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A educação contextualizada como instrumento de inclusão ... - Unicid

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO<br />

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO<br />

ANTONIO IVAN CASTILHO<br />

A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> <strong>como</strong> <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>inclusão</strong> social<br />

São Paulo<br />

2011


UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO<br />

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO<br />

ANTONIO IVAN CASTILHO<br />

A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> <strong>como</strong> <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>inclusão</strong> social<br />

Dissertação apresentada à banca<br />

examinadora <strong>como</strong> exigência parcial para<br />

obtenção do título <strong>de</strong> Mestre em<br />

Educação pela Universida<strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo, sob orientação do Prof. Dr.<br />

Júlio Gomes Almeida.<br />

São Paulo<br />

2011


C352e<br />

Ficha elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio <strong>de</strong> Souza. UNICID<br />

Castilho, Antonio Ivan.<br />

A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> <strong>como</strong> <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>inclusão</strong> social / Antonio Ivan Castilho --- São Paulo,<br />

2011.<br />

127 p.<br />

Bibliografia<br />

Dissertação (Mestrado) - Universida<strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo. Orientador Prof. Dr. Júlio Gomes Almeida<br />

1. Educação. 2. Educação – <strong>inclusão</strong> social. 3.<br />

Contexto da <strong>educação</strong>. I. Almeida, Júlio Gomes. II.<br />

Titulo.<br />

370.115


___________________________________<br />

___________________________________<br />

___________________________________<br />

COMISSÃO JULGADORA


Aos meus pais, Lair<strong>de</strong>s e José, pela <strong>educação</strong> e pelo amor incondicional,<br />

nestes quarenta anos.<br />

Às minhas irmãs, Ana e Lara, porque nossa união é maior que a distância.<br />

Ao professor e amigo Migliatti.<br />

À Juliana pela paciência e apoio.<br />

Aos pesquisadores e trabalhadores que, <strong>de</strong> alguma forma, reduzem o<br />

sofrimento dos excluídos.<br />

À memória <strong>de</strong> Guilherme Zaninotto.


AGRADECIMENTOS<br />

Ao Prof. Dr. Júlio Gomes Almeida, orientador e parceiro <strong>de</strong>ssa dissertação,<br />

que pacientemente ampliou meu panorama no universo das escolas comunitárias e<br />

da pesquisa em Educação.<br />

A todos os docentes do Programa <strong>de</strong> Mestrado da <strong>Unicid</strong>, por terem me<br />

proporcionado diálogos e leituras relevantes.<br />

À Profª Margarete May Berkenbrock Rosito, pelas leituras e aulas que<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram a escrita do Memorial.<br />

À Daniela Mattern e à Rosângela dos Santos pelo apoio e pelo fornecimento<br />

<strong>de</strong> dados no Projeto Alavanca Brasil.<br />

A Maxi Drobnitzky e Regina Rückel pela integrida<strong>de</strong> das pautas nas reuniões.<br />

À Annette Martucci pelas reflexões dos acontecimentos do projeto.<br />

Aos muitos educandos e educadores, companheiros <strong>de</strong> trabalho e da<br />

trajetória <strong>como</strong> docente, em todos esses anos.


"A extinção do déficit não po<strong>de</strong> resultar senão <strong>de</strong> um<br />

abalo profundamente renovador nas fontes espontâneas da<br />

produção. Ora, a produção, <strong>como</strong> já <strong>de</strong>monstramos, é um<br />

efeito da inteligência: está, por toda a superfície do globo, na<br />

razão direta da <strong>educação</strong> popular. Todas as leis protetoras são<br />

ineficazes, para gerar a gran<strong>de</strong>za econômica do país, todos os<br />

melhoramentos materiais são incapazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a<br />

riqueza, se não partirem da <strong>educação</strong> popular, a mais criadora<br />

<strong>de</strong> todas as forças econômicas, a mais fecunda <strong>de</strong> todas as<br />

medidas financeiras”.<br />

Rui Barbosa (1883)


RESUMO<br />

Castilho, A. I. A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> <strong>como</strong> <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> social. São<br />

Paulo: 2011. Dissertação (Mestrado) – Universida<strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (<strong>Unicid</strong>).<br />

O objeto da pesquisa é a <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> na conjuntura metropolitana. O<br />

principal objetivo do estudo é o entendimento da dimensão da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>senvolverem propostas <strong>como</strong> essa em regiões metropolitanas, <strong>como</strong> a <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Como local da pesquisa escolheu-se o Projeto Alavanca Brasil, <strong>de</strong>senvolvido<br />

em uma favela da Zona Oeste <strong>de</strong> São Paulo, com apoio do governo alemão e <strong>de</strong><br />

diversas empresas alemãs que atuam no Brasil. A metodologia adotada, na<br />

realização da pesquisa, foi qualitativa e <strong>como</strong> técnica <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados optou-se<br />

pela análise bibliográfica e documental, que foi complementada pela reflexão sobre<br />

o próprio processo formativo, com <strong>de</strong>staque para a relação do professor com a<br />

escola nesse processo. Como técnica <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados, recorreu-se à<br />

observação, incluindo a participação, no projeto on<strong>de</strong> foi realizada a pesquisa. Foi<br />

possível perceber que a existência do projeto vem contribuindo para o crescimento<br />

da comunida<strong>de</strong> e, sobretudo, para a ampliação da visão daqueles que conduziram a<br />

sua implantação. O projeto vem sendo, ainda, responsável pelo seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Há alguns indicadores que <strong>de</strong>monstram essa mudança, sendo o<br />

principal <strong>de</strong>les o fato <strong>de</strong> o projeto estar sendo conduzido com expressiva<br />

participação da comunida<strong>de</strong>.<br />

Palavras<br />

Metrópole<br />

chave: Comunida<strong>de</strong>. Educação <strong>contextualizada</strong>. Inclusão.<br />

8


ABSTRACT<br />

Castilho, A. I. A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> <strong>como</strong> <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> social. São<br />

Paulo: 2011. Dissertação (Mestrado) – Universida<strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (<strong>Unicid</strong>).<br />

The object of education research is contextualized in the metropolitan situation. The<br />

main objective of the study is to un<strong>de</strong>rstand the dimension of possibility of <strong>de</strong>veloping<br />

such as this proposals in metropolitan areas, such as São Paulo. As the research<br />

site was chosen Alavanca Brazil Project, <strong>de</strong>veloped in a favela in West Zone of São<br />

Paulo, with support from the German government and several German companies<br />

operating in Brazil. The methodology used in the research, and as a qualitative data<br />

technique for collecting was chosen for the literature review and documentary, which<br />

was followed by reflection on their own learning process, especially the relationship<br />

with the school teacher in this process . As a technique for collecting data, we used<br />

the observation, including participation in the project where the research was<br />

performed. It was possible to un<strong>de</strong>rstand that the project has contributed to the<br />

growth of the community and especially to broa<strong>de</strong>n the vision of those that led to its<br />

implementation. The project has been also responsible for its <strong>de</strong>velopment. There<br />

are some indicators that show this change, the main one being the fact the project is<br />

being conducted with significant community participation.<br />

Keywords: Community. Education context. Inclusion. Metropolis.<br />

9


SUMÁRIO<br />

RESUMO..................................................................................................................08<br />

ABSTRACT..............................................................................................................09<br />

LISTA DE APÊNDICES...........................................................................................12<br />

LISTA DE FIGURAS................................................................................................13<br />

LISTA DE FOTOS....................................................................................................15<br />

LISTA DE TABELAS................................................................................................16<br />

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS...................................................................17<br />

INTRODUÇÃO.........................................................................................................19<br />

CAPITULO 1............................................................................................................24<br />

APRESENTAÇÃO: MEMORIAL DE FORMAÇÃO........................................24<br />

1.1 Início da carreira profissional..................................................................29<br />

1.2 A <strong>de</strong>scoberta da docência.......................................................................33<br />

1.3 Primeiro contato com o Projeto Alavanca Brasil.....................................37<br />

CAPÍTULO 2............................................................................................................41<br />

EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA: UMA PROPOSTA PARA A<br />

METRÓPOLE?.........................................................................................................41<br />

2.1 Desigualda<strong>de</strong> Social................................................................................42<br />

2.2 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola atual............................................................................46<br />

2.3 Educação escolar: um mo<strong>de</strong>lo a ser repensado.....................................55<br />

10


2.4 Educação <strong>contextualizada</strong>.......................................................................60<br />

2.5 Desenvolvimento local.............................................................................63<br />

2.6 Inclusão Social........................................................................................66<br />

CAPÍTULO 3............................................................................................................76<br />

EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA: UMA POSSIBILIDADE DE<br />

INCLUSÃO SOCIAL NA METRÓPOLE.................................................................76<br />

3.1 A comunida<strong>de</strong> São Remo.......................................................................77<br />

3.2 O projeto alavanca..................................................................................87<br />

3.2.1 Objetivos do Projeto Alavanca Brasil:.......................................92<br />

3.2.2 Perfil dos Bolsistas:...................................................................93<br />

3.2.3 Histórico <strong>de</strong> eventos:................................................................93<br />

3.2.4 Desafios atuais:........................................................................97<br />

3.3 Intercâmbio e ativida<strong>de</strong>s........................................................................99<br />

3.4 Impactos do Projeto Alavanca Brasil....................................................107<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................112<br />

REFERÊNCIAS....................................................................................................115<br />

APÊNDICE...........................................................................................................118<br />

11


LISTA DE APÊNDICES<br />

APÊNDICE 1 - Projeto <strong>de</strong> escola profissionalizante (2009) 116<br />

12


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 1 – Índice <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> (2003). 42<br />

Figura 2 - Área da unida<strong>de</strong> territorial (2003). 43<br />

Figura 3 - Densida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica (2003). 43<br />

Figura 4 - Acesso à <strong>educação</strong> infantil (2008). 53<br />

Figura 5 - Matrículas no ensino fundamental; oferta <strong>de</strong> EJA<br />

entre 2001 e 2007, (2008). 54<br />

Figura 6 - Pessoas resi<strong>de</strong>ntes não-naturais da Unida<strong>de</strong> da Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong><br />

residência em percentual (2008). 67<br />

Figura 7 - População por região (2008). 69<br />

Figura 8 - Pessoas resi<strong>de</strong>ntes não-naturais da Unida<strong>de</strong> da Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong><br />

residência em milhões <strong>de</strong> habitantes (2008). 69<br />

Figura 9 - Taxa <strong>de</strong> migrantes em São Paulo (2008) 70<br />

Figura 10 - Famílias por classe <strong>de</strong> rendimento mensal<br />

familiar em São Paulo (2010) 72<br />

Figura 11 - Localização da comunida<strong>de</strong> São Remo (2011) 78<br />

Figura 12 - Segmentação da população da comunida<strong>de</strong> São Remo. 80<br />

Figura 13 - Estrutura do Projeto Alavanca Brasil. 89<br />

Figura 14 – Priorida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s. 89<br />

13


Figura 15 – Realização das ativida<strong>de</strong>s. 89<br />

Figura 16 – Resultado das ativida<strong>de</strong>s. 89<br />

Figura 17 – Ajuste <strong>de</strong> objetivos. 89<br />

14


LISTA DE FOTOS<br />

Foto 1 - Comunida<strong>de</strong> São Remo, vista do bairro. 79<br />

Foto 2 - Interior da comunida<strong>de</strong> São Remo. 79<br />

Foto 3 - Crianças jogando bola na comunida<strong>de</strong> São Remo. 81<br />

Foto 4 - Maquete do projeto do novo prédio 85<br />

Foto 5 - Lixo espalhado pela calçada 86<br />

Foto 6 - Casas às margens do córrego 86<br />

Foto 7 - Curso <strong>de</strong> marcenaria e móveis rústicos 101<br />

Foto 8 - Doação do automóvel 103<br />

Foto 9 - Fachada do prédio 104<br />

Foto 10 - Oficina <strong>de</strong> reciclagem e meio ambiente 105<br />

Foto 11 - Passeio <strong>de</strong> Barco pelo rio Tietê 105<br />

Foto 12 - Visita à Bienal do Livro 106<br />

Foto 13 - Passeio ao Pico do Jaraguá 106<br />

Foto 14 - Passeio ao sítio São Lourenço da Serra 106<br />

15


LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 1 - Taxa <strong>de</strong> pessoas resi<strong>de</strong>ntes não-naturais da região Su<strong>de</strong>ste (2008) 68<br />

Tabela 2 - Microcrédito por região (2005) 71<br />

16


CAD – Computer Ai<strong>de</strong>d Design<br />

CFE – Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação<br />

CTI – Colégio Técnico Industrial<br />

DVD – Digital Ví<strong>de</strong>o Disc<br />

EJA – Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos<br />

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />

EMEF – Escola Municipal <strong>de</strong> Ensino Fundamental<br />

EMPG – Escola Municipal <strong>de</strong> Primeiro Grau<br />

EMBRAPA – Empresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária<br />

IBGE - Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia Estatística<br />

INEP – Instituto Nacional <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas Educacionais<br />

INMETRO – Instituto Nacional <strong>de</strong> Metrologia<br />

LDB – Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional<br />

LED - Light Emission Dio<strong>de</strong><br />

MEC – Ministério da Educação e Cultura<br />

MOBRAL – Movimento Brasileiro <strong>de</strong> Alfabetização<br />

MT – Ministério do Trabalho<br />

ONG – Organização não-Governamental<br />

PNE – Plano Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

17


PNMPO – Programa Nacional <strong>de</strong> Microcredito Orientado<br />

SEADE - Fundação Sistema Estadual <strong>de</strong> Analise <strong>de</strong> Dados<br />

SENAI – Serviço Nacional <strong>de</strong> Aprendizagem Industrial<br />

TRT – Tribunal Regional do Trabalho<br />

UNESP – Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista<br />

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para Infância<br />

USAID – United States Agency for International Development<br />

USP – Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

18


INTRODUÇÃO<br />

O objetivo da pesquisa é compreen<strong>de</strong>r a noção <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong><br />

e verificar, em que medida, essa proposta educacional po<strong>de</strong> contribuir para a<br />

<strong>inclusão</strong> <strong>de</strong> jovens e adultos que resi<strong>de</strong>m em regiões metropolitanas. Para<br />

realização da pesquisa, preten<strong>de</strong>-se estudar o Projeto Alavanca Brasil, uma ONG<br />

<strong>de</strong>senvolvida em uma favela da Zona Oeste <strong>de</strong> São Paulo, que busca a <strong>inclusão</strong><br />

social por meio da <strong>educação</strong> escolar voltada para a profissionalização dos jovens<br />

resi<strong>de</strong>ntes no local. A proposta do projeto é, além <strong>de</strong> melhorar a escolarização e<br />

profissionalizar estes jovens, também contribuir para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida humana no local, por meio da criação <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercício da<br />

cidadania pela comunida<strong>de</strong>. Neste sentido, o envolvimento <strong>de</strong> todos, nas <strong>de</strong>cisões<br />

tomadas na escola, constitui-se em importante <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong> formação.<br />

O interesse pelo tema está relacionado com a história <strong>de</strong> vida do pesquisador<br />

que, em seu processo <strong>de</strong> escolarização, enfrentou dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> escola que privilegia a or<strong>de</strong>m, em <strong>de</strong>trimento da inteligência e da criativida<strong>de</strong>.<br />

Lidar com a escola foi muito difícil para uma criança que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância brincava<br />

em meio a máquinas e equipamentos <strong>de</strong> seu pai, <strong>de</strong>senhista e projetista <strong>de</strong><br />

máquinas. O pai ensinava, à criança, o manuseio <strong>de</strong> diversos equipamentos<br />

enquanto ela servia <strong>de</strong> ajudante em suas tarefas. A partir da reflexão sobre a prática<br />

e os ensinamentos, em uma Escola Técnica, e sobre a noção <strong>de</strong> <strong>educação</strong><br />

<strong>contextualizada</strong>, adquirida no Curso <strong>de</strong> Mestrado, iniciou-se o <strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong>sse<br />

projeto cujo objeto <strong>de</strong> pesquisa é a <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> <strong>como</strong> <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>inclusão</strong> social.<br />

A pesquisa será realizada em uma entida<strong>de</strong> do terceiro setor que tem por<br />

objetivo a profissionalização <strong>de</strong> jovens e adultos com perspectiva <strong>de</strong> colocação no<br />

mercado <strong>de</strong> trabalho. Outro objetivo da entida<strong>de</strong> é contribuir com o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocratização da escola, por meio da sua abertura para a comunida<strong>de</strong>. Para isso,<br />

organizou uma escola cuja gestão é exercida por funcionários e moradores locais.<br />

Denominada “Alavanca”, a entida<strong>de</strong> está situada na Zona Oeste da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo, em uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quatorze mil moradores conhecida <strong>como</strong> “São<br />

