UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PENDURA ESSA - IFCS
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vam mesmo a apontar o botequim como uma ameaça à sociedade e à família.<br />
As campanhas no país contra o alcoolismo e o ócio, sobretudo entre os anos<br />
1890 e 1940, foram especialmente intensas, uma vez que o alcoólico era visto como<br />
imprestável para o trabalho e desagregador da família. Vadiar nos bares era crime<br />
passível de pena de até cinco anos de prisão. Os panfletos da cruzada nacional<br />
contra o alcoolismo alertavam: “O álcool leva à cadeia, ao hospício, ao cemitério”; ou<br />
ainda: “a bebida prepara o terreno para a doença, o crime e a morte” 21 .<br />
Tal cruzada previa a obrigatoriedade de licenças especiais para o comércio de<br />
bebidas alcoólicas, de modo a limitar o número de estabalecimentos que vendiam<br />
tais produtos; a determinação de áreas onde o consumo e a venda desses itens<br />
seriam proibidos, como a 500 metros de escolas e hospitais; o encarecimento dos<br />
preços do produto; a proibição da venda de bebida alcoólica em balcão a mulheres e<br />
a menores de idade; a criação de campanhas educativas; e a construção de hospíci-<br />
os para tratamento de alcoólicos 22 .<br />
O alcoolismo era associado ao jogo, à prostituição, ao crime, à vagabunda-<br />
gem, ao fumo, à mendicância e à boemia. Todas essas características eram vistas<br />
como ameaça ao novo ideal de cidade moderna e civilizada, que nascia no fim do<br />
século XIX, com a República, o fim da escravidão, a intensificação do processo de<br />
urbanização do país e a consolidação de um modelo capitalista de produção, calcado<br />
na formação de uma massa trabalhadora, cuja mão-de-obra seria o motor do desen-<br />
volvimento da nação emergente.<br />
Com esse processo, surgia igualmente uma ideologia que valorizava o ho-<br />
mem-trabalhador 23 e tentava transformar em trabalhadores assalariados as massas<br />
de migrates do interior do país, imigrantes europeus e escravos recém-libertos. O<br />
lazer e o ócio, assim, eram uma afronta a essa ideologia e portanto vistos como algo<br />
ameaçador. O botequim, por sua vez, era o lugar do álcool e do homem com o tempo<br />
livre e estava, portanto, contaminado por essas associações depreciativas. Como<br />
aponta Mattos, o discurso moralizante envolvia vários segementos poderosos da<br />
sociedade que nascia:<br />
21 Mattos, 2000, pp. 30 e 36.<br />
22 Idem, pp. 32 e 33.<br />
O discurso das campanhas era incisivo,<br />
identificando o alcoolismo com “flagelo”, “praga<br />
23 Isto é, associava ao ideal de masculinidade a disposição para o trabalho.<br />
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