UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PENDURA ESSA - IFCS
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tante diferenciada.<br />
O contato entre moradores que repartem a mesma região acontece segundo<br />
uma série de regras de convivência e conveniência, muitas de tal forma naturalizadas<br />
que pouco se tem consciência delas. São as etiquetas, boas maneiras e rituais de<br />
posturas no espaço público compartilhado. Os indivíduos desempenham na cidade<br />
inúmeros papéis, que são alternados de forma automática e muitas vezes inconsci-<br />
ente, segundo as circunstâncias em que se encontram.<br />
Assim, na dinâmica imposta pelo dia-a-dia da cidade, o indivíduo se fragmen-<br />
ta assumindo inúmeras posições que são negociadas na interação com o outro (seja<br />
esse outro indivíduo ou grupo), num constante entrecruzar de planos e fronteiras.<br />
Essa interação visa a estabelecer as regras, ainda que momentâneas e fluidas, de<br />
cada encontro específico entre pessoas e grupos.<br />
Ao mesmo tempo, diante da fragmentação imposta pela vida na cidade, o<br />
indivíduo se protege, quer adotando uma atitude blasé, como observou Simmel 49 ,<br />
quer projetando impressões sobre suas competências, como mostra Goffman 50 . Para<br />
Michel de Certeau, essas regras são o resultado de uma dupla articulação: o com-<br />
portamento dentro das atitudes de conveniência e a expectativa de prêmio por essa<br />
atuação.<br />
Tal recompença é o que De Certeau chama de “benefícios simbólicos” que<br />
são partilhados por todos aqueles que dividem um espaço de proximidade. Nesse<br />
contexto, o bairro seria o lugar onde acontece um “engajamento social ou, noutros<br />
termos, uma arte de conviver com parceiros (vizinhos, comerciantes) que estão liga-<br />
dos [...] pelo fato concreto, mas essencial, da proximidade e da repetição”. 51 . A con-<br />
veniência para De Certeau é o compromisso que o indivíduo assume de renunciar às<br />
suas pulsões individuais e anárquicas em prol da vida coletiva.<br />
Esta renúncia, marcada pela expectativa de uma compensação futura, se es-<br />
tabelece como um contrato social, ao qual o indivíduo se submente para que a vida<br />
coletiva seja possível. Daí o peso coercitivo que tais etiquetas e comportamentos<br />
têm. O prêmio, enfim, é o reconhecimento que o indivíduo obtém de seus pares. Ser<br />
considerado é, assim, um dos principais elementos definidores do status de um indi-<br />
víduo em seu meio social.<br />
49 Simmel, Georg. “A metrópole e a vida mental”. In Velho, O. G.. O fenômeno urbano. Rio de Janeiro,<br />
RJ. Zahar Editores. 1967, p. 13-28.<br />
50 Op. cit.<br />
51 Certeau, Michel de., Giard, Luce & Mayol, Pierre. A invenção do cotidiano. 2. Morar, cozinhar.<br />
Petrópolis, RJ. Editora Vozes. 1997, p. 39.<br />
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