19


Remo”. Essa entida<strong>de</strong> viabiliza 300 bolsas <strong>de</strong> estudo para crianças em escolas<br />

particulares da região local, ela possui cursos preparatórios pré-vestibulares, reforço<br />

escolar, cursos <strong>de</strong> capacitação em ativida<strong>de</strong>s <strong>como</strong> informática, marcenaria e artes<br />

gráficas; cursos <strong>de</strong> línguas em inglês e alemão e um programa <strong>de</strong> intercâmbio<br />

cultural <strong>de</strong> estudantes e profissionais <strong>de</strong> diversas partes da Alemanha que atuam<br />

<strong>como</strong> voluntários.<br />

O projeto Alavanca conta com apoio do programa <strong>de</strong> voluntariado do governo<br />

alemão que fornece recursos para a viagem e estadia dos voluntários, os <strong>de</strong>mais<br />

cursos e bolsas têm o apoio financeiro <strong>de</strong> parcerias com empresas situadas na<br />

região oeste <strong>de</strong> São Paulo com se<strong>de</strong> na Alemanha, <strong>como</strong> é o caso da Semikron.<br />

Outros incentivos, <strong>como</strong> doações, têm suas origens em outras empresas<br />

(Volkswagen, Basf, Bosch, Votorantim, Munte) e na câmara <strong>de</strong> comercio Brasil-<br />

Alemanha. A entida<strong>de</strong> possui o reconhecimento da Unicef.<br />

Segundo DOWBOR (2006), a <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> visa à compreensão,<br />

por parte dos alunos, do ambiente e da realida<strong>de</strong> na qual eles estão inseridos. A<br />

partir <strong>de</strong> tal compreensão, eles são chamados para uma participação social <strong>como</strong><br />

cidadãos e <strong>como</strong> profissionais. A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> visa à permanência do<br />

cidadão na sua região, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformá-la, tornando-a a base da<br />

permanência no território, na medida em que contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento local.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma escola diferente daquela que aborda a <strong>educação</strong> <strong>como</strong> um<br />

trampolim para escapar da região ou para alcançar um lugar mais acima na pirâmi<strong>de</strong><br />

social.<br />

A i<strong>de</strong>ia da <strong>educação</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento local está diretamente vinculada<br />

a essa compreensão e à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se formarem pessoas que amanhã possam<br />

participar, <strong>de</strong> forma ativa, das iniciativas capazes <strong>de</strong> transformar o seu entorno e <strong>de</strong><br />

gerar dinâmicas construtivas. Segundo Dowbor, quando se tenta promover<br />

iniciativas <strong>de</strong>ste tipo, constata-se que não só os jovens, mas inclusive os adultos<br />

<strong>de</strong>sconhecem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a origem do nome da sua própria rua até os potenciais do<br />

subsolo da região on<strong>de</strong> se criaram. Para termos cidadania ativa, temos <strong>de</strong> ter uma<br />

cidadania informada, e isto começa cedo. A <strong>educação</strong> não <strong>de</strong>ve servir apenas <strong>como</strong><br />

trampolim para uma pessoa escapar da sua região <strong>de</strong>ve dar-lhe os conhecimentos<br />

necessários para ajudar a transformá-la e, com isto, melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

20


humana coletiva. A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> é um <strong>instrumento</strong> importante para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local. Ela aponta para a possibilida<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> os cidadãos<br />

tomarem nas mãos a própria história.<br />

Segundo Dowbor (2010) <strong>de</strong>senvolver uma proposta <strong>de</strong> <strong>educação</strong><br />

<strong>contextualizada</strong> em uma pequena cida<strong>de</strong> do interior é bem mais fácil do que<br />

<strong>de</strong>senvolvê-la em uma metrópole, conforme esclarece o trecho seguinte:<br />

(...) há municípios e municípios. Você está falando <strong>de</strong> São Paulo, você está<br />

falando <strong>de</strong> <strong>de</strong>z milhões <strong>de</strong> habitantes, é um país. São Paulo, com suas<br />

periferias é 20 milhões <strong>de</strong> habitantes, é um gran<strong>de</strong> país. Então, nós<br />

precisamos ter sistemas muito mais <strong>de</strong>scentralizados. Nos municípios<br />

médios e pequenos é muito mais fácil perceber uma articulação do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento com as necessida<strong>de</strong>s locais. (DOWBOR, 2010: p.2).<br />

No cenário complexo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong>senvolve-se o projeto<br />

Alavanca que vem procurando criar um espaço <strong>de</strong> preparação do jovem para atuar<br />

na socieda<strong>de</strong> na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> profissional e cidadão. Preten<strong>de</strong>-se, neste trabalho,<br />

analisar esse projeto e verificar em que medida ele vem se constituindo em<br />

<strong>instrumento</strong> <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> social.<br />

Pesquisas e experiências vêm sendo <strong>de</strong>senvolvidas geralmente com enfoque<br />

na realida<strong>de</strong> rural, <strong>como</strong> tem acontecido nas regiões Sul e Nor<strong>de</strong>ste. Na região Sul,<br />

há o exemplo <strong>de</strong> São Joaquim, em Santa Catarina e, na região Nor<strong>de</strong>ste, cita-se o<br />

exemplo <strong>de</strong> Pintadas na Bahia.<br />

São Joaquim é um exemplo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local Dowbor (2006), <strong>como</strong><br />

forma <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> social, uma vez que era uma região pobre, <strong>de</strong> pequenos<br />

produtores sem perspectiva, e com os mais baixos indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano do Estado. Entretanto, eles se organizaram e criaram uma nova realida<strong>de</strong><br />

que melhorou as condições <strong>de</strong> vida em toda a região. Como outras regiões do país,<br />

São Joaquim e os municípios vizinhos, esperavam que o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

“chegasse” <strong>de</strong> fora, sob forma <strong>de</strong> investimento <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> empresa ou <strong>de</strong> um<br />

projeto <strong>de</strong> governo. O <strong>de</strong>stino da região começou a mudar, quando seus habitantes<br />

<strong>de</strong>cidiram que não iriam mais esperar. Optaram, assim, por outra maneira <strong>de</strong><br />

solucionar os problemas: enfrentá-los eles mesmos. I<strong>de</strong>ntificaram características<br />

diferenciadas do clima local, constataram que tal clima era excepcionalmente<br />

21


favorável à fruticultura. Organizaram-se, e com os meios dos quais dispunham,<br />

fizeram parcerias com instituições <strong>de</strong> pesquisa, formaram cooperativas, abriram<br />

canais conjuntos <strong>de</strong> comercialização para não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atravessadores e, hoje,<br />

eles se constituem em uma das regiões que mais rapidamente se <strong>de</strong>senvolve no<br />

país. Esses cidadãos não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m mais <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> corporação que, <strong>de</strong> um<br />

dia para outro, possa mudar a região: <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> si mesmos.<br />

Essa visão <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong> ser dono da própria transformação econômica e<br />

social, <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento não se espera, mas se faz, constitui uma das<br />

mudanças mais profundas que está ocorrendo no país. Ela tira o homem da posição<br />

<strong>de</strong> espectador crítico da ineficiência alheia, e o coloca <strong>como</strong> construtor do seu<br />

próprio <strong>de</strong>stino. A experiência <strong>de</strong> <strong>educação</strong> voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento local<br />

vem acontecendo também em municípios do semi-árido nor<strong>de</strong>stino. Dowbor (2006)<br />

cita as experiências no campo da <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong>, <strong>de</strong>senvolvidas na<br />

região Nor<strong>de</strong>ste <strong>como</strong> as do município <strong>de</strong> Pimenteiras PI, Juazeiro e Pintadas na<br />

BA, on<strong>de</strong> o foco está na <strong>educação</strong> com uma visão voltada para as potencialida<strong>de</strong>s<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento local.<br />

A reflexão sobre estas experiências mostrou certa semelhança entre os<br />

princípios que as orientam e os princípios que vêm orientando o trabalho que se<br />

<strong>de</strong>senvolveu, por meio do projeto Alavanca. Encaminha-se, portanto, as seguintes<br />

questões: Em que medida é possível o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong><br />

<strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong>, em um contexto complexo <strong>como</strong> o <strong>de</strong> uma metrópole<br />

<strong>como</strong> São Paulo? Como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> <strong>educação</strong><br />

<strong>contextualizada</strong> po<strong>de</strong> contribuir para <strong>inclusão</strong> social <strong>de</strong> pessoas que vivem em<br />

contextos marcados pela falta <strong>de</strong> esperança e perspectivas? Para enten<strong>de</strong>r estas<br />

questões e outras que possam emergir do processo, <strong>de</strong>finiu-se, <strong>como</strong> objeto <strong>de</strong><br />

pesquisa, a <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> no contexto metropolitano. A partir <strong>de</strong>ste<br />

objeto, preten<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r em que medida é possível o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

propostas <strong>de</strong>ste tipo na metrópole e se, neste contexto, estas propostas se<br />

configuram <strong>como</strong> um <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> social.<br />

Para a realização <strong>de</strong>sta pesquisa adotou-se uma abordagem qualitativa <strong>de</strong><br />

pesquisa e, <strong>como</strong> procedimento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados, será utilizada uma análise<br />

bibliográfica e documental, complementada pela reflexão sobre o próprio processo<br />

22


formativo, com <strong>de</strong>staque para a relação do pesquisador com a escola neste<br />

processo e pela observação participante, uma vez que sua atuação profissional<br />

ocorre no projeto on<strong>de</strong> será realizada a pesquisa.<br />

O trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro, apresenta-se o<br />

trajeto formativo do pesquisador, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ensino fundamental, <strong>de</strong>stacando a sua<br />

relação com a escola, visando à percepção da importância do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s significativas, no processo <strong>de</strong> envolvimento dos jovens com a escola. No<br />

segundo capítulo é apresentada a <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> <strong>como</strong> proposta<br />

educacional capaz <strong>de</strong> promover a <strong>inclusão</strong> social, por meio do incentivo ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local. Desta forma, buscou-se enten<strong>de</strong>r possibilida<strong>de</strong>s e limites do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> experiências <strong>como</strong> essa em uma região metropolitana. No<br />

terceiro capítulo apresenta-se o Projeto Alavanca <strong>como</strong> experiência concreta <strong>de</strong><br />

<strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> na metrópole. Com isso, verificou-se em que medida a<br />

proposta <strong>de</strong>senvolvida neste projeto se constitui em uma experiência <strong>de</strong> <strong>educação</strong><br />

<strong>contextualizada</strong> e qual a sua contribuição para a <strong>inclusão</strong> social.<br />

23


CAPITULO 1<br />

APRESENTAÇÃO: MEMORIAL DE FORMAÇÃO<br />

As primeiras impressões da escola<br />

Minha relação com a escola começou quando eu tinha sete anos. Fui<br />

matriculado por meus pais em uma escola pública no bairro on<strong>de</strong> morava na zona<br />

oeste <strong>de</strong> São Paulo. Uma EMPG, atualmente <strong>de</strong> ensino fundamental (EMEF) que<br />

leva o nome do general Eucly<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oliveira Figueiredo, pai do presi<strong>de</strong>nte do Brasil<br />

na época, o também general João Batista <strong>de</strong> Oliveira Figueiredo. A escola tinha um<br />

regime bastante rígido, comparando-se com os projetos escolares comuns nos dias<br />

<strong>de</strong> hoje. Talvez por influência das ativida<strong>de</strong>s do patrono, havia diariamente, no pátio<br />

da escola, o hasteamento da ban<strong>de</strong>ira do Brasil, ao som do Hino Nacional. Os<br />

grupos se formavam em filas emparelhadas, conforme a série e o número <strong>de</strong><br />

chamada. Todos os alunos <strong>de</strong>veriam estar sempre com o uniforme completo: calça<br />

<strong>de</strong> tergal azul e camisa branca <strong>de</strong> manga curta. Na camisa, havia um bolso que era<br />

vendido separadamente e que exibia a estampa do brasão da escola. Como a<br />

escola ficava perto <strong>de</strong> casa, eu ia caminhando e, eventualmente, chegava atrasado.<br />

Quando isso acontecia, a professora fazia sinal para que eu ficasse atrás das<br />

fileiras, para não atrapalhar a cerimônia. Meu nome era iniciado com letra “A”; eu<br />

cursava a primeira série, por isso meu lugar seria no início <strong>de</strong> uma das primeiras<br />

filas. Após o término da cerimônia, eu ouvia da professora uma pequena advertência<br />

verbal e subia normalmente para a sala <strong>de</strong> aula.<br />

Meus pais consi<strong>de</strong>ravam a escola uma garantia para o meu futuro. Meu pai<br />

um operário da indústria, projetista <strong>de</strong> máquinas, e consi<strong>de</strong>rava que a escola era<br />

importante e que, com estudos e uma formação profissional, eu não seria um “peão”<br />

<strong>de</strong> “chão <strong>de</strong> fábrica”. Ele fizera o ensino fundamental com alguns percalços <strong>de</strong><br />

indisciplina, sempre acusado por meus avós, <strong>de</strong> ter sido um filho que <strong>de</strong>u muito<br />

trabalho. Quando ele se refere à escola que cursou, o discurso é recheado <strong>de</strong><br />

críticas, inconformado com o excesso <strong>de</strong> regras e professores <strong>de</strong>spreparados em<br />

24


conhecimento e didática. Quando foi cursar o ensino profissionalizante no SENAI<br />

começou a se <strong>de</strong>stacar <strong>como</strong> um dos melhores da escola; tal a serieda<strong>de</strong> com que<br />

ele encarou os estudos. Por volta dos anos 1990, me presenteou com livros e<br />

apostilas do curso que fizera na escola SENAI em 1961. Depois se formou em<br />

técnico profissionalizante em elétrica e fez vários cursos <strong>de</strong> informática e<br />

computação ainda no final dos anos 1970 e início <strong>de</strong> 1980.<br />

Minha mãe cursou o clássico; o atual Ensino Médio, voltado à área <strong>de</strong><br />

humanida<strong>de</strong>s. Ela sempre se <strong>de</strong>stacava na área <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>s e literatura,<br />

conquistando até o tradicional prêmio Rui Barbosa <strong>de</strong> literatura em Salvador. Era<br />

técnico judiciário, funcionária pública do TRT, conhecia bem as leis trabalhistas,<br />

dizia sempre que sem estudo eu não conseguiria arranjar emprego no futuro, me<br />

cobrava no mínimo concluir a oitava série, que hoje equivale ao ensino fundamental,<br />

pois sem isso os empregadores me julgariam <strong>como</strong> analfabeto. Como não possuíam<br />

proprieda<strong>de</strong>s, empresa ou comércio, os meus pais estavam preocupados com o<br />

meu futuro; o que podiam <strong>de</strong>ixar estaria em mim. Como diz minha mãe “estudo nem<br />

Deus tira”.<br />

Não fui muito diferente <strong>de</strong> meu pai nas séries iniciais. Gostava <strong>de</strong> falar muito<br />

e tinha muitos amigos e, <strong>como</strong> a maioria dos colegas <strong>de</strong> classe, eu gostava mais<br />

das aulas <strong>de</strong> Educação Física, nas quais jogava bola e competia em diversas<br />

modalida<strong>de</strong>s do atletismo. Eu estava sempre entre os primeiros na corrida pe<strong>de</strong>stre<br />

e sempre esperava ansioso pelas aulas na quadra do fundo da escola, mesmo<br />

quando fazia uma chuvinha fina eu não faltava: tinha esperança <strong>de</strong> que a aula não<br />

fosse cancelada.<br />

Dentro da sala <strong>de</strong> aula, a imagem que eu tinha <strong>de</strong> escola já era diferente:<br />

com meus amigos sempre estávamos fazendo brinca<strong>de</strong>iras, infringindo o sistema,<br />

ao ir para sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> camiseta, com outro tipo <strong>de</strong> calça ou calçando tênis. Isso<br />

era <strong>como</strong> uma relação <strong>de</strong> medida <strong>de</strong> força, quanto mais eu infringia, mais<br />

in<strong>como</strong>dava, mais sofria advertências, mais eu infringia o que bastava para ser<br />

referência <strong>de</strong> indisciplina, isso foi se acumulando no prontuário e em reuniões.<br />

Na primeira semana <strong>de</strong> aulas, publicavam-se, no pátio da escola, as listas<br />

com os nomes <strong>de</strong> todos os alunos e as séries das quais fariam parte naquele ano.<br />

25


Na terceira série, meu nome estava incluído na lista da turma “D”, on<strong>de</strong> estavam os<br />

repetentes e indisciplinados. A partir <strong>de</strong>ssa série, fui além daquele aluno falante e<br />

contestador: não <strong>de</strong>i mais importância aos <strong>de</strong>veres escolares e passei a pertencer à<br />

turma dos “mais fracos”. Essa era a minha realida<strong>de</strong> e todos na escola sabiam disso.<br />

