde (OMS), é uma abordagem dedicada à busca de<br />
qualidade de vida a pacientes – e familiares – que enfrentam<br />
doenças que ameacem a vida. Para alcançar esse objetivo, é<br />
possível agir na prevenção e no alívio de sintomas que causem<br />
sofrimento, seja do ponto de vista físico, psíquico, social<br />
ou espiritual. Assim, um controle adequado dos sintomas<br />
físicos – como dor, náuseas ou falta de ar –, é um aspecto<br />
importante na dimensão física da qualidade de vida.<br />
Os sintomas de sofrimento psíquico, como depressão,<br />
ansiedade ou medo, também são frequentes durante a doença,<br />
e o cuidado paliativo busca dedicar a esses sintomas<br />
a mesma atenção com que se trata da doença. Os sintomas<br />
sociais mais frequentes estão relacionados a todas as dificuldades<br />
enfrentadas pela família do paciente. Muitas vezes,<br />
oferecer atenção, apoio e oportunidade para a família<br />
tirar dúvidas e falar sobre suas preocupações é um cuidado<br />
que, além de ser importante para a própria família, ajuda<br />
indiretamente o paciente. E, por fim, os sintomas espirituais.<br />
Há muita confusão e preconceito com esse termo. Entendemos<br />
como espiritual o que é sagrado para cada um.<br />
O objetivo do cuidado paliativo nesse âmbito é proteger o<br />
que cada paciente considera sagrado, independente de julgamentos,<br />
religiões ou crenças dos profissionais que o cuidam.<br />
Nas situações de doença, a atenção a esses aspectos<br />
pode ser uma força a mais para os pacientes e familiares enfrentarem<br />
os momentos difíceis. Assim, para que seja oferecido<br />
cuidado paliativo de qualidade, supõe-se o respeito<br />
à autonomia do paciente e às suas preferências e valores.<br />
Por muito tempo, entendeu-se que o cuidado paliativo<br />
deveria começar quando uma doença se caracterizasse<br />
como incurável e irreversível. De certa maneira, os cuidados<br />
paliativos eram reservados para os momentos de fim de vida.<br />
Existem inúmeras limitações nesse modelo, hoje considerado<br />
inadequado. Desde 2002, a Organização Mundial da Saúde<br />
(OMS) recomenda um conceito muito mais abrangente.<br />
Dr. Daniel Neves Forte, médico coordenador da equipe multiprofissional<br />
de Cuidados Paliativos do HSL, CRM-SP 104.295<br />
Assim como o Conselho Regional de Medicina do Estado de<br />
São Paulo (Cremesp), a Associação de Medicina Intensiva<br />
Brasileira (AMIB) e a American Thoracic Society, entende-se<br />
atualmente que o cuidado paliativo pode começar no momento<br />
do diagnóstico de uma doença grave e ameaçadora<br />
à vida. Durante a evolução da doença, os cuidados curativos<br />
e paliativos andam lado a lado, não sendo excludentes. Nos<br />
períodos de exacerbação ou descompensação da doença,<br />
ao mesmo tempo em que ocorra a intensificação do cuidado<br />
curativo, deve haver também o reforço do cuidado paliativo,<br />
buscando-se o controle adequado de sintomas e o conforto<br />
do paciente e de sua família. Nas doenças avançadas, o enfoque<br />
paliativo passa a ser a prioridade do cuidado, isto é, nas<br />
situações em que não é possível mudar a evolução da doença,<br />
deve-se cuidar do sofrimento das pessoas e ajudar pacientes<br />
e seus familiares a viverem melhor.<br />
Cuidado paliativo é parte essencial do cuidado de<br />
todo paciente que enfrenta uma doença que pode ser fatal.<br />
Pode ser entendido como parte da boa prática médica. No<br />
entanto, por muito tempo, a formação médica voltou sua<br />
atenção quase que exclusivamente ao controle da doença<br />
e à manutenção das funções biológicas vitais. Somente nos<br />
últimos anos o currículo voltou a enfatizar o conhecimento<br />
necessário para se controlar adequadamente também os<br />
sintomas, valorizando e cuidando de todos os aspectos envolvidos<br />
na dor e no sofrimento para, assim, buscar qualidade<br />
de vida. Em um assunto tão amplo e complexo como<br />
