Pensando em princípios para uma docência transdisciplinar - Unicid
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Fo R m a ç ã o e Ca pa C i ta ç ã o n a ÁR e a d a sa ú d e<br />
Arnt rm. <strong>Pensando</strong> <strong>em</strong> <strong>princípios</strong> <strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>docência</strong> <strong>transdisciplinar</strong><br />
São Paulo • Science in Health • 2010 jan-abr 1(1): 55-64<br />
ção. São tais narrativas o ponto de partida de meu<br />
método de pesquisa, de aprendizag<strong>em</strong>, esencadeando<br />
o processo dialógico e reflexivo de <strong>uma</strong> pesquisaformação.<br />
Josso (2004) diferencia as experiências <strong>em</strong> três<br />
modalidades. Ter experiências representa as situações<br />
que são vividas s<strong>em</strong> que as tenhamos provocado. São<br />
experiências feitas a posteriori. Fazer experiências representa<br />
as que provocamos, com intencionalidade.<br />
São experiências a priori. Pensar sobre as experiências,<br />
tanto as a posteriori como a priori, permite a interpretação<br />
e elaboração das mesmas, possibilitando novas<br />
significações, o alargamento da consciência, a mudança,<br />
a criatividade, a autonomização, a responsabilização<br />
(JOSSO, 2004, p.51).<br />
Para a <strong>em</strong>ergência de novas significações, esta autora<br />
destaca três atitudes interiores indispensáveis:<br />
abertura <strong>para</strong> si, <strong>para</strong> outr<strong>em</strong> e <strong>para</strong> o meio, visando<br />
a exploração e o conhecimento.<br />
N<strong>uma</strong> primeira etapa, as experiências não intencionais<br />
(a posteriori) surpreend<strong>em</strong>-nos, causam impacto<br />
e conduz<strong>em</strong>-nos a momentos de reflexão e revisão<br />
de conceitos e atitudes. Interrompe-se <strong>uma</strong> lógica que,<br />
a partir de então, já não nos permite integrar o que se<br />
passa ao que é conhecido, e ficamos afetivamente perturbados,<br />
porque <strong>uma</strong> t<strong>em</strong>poralidade foi quebrada ou, ainda,<br />
porque um funcionamento foi interrompido. O primeiro<br />
momento da experiência é esta suspensão de automatismos,<br />
é o imprevisto, é o espanto (JOSSO, 2004, p.52).<br />
Importante l<strong>em</strong>brar que <strong>uma</strong> experiência, mesmo<br />
compartilhada, não produz os mesmos significados:<br />
estes são s<strong>em</strong>pre diferentes, singulares. Portanto, é<br />
impossível repetir-se <strong>uma</strong> experiência. Ao tentar revivê-la,<br />
só pela intenção, não será <strong>uma</strong> experiência a<br />
posteriori. A partir de experiências que classifico como<br />
não intencionais, dialogando com autores, chego aos<br />
<strong>princípios</strong> que serão mencionados a seguir.<br />
2. Princípios da <strong>docência</strong> <strong>transdisciplinar</strong><br />
A palavra ‘princípio’ é ligada à ideia de orig<strong>em</strong>,<br />
começo, ponto de partida de um processo qualquer.<br />
Aristóteles (apud ABBAGNANO, 1998) enumerou<br />
seus significados, dos quais destaco o ‘ponto de partida’,<br />
ou, mais especificamente, o melhor ponto de<br />
partida – o que facilita <strong>uma</strong> situação de aprendizag<strong>em</strong>.<br />
‘Princípio’ também pode ser associado a algo que determina<br />
movimento, mudanças, ou ainda, r<strong>em</strong>eter às<br />
d<strong>em</strong>onstrações mat<strong>em</strong>áticas, às pr<strong>em</strong>issas que faz<strong>em</strong><br />
58<br />
Re l at o d e p e s q u i s a<br />
ISSN 2176-9095<br />
parte de um processo de conhecimento.<br />
A concepção de ‘princípio’ aqui utilizada corresponde<br />
à constituição do ponto de partida, da base sobre<br />
a qual se possa pensar a <strong>docência</strong> <strong>transdisciplinar</strong>.<br />
Porém, é preciso enfatizar que não faço concessão a<br />
<strong>princípios</strong> rígidos, que possam cristalizar-se e cristalizar-me.<br />
Ao contrário, tento fugir da construção de<br />
gaiolas **** onde me aprisione, saindo da disciplinaridade<br />
<strong>para</strong> fixar-me n<strong>uma</strong> proposta que não me permita<br />
visualizar outras possibilidades de entendimento<br />
da vida, da educação e da atuação docente. Penso<br />
<strong>em</strong> <strong>princípios</strong> que se relacion<strong>em</strong> de forma dinâmica,<br />
aberta e processual, caracterizados pelo movimento<br />
e pelo fluxo, permitindo s<strong>em</strong>pre novos arranjos, incorporando<br />
idéias que se agregu<strong>em</strong> e compl<strong>em</strong>ent<strong>em</strong><br />
o aqui exposto. A partir dos <strong>princípios</strong>, a cada novo<br />
grupo de aprendizag<strong>em</strong> que formamos, os pontos de<br />
chegada serão s<strong>em</strong>pre outros, negociados pelos componentes<br />
do sist<strong>em</strong>a h<strong>uma</strong>no <strong>em</strong> construção, sist<strong>em</strong>a<br />
este que terá características próprias, que deverão<br />
ser compreendidas à medida que os indivíduos interajam.<br />
Num t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que <strong>princípios</strong> antes considerados<br />
universais deixam de sê-lo, levo <strong>em</strong> conta a<br />
transitoriedade do conhecimento, seu inacabamento,<br />
mas também a necessidade de ter <strong>uma</strong> base de trabalho,<br />
de pensamento, de ação, mesmo que móvel,<br />
mutante.<br />
A própria construção dessa base requer “materiais”<br />
que se ligu<strong>em</strong>, se entrelac<strong>em</strong>. Tais materiais<br />
pod<strong>em</strong> ser considerados macroconceitos (MORIN,<br />
1990; MORAES, 2004) ou pressupostos que conformam<br />
meu olhar, permitindo-me criar o caminho que<br />
me proponho. Explicito aqui tais pressupostos: complexidade,<br />
<strong>transdisciplinar</strong>idade e minha compreensão<br />
sobre o diálogo e consciência h<strong>uma</strong>na.<br />
Assim, minhas experiências formadoras vão sendo<br />
sist<strong>em</strong>atizadas, na forma de <strong>princípios</strong> da <strong>docência</strong><br />
**** Referência às gaiolas epist<strong>em</strong>ológicas, metáfora de<br />
D’Ambrosio (1997) <strong>para</strong> a compreensão da disciplina,<br />
da interdisciplinaridade e <strong>transdisciplinar</strong>idade. Se a<br />
disciplina é vista como <strong>uma</strong> gaiola que permite um contato<br />
reduzido com a vida, a interdisciplinaridade seria<br />
a aproximação de gaiolas com portas abertas entre si,<br />
possibilitando o contato mais estreito com o outro, com<br />
a vida, mas ainda engaiolados. A <strong>transdisciplinar</strong>idade<br />
representa as gaiolas abertas. Permanecendo abertas<br />
nos propiciam o voo livre <strong>para</strong> a compreensão da vida,<br />
com a gaiola continuando acessível, com alimento e<br />
água <strong>para</strong> nosso reconforto e segurança.