O professorado, na gran<strong>de</strong> maioria do gênero feminino, não escondia o preconceito<br />

e a impaciência em relação às séries C, D e E, frequentadas por alunos com as mais<br />

baixas notas da escola e com passagens pela direção por indisciplina. Outro fato do<br />

qual não me esqueço era o favoritismo e a atenção que as professoras davam às<br />

alunas do gênero feminino, que tinham cabelos lisos e pele clara, sem dúvida, uma<br />

rarida<strong>de</strong> nas series D e E, que ocupavam as primeiras carteiras. O restante da turma<br />

normalmente não recebia muita atenção e, quando fazia perguntas em excesso, era<br />

visto <strong>como</strong> <strong>de</strong>scaso ou brinca<strong>de</strong>ira, o que bastava para visitar a direção. É nesse<br />

ambiente que fui me adaptando e fazendo novas amiza<strong>de</strong>s, realmente ali se<br />

juntavam todos os casos “com <strong>de</strong>feito” e, certamente, havia uma atenção<br />

diferenciada. Eu sabia a razão pela qual estava ali e percebia a postura diferente<br />

dos professores, em relação à serie “B”, até mesmo nas tarefas. Enquanto as turmas<br />

“A” e “B” liam “O pequeno príncipe” <strong>de</strong> Saint-Exupéry, a nossa turma lia “Os dois<br />

lados da moeda” <strong>de</strong> O<strong>de</strong>tte <strong>de</strong> Barros Mott. Este era um bom livro. Comparando-se<br />

com o escritor francês, a linguagem <strong>de</strong> O<strong>de</strong>tte <strong>de</strong> Barros Mott era mais simples.<br />

Entretanto, entre os alunos pairava um preconceito: imaginavam que a escolha da<br />

leitura da história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um personagem favelado <strong>de</strong> origem nor<strong>de</strong>stina era<br />

mais a<strong>de</strong>quada para as turmas D e E, do que a história <strong>de</strong> um personagem nobre e<br />

abastado, que vivia na cida<strong>de</strong>. Em meio a esse ambiente, aprendi a balançar a<br />

cabeça fazendo sinal <strong>de</strong> positivo quando a professora perguntava se todos<br />

enten<strong>de</strong>ram a lição, estratégia comum para não agitar a ação da professora.<br />

Nas reuniões <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> bimestre, o que mais me angustiava era ver minha<br />

mãe voltando para casa contando que a professora disse que eu não faço tarefas,<br />

sou indisciplinado, ando com maus elementos e não serei aprovado no final do ano.<br />

O pior era que ela estava certa, fui reprovado na terceira série. Outro ano começa,<br />

eu estava na terceira “D”, <strong>de</strong> novo, agora maior em estatura, podia ganhar todas as<br />

corridas nas aulas <strong>de</strong> Educação Física e, eventualmente, bater nos coleguinhas. As<br />

professoras agora nem se preocupavam em respon<strong>de</strong>r minhas perguntas e, com um<br />

tom irônico, sempre me lembravam <strong>de</strong> que eu já tinha visto a matéria no ano<br />

26


passado, se eu estava <strong>de</strong> novo ali não era para apren<strong>de</strong>r o que ficou faltando no ano<br />

passado e, sim, <strong>como</strong> forma <strong>de</strong> castigo por não atingir a nota mínima e separar-me<br />

do ambiente em que estava. A essa altura, a sensação que eu tinha era <strong>de</strong> que eu<br />

estava para trás e isso era real, <strong>de</strong>finitivamente, já não entendia para que serviria a<br />

escola ou quando precisaria dos conhecimentos e o tempo já não era meu amigo. A<br />

família por parte <strong>de</strong> pai é bem gran<strong>de</strong> e eu já era lembrado por minhas tias <strong>como</strong><br />

“caso perdido”. Como já não havia graça em fazer tantas brinca<strong>de</strong>iras na sala <strong>de</strong><br />

aula, armei outra estratégia: caminhava bem <strong>de</strong>vagar no percurso para a escola,<br />

com o intuito <strong>de</strong> chegar atrasado e ser impedido <strong>de</strong> entrar. Ficava do lado <strong>de</strong> fora<br />

fazendo nada, às vezes pulava o muro <strong>de</strong> trás e ficava na quadra da escola, a essa<br />

altura, <strong>de</strong>scobri que não era o único, havia outros <strong>de</strong> diversas séries, com quem fiz<br />

novas amiza<strong>de</strong>s. Mesmo com o risco <strong>de</strong> ser reprovado por faltas, conseguia fazer o<br />

mínimo <strong>de</strong> tarefas e trabalhos, apenas o suficiente para ser aprovado. Continuei<br />

assim, até chegar à sexta série, na qual o estudo <strong>de</strong>ficiente promoveu<br />

consequências e as reprovações começaram a ser <strong>de</strong>vido às notas.<br />

Havia um professor <strong>de</strong> Matemática que tinha barba, os estudantes<br />

chamavam-no “barbicha”; esse apelido já era conhecido por todos os alunos da<br />

escola, embora ninguém soubesse dizer quem o havia criado, Em um dia comum,<br />

eu estava na sala <strong>de</strong> aula, quando fui convocado pelo inspetor <strong>de</strong> alunos a<br />

acompanhá-lo até a sala dos professores, chegando lá, estava o professor <strong>de</strong><br />

Matemática me aguardando com uma expressão <strong>de</strong> braveza no rosto. O que ele<br />

queria <strong>de</strong> mim era que eu assumisse, perante a direção da escola, a autoria e<br />

propagação do apelido que fora atribuído a ele ou que, pelo menos, eu dissesse<br />

quem era o responsável pelo apelido. Fiquei naquela condição até soar a<br />

campainha, anunciando o intervalo. Fui liberado com um “po<strong>de</strong> ir”. Ficou a<br />

impressão <strong>de</strong> que aquele assunto não ficaria por ali.<br />

Aquela situação me <strong>de</strong>ixou indignado, eu fui escolhido <strong>de</strong>ntre vários alunos<br />

indisciplinados que havia na escola para assumir a autoria do apelido ou <strong>de</strong>latar um<br />

autor. Na sequência <strong>de</strong>sse acontecimento, lembro-me <strong>de</strong> que uma professora<br />

sugeriu à turma que fizesse uma redação cujo tema abordava nossos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> ter<br />

uma escola melhor. Foi naquela redação que encontrei uma válvula <strong>de</strong> escape para<br />

27


culpar ou dividir o meu fracasso escolar, pondo em prática toda a energia que se<br />

tem na juventu<strong>de</strong>.<br />

Lembro-me que na redação fui bem claro com as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> dispensar todos<br />

os professores, sem exceção, e entregar a escola para que os alunos a<br />

administrassem; eles, então, ateariam fogo no prédio. Hoje posso atribuir esses<br />

pensamentos a alguma influência do vi<strong>de</strong>oclipe “another brick in the wall” da banda<br />

inglesa “Pink Floyd”, on<strong>de</strong> estudantes ateiam fogo na escola, durante um movimento<br />

<strong>de</strong> revolta. Na época, a banda e a música já não eram novas, mas eu certamente<br />

estava na fase das <strong>de</strong>scobertas que, somadas à falta <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> vida, me<br />

faziam imaginar que a melodia e a letra mal traduzida da música se constituiriam em<br />

um recado para mim.<br />

A minha redação fez a professora me chamar para conversar. Não houve<br />

muito diálogo com a professora e, nem <strong>de</strong>pois, com a diretora. A presença <strong>de</strong> minha<br />

mãe foi requisitada na escola para falar sobre o assunto. Houve bastante diálogo e a<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> que eu frequentasse, semanalmente, a psicóloga da escola. Nesse<br />

momento, entre as instituições tradicionais que organizam o cotidiano da escola, e<br />

promovem a lógica perversa que impõe sofrimento por meio <strong>de</strong> rituais <strong>de</strong><br />

humilhação, <strong>como</strong> <strong>de</strong>finiu Almeida (2009), esses rituais são estendidos aos pais,<br />

quando são chamados à escola para falar mal dos seus filhos. Dificilmente, os pais<br />

vão à escola ouvir os professores falarem do próprio trabalho. Para minha mãe, o<br />

pior não foi a vergonha do fato em si, até porque em toda reunião ela enfrentava a<br />

crítica <strong>de</strong> quase todo professorado da escola, mas sim pelo fato <strong>de</strong> que a diretora<br />

<strong>de</strong>clarou pru<strong>de</strong>nte arquivar a redação para análise futura e disposição da psicóloga<br />

escolar.<br />

Minha mãe trabalhava fora, não tinha muito tempo para acompanhar meu<br />

<strong>de</strong>sempenho escolar e já sofria muito com a dificulda<strong>de</strong> que eu tinha em obter<br />

sucesso na escola, agora ela tinha mais uma preocupação que era a redação que<br />

permanecia arquivada na escola.<br />

No final do ano fui aprovado e uma semana após o término das aulas, um<br />

incêndio <strong>de</strong>struiu parte da escola. Fiquei sabendo e fui com um amigo para ver o<br />

que tinha acontecido. Confesso que eu e minha mãe sentimos muito medo <strong>de</strong> que a<br />

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edação arquivada voltasse a dar problemas. Felizmente, um bombeiro constatou<br />

um problema na instalação elétrica no quadro <strong>de</strong> força. O incêndio <strong>de</strong>struiu<br />

totalmente a secretaria e os arquivos da escola.<br />

Através <strong>de</strong> um amigo, também acostumado com a reprovação escolar,<br />

conheci o escotismo. Entrei para um grupo que ficava em Carapicuíba. Saía <strong>de</strong> São<br />

Paulo aos sábados e domingos ainda <strong>de</strong> madrugada, ia <strong>de</strong> ônibus para uma região<br />

<strong>de</strong> núcleos habitacionais <strong>de</strong> Carapicuíba para hastear a ban<strong>de</strong>ira e cantar o Hino<br />

Nacional, junto com outros escoteiros divididos em patrulhas, enfileirados,<br />

impecavelmente uniformizados. Foi no grupo “Rondon” <strong>de</strong> escotismo que aprendi<br />

muita coisa sobre disciplina e hierarquia e, em pouco tempo, me tornei monitor <strong>de</strong><br />

patrulha. Para conquistar esse posto, tive que fazer muitas tarefas físicas,<br />

comportamentais e intelectuais, apren<strong>de</strong>r a obe<strong>de</strong>cer e a organizar. O escotismo é<br />

uma organização que, sistematicamente, tem <strong>como</strong> objetivo o ato <strong>de</strong> educar.<br />

Analisando este panorama, estabeleço comparações com a escola que frequentei e<br />

me pergunto on<strong>de</strong> eu errei e on<strong>de</strong> a escola errou. A imaturida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ter uma<br />

gran<strong>de</strong> influência na disposição para a aceitação das regras da organização, mas<br />

outro ponto <strong>de</strong> vista é que o escotismo talvez fora <strong>como</strong> uma “segunda chance”.<br />

Naquele momento, começar a frequentar outra “escola” e experimentar seguir as<br />

regras tiveram uma imagem positiva para mim. O chefe do grupo frequentemente<br />

comparecia na escola para tomar nota do meu <strong>de</strong>sempenho escolar, no grupo ele<br />

conversava sobre as notas, frequência, falava <strong>de</strong> trabalho da vida adulta, mas em<br />

nenhum momento eu sofria castigos ou tinha meu posto <strong>de</strong> monitor ameaçado.<br />

Deixei o escotismo, quando mu<strong>de</strong>i com meus pais para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bauru, no<br />

interior <strong>de</strong> São Paulo, lá terminei a oitava série em regime <strong>de</strong> suplência, já com<br />

<strong>de</strong>zessete anos.<br />

1.1 Inicio da carreira profissional<br />

Comecei a minha vida profissional com quatorze anos, em uma pequena<br />

fábrica <strong>de</strong> especiarias, <strong>como</strong> ajudante geral. Depois, <strong>como</strong> auxiliar <strong>de</strong> escritório em<br />

uma escola da re<strong>de</strong> privada on<strong>de</strong> estu<strong>de</strong>i; em uma empresa <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> em<br />

painéis, aprendi a <strong>de</strong>senhar; em um escritório <strong>de</strong> arquitetura trabalhava <strong>como</strong><br />

29


copista <strong>de</strong> projetos. Cursava o segundo grau, em uma escola particular, conclui o<br />

primeiro ano. No final do segundo ano, fiz um concurso <strong>de</strong> seleção tipo “vestibulinho”<br />

para estudar no CTI, uma escola técnica da re<strong>de</strong> UNESP no campus <strong>de</strong> Bauru. O<br />

resultado positivo saiu, e isso implicaria voltar ao primeiro ano. Não me importei em<br />

voltar para a primeira série, na escola técnica.<br />

O curso foi o técnico em mecânica, noturno e aos sábados, durante três<br />

anos. Conheci uma escola que mudou minha vida para sempre. Foi quando<br />

experimentei uma aprendizagem transformadora da minha existência, uma formação<br />

que trouxe novida<strong>de</strong>, portanto, mudança; conforme JOSSO:<br />

“As aprendizagens novas exigirão <strong>de</strong>saprendizagens (sic!): livrar-se <strong>de</strong><br />

hábitos mais ou menos antigos que, por diferentes formas <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong><br />

consciência, se revelam <strong>como</strong> freios para ir em frente e nos tornar<br />

disponíveis para criativida<strong>de</strong>”. (JOSSO, 2010: p.62).<br />

O ingresso no curso técnico po<strong>de</strong> ser entendido <strong>como</strong> a situação <strong>de</strong>signada<br />

por Josso (1984) <strong>como</strong> momento-charneira, foi um momento em que minha relação<br />

com a escola foi transformada.<br />

Momentos ou acontecimentos-charneira são aqueles que representam uma<br />

passagem entre duas etapas da vida, um “divisor <strong>de</strong> águas”, po<strong>de</strong>ríamos<br />

dizer. Charneira é uma dobradiça, algo que, portanto, faz o papel <strong>de</strong> uma<br />

articulação. Esse termo é utilizado tanto nas obras francesas quanto<br />

portuguesas sobre as histórias <strong>de</strong> vida, para <strong>de</strong>signar os acontecimentos<br />

que separam, divi<strong>de</strong>m e articulam as etapas da vida. (JOSSO, 2010: p.90).<br />

Em 1993 meu pai, projetista <strong>de</strong> máquinas, passava várias horas <strong>de</strong> folga<br />

fazendo trabalhos em casa com restauração e mecânica <strong>de</strong> automóveis, pequenas<br />

construções em ma<strong>de</strong>ira, chapas metálicas e montagens eletrônicas, eu era sempre<br />

requisitado a ajudar com minha mão <strong>de</strong> obra, portanto eu aprendia a manusear<br />

ferramentas e fazer diversas ativida<strong>de</strong>s e também usava as ferramentas para<br />

minhas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>. Ele também usava computadores para fazer os<br />

projetos no escritório que havia em casa, e assim fui conhecendo o “Autocad”, um<br />

programa <strong>de</strong> CAD que meu pai usava para trabalhar com os <strong>de</strong>senhos técnicos.<br />

Nas aulas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho técnico eu já iniciei com alguma facilida<strong>de</strong>, pois era<br />

um trabalho que meu pai fazia em casa. Na sala <strong>de</strong> aula durante uma aula <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senho técnico, perguntei ao professor sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os <strong>de</strong>senhos<br />

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serem feitos no computador, além da tradicional prancheta. Naquele momento, a<br />

i<strong>de</strong>ia não foi muito bem recebida pelo professor. Repercutiu <strong>como</strong> se eu tivesse a<br />

intenção <strong>de</strong> me <strong>de</strong>stacar perante os outros colegas da turma. O professor sugeriu<br />

que eu fosse para a sala do coor<strong>de</strong>nador do curso conversar com ele sobre o<br />

assunto. A sala ficou, durante alguns segundos, em silêncio total, que foi sendo<br />

quebrado por sussurros dos colegas, comentando o fracasso do meu diálogo.<br />

O coor<strong>de</strong>nador do curso era uma pessoa temida por todos os alunos sem<br />

exceção, ele lecionava, somente nas séries do último ano, a disciplina <strong>de</strong><br />

Resistência <strong>de</strong> Materiais, on<strong>de</strong> a maioria dos alunos tinha dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguir<br />

boas notas. Na situação em que eu estava não havia escolha, eu teria que ir<br />

conversar com ele, eu até já estava preparado para o fracasso, era um caminho<br />

conhecido. Chegando à coor<strong>de</strong>nadoria fui logo recebido pelo coor<strong>de</strong>nador Professor<br />

Marcelo Migliatti, um professor <strong>de</strong> poucas palavras, referência em rigi<strong>de</strong>z e<br />

sistemática. Eu já esperava um conselho para voltar à sala <strong>de</strong> aulas, mas ele me fez<br />

uma série <strong>de</strong> perguntas sobre <strong>de</strong>senho, computação e os programas que eu<br />

conhecia. Contei sobre as ativida<strong>de</strong>s do meu pai e até on<strong>de</strong> ia meu conhecimento <strong>de</strong><br />

