17ª edição - Hospital Sírio Libanês
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Ataxias degenerativas<br />
A palavra ataxia vem do grego e significa sem ordem ou<br />
sem coordenação. As pessoas com ataxia usualmente têm<br />
problemas de coordenação porque partes de seu sistema<br />
nervoso que controlam o equilíbrio e os movimentos estão<br />
afetadas (sistema cerebelar, sensibilidade profunda ou sistema<br />
vestibular). Na medicina, a palavra ataxia é usada para<br />
descrever o sintoma de falta de coordenação, que pode afetar<br />
qualquer parte do corpo (dedos, mãos, braços, pernas,<br />
tronco e até mesmo a fala e os movimentos oculares).<br />
A causa desse sintoma é muito variada, podendo ser<br />
associada com processos infecciosos, traumatismos cranianos<br />
ou outras doenças (como tumores ou carência de vitaminas),<br />
mas especialmente trataremos aqui do grupo cuja<br />
origem tem causa degenerativa (perda progressiva de células<br />
nervosas em determinadas partes do sistema nervoso<br />
central). As Ataxias Degenerativas (AD) formam um grupo<br />
específico de doenças do sistema nervoso que podem ser<br />
hereditárias (familiares) ou esporádicas. Caracteristicamente,<br />
como sintoma inicial, o equilíbrio e a coordenação<br />
motora são afetados. Andar torna-se progressivamente difícil,<br />
o que em geral leva a pessoa a separar as pernas para<br />
manter o equilíbrio (alargamento da base de sustentação).<br />
A falta de coordenação motora dos braços faz com a pessoa<br />
perca a habilidade de realizar tarefas rotineiras, como<br />
manusear talheres e escrever, embora a força motora esteja<br />
preservada. Os movimentos dos olhos podem ser lentos e<br />
entrecortados em algumas AD. Com a evolução do problema,<br />
a fala pode se tornar de difícil articulação (disartria) e a<br />
deglutição também pode ser prejudicada. As AD evoluem<br />
com piora lenta e progressiva ao longo de anos. A intensidade<br />
de comprometimento que o indivíduo vai sofrer<br />
depende do tipo de AD e de uma série de outros fatores<br />
pouco conhecidos.<br />
Os sintomas e a forma de instalação das AD variam de<br />
acordo com o tipo de ataxia. As AD do tipo hereditário recessivas<br />
(nas quais é preciso ter herdado o defeito genético<br />
do pai e da mãe) em geral iniciam-se na infância. O tipo mais<br />
comum deste grupo é a chamada Ataxia de Friedreich, que<br />
costuma ocorrer simultaneamente com problemas cardíacos<br />
sérios. As AD do tipo dominante (basta herdar o gene<br />
defeituoso de um dos genitores) começam mais tarde, em<br />
Boletim do NADDM<br />
Dra. Mônica Santoro Haddad, neurologista do Núcleo de Dor e<br />
Distúrbios do Movimento do HSL, CRM-SP 62.327<br />
geral por volta dos 20 aos 30 anos ou além dessa idade. Esse<br />
grupo de AD hereditárias dominantes tem dezenas de subtipos,<br />
conhecidos como Ataxias Espino-Cerebelares (SCA).<br />
Mesmo portando o gene defeituoso, muitos indivíduos nunca<br />
desenvolvem os sintomas de AD.<br />
Um grande número de pessoas com AD iniciam seu<br />
quadro na vida adulta ou até em idades avançadas e não<br />
têm história conhecida de acometimento familiar. São as<br />
chamadas AD esporádicas. Para confirmar esse diagnóstico,<br />
as causas de ataxias adquiridas (nas quais a ataxia é apenas<br />
um sintoma) devem ser descartadas (vale ressaltar aqui causas<br />
tóxicas, como álcool e medicamentos; acidentes vasculares<br />
cerebrais; esclerose múltipla; paraneoplásicas; autoimunes<br />
e infecciosas, entre outras). As AD esporádicas podem<br />
ser puramente cerebelares, nas quais só o cerebelo é afetado,<br />
ou podem vir acompanhadas de neuropatias (disfunção<br />
de nervos periféricos); demência (declínio cognitivo); rigidez<br />
e sintomas parkinsonianos, entre outros. Essas formas que<br />
afetam outros sistemas além do cerebelar são mais graves e<br />
evoluem mais rápido. Também são conhecidas como ataxia<br />
olivo-ponto-cerebelar ou, mais modernamente, como atrofia<br />
de múltiplos sistemas.<br />
O diagnóstico de AD é feito com base na história médica<br />
do paciente, histórico familiar e um exame neurológico<br />
completo e detalhado. Além disso, o exame de ressonância<br />
magnética do encéfalo e exames de sangue são relevantes,<br />
pois podem ajudar a descartar causas não degenerativas do<br />
sintoma de falta de coordenação. Testes genéticos podem<br />
ser realizados para alguns tipos de AD hereditárias, para<br />
confirmar um diagnóstico ou para predizer se um indivíduo<br />
de uma família de afetados é portador do gene defeituoso,<br />
mesmo que não apresente sintomas.<br />
A avaliação médica especializada é de extrema importância<br />
para o diagnóstico correto da causa da ataxia, que<br />
eventualmente pode ser tratada. Entretanto, infelizmente<br />
não há ainda tratamento medicamentoso eficaz para as<br />
AD. O tratamento consiste em fisioterapia para melhora do<br />
equilíbrio e fonoterapia para treino de fala e deglutição. A<br />
adaptação de órteses e andadores também facilita a vida<br />
dos portadores de ataxia.