esse é essencial o trabalho em equipe multiprofissional, envolvendo<br />
médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas,<br />
profissionais de cuidados integrativos e tantos outros.<br />
Assim, o <strong>Hospital</strong> <strong>Sírio</strong>-<strong>Libanês</strong> conta desde 2007 com<br />
a Equipe Multiprofissional de Cuidados Paliativos, com o objetivo<br />
de complementar o tratamento prestado pelo médico<br />
titular responsável pelo paciente, quando este julgar necessário,<br />
auxiliando no controle dos sintomas de desconforto e<br />
promovendo a qualidade de vida durante a doença.<br />
3
4<br />
A dor nos cuidados<br />
paliativos<br />
Coube a uma senhora inglesa, em 1965, a observação e descrição<br />
de um dos conceitos mais importantes em cuidados paliativos:<br />
a dor total. Ainda hoje, infelizmente, cerca de 20% dos<br />
pacientes com câncer avançado morrem sentindo dor severa.<br />
E, embora muitas técnicas para controle da dor já estejam estabelecidas<br />
e discutidas e outras ainda estejam por vir, a simples<br />
incapacidade de controlar esse sintoma ainda assombra pacientes,<br />
familiares e, também, profissionais da área da saúde.<br />
Mas o conceito definido por Dame Cicely Saunders, fundadora<br />
do Saint Christopher Hospice (Inglaterra), mostra que<br />
as coisas são um pouco mais complicadas do que parecem e<br />
nem sempre o medicamento vai conseguir aliviar a dor. A dor<br />
total descrita por Saunders apresenta quatro componentes: o<br />
físico, o psicológico, o social e o espiritual. E apenas quando os<br />
quatro se encontram em harmonia é possível dizer que a dor<br />
está sob controle.<br />
A dor física é por todos nós já muito conhecida e pode ter<br />
diversas causas: um corte, um tumor comprimindo alguma estrutura,<br />
queimaduras etc. O arsenal de tratamento é grande e<br />
pode contar com técnicas não farmacológicas, farmacológicas<br />
e até mesmo cirúrgicas.<br />
Boletim do NADDM<br />
Entre em contato com o NADDM pelo telefone: (11) 3155-0854<br />
Dra. Ana Paula de Souza Vieira Santos, anestesiologista do Núcleo Avançado de<br />
Dor e Distúrbios do Movimento do HSL, CRM-SP 102.946<br />
O componente psicológico vem mostrar o sofrimento do<br />
paciente, seus medos, angústias e pode ser responsável pela<br />
piora ou manutenção da dor. A conversa, o apoio, a escuta são<br />
primordiais para ajudarmos as pessoas e aliviarmos os sofrimentos,<br />
assim como na dor social, promovida pelo isolamento,<br />
pela preocupação econômica, pelas perdas da função social.<br />
E, por fim, há um componente espiritual nisso tudo: a<br />
perda do sentido da vida, o medo do desconhecido quando<br />
falamos da morte, a fé abalada pela crença de que tanto sofrimento<br />
só pode ser um castigo ou a simples falta de qualquer<br />
crença podem, mesmo que pareça difícil acreditar, ser responsáveis<br />
pela manutenção da dor.<br />
Por isso, o cuidado dos sintomas nos Cuidados Paliativos<br />
tem características especiais: uma equipe interdisciplinar<br />
voltada para atuar frente às necessidades do paciente<br />
e de sua família, ajudando no alívio não apenas da dor e<br />
com atuação não apenas no físico. Essa visão integral é<br />
fundamental no atendimento a pacientes com dor porque,<br />
como disse Cicely Saunders, “você é importante porque<br />
você é você. Você é importante até o último momento de<br />
sua vida.”<br />
Expediente<br />
Editores: Dra. Monica Haddad e Dr. João Valverde Filho<br />
Coordenador dos Centros e Núcleos de Medicina<br />
Avançada: Dr. Antônio Eduardo Antonietto Júnior<br />
Gerência de Marketing e Comunicação Corporativa<br />
daniel.jesus@hsl.org.br<br />
Rua Dona Adma Jafet, 91 - Cep 01308-050 - (11) 3155-8236<br />
Edição e Produção: Estela Ladner (Espaço 2 Comunicações)<br />
Arte: Adriana Cassiano<br />
Jornalista Responsável: Simon Widman (Mtb. 15460)<br />
Tiragem: 8.000 exemplares