“ajudante do pai”, ele questionou se eu teria o programa e ofereceu o telefone para<br />

eu ligar para meu pai e pedir os disquetes para a instalação do programa. Liguei<br />

para meu pai que, prontamente, se ofereceu para levar o programa para a escola,<br />

eu comecei a perceber que o coor<strong>de</strong>nador não era tudo o que falavam <strong>de</strong>le e não<br />

fiquei esperando meu pai chegar à escola. O professor Migliatti, sem comentar,<br />

retirou o computador que estava sobre sua mesa, pegou o processador, mouse,<br />

teclado e me disse para apanhar o monitor e acompanhá-lo, fomos para sala <strong>de</strong> aula<br />

on<strong>de</strong> ele anunciou a todos que o computador dali em diante faria parte da sala e<br />

seria para o uso <strong>de</strong> todos. Esse foi o momento em que a escola tomava uma nova<br />

forma, diferente <strong>de</strong> tudo o que eu vivera até então. A atitu<strong>de</strong> do professor Migliatti<br />

havia me surpreendido: eu que já me acostumara com as reprimendas, <strong>de</strong> repente,<br />

me vi prestigiado e aceito.<br />

A atitu<strong>de</strong> do professor Migliatti significou para mim uma revelação <strong>de</strong> um<br />

professor que eu não havia conhecido antes, e nem imaginava que pu<strong>de</strong>sse existir:<br />

ele ouviu um aluno que acabara <strong>de</strong> ingressar na escola e questionara o curso que<br />

funcionava muito bem há tanto tempo. Sua tranquilida<strong>de</strong> em acreditar no aluno e seu<br />

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<strong>de</strong>sprendimento com o equipamento (no caso o computador em sua mesa) foi<br />

realmente o ápice <strong>de</strong> meu “momento-charneira” (JOSSO: 2010, 90). Professores<br />

assim que realmente <strong>de</strong>sejam que os estudantes alcancem a autonomia, conforme<br />

Amorim Neto/ May Berkenbrock:<br />

Os professores <strong>de</strong>verão proporcionar coerência entre os valores<br />

proclamados pela escola e o modo <strong>como</strong> conduzem o processo educativo<br />

em sala <strong>de</strong> aula. No sentido <strong>de</strong> que os alunos possam perceber que valores<br />

<strong>como</strong> justiça e respeito não são meras teorias ou simples “valores<br />

proclamados”, mas <strong>de</strong> fato são parâmetros para as relações estabelecidas<br />

<strong>de</strong>ntro e fora da sala <strong>de</strong> aula. (AMORIM NETO/ MAY BERKENBROCK,<br />

2009: p.77).<br />

Havia outros professores especiais. Contamos com a paciência <strong>de</strong> ensinar a<br />

matéria que era fruto do nítido <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver o aluno obter sucesso e que foi a marca<br />

registrada do professor Carlos Magalhães, com a simplicida<strong>de</strong> e acessibilida<strong>de</strong> do<br />

professor Mário dos Santos e os <strong>de</strong>safios que eram impostos, pelo professor Edson<br />

Antônio. A relação dialógica entre o corpo docente e discente vai muito além da sala<br />

<strong>de</strong> aula, a maior parte dos professores estava sempre presente com os alunos, sem<br />

distinção.<br />

Para a melhoria da <strong>educação</strong>, era oportuna a presença <strong>de</strong> uma escola mais<br />

agradável, <strong>de</strong>finida por “Escola Nova Popular” (SAVIANI, 2009: p.61). O número <strong>de</strong><br />

alunos em classe era menor; eles se dividiam em dias alternados, com jornada<br />

escolar maior e aulas aos sábados, quando gostávamos <strong>de</strong> ir <strong>de</strong> bicicleta, pois<br />

também havia um estacionamento para elas. Essa era uma escola capaz <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spertar o interesse dos alunos, <strong>de</strong> estimular-lhes a iniciativa, <strong>de</strong> permitir-lhes<br />

assumir ativamente o trabalho escolar, uma escola acessível para as camadas<br />

populares, on<strong>de</strong>, supostamente, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem e o <strong>de</strong>sinteresse<br />

são maiores. Referindo-se à pedagogia, Saviani comenta os métodos para além dos<br />

tradicionais e novos:<br />

Serão métodos que estimularão as ativida<strong>de</strong>s e iniciativas dos alunos sem<br />

abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos<br />

alunos entre si e com o professor, mas sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> valorizar o diálogo<br />

com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses<br />

dos alunos, os ritmos <strong>de</strong> aprendizagens e o <strong>de</strong>senvolvimento psicológico,<br />

mas sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua<br />

or<strong>de</strong>nação e gradação para efeitos do processo <strong>de</strong> transmissão-assimilação<br />

dos conteúdos cognitivos. (SAVIANI, 2009: p.62).<br />

32


No momento não me preocupei em <strong>de</strong>finir o que significava a escola para<br />

mim sentia que o lugar é bom, com gente para ajudar, com hierarquia, or<strong>de</strong>m e ao<br />

mesmo tempo flexível, me senti um aluno sem culpa, eu estava me perdoando pelos<br />

erros do ensino fundamental fazendo as pazes comigo, realmente eu sentia que o<br />

momento era <strong>de</strong> mudança. No tempo em que cursei a escola técnica da UNESP, fiz<br />

amiza<strong>de</strong>s com alunos, funcionários e todos os professores, foi sem dúvida o melhor<br />

tempo que passei <strong>como</strong> aluno, a escola formou um técnico e um professor, digo isso<br />

porque anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> formado, voltei à escola no papel <strong>de</strong> professor e foi lá junto<br />

com meus professores e colegas <strong>de</strong> trabalho que aprendi as primeiras práticas<br />

docentes.<br />

1.2 A <strong>de</strong>scoberta da docência<br />

Fiquei no CTI da UNESP durante, aproximadamente, nove anos, juntamente<br />

com outras escolas nas quais passei no corpo discente e docente. Formei-me em<br />

Pedagogia e hoje vejo a escola com outros olhos, a escola adquire o significado, <strong>de</strong><br />

acordo com a resposta ao sinal do aluno. Como aluno, experimentei a falta <strong>de</strong><br />

sintonia com a escola e o resultado caminhou para o <strong>de</strong>scontrole. Como po<strong>de</strong>ria um<br />

jovem inexperiente retomar a sintonia com a escola através <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> si mesmo,<br />

uma vez que já experimentou o fracasso? Essa situação é discutida por Almeida<br />

quando fala da <strong>inclusão</strong> dos alunos que foram convidados a se retirar da escola:<br />

A <strong>inclusão</strong> dos que foram convidados a se retirar foi um processo<br />

extremamente complicado porque todos que receberam o tal convite após<br />

atritos diversos com pessoas da escola e o retorno <strong>de</strong>sses alunos à escola<br />

não foram aceito por essas pessoas (ALMEIDA, 2005: p.67).<br />

O trecho mostra que retomar a sintonia com a escola não é tarefa fácil e, em<br />

muitas situações, mesmo o aluno querendo, nem sempre isso é possível. Mesmo<br />

quando há na escola algum educador que <strong>de</strong>seja dar nova oportunida<strong>de</strong>, há aquele<br />

que se sente ofendido com o retorno, <strong>como</strong> é possível observar no trecho seguinte:<br />

Foram criadas situações <strong>de</strong> conflitos que me <strong>de</strong>ixaram duas alternativas:<br />

não tomar atitu<strong>de</strong> e o funcionário se sentir <strong>de</strong>sprestigiado, trabalhando e<br />

resmungando pela instabilida<strong>de</strong> da direção, ou aceitar a pressão e colocar o<br />

menino para fora novamente, contrariando meu compromisso na qualida<strong>de</strong><br />

33


<strong>de</strong> educador e infringindo a lei <strong>de</strong> proteção à criança e ao adolescente<br />

(ALMEIDA, 2005: p.67).<br />

Além <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar que, mesmo quando <strong>de</strong>seja voltar, o aluno encontra<br />

dificulda<strong>de</strong>, o trecho acima mostra também que, na escola, encontram-se pessoas<br />

compreensivas, que não esqueceram o seu tempo <strong>de</strong> aluno e que até tentam ajudar.<br />

Lembro-me <strong>de</strong> quando cursava o segundo ano do ensino fundamental, havia<br />

uma professora chamada Vera, que lecionava Matemática, era uma professora bem<br />

tranquila e <strong>de</strong>monstrava sempre confiança nos seus alunos. A maior referência <strong>de</strong>la<br />

era que ela costumava conferir “<strong>de</strong> carteira em carteira” os exercícios da sala toda. A<br />

professora Vera ficou marcada na minha memória, no momento <strong>de</strong> uma correção <strong>de</strong><br />

tarefas. Tratava-se <strong>de</strong> uma lista <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong> Matemática, que, em sala <strong>de</strong> aula,<br />

eu resolvi com facilida<strong>de</strong>, mas em casa, eu já não me recordava <strong>como</strong> era a<br />

resolução. Nas últimas páginas do livro <strong>de</strong> Matemática havia todas as respostas dos<br />

exercícios propostos, porém havia somente as respostas. No <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> utilizar<br />

aquela facilida<strong>de</strong> para resolver o meu problema no momento, eu “inventei” um<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das questões com um conjunto <strong>de</strong> números em cima <strong>de</strong> números,<br />

ligados por sinais <strong>de</strong> soma, subtração, multiplicação, divisão e igualda<strong>de</strong> e, no final<br />

<strong>de</strong> cada exercício, estava a resposta <strong>de</strong>vidamente correta, copiada das páginas <strong>de</strong><br />

respostas do livro.<br />

No dia da entrega foi tudo bem, era uma folha à parte, com nome e lista <strong>de</strong><br />

exercícios resolvida. Todos a colocávamos na mesa da professora logo na entrada<br />

da aula. Na outra aula <strong>de</strong> Matemática, a professora Vera entregou as folhas dos<br />

exercícios <strong>de</strong> volta e, na minha folha, estava tudo certo. Havia duas hipóteses: a<br />

primeira era que a professora não corrigira olhando os exercícios, ela conferira<br />

somente a resposta; a segunda era que eu acertara o <strong>de</strong>senvolvimento dos<br />

exercícios o que significava que eu até sabia resolvê-los e nem percebera isso. O<br />

que mais importava para mim é que eu assumia novamente a posição <strong>de</strong> aluno que<br />

participa da aula, senti o prazer <strong>de</strong> fazer a tarefa <strong>de</strong> casa e acertar tudo, era uma<br />

posição realmente confortável, uma sensação <strong>de</strong> missão cumprida. No final da aula,<br />

quando todos estávamos saindo a professora Vera veio conversar comigo e me<br />

questionou sobre os exercícios, ela perguntou <strong>como</strong> eu havia feito para resolver os<br />

exercícios porque ela não conhecia aquele modo <strong>de</strong> resolução, disse também que<br />

34


na matemática po<strong>de</strong>mos resolver as mesmas questões por métodos diferentes, ela<br />

sabia o que o livro ensinava mas queria saber se eu po<strong>de</strong>ria explicar o meu pra ela.<br />

No momento fiquei com medo e senti que estava sendo <strong>de</strong>smascarado, mas <strong>de</strong>pois<br />

confiei nas palavras da professora que havia confiado no meu trabalho. Retirei a<br />

folha <strong>de</strong> exercícios da pasta e coloquei sobre a carteira, estavam lá, todos os<br />

exercícios corretos, não havia rasuras, nem um enorme “x” em vermelho em cima <strong>de</strong><br />

cada exercício. Comecei a explicar, da mesma forma, <strong>como</strong> os números foram parar<br />

ali, uma verda<strong>de</strong>ira bagunça <strong>de</strong> informações com o objetivo <strong>de</strong> confundir. E a<br />

professora Vera não se in<strong>como</strong>dou e <strong>de</strong>ixou eu falar o quanto eu quis, ela me<br />

escutou pacientemente <strong>de</strong>monstrando muita atenção, até eu concluir o meu<br />

“raciocínio”.<br />

Ela olhou bem nos meus olhos e me disse que não tinha entendido, eu achei<br />

que naquele momento eu seria revelado um trapaceiro e sofreria as piores<br />

consequências que um aluno po<strong>de</strong>ria sofrer, mas não foi assim, a professora Vera<br />

disse que o jeito que ela tinha aprendido ela achava mais fácil e era justamente o<br />

mesmo do livro, e ela foi explicando e conduzindo em uma aula particular o ensino<br />

daqueles cálculos que eu, até então, não havia aprendido, e foi naqueles trinta<br />

minutos que eu aprendi o que não havia entendido em semanas.<br />

Na época, senti que a professora Vera era uma professora muito especial,<br />

que não me castigou, não me reprovou, me protegeu do castigo, consi<strong>de</strong>rou os<br />

meus exercícios certos e, por fim, eu ainda acabei por apren<strong>de</strong>r os exercícios e não<br />

precisei mais <strong>de</strong> “consultar” as páginas <strong>de</strong> respostas do livro para po<strong>de</strong>r resolvê-los.<br />

Hoje, <strong>como</strong> educador, percebo o que na época não pu<strong>de</strong> perceber, a<br />

professora havia, sim, notado que eu tinha inventado uma resolução dos exercícios<br />

e que, provavelmente, eu tinha aproveitado as respostas no final do livro. Entretanto,<br />

ela não tinha, <strong>como</strong> objetivo, revelar o que eu tinha feito, provavelmente, não<br />

acreditava que isso me faria enten<strong>de</strong>r a matemática, ela aproveitou o fato para<br />

<strong>de</strong>monstrar confiança, o que, consequentemente, suscitou a minha confiança. Isso<br />

foi fundamental para abrir caminho para uma nova chance <strong>de</strong> ensino e<br />

aprendizagem que, <strong>de</strong>ssa vez, transformou-se em um sucesso.<br />

35


As disciplinas práticas do curso técnico profissionalizante eram <strong>de</strong>senvolvidas<br />

<strong>de</strong> forma significativa e era possível estabelecer relação direta com o ofício no qual<br />

estava me formando, continuei a ajudar meu pai em ativida<strong>de</strong>s práticas em<br />

mecânica e fazia outras ativida<strong>de</strong>s mecânicas na motocicleta que tinha. O ingresso<br />

em uma escola na qual havia aulas <strong>de</strong> mecânica me <strong>de</strong>ixou numa posição facilitada,<br />

pois o contexto da manutenção mecânica e industrial já cercava a minha vida seja<br />

pelas ativida<strong>de</strong>s que fazia nos finais <strong>de</strong> semana ou pela própria profissão <strong>de</strong> meu<br />

pai. Eu já podia imaginar que seria um profissional e, ao menos, teria profissão<br />

reconhecida. Já no primeiro ano, comecei a trabalhar <strong>como</strong> <strong>de</strong>senhista <strong>de</strong> máquinas<br />

em uma indústria da cida<strong>de</strong>, eu mal tinha entrado na escola e já estava obtendo<br />

resultados concretos.<br />

A aprendizagem na escola tinha relação com a minha vida, a escola propunha<br />

ativida<strong>de</strong>s que me davam prazer, estudar ficou gostoso, essa prática me <strong>de</strong>spertou o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> cursar uma faculda<strong>de</strong> e, o mais importante, que tal faculda<strong>de</strong> estivesse no<br />

campo da <strong>educação</strong>. Nesse momento, o meu interesse pela <strong>educação</strong> havia se<br />

<strong>de</strong>stacado em relação à própria mecânica industrial, mais do que apren<strong>de</strong>ndo uma<br />

profissão eu estava apren<strong>de</strong>ndo a apren<strong>de</strong>r e já <strong>de</strong>sejava apren<strong>de</strong>r a ensinar.<br />

As disciplinas com caráter mais propedêutico não tinham significado direto,<br />

eram <strong>de</strong>s<strong>contextualizada</strong>s sem relação com a prática da profissão <strong>de</strong> técnico<br />

mecânica. A justificativa muito forte <strong>de</strong> ser assim era o fato <strong>de</strong> o ensino técnico ter,<br />

<strong>como</strong> objetivo, a formação <strong>de</strong> técnicos <strong>de</strong> nível médio, sem o objetivo <strong>de</strong><br />

prosseguirem em nível superior. Mas, não era isso o que acontecia na prática, a<br />

maioria dos colegas continuava os estudos em nível superior. Como os colegas,<br />

também busquei a formação superior e, após alguns anos no curso <strong>de</strong> engenharia,<br />

tranquei a matrícula e não prossegui com os estudos, me <strong>de</strong>dicando somente à<br />

<strong>educação</strong>.<br />

A escolha pela profissão certamente tem influência direta com minha<br />

experiência <strong>de</strong> vida; eu, que nos primeiros anos da vida escolar, cheguei a acreditar<br />

que a escola não era para mim, ao conviver com colegas <strong>de</strong> classe que atingiam<br />

sucesso rapidamente com os exercícios e, consequentemente, o reconhecimento ou<br />

admiração do professor, pensava que os estudos eram apenas para os que tinham<br />

vocação. Somente <strong>de</strong>pois do ingresso na escola técnica estadual, eu passei por<br />

