19.04.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PENDURA ESSA - IFCS

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PENDURA ESSA - IFCS

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PENDURA ESSA - IFCS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

poder público etc.<br />

Cada segmento com sua visão própria de mundo e, por que não, do botequim<br />

que freqüenta, em particular. Visão esta que é negociada na construção da realidade<br />

cotidiana. É uma negociação que acontece muitas vezes de forma inconsciente ou<br />

apreendida como algo corriqueiro e natural. Outras vezes é resultado de conflitos e<br />

disputas, em que estão em jogo, mais do que valores em si, uma espécie de consen-<br />

so através da definição do que seja essa realidade que, como vimos, é composta de<br />

várias interpretações superpostas. As regras e etiquetas que organizam as práticas<br />

sociais são constantemente postas à prova aí, numa incessante negociação da or-<br />

dem social que busca, como aponta Goffman, definir a situação de interação entre os<br />

indivíduos 41 .<br />

Goffman utiliza a metáfora do teatro como instrumento para interpretar a<br />

interação dos grupos sociais. Nesta dissertação usei estes conceitos para descrever<br />

e interpretar os dados obtidos empiricamente. Na abordagem dramatúrgica, as<br />

interações sociais são como uma produção teatral ou como peças sendo apresenta-<br />

das, consistindo de performances individuais e de grupos em um complexo jogo de<br />

cena, onde os atores assumem papéis.<br />

No caso do botequim aqui examinado, este tipo de recurso se encaixa perfei-<br />

tamente. A Adeguinha, por exemplo, é o cenário, isto é, o ambiente onde transcorre a<br />

interação entre os diversos atores e a platéia. Ao mesmo tempo, Chico, como dono<br />

do estabelecimento, atua sob um consenso operacional, o que significa dizer que a<br />

legitimidade é garantida pelo grupo a um indivíduo para definir determinadas situa-<br />

ções. Este consenso sobrevive a algumas situações de conflitos e impasses e é<br />

exercido legitimamente pelo proprietário da Adeguinha, como uma das personagens<br />

centrais dessa dramaturgia cotidiana dos freqüentadores de um botequim.<br />

A escolha da Adeguinha como campo empírico de minha pesquisa etnográfica<br />

atendeu prioritariamente a critérios de conveniência. Localizada próximo à minha<br />

residência, pude freqüentá-la com assiduidade. Além disso, já estabelecera contato<br />

com seu proprietário, em decorrência da enquete e pude estabelecer certo tipo de<br />

ligação, desenvolvida durante as pesquisas para o Rio Botequim.<br />

Ao realizar o trabalho de campo, procurei me integrar com os fregueses assí-<br />

duos e estabelecer uma sólida relação com eles e com Chico. Pouco a pouco, fui<br />

41 Goffman, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. 8ª edição. Petrópolis, RJ. Editora Vozes.<br />

1975. A propósito desta mesma questão ver ainda Berger, Peter & Luckmam, Thomas. A construção<br />

social da realidade. 21ª edição. Petrópolis, RJ. Editora Vozes. 1985.<br />

This PDF was created using Adolix PDF Converter . Register to remove this watermark!<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!