Sonetos, de Luís de Camões Texto-base - Canal do Estudante
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tanto menos se crê que há <strong>de</strong> durar!<br />
Quem já se viu contente e prospera<strong>do</strong>,<br />
ven<strong>do</strong> se em breve tempo em pena tanta,<br />
razão tem <strong>de</strong> viver bem magoa<strong>do</strong>.<br />
Porém quem tem o mun<strong>do</strong> exprimenta<strong>do</strong>,<br />
não o magoa a pena nem o espanta,<br />
que mal se estranhará o costuma<strong>do</strong>.<br />
Fortuna em mim guardan<strong>do</strong> seu direito<br />
em ver<strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubou minha alegria.<br />
Oh! quanto se acabou naquele dia,<br />
cuja triste lembrança ar<strong>de</strong> em meu peito!<br />
Quan<strong>do</strong> contemplo tu<strong>do</strong>, bem suspeito<br />
que a tal bem, tal <strong>de</strong>scanso se <strong>de</strong>via,<br />
por não dizer o mun<strong>do</strong> que podia<br />
achar-se em seu engano bem perfeito.<br />
Mas se a Fortuna o fez por <strong>de</strong>scontar-me<br />
tamanho gosto, em cujo sentimento<br />
a memória não faz senão matar-me ,<br />
que culpa po<strong>de</strong> dar-me o sofrimento,<br />
se a causa que ele tem <strong>de</strong> atormentar-me,<br />
eu tenho <strong>de</strong> sofrer o seu tormento?<br />
Grão tempo há já que soube da Ventura<br />
a vida que me tinha <strong>de</strong>stinada;<br />
que a longa experiência da passada<br />
me dava claro indício da futura.<br />
Amor fero, cruel, Fortuna dura,<br />
bem ten<strong>de</strong>s vossa força exprimentada:<br />
assolai, <strong>de</strong>struí, não fique nada;<br />
vingai vos <strong>de</strong>sta vida, qu'inda dura.<br />
Soube Amor da Ventura, que a não tinha,<br />
e, por que mais sentisse a falta <strong>de</strong>la,<br />
<strong>de</strong> imagens impossíveis me mantinha.<br />
Mas vós, Senhora, pois que minha estrela<br />
não foi milhor, vivei nesta alma minha,<br />
que não tem a Fortuna po<strong>de</strong>r nela.<br />
Ilustre o dino ramo <strong>do</strong>s Meneses,<br />
aos quais o pru<strong>de</strong>nte e largo Céu<br />
(que errar não sabe), em <strong>do</strong>te conce<strong>de</strong>u<br />
rompesse os maométicos arneses;<br />
<strong>de</strong>sprezan<strong>do</strong> a Fortuna e seus reveses,<br />
i<strong>de</strong> para on<strong>de</strong> o Fa<strong>do</strong> vos moveu;<br />
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