36


uma mudança radical em experiência escolar e, mais do que passar a acreditar na<br />

escola <strong>como</strong> um lugar bom, on<strong>de</strong> tenho um valor igual aos outros alunos,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> minhas características, foi on<strong>de</strong> comecei a ousar pensar em um dia<br />

eu também me tornar professor. Vi na profissão <strong>de</strong> professor algo além do trabalhar<br />

para ganhar dinheiro, o sucesso do aluno é diretamente ligado ao sucesso do<br />

professor e, mais do que o sucesso no panorama da escola, um bom trabalho<br />

docente po<strong>de</strong> impulsionar positivamente o futuro do estudante, o futuro do sujeito. E<br />

através <strong>de</strong>ssas situações, passei a acreditar em muito mais do que eu ser um aluno<br />

que realmente apren<strong>de</strong> e participa, passei a acreditar em ser um professor.<br />

No último ano em que cursava o ensino técnico industrial e trabalhava <strong>de</strong><br />

projetista mecânico em uma indústria da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bauru no interior <strong>de</strong> São Paulo,<br />

comecei a pensar em cursar Pedagogia, queria lecionar na escola técnica, mas para<br />

isso diziam os professores, era bom ter o curso <strong>de</strong> engenharia. Logo após a minha<br />

formatura <strong>como</strong> técnico industrial eu fui cursar engenharia eletrônica na escola <strong>de</strong><br />

engenharia <strong>de</strong> Lins no interior <strong>de</strong> São Paulo, distante 110km <strong>de</strong> Bauru. O curso era<br />

em período integral e, durante o curso, fiz um concurso para vaga <strong>de</strong> professor<br />

substituto no colégio técnico <strong>de</strong> Bauru, o mesmo em que havia me formado. Assumi<br />

o cargo em aulas noturnas em Bauru e estudava durante o dia em Lins na escola <strong>de</strong><br />

engenharia.<br />

Lecionei durante seis anos na re<strong>de</strong> Senai – serviço nacional <strong>de</strong> aprendizagem<br />

industrial, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bauru, e lecionei por várias cida<strong>de</strong>s do interior paulista, Lins,<br />

Jaú, Lençóis Paulista e Pe<strong>de</strong>rneiras foram algumas cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> eu trabalhava<br />

dando aulas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho técnico mecânico e projetos industriais.<br />

1.3 Primeiro contato com o Projeto Alavanca Brasil<br />

Mu<strong>de</strong>i para São Paulo no inicio <strong>de</strong> 2006 e fui chamado para trabalhar na<br />

escola Senai da Vila Leopoldina, na Zona Oeste da cida<strong>de</strong>, lá eu lecionava <strong>de</strong>senho<br />

e projetos, e dava suporte a empresas da região, por intermédio do Senai. Em<br />

agosto <strong>de</strong> 2006, dois alunos do curso noturno <strong>de</strong> projetos mecânicos em<br />

computador eram funcionários <strong>de</strong> uma empresa chamada Semikron, essa empresa<br />

37


tem se<strong>de</strong> na Alemanha e apoia o projeto Alavanca Brasil, com recursos financeiros e<br />

materiais. Os alunos tinham dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>de</strong>senhar um projeto <strong>de</strong> um produto<br />

plástico que se tratava <strong>de</strong> um brinquedo pedagógico muito utilizado em toda<br />

Alemanha. Como eu conheço projetos e sou educador, me disponibilizei a ajudá-los,<br />

eles pediram se po<strong>de</strong>ria levar à responsável pela ONG, juntamente com o brinquedo<br />

pedagógico, pois havia algumas mudanças a fazer. Na outra semana <strong>de</strong> aulas,<br />

recebi, na escola SENAI, a visita da diretora da ONG Alavanca Brasil na época,<br />

Dorothea Swartz, que trouxe uma amostra do brinquedo e algumas alterações que<br />

seriam necessárias para produzir no Brasil. A principal <strong>de</strong>las é a presença <strong>de</strong> dois<br />

pinos metálicos que, segundo os profissionais, para a certificação junto ao órgão<br />

INMETRO, não po<strong>de</strong>ria existir, pois crianças até cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>riam<br />

engoli-los.<br />

Foi então que resolvi conhecer melhor o brinquedo, para <strong>de</strong>pois pensar em<br />

alguma alteração do projeto original. Funciona <strong>como</strong> um tabuleiro composto por<br />

lacunas em fileiras e colunas em baixo relevo, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>vem encaixar peças no<br />

formato quadrado da lacuna. Essas peças possuem um traço geométrico na frente e<br />

um número ou figura <strong>de</strong> animais e plantas (para o uso do público não alfabetizado)<br />

no verso, juntamente com livros didáticos <strong>de</strong> matemática, geografia entre outras<br />

disciplinas cujas respostas das questões dos livros, são feitas encaixando-as nas<br />

lacunas, conforme o número da peça corresponda à resposta correta do livro<br />

didático servindo <strong>como</strong> gabarito.<br />

O tabuleiro é então fechado com outra parte que funciona <strong>como</strong> tampa e é<br />

ligada à parte principal por pinos, <strong>como</strong> se fosse uma dobradiça. Vira-se todo<br />

conjunto fechado e abre-se com a face principal para baixo; o lado inverso das<br />

peças quadradas expõe os <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> traço geométrico e juntos formam uma<br />

figura geométrica que esta <strong>de</strong>senhada em escala menor, no canto <strong>de</strong> cada folha das<br />

questões dos livros didáticos.<br />

Desenhei um novo brinquedo respeitando a i<strong>de</strong>ia original, sem os pinos<br />

metálicos, mais leve e com suporte para segurar apenas com uma das mãos,<br />

injetado em plástico reciclado e mais econômico. Com o novo <strong>de</strong>senho simétrico, a<br />

base e a tampa são a mesma peça, o que faz o investimento dos mol<strong>de</strong>s baixar para<br />

meta<strong>de</strong>. A Dorothea Swartz levou para a Alemanha o novo <strong>de</strong>senho e foi tão bem<br />

38


aceito que a empresa “LUK”, <strong>de</strong>tentora dos direitos do brinquedo me telefonou e<br />

questionou o valor da mudança. Como eu não tinha a intenção <strong>de</strong> cobrar algum<br />

valor em dinheiro e a Alavanca Brasil pagaria os direitos para explorar<br />

comercialmente no Brasil, a minha proposta foi <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r os direitos da Alavanca<br />

Brasil em explorar comercialmente em prol da manutenção <strong>de</strong> uma escola<br />

profissionalizante na Zona Oeste <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Engajei-me no projeto, a fim <strong>de</strong> montar a escola profissionalizante, trabalhei<br />

na montagem da gra<strong>de</strong> curricular e no projeto <strong>de</strong> um novo prédio situado <strong>de</strong>ntro da<br />

comunida<strong>de</strong>, para que a escola esteja presente na comunida<strong>de</strong> e a comunida<strong>de</strong><br />

assuma, aos poucos, toda a administração da escola.<br />

O interesse em fazer o Mestrado em Educação, veio juntamente com os<br />

projetos que fazem parte da Alavanca Brasil. A intenção inicial era fazer com que a<br />

escola entrasse nas comunida<strong>de</strong>s mais carentes e favelas para começar a fazer<br />

parte da vida dos jovens que ali moram, pois é notável o <strong>de</strong>sinteresse nos estudos<br />

por parte dos jovens moradores <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s pobres, afastadas e favelas. Se a<br />

escola estiver presente e fizer parte da comunida<strong>de</strong>, ela po<strong>de</strong> trazer cultura para<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da própria comunida<strong>de</strong> e assim passar a fazer parte da vida dos<br />

jovens.<br />

Cursando o mestrado conheci o projeto Escola Aberta, Almeida (2005),<br />

estu<strong>de</strong>i o projeto e utilizei <strong>como</strong> no exemplo do projeto Escola Aberta a função da<br />

comunida<strong>de</strong> em exercer o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão na administração da escola, tornando,<br />

assim, a escola uma parte ativa da socieda<strong>de</strong> local.<br />

Em reunião com o professor Almeida, fui apresentado à <strong>educação</strong><br />

<strong>contextualizada</strong> Dowbor (2006), os projetos que já haviam sido feitos no Brasil, com<br />

sucesso, i<strong>de</strong>ntifiquei na <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> o panorama para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> minha pesquisa e do projeto Alavanca Brasil.<br />

O interesse pelo tema está relacionado com a minha história <strong>de</strong> vida: as<br />

dificulda<strong>de</strong>s que enfrentei <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola que privilegia a or<strong>de</strong>m, em<br />

<strong>de</strong>trimento da inteligência e da criativida<strong>de</strong>. Lidar com a escola foi muito difícil,<br />

quando não havia uma ligação direta com as ativida<strong>de</strong>s que cercavam minha vida. A<br />

39


minha relação com a escola começou a melhorar quando ingressei na escola técnica<br />

e pu<strong>de</strong> relacionar aquilo que aprendia na escola com a experiência que havia<br />

adquirido com a prática em casa. Isso me fez compreen<strong>de</strong>r as disciplinas teóricas<br />

com maior facilida<strong>de</strong>, o que por sua vez <strong>de</strong>spertou em mim um prazer em estudar,<br />

uma afinida<strong>de</strong> com a escola que se contextualiza com meu cotidiano.<br />

Desta forma, ao entrar em contato com a noção <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong>,<br />

com o ingresso no programa <strong>de</strong> mestrado em <strong>educação</strong> passei a ver nesta proposta<br />

uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma escola que valoriza as experiências e as<br />

expectativas do sujeito.<br />

40


Introdução<br />

CAPÍTULO 2<br />

EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA:<br />

UMA PROPOSTA PARA A METRÓPOLE?<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste capítulo, <strong>como</strong> anunciado no capítulo anterior, é apresentar a<br />

<strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> <strong>como</strong> proposta educacional e discutir em que medida<br />

essa proposta é capaz <strong>de</strong> promover a <strong>inclusão</strong> social. Para isso pretendo estudar o<br />

conceito por meio da realização <strong>de</strong> uma revisão da literatura sobre o assunto. Para<br />

isso recorri aos estudos <strong>de</strong> Dowbor (2006, 2010), Almeida (2008, 2005, 2010),<br />

(Saviani, 2003, 2009), (Sawaia, 2010), (Sen, 2000), (Morin, 2002), entre outros.<br />

Recorri também ao banco <strong>de</strong> dados do IBGE, on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong> encontrar dados<br />

estatísticos sobre questões importantes para este estudo, tais <strong>como</strong>, o índice <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, área e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e no<br />

seu entorno. Na região metropolitana <strong>de</strong> São Paulo, se concentram os maiores<br />

índices <strong>de</strong> pobreza. Esta pobreza é caracterizada pela baixa renda da população,<br />

naqueles que habitam a Região Oeste metropolitana paulista <strong>como</strong> Osasco,<br />

Carapicuíba, Santana <strong>de</strong> Parnaíba, Barueri, Taboão da Serra e Cajamar, parte<br />

importante do contorno da capital paulistana.<br />

Para fazer uma interface com a situação <strong>de</strong> pobreza, aparentemente, sem<br />

saída da região metropolitana <strong>de</strong> São Paulo, busquei também dados sobre a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Joaquim, no estado <strong>de</strong> Santa Catarina; Pimenteiras e Juazeiro, ambas no<br />

estado da Bahia, cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> os habitantes vêm transformando as potencialida<strong>de</strong>s<br />

locais em riquezas que beneficiam a todos. Nestas cida<strong>de</strong>s, parcerias entre<br />

universida<strong>de</strong>s e o po<strong>de</strong>r público possibilitaram programas e pesquisas que criaram<br />

condições para investimento <strong>de</strong> recursos no <strong>de</strong>senvolvimento local, por meio do<br />

aproveitamento consciente dos recursos naturais. Esses programas e parcerias vêm<br />

modificando os dados <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social nestas cida<strong>de</strong>s e permitindo<br />

a fixação das pessoas em seus territórios <strong>de</strong> origem, por meio da melhoria das<br />

condições <strong>de</strong> vida.<br />

41


Um dos diferenciais <strong>de</strong>ssas cida<strong>de</strong>s tem sido a <strong>educação</strong> que vem sendo<br />

repensada para que esteja cada vez mais voltada para as necessida<strong>de</strong>s da<br />

comunida<strong>de</strong>. Para isso, vem sendo adotada a <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> <strong>como</strong><br />

proposta. O conceito <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> é uma proposta que é bastante<br />

<strong>de</strong>senvolvida no semi-árido nor<strong>de</strong>stino e que está, cada vez mais, presente em<br />

outras regiões do Brasil, por meio <strong>de</strong> experiências que articulam universida<strong>de</strong>s,<br />

governos e socieda<strong>de</strong> civil. Desta forma, tem contribuído para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>stas regiões e promovido melhoria na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, por meio da <strong>de</strong>scoberta<br />

da vocação <strong>de</strong> cada região.<br />

2.1 Desigualda<strong>de</strong> Social<br />

Segundo Dowbor (2010), a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social é o gran<strong>de</strong> problema da<br />

<strong>educação</strong> no Brasil e o atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola, em muito, tem contribuído para a<br />

reprodução <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. No entanto, segundo esse autor, a <strong>educação</strong> po<strong>de</strong><br />

assumir outra dinâmica e passar a integrar o movimento <strong>de</strong> articulação da socieda<strong>de</strong><br />

com vistas à construção <strong>de</strong> um ambiente sustentável, on<strong>de</strong> a melhoria da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida humana coletiva seja uma realida<strong>de</strong>.<br />

A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social no Brasil é um tema fortemente presente nas questões<br />

das políticas sociais. Quando comparados dados <strong>de</strong> regiões distantes <strong>como</strong> a região<br />

sul e norte, as características econômicas reforçam uma gran<strong>de</strong> diferença entre as<br />

regiões com um maior índice <strong>de</strong> pobreza e as regiões mais ricas. Mas as<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s não ocorrem apenas entre as regiões, ela existe também entre as<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma mesma região, entre os bairros <strong>de</strong> uma mesma cida<strong>de</strong> e assim por<br />

diante. Essa situação vem apresentando mudanças em cida<strong>de</strong>s que fizeram opção<br />

pelo investimento no <strong>de</strong>senvolvimento local, tendo na proposta <strong>de</strong> <strong>educação</strong><br />

<strong>contextualizada</strong>, um <strong>instrumento</strong> importante nesse processo. Nessas cida<strong>de</strong>s, os<br />

índices <strong>de</strong> pobreza estão sendo reduzidos. Um sinal <strong>de</strong>ssa situação é a redução dos<br />

fluxos migratórios para os gran<strong>de</strong>s centros, o fragmento <strong>de</strong> texto seguinte confirma<br />

essa situação:<br />

No município <strong>de</strong> Pintadas, na Bahia, pequeno município distante da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> do asfalto, todo ano quase a meta<strong>de</strong> dos homens viajava para<br />

o su<strong>de</strong>ste para o corte <strong>de</strong> cana. A parceria <strong>de</strong> uma prefeita dinâmica, <strong>de</strong><br />

alguns produtores e <strong>de</strong> pessoas com visão das necessida<strong>de</strong>s locais<br />

permitiram que os que buscavam emprego em lugares distantes se<br />

42


voltassem para a construção do próprio município. Começaram com uma<br />

parceria da secretaria da <strong>educação</strong> local com uma universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Salvador, para elaborar um plano <strong>de</strong> saneamento básico da cida<strong>de</strong>, o que<br />

reduziu os custos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, liberou terras e verbas para a produção e assim<br />

por diante. A geração <strong>de</strong> conhecimentos sobre a realida<strong>de</strong> local, e a<br />

promoção <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> pro-ativa para o <strong>de</strong>senvolvimento, fazem parte<br />

evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma <strong>educação</strong> que po<strong>de</strong> se tornar no <strong>instrumento</strong> científico e<br />

pedagógico da transformação local.<br />

São visões que vão se concretizando gradualmente, com experiências que<br />

buscam <strong>de</strong> forma diferenciada, segundo as realida<strong>de</strong>s locais e regionais,<br />

caminhos práticos que permitam dar à <strong>educação</strong> um papel mais amplo <strong>de</strong><br />

irradiador <strong>de</strong> conhecimentos para o <strong>de</strong>senvolvimento local, formando uma<br />

nova geração <strong>de</strong> pessoas conhecedoras dos <strong>de</strong>safios que terão <strong>de</strong><br />

enfrentar. (DOWBOR, 2006: p.13).<br />

Os dados coletados junto ao IBGE mostram, com muita clareza, a situação<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> presente no Brasil. Apresento em seguida alguns gráficos com o<br />

objetivo <strong>de</strong> comparar a comunida<strong>de</strong> <strong>como</strong> um pedacinho da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

com as cida<strong>de</strong>s periféricas da Zona Oeste.<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

