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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PENDURA ESSA - IFCS

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Segundo Anderson, são os freqüentadores assíduos com os proprietários e<br />

empregados que estabelecem as regras de conduta, convivência e sociabilidade, e<br />

quando sentem que estes valores estão sendo ameaçados os defendem com firme-<br />

za. Por outro lado, Machado da Silva, ao estabelecer uma distinção entre o botequim<br />

e as demais casas de bebidas, aponta algumas características, sendo a principal<br />

delas, para ele, a classe social dos freqüentadores. Veremos, no entanto, que, com<br />

algumas diferenças, estas características de sociabilidade também estão presentes<br />

em botequins freqüentados pela classe média, como a Adeguinha.<br />

É possível e até relativamente comum encontrar no Rio de Janeiro, e o survey<br />

do Rio Botequim mostrou isso, bares que são freqüentados por pessoas de classe<br />

média, com o mesmo sentido de espaço de sociabilidade e congraçamento. O pró-<br />

prio autor do “Singificado do botequim” afirma que a especialização do botequim<br />

pode atuar como elemento de atração das camadas médias para o seu círculo de<br />

freqüentadores. Os bares populares que têm rodas da samba são exemplo desse<br />

tipo de especialização a que se refere Machado da Silva. Mas a freqüência assídua<br />

das camadas médias aos botequins também se explica pela proximidade destes em<br />

relação ao bairro onde está situado, servindo de espaço de importante sociabilidade.<br />

Bares de proximidade, localizados em bairros residenciais, também atraem os<br />

moradores dos arredores com esse sentido de clube local, como apontado por<br />

Anderson, Santos, Mello & Vogel e Guedes. No caso de cidades como o Rio de<br />

Janeiro e Niterói, onde os bairros mais ricos também abrigam populações carentes e<br />

as ruas apresentam uma relativa interação de camadas sociais distintas, não é<br />

incomum que os botequins apresentem uma freqüência relativamente misturada,<br />

embora haja sempre a predominância de um ou outro grupo social, dependendo do<br />

bar e de sua localização.<br />

É mais comum, na verdade, que membros da classe média freqüentem bote-<br />

quins populares do que o oposto, já que vários mecanismos são postos em prática,<br />

sobretudo pelo dono do estabelecimento, para inibir a presença dos segmentos mais<br />

pobres em bares de classe média. Na Adeguinha, Chico, por exemplo, controla a<br />

freqüência de seu bar especialmente através dos preços que cobre pelos produtos.<br />

Esta é a arma mais eficaz para garantir uma freguesia “seleta”. Sua dose de cacha-<br />

ça, por exemplo, custa muito mais cara do que a dos botequins concorrentes da<br />

mesma rua. “Quando um pé-de-chinelo entra na Adega e pede um dose de cachaça,<br />

digo logo o preço”, afirma Chico. “E quando o sujeito reclama, aviso que no botequim<br />

em frente custa a metade.” Depois de refletir um pouco, Chico se justifica: “Não<br />

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