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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PENDURA ESSA - IFCS

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freqüência ao botequim era antagônica ao projeto da República emergente que pre-<br />

tendia transformar estes homens em assalariados e ainda hoje está impregnada de<br />

um estigma 31 , que relaciona o freqüentador de botequim à imagem do desordeiro,<br />

vagabundo e alcoólico.<br />

Com respeito ao alcoolismo, Delma Pessanha Neves vincula a origem da re-<br />

pressão ao consumo de bebida ao movimento de temperança 32 do século XIX, sobre-<br />

tudo na sociedade norte-americana. O surgimento de saberes especializados, como<br />

o discurso médico, ajudaram a enfatizar os aspectos negativos do beber e isso teria<br />

inclusive influenciado os estudos sociais acerca do alcoolismo, onde a ênfase recaiu<br />

mais sobre a embriaguez do que o hábito de beber propriamente dito (a abordagem<br />

moralista criticada por Dumazedier & Suffert).<br />

Enfocavam-se aspectos de morbidez psicológica e degeneração física, difi-<br />

cultando a compreensão do consumo de bebida alcoólica como um ato social, isto é,<br />

constituído de regras, onde o estado de embriaguez é, de um modo geral, como<br />

veremos a frente, um abuso dessas regras, que existem e se impõem justamente<br />

ante a possibilidade da embriaguez. “Estas regras geralmente englobam quem pode<br />

e quem não pode beber, o que se pode beber, em que contextos e em companhia de<br />

quem etc.” 33 . Veremos inclusive que o manejo do ato de beber e o controle da embri-<br />

aguez são elementos fundamentais da construção da identidade masculina no espa-<br />

ço do botequim.<br />

E essas regras variam conforme o lugar onde ocorrem. A tolerância em rela-<br />

ção a uma pessoa alcoolizada em um bar do Leblon, na zona Sul do Rio de Janeiro,<br />

provavelmente será diferente daquela que aconteceria em uma “birosca”, numa fa-<br />

vela de subúrbio. Cada sociedade e, dentro dela, cada segmento social estabelece<br />

suas formas e usos da bebida alcoólica. Neves cita, por exemplo, o uso em rituais<br />

religiosos; como acompanhamento das refeições; como marca de hospitalidade; como<br />

mediação em contextos de festividade; como recurso para transpor certos limites da<br />

31 O termo “estigma” aqui é usado no sentido empregado por Erving Goffman, como um rótulo social<br />

negativo, que identifica pessoas como desviantes, mesmo que seu comportamento não viole normas,<br />

ou seja, uma marca que ignora todas as virtualidades, positivas ou negativas, do sujeito.<br />

32 No início do século XIX, o consumo excessivo de bebida alcoólica já era considerado um grave<br />

problema social, o que acabou levando à fundação de sociedades de temperança na Europa e nos<br />

Estados Unidos, tendo sido a primeira delas fundada em Saratoga, no estado de Nova Iorque, em<br />

1808. Este movimento está na base da Lei Seca, a proibição do transporte, comércio e consumo de<br />

bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, que durou quase 14 anos, de 29 de janeiro de 1920 a 5 de<br />

dezembro de 1933.<br />

33 Neves, Delma Pessanha. “Alcoolismo: acusação ou diagnóstico?” In IV Reunião de Antropologia<br />

do Mercosul. Curitiba, PR. Universidade Federal do Paraná. 1999. p. 2.<br />

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