São Paulo-SP<br />

28%<br />

Osasco-SP<br />

39%<br />

Carapicuíba-SP<br />

47%<br />

Santana <strong>de</strong> Parnaíba-SP<br />

indice pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

43%<br />

Barueri-SP<br />

45%<br />

Taboão da Serra-SP<br />

40%<br />

Cajamar-SP<br />

57%<br />

São Joaquim-SC<br />

31%<br />

Pimenteiras-PI<br />

53%<br />

Juazeiro-BA<br />

45%<br />

Figura 1 Fonte: IBGE, 2003.<br />

43


7.000<br />

6.000<br />

5.000<br />

4.000<br />

3.000<br />

2.000<br />

1.000<br />

0<br />

São Paulo-SP<br />

13.000<br />

12.000<br />

11.000<br />

10.000<br />

9.000<br />

8.000<br />

7.000<br />

6.000<br />

5.000<br />

4.000<br />

3.000<br />

2.000<br />

1.000<br />

0<br />

1.523,278<br />

São Paulo-SP<br />

Osasco-SP<br />

7.387,69<br />

área da unida<strong>de</strong> territorial (Km²)<br />

64,037 34,605 179,807 66,141 20,293 131,403<br />

Carapicuíba-SP<br />

Santana <strong>de</strong> Parnaíba-SP<br />

10.411,79 10.680,08<br />

Osasco-SP<br />

Carapicuíba-SP<br />

Santana <strong>de</strong> Parnaíba-SP<br />

Barueri-SP<br />

Taboão da Serra-SP<br />

Cajamar-SP<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica (hab/Km²)<br />

605,17<br />

3.639,94<br />

Barueri-SP<br />

Taboão da Serra-SP<br />

12.049,87<br />

Cajamar-SP<br />

São Joaquim-SC<br />

487,92<br />

1.885,610<br />

Pimenteiras-PI<br />

4.563,103<br />

6.500,679<br />

Juazeiro-BA<br />

Figura 2 Fonte: IBGE, 2003.<br />

São Joaquim-SC<br />

13,16 2,57 30,45<br />

Pimenteiras-PI<br />

Juazeiro-BA<br />

Figura 3 Fonte: IBGE, 2003.<br />

No gráfico <strong>de</strong> índice <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, no qual se comparam<br />

cida<strong>de</strong>s no entorno da Zona Oeste da região metropolitana paulista com cida<strong>de</strong>s na<br />

região Nor<strong>de</strong>ste e Sul do país, <strong>de</strong> elevado índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo possui o índice mais baixo, embora seja próximo ao <strong>de</strong> São Joaquim,<br />

44


porém essa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> ocorre num espaço geográfico mais <strong>de</strong>nso se observados<br />

os dados <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica e a área da unida<strong>de</strong> territorial.<br />

No panorama observado, as cida<strong>de</strong>s da região oeste da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo funcionam <strong>como</strong> a periferia da cida<strong>de</strong>, uma vez que ocorre a troca <strong>de</strong> mão <strong>de</strong><br />

obra e serviços com pouca ou sem qualificação. A população das cida<strong>de</strong>s vizinhas<br />

da Zona Oeste paulistana possui uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica e um índice <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social maior do que a da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Um importante fato a<br />

consi<strong>de</strong>rar é que, <strong>de</strong>ntre essas cida<strong>de</strong>s, as que possuem limites municipais com a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo apresentam o maior <strong>de</strong>senvolvimento populacional nessas<br />

regiões, além <strong>de</strong> não haver trecho rural entre as cida<strong>de</strong>s e a capital, ou seja, elas<br />

compartilham suas riquezas e pobrezas <strong>como</strong> se fossem bairros mais afastados da<br />

capital paulista. Lembrando que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Osasco era um bairro da capital<br />

paulista, emancipando somente em 1962.<br />

Por meio <strong>de</strong>sse panorama, po<strong>de</strong>mos concluir que parte da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mográfica e do índice <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser agregada aos dados<br />

da capital paulista que ficaram com valores <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> com maior<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local. Porém, gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é<br />

amenizada pelo fato <strong>de</strong> que os valores <strong>de</strong> índice <strong>de</strong> pobreza estão concentrados nas<br />

cida<strong>de</strong>s vizinhas, se consi<strong>de</strong>rarmos a região da gran<strong>de</strong> São Paulo.<br />

Neste contexto, programas <strong>de</strong> assistência à população, sobretudo em forma<br />

<strong>de</strong> ajuda financeira têm se tornado políticas dos sucessivos governos. Tais<br />

programas têm rendido divi<strong>de</strong>ndos eleitorais, mas sua eficácia em termos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento efetivo é bastante duvidosa, porque eles não têm vindo<br />

acompanhados <strong>de</strong> uma proposta educacional capaz <strong>de</strong> recuperar a credibilida<strong>de</strong> das<br />

pessoas. A garantia do direito à saú<strong>de</strong>, à moradia, à alimentação e à <strong>educação</strong> é<br />

fundamental e atua <strong>como</strong> um alicerce para o <strong>de</strong>senvolvimento sadio da população,<br />

sobretudo dos jovens. Porém, não po<strong>de</strong>m ser reduzidos a programas<br />

assistencialistas e induzem à a<strong>como</strong>dação na situação <strong>de</strong> pessoa que vive <strong>de</strong><br />

benefício e impe<strong>de</strong> a busca <strong>de</strong> uma vida digna. Esses direitos precisam se tornar<br />

políticas públicas que vinculam a garantia dos direitos básicos a uma perspectiva <strong>de</strong><br />

superação gradativa da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. É importante evitar a <strong>de</strong>pendência dos<br />

programas <strong>de</strong> assistência social e investir no combate à <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social com a<br />

45


viabilização por meio do acesso a uma formação dinâmica e que promova uma<br />

sinergia entre os anseios pessoais, as potencialida<strong>de</strong>s locais e as <strong>de</strong>mandas sociais.<br />

Neste sentido é fundamental o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma proposta<br />

educacional que garanta o domínio dos conceitos científicos básicos a todos e que<br />

crie condições para que estes conceitos sejam utilizados <strong>como</strong> <strong>instrumento</strong> para<br />

compreen<strong>de</strong>r a própria vida e a história da comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> está inserido. A<br />

<strong>educação</strong> precisa preocupar-se com equipar o jovem com <strong>instrumento</strong>s que<br />

permitam intervir na sua realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scobrir a vocação <strong>de</strong> cada território e formar<br />

profissionais que <strong>de</strong>senvolvam essa vocação.<br />

O nomadismo profissional é uma <strong>de</strong>corrência da falta <strong>de</strong> planejamento<br />

educacional. A escola está voltada para os gran<strong>de</strong>s centros, forma para as<br />

profissões da moda promovendo excessos em <strong>de</strong>terminadas áreas e falta em<br />

outras. A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> articula as necessida<strong>de</strong>s locais com as<br />

exigências globais.<br />

2.2 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola atual<br />

Hoje há entendimento segundo o qual o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola dominante<br />

no Brasil precisa ser repensado. As divergências começam a surgir, quando se<br />

discute o perfil <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola vigente ainda é aquele<br />

concebido no século XIX, voltado para a classificação dos alunos. Tal mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

escola se funda na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o professor é autorida<strong>de</strong> moral <strong>de</strong> conhecimento,<br />

capaz <strong>de</strong> inserir os alunos na cultura por meio da transmissão <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong><br />

comportamentos a<strong>de</strong>quados ao convívio social. Esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola tem sido<br />

fortemente questionado por educadores e pesquisadores, que buscam um mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> escola inserido no cenário social e econômico contemporâneo. Em <strong>de</strong>corrência<br />

<strong>de</strong>sta situação, a legislação educacional e mesmo as políticas públicas <strong>de</strong>la<br />

<strong>de</strong>correntes têm proclamado o compromisso com a inovação da escola.<br />

Embora toda legislação educacional em vigor proclame a <strong>educação</strong><br />

inclusiva, esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola ainda é dominante na socieda<strong>de</strong> brasileira. Hoje<br />

se busca uma escola que priorize a <strong>educação</strong> inclusiva, isto é, uma <strong>educação</strong><br />

46


entendida <strong>como</strong> direito <strong>de</strong> todos. Essa proposta vem sendo <strong>de</strong>fendida, mas sua<br />

implantação enfrenta sérias dificulda<strong>de</strong>s, uma vez que se trata <strong>de</strong> uma escola que<br />

questiona práticas antigas no cenário educacional. Levando em consi<strong>de</strong>ração que a<br />

implantação <strong>de</strong> uma nova escola interfere na cultura organizacional tal implantação<br />

não po<strong>de</strong> feita <strong>de</strong> forma rápida, <strong>de</strong>manda tempo para amadurecimento. A<br />

implantação rápida, sem uma preparação específica, tem levado a leituras também<br />

apressadas e fortalecido a tendência <strong>de</strong> resistência à transformação preconizada,<br />

conduzindo a escola a avanços e recuos.<br />

Os sinais da implantação <strong>de</strong>ste novo mo<strong>de</strong>lo, porém já po<strong>de</strong>m ser<br />

visualizados, quando se pensa nas adaptações nos aspectos estruturais da escola e<br />

em seu mobiliário para garantir acessibilida<strong>de</strong> às crianças com necessida<strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais. Hoje, já não se constroem escolas sem rampas <strong>de</strong> acesso<br />

ou elevadores, banheiros adaptados, sem sinais que orientem os <strong>de</strong>ficientes visuais.<br />

Nos cursos <strong>de</strong> formação inicial e continuada vem se tornando presença cada vez<br />

mais forte, a preocupação com o preparo dos educadores para trabalhar com<br />

pessoas com <strong>de</strong>ficiência. Todos reconhecem a importância do preparo do corpo<br />

docente para atuar em situações complexas <strong>como</strong> aquelas em que estão inseridas<br />

as crianças que chegam à escola para serem educadas. Outro aspecto que merece<br />

<strong>de</strong>staque é a inserção da língua brasileira dos sinais no currículo dos cursos <strong>de</strong><br />

pedagogia e licenciatura a fim <strong>de</strong> melhorar as condições <strong>de</strong> permanência dos alunos<br />

com <strong>de</strong>ficiência auditiva nos cursos regulares das escolas públicas. Embora a<br />

implantação da língua brasileira dos sinais no currículo dos professores seja uma<br />

realida<strong>de</strong> legal, na prática essa implantação ainda é um <strong>de</strong>safio a ser enfrentado<br />

pelos gestores das políticas públicas <strong>de</strong> <strong>educação</strong>.<br />

De forma mais lenta, também vêm ocorrendo adaptações curriculares com<br />

vistas à <strong>inclusão</strong> das crianças que, embora não apresentem <strong>de</strong>ficiência aparente,<br />

apresentam dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Dos avanços na <strong>educação</strong>, a <strong>inclusão</strong> que acabo <strong>de</strong> citar diz respeito à<br />

logística, arquitetura e treinamento <strong>de</strong> professores e é um movimento importante<br />

para a <strong>educação</strong> no Brasil, porém a <strong>inclusão</strong> mais urgente e menos difundida é a do<br />

movimento contrário à exclusão dos estudantes e da socieda<strong>de</strong> local <strong>como</strong> afirma<br />

Almeida:<br />

47


Quando se fala em incluir, é preciso saber <strong>de</strong> que a pessoa esta falando e<br />

que lugar ela ocupa no processo. Muitos educadores se proclamam<br />

favoráveis a <strong>inclusão</strong> quando aquele que necessita ser incluído esta longe,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da ação <strong>de</strong> outro. Quando o que precisa ser incluído esta ao lado,<br />

os problemas começam: falta formação especifica, falta especialista na<br />

escola, falta apoio do sistema e assim por diante. De fato há necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> tudo isso, porém, a obsessão pela falta aparece <strong>como</strong> um argumento<br />

contra a <strong>inclusão</strong>. (ALMEIDA, 2005: p.62).<br />

Os estudantes aos quais me refiro são os que se encontram em situação <strong>de</strong><br />

vulnerabilida<strong>de</strong> social <strong>como</strong> aqueles que moram em favelas, <strong>de</strong> famílias pobres e,<br />

em sua gran<strong>de</strong> maioria, <strong>de</strong> origem nor<strong>de</strong>stina. Esses estudantes não possuem as<br />

características que gran<strong>de</strong> parte dos professores reconhece <strong>como</strong> i<strong>de</strong>ais para o<br />

aprendizado. São crianças que, nem sempre, percebem o valor social da leitura e da<br />

escrita ou, embora o percebam, são obrigadas a colocar acima <strong>de</strong>stes valores as<br />

estratégias <strong>de</strong> sobrevivência no meio on<strong>de</strong> vivem. O discurso que coloca a escola<br />

<strong>como</strong> fator <strong>de</strong> ascensão social, hoje, tem recebido a<strong>de</strong>são pequena, na medida em<br />

que propõe, para todos, uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> equalização social que, quando bem<br />

sucedida contempla apenas alguns. Para enten<strong>de</strong>r essa situação vale atentar para o<br />

que afirma Dowbor (2010):<br />

Discutir <strong>educação</strong> sem levar em conta o problema <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é<br />

esquecer o fator principal. Educação tem que ser um elemento <strong>de</strong><br />

rearticulação da socieda<strong>de</strong> e não <strong>de</strong> reprodução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Veja, por<br />

exemplo, que as boas famílias mandam os filhos para a USP que é gratuita,<br />

e a gente mais pobre, que não consegue, tem que pagar universida<strong>de</strong><br />

privada; então esse é o referencial para o qual a gente tem <strong>de</strong> estar atento.<br />

Trata-se, portanto, <strong>de</strong> assegurar que a <strong>educação</strong> seja um <strong>instrumento</strong><br />

efetivo <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> social. A idéia do trampolim, <strong>de</strong> ver a <strong>educação</strong> no<br />

sentido <strong>de</strong> você encontrar espaço mais no topo da pirâmi<strong>de</strong> social passa<br />

justamente por essa polarização entre ricos e pobres que temos. E a idéia,<br />

ao invés <strong>de</strong> trampolim, <strong>de</strong>ve ser a <strong>de</strong> somar a <strong>educação</strong> a um vetor <strong>de</strong><br />

promoção do conjunto da comunida<strong>de</strong>. A idéia <strong>de</strong> que individualmente um<br />

ou outro pobre conseguirá, digamos, vencer na vida, <strong>como</strong> se diz, não se<br />

trata <strong>de</strong> vencer na vida e ninguém vencer ninguém, trata-se <strong>de</strong> promover<br />

um <strong>de</strong>senvolvimento equilibrado, inteligente, <strong>de</strong>cente, uma relação humana,<br />

uma relação digna. A escola po<strong>de</strong> ser um construtor <strong>de</strong>ste processo, <strong>de</strong>sta<br />

dinâmica. Esse é o eixo, e tudo isso passa por um conjunto <strong>de</strong><br />

reformulações. (ALMEIDA; NHOQUE, apud DOWBOR, 2010: p.2).<br />

Essa escola que se estrutura com base na i<strong>de</strong>ia, segundo a qual o sucesso<br />

é resultado em uma disputa que precisamos vencer, foi construída social e<br />

historicamente. Até o inicio da república, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> letramento eram<br />

<strong>de</strong>senvolvidas por conta dos mestres-escola que estavam ligados diretamente com a<br />

comunida<strong>de</strong> e, por autonomia <strong>de</strong>sses, era <strong>de</strong>cidido o melhor recurso e método<br />

48


didático. Nessa época somente os estudantes <strong>de</strong> famílias com muito dinheiro e<br />

influências podiam ter acesso aos estudos. Nas famílias mais populares, era comum<br />

que os filhos seguissem as profissões dos pais, que aprendiam trabalhando e<br />

perpetuando o oficio nas gerações da família. O ensino era marcado pelo movimento<br />

da pedagogia tradicional.<br />

Somente <strong>de</strong>pois do início republicano, pelo menos em termos legais, as<br />

escolas <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser unida<strong>de</strong>s autônomas, centradas na figura do professor e<br />

passaram a seguir as normas <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong>finidas pelo estado, assumindo<br />

assim a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema mais amplo. Ao falar da<br />

relação entre unida<strong>de</strong> e sistema Silva (1996) assim se manifesta:<br />

Dessa forma, aos dirigentes do sistema escola cumpre fixar as políticas<br />

<strong>de</strong>rivadas das <strong>de</strong>cisões do governo eleito, e aos dirigentes das unida<strong>de</strong>s<br />

escolares compete a execução <strong>de</strong>ssas mesmas políticas.<br />

Tendo <strong>como</strong> parâmetro essa divisão <strong>de</strong> competências, as relações entre<br />

sistema e unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem pautar-se pelos princípios já citados <strong>de</strong><br />

complementarida<strong>de</strong> e subsidiarida<strong>de</strong>, ou seja, não <strong>de</strong>vem existir ações<br />

concorrentes e tudo o que pu<strong>de</strong>r ser efetuado pelo nível local – no caso a<br />

unida<strong>de</strong> escolar – não <strong>de</strong>verá ser atribuição do sistema. (SILVA, 1996:<br />

p.103).<br />

Na década <strong>de</strong> 1930, houve sob a influência do pensamento escolanovista,<br />

materializado no “Manifesto dos pioneiros da <strong>educação</strong> nova”, a criação do<br />

Ministério da Educação, com o objetivo <strong>de</strong> estabelecer as condições <strong>de</strong> infra-<br />

estrutura administrativa, com vistas à criação <strong>de</strong> um Plano Nacional <strong>de</strong> Educação.<br />

