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Pensando em princípios para uma docência transdisciplinar - Unicid

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Fo R m a ç ã o e Ca pa C i ta ç ã o n a ÁR e a d a sa ú d e<br />

Arnt rm. <strong>Pensando</strong> <strong>em</strong> <strong>princípios</strong> <strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>docência</strong> <strong>transdisciplinar</strong><br />

São Paulo • Science in Health • 2010 jan-abr 1(1): 55-64<br />

IntRodução<br />

Desde os primeiros estudos que fiz sobre Transdisciplinaridade,<br />

<strong>em</strong> 1999, busco nela a organização<br />

de meu pensamento <strong>para</strong> fundamentar <strong>uma</strong> atitude<br />

que possa, minimamente, representar <strong>uma</strong> contribuição<br />

nos ambientes educacionais seja na universidade,<br />

na formação de professores, seja nos projetos de formação<br />

continuada ou nas atividades desenvolvidas <strong>em</strong><br />

ambientes sócio-educativos, <strong>em</strong> regiões de vulnerabilidade<br />

social, na cidade de São Paulo.<br />

Acredito que a <strong>transdisciplinar</strong>idade pode <strong>em</strong>basar<br />

e inspirar <strong>uma</strong> atitude que repercuta positivamente<br />

no fazer docente, na mediação pedagógica, nas<br />

interações e relações entre professor e alunos. L<strong>em</strong>brando<br />

Freire (1997), é preciso manter-se a atenção<br />

ao rigor nos processos educativos e buscar o prazer<br />

nas circunstâncias criadas <strong>em</strong> sala de aula, fugindo ao<br />

laissez-faire, ou ao prazer pelo prazer. Por intermédio<br />

de Maturana (1997) sab<strong>em</strong>os que fluímos de acordo<br />

com as circunstâncias, criando campos vibracionais<br />

com nosso pensar, sentir, agir, que se acoplam<br />

ao pensar, sentir, agir daqueles que compartilham os<br />

espaços de aprendizag<strong>em</strong> conosco.<br />

Como tantos, vivo constant<strong>em</strong>ente sob <strong>uma</strong> indignação<br />

que se expressa num verso que se repete, da<br />

música Promessas de Sol * , marcando o passo de cada<br />

dia: Que tragédia é esta que cai sobre todos nós? Tragédia<br />

que se mostra nas populações de rua, na miséria,<br />

fome, violência <strong>em</strong> diferentes níveis e formas. Tragédia<br />

que se mostra na falta de esperança, nas grades de<br />

casas e edifícios que se tornam cada vez mais altas.<br />

No medo, nas armas, na intolerância. Tragédia que se<br />

mostra no des<strong>em</strong>prego, no sub<strong>em</strong>prego, na barganha<br />

pela vida, como se a vida fosse mercadoria. Tragédia<br />

que se estampa nos que se entregam a qualquer tipo<br />

de vida, vida s<strong>em</strong> sentido, por não visualizar alternativas.<br />

A educação v<strong>em</strong> sendo apontada como o caminho<br />

por onde passa a solução dos probl<strong>em</strong>as sociais,<br />

políticos, econômicos, ambientais, existenciais. Mas<br />

onde começa esse caminho?<br />

Quer<strong>em</strong>os a paz no campo, nas cidades, entre os<br />

povos. Ela não se dissocia da paz nos lares, nas escolas.<br />

Que por sua vez não se encontra isolada da paz<br />

entre familiares e no convívio <strong>em</strong> sala de aula. E a<br />

paz interior? É possível a construção da paz s<strong>em</strong> que<br />

* Música dos compositores brasileiros Milton Nascimento e<br />

Fernando Brant.<br />

56<br />

Re l at o d e p e s q u i s a<br />

ISSN 2176-9095<br />

ela seja, concomitant<strong>em</strong>ente, buscada e construída no<br />

interior do ser h<strong>uma</strong>no? Todos sab<strong>em</strong>os da importância<br />

do diálogo, mas onde aprend<strong>em</strong>os a dialogar?<br />

As teorias nos apontam caminhos. Como começar a<br />

trilhá-los? Qu<strong>em</strong> começa?<br />

A <strong>transdisciplinar</strong>idade pode contribuir <strong>para</strong> a<br />

educação, influenciando, inicialmente, a atitude,<br />

tornando-a propícia à construção de <strong>uma</strong> <strong>docência</strong><br />

<strong>transdisciplinar</strong>, que acolha o rigor, a abertura e a tolerância,<br />

como preconizado na Carta da Transdisciplinaridade<br />

** . Considero que essa <strong>docência</strong> poderá se<br />

refletir, pelas circunstâncias criadas, nos seres que ali<br />

interag<strong>em</strong>, modificando as relações professor-aluno,<br />

favorecendo o desenvolvimento h<strong>uma</strong>no, na sua multidimensionalidade.<br />

Já não é possível ficar impassível diante das questões<br />

sociais. Mesmo sabendo que as cenas já não nos<br />

impactam, como a dos meninos de rua. A cada manhã<br />

nos v<strong>em</strong> o angustiante questionamento: ‘O que fazer?’.<br />

Continuar a fugir do contato visual com pessoas<br />

que desafortunadamente não possu<strong>em</strong> o mínimo <strong>para</strong><br />

manter a dignidade h<strong>uma</strong>na? Ignorar desesperança,<br />

cansaço, apatia, indiferença, descaso, tédio, desrespeito<br />

por si mesmo, pelo outro, pela sociedade que<br />

formamos?<br />

A busca pela <strong>docência</strong> <strong>transdisciplinar</strong> funda-se<br />

na esperança de que ela represente um leque de caminhos<br />

significativos que possa auxiliar na mudança<br />

através da educação; funda-se, ainda, na compreensão<br />

de que a atuação profissional acha-se profundamente<br />

imbricada com as questões aqui apontadas, carregando<br />

<strong>em</strong> sua essência a valorização da vida e da dignidade<br />

h<strong>uma</strong>nas. Segundo Laszlo (2001), é preciso <strong>uma</strong><br />

mudança no nível de consciência <strong>para</strong> evitarmos o colapso<br />

da civilização. Em que pese a complexidade do<br />

desafio, há que se fazer com que, de alg<strong>uma</strong> maneira,<br />

essa mudança se consubstancie. No meu entender,<br />

eis também o compromisso da <strong>docência</strong> <strong>transdisciplinar</strong><br />

e a importância de conceituá-la <strong>para</strong> criar campos<br />

de atuação e aproximação.<br />

** A Carta da Transdisciplinaridade é um documento escrito<br />

por ocasião do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade,<br />

no Convento de Arrábida, Portugal, no ano<br />

de 1994, sintetizando as discussões ali havidas, consistindo,<br />

no dizer de D’Ambrosio 4 (1997), um dos signatários,<br />

um pacto moral entre todos os homens definitivamente<br />

interessados n<strong>uma</strong> nova perspectiva de futuro <strong>para</strong> a h<strong>uma</strong>nidade.

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