Os pioneiros eram a favor <strong>de</strong> uma <strong>educação</strong> pública, gratuita, mista, laica e<br />

obrigatória. Isto quer dizer que o Estado <strong>de</strong>veria se responsabilizar pelo <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

educar o povo, responsabilida<strong>de</strong> esta que era, a princípio, atribuída à família. O<br />

Estado, para este fim, <strong>de</strong>veria proporcionar uma escola <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e gratuita,<br />

possibilitando assim a concretização do direito dos indivíduos à <strong>educação</strong> e, tendo<br />

em vista os interesses dos indivíduos em formação e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> progresso,<br />

consi<strong>de</strong>ram que esta <strong>educação</strong> <strong>de</strong>va ter caráter obrigatório. Contrários ao costume<br />

<strong>de</strong> muitas escolas da época, os pioneiros pronunciaram-se favoráveis à escola mista<br />

e, questionando os princípios da <strong>educação</strong> católica, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m uma <strong>educação</strong> laica,<br />

o que distanciaria a <strong>educação</strong> <strong>de</strong> questões religiosas e a aproximaria das questões<br />

sociais, dando oportunida<strong>de</strong>s iguais a pessoas <strong>de</strong> ambos os sexos, e <strong>de</strong> diferentes<br />

49


credos e camadas sociais. O Manifesto dos Pioneiros também primava pela relação<br />

entre diferentes níveis da <strong>educação</strong> entre si, e <strong>de</strong>stes níveis com o nível <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento psico-biológico dos alunos, bem <strong>como</strong> pela relação entre a escola,<br />

o trabalho e a vida: entre a teoria e a prática, em favor do progresso. O<br />

estabelecimento <strong>de</strong>stas relações é <strong>de</strong>fendido através do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong><br />

ensino, <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> organização escolar que levasse em conta as<br />

necessida<strong>de</strong>s sociais daquela época, visando assim atingir a funcionalida<strong>de</strong><br />

educativa.<br />

A partir do “Manifesto dos pioneiros da <strong>educação</strong> nova” o uso da palavra<br />

“autonomia” foi escasso nos documentos educacionais e, em nenhum momento,<br />

teve um significado que fosse mobilizador do magistério ou fosse um indicativo que<br />

direcionasse as soluções para problemas educacionais. Em relação ao pensamento<br />

escolanovista Azanha afirma que:<br />

Como se po<strong>de</strong> ver, o tema da autonomia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o “Manifesto dos pioneiros”,<br />

sempre mereceu escassa atenção e quando havia alguma, ela não<br />

ultrapassava o nível <strong>de</strong> reivindicação <strong>de</strong> maior liberda<strong>de</strong> regimental. No<br />

Máximo, reivindicava-se maior liberda<strong>de</strong> dos professores com relação ao<br />

diretor e da escola com outras instâncias administrativas. Mas, afinal <strong>de</strong><br />

contas, liberda<strong>de</strong> para que? Esta, que é a questão essencial não tem sido<br />

suficientemente examinada nem respondida. No entanto, só a resposta<br />

clara a essa questão po<strong>de</strong>rá situá-la nos seus <strong>de</strong>vidos termos, já que a<br />

autonomia da escola apenas ganha importância se significar autonomia da<br />

tarefa educativa. Se assim não for, o assunto se reduz a uma mera questão<br />

regimental. É claro que regimentos escolares são importantes para a<br />

organização e disciplinas das rotinas escolares, mas não po<strong>de</strong>mos<br />

confundir autonomia da escola com a existência <strong>de</strong> um regimento próprio.<br />

Aliás, regimento escolar é apenas uma condição administrativa para as<br />

tarefas essenciais da escola, entendidas <strong>como</strong> a elaboração e execução <strong>de</strong><br />

um projeto pedagógico. (AZANHA, 2006: p.92).<br />

Embora o pensamento escolanovista <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse a <strong>de</strong>mocratização da<br />

escola, nessa época o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> universalização da escola básica ainda era muito<br />

distante. As famílias mais pobres não tinham garantia <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> seus filhos à<br />

escola embora esse fosse um sonho <strong>de</strong> muitos, a principal crítica a respeito da<br />

<strong>educação</strong> brasileira daquele momento é <strong>de</strong> que se compunha <strong>de</strong> um ensino<br />

fragmentado, sem articulação entre os diversos ensinamentos e <strong>de</strong>les com o mundo.<br />

Os conhecimentos teóricos oferecidos pela escola não obtinham resultados práticos<br />

em suas vidas, uma vez que os postos <strong>de</strong> trabalho intelectual eram <strong>de</strong>stinados aos<br />

50


filhos das famílias abastadas. Os pobres que lograram estudar, no final do século<br />

XIX e início do século XX, tiveram sérias dificulda<strong>de</strong>s para encontrarem espaço nas<br />

instituições sociais, <strong>como</strong> foram os casos <strong>de</strong> Cruz e Souza e Lima Barreto, para ficar<br />

apenas nos dois casos. Os filhos <strong>de</strong> famílias mais pobres começavam a trabalhar<br />

muito jovens para contribuir com o sustento da família que, além <strong>de</strong> numerosa, vivia<br />

em situação precária. Nesta época a população no Brasil era predominantemente<br />

rural e as escolas estavam nas áreas urbanas o que tornava ainda mais difícil o<br />

acesso. O processo <strong>de</strong> industrialização trouxe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliação do<br />

exército <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra especializada, surge então a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso às<br />

crianças <strong>de</strong> origem mais humil<strong>de</strong> aos bancos escolares. Porém aos bancos <strong>de</strong> uma<br />

escola técnica, voltada para a formação <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra para a indústria nascente.<br />

Os bancos da escola propedêutica, voltada para formação daqueles que iriam<br />

assumir as posições <strong>de</strong> comando, continuava sendo privilegio da elite.<br />

Para aten<strong>de</strong>r a essa <strong>de</strong>manda, em 1942 é criado o SENAI – serviço<br />

nacional <strong>de</strong> aprendizagem industrial com o objetivo <strong>de</strong> formar mão <strong>de</strong> obra para<br />

indústria <strong>de</strong> base que começava crescer. O ensino <strong>de</strong> ofícios para servir a indústria<br />

era frequentado por filhos <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> classe média, baixa e pobre, porém as<br />

escolas eram locadas em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> centros urbanos próximos ás indústrias. Dessa<br />

forma, foi <strong>de</strong>senvolvida uma proposta educacional voltada para os gran<strong>de</strong>s centros.<br />

A década <strong>de</strong> 50 foi marcada pelo fim da Segunda Guerra Mundial e<br />

início <strong>de</strong> um período em que a <strong>de</strong>mocracia foi assumida <strong>como</strong> um valor universal. A<br />

partir <strong>de</strong>ste momento, os diferentes governos passaram a se proclamarem<br />

<strong>de</strong>mocráticos, mesmo quando, na prática, <strong>de</strong>struíam as instituições e oprimiam os<br />

cidadãos, <strong>como</strong> foi o caso das ditaduras instaladas em diversos países da América<br />

Latina, inclusive no Brasil. A partir <strong>de</strong>ssa situação, se estruturou no Brasil diversos<br />

movimentos sociais reivindicando a <strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong> fato. Ao referir-se a essa<br />

situação Silva assim se manifesta:<br />

A afirmação da <strong>de</strong>mocracia, após a Segunda Guerra Mundial, <strong>como</strong> valor a<br />

ser buscado universalmente pelos governos e pelos povos, atingiu a<br />

escola, apresentando-se sob a forma <strong>de</strong> reivindicação do direito ao acesso,<br />

por todos os interessados, ao ensino. Isso trouxe, especialmente aos<br />

sistemas públicos, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

alunos, levando à duplicação, triplicação e mesmo até a quintuplicação dos<br />

períodos letivos em um só dia na mesma escola (SILVA, 1999: p.67).<br />

51


Esta situação obrigou o governo brasileiro a adotar políticas que permitissem<br />

o atendimento a todos que procurassem a escola. Com a criação do Conselho<br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação (CFE), em 1961, houve a uniformização da estrutura do<br />

sistema escolar brasileiro, através da primeira Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da <strong>educação</strong><br />

nacional (lei nº 4.024/61), o Brasil começa a crescer industrialmente e precisa <strong>de</strong><br />

mão <strong>de</strong> obra.<br />

Em 1967, foi criado o MOBRAL – Movimento Brasileiro <strong>de</strong> Alfabetização -<br />

em pleno contexto do regime militar brasileiro, cujo governo passa a controlar os<br />

programas, centralizando a alfabetização que objetivava o aumento do grau <strong>de</strong><br />

instrução do brasileiro ensinando a ler e escrever. Pois até então, cerca <strong>de</strong> duas<br />

décadas antes, os <strong>de</strong>bates sobre o analfabetismo no Brasil caminhavam para um<br />

novo mo<strong>de</strong>lo pedagógico on<strong>de</strong> o analfabetismo era tido <strong>como</strong> efeito da condição <strong>de</strong><br />

pobreza gerada por uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual. Os mo<strong>de</strong>los em pauta tinham a<br />

alfabetização e a <strong>educação</strong> partindo <strong>de</strong> um estudo crítico da realida<strong>de</strong> dos<br />

educandos, i<strong>de</strong>ntificando as origens <strong>de</strong> seus problemas e <strong>de</strong>senvolvendo as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> superá-los. Os programas <strong>de</strong> alfabetização com bases nessas<br />

orientações foram interrompidos pelo golpe militar e substituídos pelo MOBRAL.<br />

Havia, no plano do MOBRAL, a proposta <strong>de</strong> alfabetização funcional <strong>de</strong><br />

jovens e <strong>de</strong> adultos, que visava conduzir a pessoa humana a adquirir técnicas <strong>de</strong><br />

leitura escrita e cálculo, <strong>como</strong> meio <strong>de</strong> integrá-la a sua comunida<strong>de</strong>, permitindo<br />

melhores condições <strong>de</strong> vida. Mas os resultados práticos permaneceram apenas na<br />

alfabetização. O mo<strong>de</strong>lo foi bastante criticado por ter <strong>como</strong> preocupação principal<br />

apenas ensinar a ler e escrever, sem nenhuma relação com a formação do homem<br />

intenção do <strong>de</strong>senvolvimento social dos educandos do programa, nesse período se<br />

<strong>de</strong>staca o movimento pedagógico tecnicista.<br />

A partir <strong>de</strong> 1964, durante o regime militar brasileiro, um acordo contendo<br />

uma série <strong>de</strong> convênios entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States<br />

Agency for International Development (USAID), tinha o objetivo <strong>de</strong> realizar uma<br />

reforma universitária através da implantação do mo<strong>de</strong>lo norte americano, visando à<br />

contratação <strong>de</strong> assessores americanos para auxiliar nas reformas da <strong>educação</strong><br />

pública em todos os níveis <strong>de</strong> ensino. O movimento estudantil da época discordou<br />

dos acordos. O resultado disso foi a ida das organizações estudantis para a<br />

52


clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. Para estudiosos da época o ensino superior exerceria um papel<br />

estratégico, porque caberia a ele forjar o novo quadro técnico que <strong>de</strong>sse conta do<br />

novo projeto econômico brasileiro, alinhado com a política norte-americana.<br />

Alguns setores acreditavam que o acordo MEC/USAID acabaria levando a<br />

<strong>educação</strong> brasileira à privatização do ensino no Brasil, por conta da violenta<br />

oposição aos acordos MEC/USAID nos meios estudantis e intelectuais, o governo<br />

criou em 1968 um grupo <strong>de</strong> trabalho encarregado <strong>de</strong> estudar a reforma e propor<br />

outro mo<strong>de</strong>lo.<br />

A <strong>educação</strong> <strong>como</strong> direito subjetivo é garantida na Constituição <strong>de</strong> 1988, na<br />

Lei 9.394/96 e no Plano Nacional <strong>de</strong> Educação sancionado em 2001 pelo presi<strong>de</strong>nte<br />

da republica Fernando Henrique Cardoso, com duração <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos. Em síntese o<br />

plano tem <strong>como</strong> objetivos:<br />

• A elevação global do nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> da população;<br />

• A melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino em todos os níveis;<br />

• A redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e regionais no tocante ao<br />

acesso a permanência, com sucesso, na <strong>educação</strong> pública e;<br />

• Democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos<br />

oficiais, obe<strong>de</strong>cendo aos princípios da participação dos profissionais da <strong>educação</strong> na<br />

elaboração do projeto pedagógico e a participação das comunida<strong>de</strong>s escolar e local<br />

em conselhos escolares ou equivalentes.<br />

Passados quase <strong>de</strong>z anos da promulgação do plano, os resultados não são<br />

positivos, segundo dados do MEC (2008), o plano aprimorou os sistemas <strong>de</strong><br />

informação e avaliação com exceção da <strong>educação</strong> infantil, implantou o ensino<br />

fundamental <strong>de</strong> nove anos. Por outro lado, em 2008, os índices mostram que ainda<br />

se está longe da universalização do ensino fundamental, 2,4% dos brasileiros <strong>de</strong> 7 a<br />

14 anos ainda estavam fora da escola, uma queda <strong>de</strong> 1,1% em relação aos dados<br />

<strong>de</strong> 2001. Apesar do avanço e do percentual baixo, os números absolutos ainda<br />

assustam: são 680 mil crianças sem estudar - 450 mil <strong>de</strong>las negras e pardas; nas<br />

creches somente 17,1% das crianças são atendidas (veja o gráfico abaixo),<br />

53


Figura 4<br />

São 33 pontos percentuais abaixo do esperado <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r 50% das crianças<br />

<strong>de</strong> até três anos. No que diz respeito às metas referentes ao abandono escolar, os<br />

resultados são bons: entre 2001 e 2007, os índices no Ensino Fundamental caíram<br />

<strong>de</strong> 9,6 para 4,8% (exatos 50%). Mas o mesmo não aconteceu para as metas<br />

referentes à reprovação que, por sua vez, aumentou <strong>de</strong> 11 para 12,1% no mesmo<br />

período. Quanto à erradicação do analfabetismo, entre 2001 e 2008, a taxa <strong>de</strong><br />

analfabetismo caiu apenas <strong>de</strong> 13% (16 milhões <strong>de</strong> pessoas) para 10% (14,5<br />

milhões), assegurar a EJA para 50% da população que não cursou o ensino regular,<br />

10,9 milhões <strong>de</strong> pessoas fizeram parte <strong>de</strong> turmas <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos<br />

(EJA) (veja o gráfico abaixo).<br />

54


Figura 5<br />

Parece muito, mas representa apenas um terço dos mais <strong>de</strong> 29 milhões <strong>de</strong><br />

pessoas que não chegaram à 4ª série e seria o público-alvo <strong>de</strong>ssa faixa <strong>de</strong> ensino. A<br />

implantação do piso salarial e dos planos <strong>de</strong> carreira previstos para cumprir a meta<br />

já em 2001, não foi concretizada e veio bem <strong>de</strong>pois: o piso se tornou uma realida<strong>de</strong><br />

apenas em 2009, com o valor, que neste ano chega a 1.024 reais para 40 horas<br />

trabalhadas. Hoje se discute um novo plano, porém as principais questões são<br />

referentes às garantias da qualida<strong>de</strong> do ensino.<br />

2.3 Educação escolar: um mo<strong>de</strong>lo a ser repensado<br />

No planejamento da <strong>educação</strong>, estão presentes recursos básicos para se<br />

obter o <strong>de</strong>senvolvimento local da escola, juntamente com a comunida<strong>de</strong>, mas a<br />

escola que conhecemos no Brasil tem <strong>como</strong> referência a burocracia, seja no sistema<br />

<strong>de</strong> ensino ou na organização e nos resultados práticos não contribui para que a<br />

classe trabalhadora obtenha uma competente formação que possibilite ascensão<br />

social.<br />

A escola <strong>de</strong> hoje não gera a divisão <strong>de</strong> classes, <strong>como</strong> se imaginava há<br />

algum tempo, são as socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe que geram a escola e inserem nela as<br />

55


eferências intelectuais e morais <strong>de</strong> interesse da classe e cultura dominante. Como<br />

<strong>de</strong>screve Saviani:<br />

A escola é <strong>de</strong>terminada socialmente; a socieda<strong>de</strong> em que vivemos, fundada<br />

no modo <strong>de</strong> produção capitalista, é dividida em classes fundada em<br />

interesses opostos; portanto, a escola sofre a <strong>de</strong>terminação do conflito <strong>de</strong><br />

interesses que caracteriza a socieda<strong>de</strong>. Consi<strong>de</strong>rando-se que a classe<br />

dominante não tem o interesse na transformação histórica da escola (ela<br />

está empenhada na preservação <strong>de</strong> seu domínio, portanto, apenas acionará<br />

mecanismos <strong>de</strong> adaptação que evitem a transformação) (SAVIANI, 2009:<br />

p.28).<br />

Em seu interior, a escola funciona <strong>de</strong> maneira burocrática tanto nos níveis<br />

administrativos quanto pedagógicos e as características <strong>de</strong> funcionamento têm suas<br />

funções <strong>de</strong>limitadas pelo sistema empresarial capitalista. As buscas por resultados<br />

eficientes e eficazes são as referências que norteiam as práticas e processos<br />

pedagógicos, reduzindo o papel do professor <strong>como</strong> agente das operações a serem<br />

executadas e, <strong>de</strong>ssa forma, reduzindo a autonomia docente <strong>de</strong> autor do processo <strong>de</strong><br />

ensino. A pedagogia tecnicista (SAVIANI, 1983, p. 13-19), implantada pelas políticas<br />

educacionais dos anos 60 e 70, tinha, <strong>como</strong> primeiro plano, a racionalida<strong>de</strong>, a<br />

eficiência e a produtivida<strong>de</strong>. Ela buscava fazer do ensino racional e objetivo. O<br />

ensino era direcionado no movimento da escola tecnicista, no qual a escola era<br />

totalmente voltada para o mercado <strong>de</strong> trabalho. O movimento não priorizava o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da cidadania ou o <strong>de</strong>senvolvimento social; ele era eficaz para o<br />

preparo <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra para servir o setor produtivo industrial, hoje o movimento<br />

pedagógico é pautado em interações do aluno, da escola e da socieda<strong>de</strong> local.<br />

Hoje, a <strong>educação</strong> no Brasil preconiza <strong>como</strong> objetivo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano e o <strong>de</strong>senvolvimento do território. Para isso, veem nas <strong>de</strong>mandas da<br />

comunida<strong>de</strong> elementos estruturantes do processo pedagógico. Neste sentido,<br />

busca-se um ensino com foco no local, mas que não negligencia as questões<br />

globais.<br />

Nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, ou mesmo metrópoles, <strong>como</strong> é o caso da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo, a população <strong>de</strong> baixa renda é, em sua maioria, formada por migrantes e<br />

a maior parte <strong>de</strong>les mora em periferias, nos limites da cida<strong>de</strong> ou em cida<strong>de</strong>s<br />

vizinhas. Em gran<strong>de</strong> parte, moram em ocupações <strong>como</strong> é o caso das construções<br />

em margens <strong>de</strong> córregos, em encostas e em áreas <strong>de</strong> manancial ou <strong>de</strong> preservação<br />

ambiental.<br />

56


As famílias que moram nessas comunida<strong>de</strong>s possuem culturas e costumes<br />

variados, em muitos aspectos, por exemplo, os moradores das favelas possuem<br />

carro novo e recolhem a taxa para ter a garagem privativa na própria comunida<strong>de</strong>,<br />

tudo bem organizado, possuem os eletrodomésticos e instalações essenciais <strong>de</strong> um<br />

lar, <strong>como</strong> é o caso <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> televisão pagos, Internet <strong>de</strong> alta velocida<strong>de</strong>,<br />

telefone, aparelho <strong>de</strong> micro-ondas, reprodutor <strong>de</strong> DVD, televisores <strong>de</strong> LED entre<br />

outros equipamentos. As crianças brincam <strong>de</strong> “games” nos computadores e nos<br />

televisores, jogam bola, empinam pipas entre outras ativida<strong>de</strong>s.<br />

Antes da <strong>educação</strong> organizada, sistematizada e intencional que se tem na<br />

escola, a criança é educada pela família e pelo meio em que vive, no caso <strong>de</strong>ssas<br />

favelas dos gran<strong>de</strong>s centros, elas crescem com uma comunida<strong>de</strong> que conquista<br />

objetos <strong>de</strong> consumo e difun<strong>de</strong>m sua cultura na gíria, música, atitu<strong>de</strong>s entre outros<br />

aspectos que são admirados e servem <strong>de</strong> referência <strong>como</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das<br />

conquistas dos moradores locais. Uma maneira difundida <strong>de</strong> conceito cultural sobre<br />

as conquistas, nesse meio, é a <strong>de</strong> que a escola não tem muita serventia na vida <strong>de</strong><br />

uma pessoa, <strong>como</strong> é o caso dos jovens que cresceram nas comunida<strong>de</strong>s,<br />

acompanhando a evolução dos adultos mais próximos, sejam os familiares ou<br />

vizinhos, que não precisaram diretamente <strong>de</strong> uma escola para conquistar os<br />

objetivos alcançados na vida. São pessoas que não estudaram para atingir uma<br />

estabilida<strong>de</strong> na comunida<strong>de</strong> local, a escola por sua vez é vista pela comunida<strong>de</strong><br />

mais pobre <strong>como</strong> algo <strong>de</strong> pouca utilida<strong>de</strong>, importante apenas para ficar longe do<br />

analfabetismo. A escola pública <strong>de</strong> hoje possui a fama <strong>de</strong> aprovar os alunos sem<br />

precisar necessariamente que eles aprendam o mínimo do conteúdo, seguir os<br />

estudos em nível superior é algo que poucos almejam, pois a maioria atinge<br />

algumas conquistas sem precisar da escola, a cultura <strong>de</strong> estudar para conquistar um<br />

bom emprego é algo longe da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s.<br />

Os moradores <strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s estão locados ao lado <strong>de</strong> outras<br />

comunida<strong>de</strong>s, que são os moradores dos condomínios que estão logo ali, no mesmo<br />

bairro, são os moradores <strong>de</strong> classe média que possuem uma gran<strong>de</strong> preocupação<br />

com os estudos, porque em geral não são her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s e indústrias.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma classe social que, em geral, consi<strong>de</strong>ra os estudos <strong>como</strong> uma<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ascensão ou, no mínimo, a manutenção dos padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

57


<strong>de</strong> vida que possuem. Nesse caso, os pais, quando têm condições financeiras,<br />

matriculam seus filhos em escolas privadas, em busca <strong>de</strong> uma melhor qualida<strong>de</strong> e<br />

ensino, ou recorrem ao ensino publico, local. Os dois grupos sociais <strong>de</strong>scritos acima<br />

divi<strong>de</strong>m um pequeno espaço que é o bairro on<strong>de</strong> vivem, a proximida<strong>de</strong> física é<br />

inversamente proporcional à convivência social.<br />

A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> surge nas regiões metropolitanas <strong>como</strong><br />

alternativa a essas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> culturas variadas, que não acreditam na<br />

<strong>educação</strong> escolar da forma que lhes é apresentada. A escola pública <strong>de</strong> bairro<br />

convive com gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> e tem, entre seus objetivos, a convivência produtiva<br />

entre diferentes, contudo, na prática, não é bem o que acontece a ação da escola<br />

acaba promovendo o acirramento do conflito.<br />

A escola acaba não dando conta <strong>de</strong> lidar com o jovem estudante que chega<br />

à sala <strong>de</strong> aula sem muita perspectiva. Ele cresceu em famílias cujos componentes<br />

não tiveram histórias <strong>de</strong> sucesso na escola e acabam assumindo a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a<br />

escola é para alguns, para aqueles que têm jeito para o estudo e não para todos<br />

<strong>como</strong> preconiza a lei. Essas pessoas, embora valorizem a escola <strong>como</strong> um caminho<br />

importante para as conquistas pessoais <strong>de</strong> seus filhos, em muitos casos, veem no<br />

fracasso <strong>de</strong>stes, uma repetição da própria história. Isto gera dificulda<strong>de</strong>s para<br />

acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento dos filhos, sobretudo, quando estes apresentam<br />

dificulda<strong>de</strong>s na escola. São aqueles que, no processo <strong>de</strong> escolarização, assumiram<br />

uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> subalterna. Almeida (2005) ao referir-se à <strong>inclusão</strong> do subalternizado<br />

assim se manifesta:<br />

Para esse autor:<br />

Aos poucos foi ficando evi<strong>de</strong>nte que muitas crianças que frequentam a<br />

escola todos os dias, na realida<strong>de</strong> estão excluídas porque não participam<br />

do que acontece <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula, assumindo uma condição <strong>de</strong><br />

subalterno (Almeida, 2005: p.69).<br />

Essa condição não é construída apenas no universo escolar, mas na<br />

escola é reforçada, transformada em estigma. Muitas crianças que chegam<br />

à escola, em função da cor da pele, do lugar on<strong>de</strong> mora ou da condição<br />

social assumem o estigma <strong>de</strong> inferiores. (Almeida, 2005: p.69).<br />

Os jovens que vivem em situação <strong>de</strong> pobreza e vulnerabilida<strong>de</strong> social e<br />

cujas famílias são analfabetas ou semi alfabetizadas, não tendo a cultura escrita<br />

58


<strong>como</strong> uma referência para a sua sobrevivência, na escola, convivem com os outros<br />

jovens, cujas famílias possuem maior grau <strong>de</strong> escolarização e que, na convivência<br />

familiar, é enfatizado o valor social da escola. Isso faz com que as crianças que vêm<br />

<strong>de</strong> famílias escolarizadas se <strong>de</strong>senvolvam melhor nos estudos justamente pelo fato<br />

<strong>de</strong> o processo <strong>de</strong> escolarização fazer alguma diferença na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das<br />

famílias. Essas famílias se apresentam com maiores condições <strong>de</strong> acompanhar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos filhos ou mesmo <strong>de</strong> cobrar da escola um ensino <strong>de</strong> melhor<br />

qualida<strong>de</strong>, interferindo inclusive nas discussões sobre os resultados apresentados<br />

nas reuniões.<br />

Aqueles que vivem em situação <strong>de</strong> pobreza chegam à escola sem acreditar<br />

nela. Como não possuem no núcleo familiar histórias <strong>de</strong> sucesso na escola têm<br />

muito mais dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acreditar que com ele será diferente. Incluir na vida a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolarização é mais difícil quando a experiência <strong>de</strong> vida familiar<br />

não corrobora com isso, embora mesmo as famílias pobres assumam diante dos<br />

seus filhos o discurso segundo o qual a escola é o caminho para as conquistas<br />

pessoais.<br />

Frente a esse panorama, temos uma escola que, por si, já possui uma<br />

estrutura <strong>de</strong> convivência que separa os estudantes. O termo separação não se<br />

refere à separação física e, sim, à separação <strong>de</strong> culturas. Os alunos são<br />

provenientes <strong>de</strong> culturas muito distintas, nas quais os processos <strong>de</strong> escolarização<br />

são vividos <strong>de</strong> modo diferente. Na escola, as crianças organizam-se naturalmente<br />

em grupos com maiores afinida<strong>de</strong>s nas diversas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Há grupos distintos por diversos motivos, o corpo docente encontra<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensinar aos estudantes que se esforçam em apren<strong>de</strong>r, fazer as tarefas<br />

e participar das aulas ativamente, isso torna o ensino na sala <strong>de</strong> aula “nivelado por<br />

cima”. Os estudantes que não acompanham são vistos <strong>como</strong> “abaixo da média”.<br />

Deslocados no ambiente escolar <strong>de</strong>senvolvem a prática da indisciplina. Alunos que<br />

dão problemas na sala <strong>de</strong> aula são facilmente rejeitados pelo corpo docente que não<br />

quer esses “problemas” em sua aula, e consequentemente a rejeição ou reprovação<br />

migra para o nível da escola e reforça <strong>como</strong> prática comum <strong>como</strong> afirma Almeida:<br />

Uma idéia bastante frequente nos discursos da escola e que se configura<br />

<strong>como</strong> po<strong>de</strong>rosa aliada à exclusão é oposição <strong>de</strong> uma minoria <strong>de</strong> alunos que<br />

59


não querem nada a uma suposta maioria <strong>de</strong> alunos ávida pelo saber<br />

(ALMEIDA, 2005: p.63).<br />

Os resultados negativos que por sua vez retornam para os pais, durante as<br />

reuniões, os insucessos <strong>de</strong> seus filhos, também acaba por afastar as famílias do<br />

convívio escolar. Essa diferença entre os grupos <strong>de</strong> alunos e dos pais faz da sala <strong>de</strong><br />

aula um local on<strong>de</strong> se aumenta a diferença entre os estudantes on<strong>de</strong> os que não<br />

vão bem nos estudos têm reforçado o conceito <strong>de</strong> que escola não é para ele. Enfim,<br />

a escola, em um primeiro momento, afasta os alunos com baixo aproveitamento e<br />

indisciplina e, em um segundo momento, afasta os pais <strong>de</strong>sses alunos. Com essa<br />

falta <strong>de</strong> sucesso a escola reforça o conceito <strong>de</strong> estar distante da comunida<strong>de</strong> local.<br />

Neste contexto se fortalece a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repensar a escola, construir<br />

uma escola capaz <strong>de</strong> lidar com os diferentes, sem expulsar aquele que não está <strong>de</strong><br />

acordo com o padrão. Uma escola com esse perfil enten<strong>de</strong> que os pais dos alunos<br />

com dificulda<strong>de</strong>s são geralmente filhos <strong>de</strong> pais que também tiveram dificulda<strong>de</strong>s e<br />

que precisam ser inseridos em um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> uma imagem <strong>de</strong><br />

escola <strong>como</strong> espaço para apenas alguns. A afirmação <strong>de</strong> uma nova imagem <strong>de</strong><br />

escola, fundada na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a <strong>educação</strong> escolar é um direito e que o próprio<br />

fracasso na escola se relaciona também a diversos fatores externos e não apenas à<br />

falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação ou <strong>de</strong> aptidão para o estudo. A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> surge<br />

neste cenário <strong>como</strong> uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repensar o atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola.<br />

2.4 Educação <strong>contextualizada</strong><br />

A socieda<strong>de</strong> é formada por um conjunto <strong>de</strong> pessoas que divi<strong>de</strong>m e<br />

compartilham <strong>de</strong> uma cultura comum. Se o conhecimento <strong>de</strong> um estudante tiver<br />

alguma ligação com a matéria estudada, o conteúdo transmitido é reconhecido e<br />

associado à experiência <strong>de</strong> vida e se torna mais fácil <strong>de</strong> ser absorvido. Há uma<br />

conexão entre o conhecimento que se possui e o ensino, o estudante po<strong>de</strong> conectar<br />

as informações do conhecimento que possui com as referências do ensino<br />

sistematizado pelo professor, se o mesmo estiver atento à abertura para os<br />

conhecimentos que o estudante possui. Segundo Morin (2002), o conhecimento está<br />

60


focado em todos os níveis <strong>de</strong> <strong>educação</strong> “dizem respeito aos sete buracos negros da<br />

<strong>educação</strong>, completamente ignorados, subestimados ou fragmentados nos<br />

programas educativos”.<br />

Durante o <strong>de</strong>senvolvimento da criança, ela inicia a fala e <strong>de</strong>pois a escrita, os<br />

conhecimentos vão sendo encaixados e acumulados, sendo que um antigo<br />

conhecimento serve <strong>de</strong> alicerce e fornece estrutura para um novo conhecimento. Ao<br />

ingressar na escola, os novos conhecimentos virão <strong>de</strong> uma maneira sistematizada e<br />

intencional para o sucesso da aprendizagem. Nesse período o estudante passa a<br />

seguir regras necessárias para resolver operações matemáticas, produzir textos com<br />

regras gramaticais. A preocupação maior fica por conta dos objetivos a serem<br />

atingidos no futuro, a começar pelo resultado <strong>de</strong> uma tarefa ou uma prova. A<br />

aprovação na disciplina aponta para a hipótese <strong>de</strong> que, no futuro, po<strong>de</strong>-se ter uma<br />

vida profissional bem sucedida. A ligação natural <strong>de</strong> contextualização do que já se<br />

sabe (e que é natural da aprendizagem), passa a ficar em segundo plano, o<br />

professor prepara o aluno com as mudanças na estrutura <strong>de</strong> <strong>como</strong> ele apren<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser moldado o professor <strong>de</strong>ve fazer do aluno um cidadão crítico. Segundo<br />

MORIN:<br />

Nós seguimos, em primeiro lugar, um mundo formado pelo ensino<br />

disciplinar. É evi<strong>de</strong>nte que as disciplinas <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m ajudaram o avanço<br />

do conhecimento e são insubstituíveis. O que existe entre as disciplinas é<br />

invisível e as conexões entre elas também são invisíveis. Mas isso não<br />

significa que seja necessário conhecer somente uma parte da realida<strong>de</strong>. É<br />

preciso ter uma visão capaz <strong>de</strong> situar o conjunto. É necessário dizer que<br />

não é a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações, nem a sofisticação em matemática que<br />

po<strong>de</strong>m dar sosinhas um conhecimento pertinente, mas sim a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

colocar o conhecimento no contexto. (MORIN, 2002: p.27).<br />

A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> está sendo <strong>de</strong>senvolvida em todos os graus <strong>de</strong><br />

ensino, em todas as regiões do país. O ensino aproxima-se da cultura local e,<br />

através do contexto, se i<strong>de</strong>ntifica com o aluno. Referências do local <strong>como</strong> a cultura,<br />

moradia, agricultura, indústrias, comércios passam a ser mais importantes do que as<br />

referências globais, o educador sabe, por exemplo, que não irá tratar <strong>de</strong> questões <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento industrial com alunos <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> rural.<br />

Segundo Dowbor (2006), “a <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> visa a uma<br />

compreensão por parte dos alunos sobre o ambiente e da realida<strong>de</strong> em que se estão<br />

61


inseridos e são chamados para uma participação <strong>como</strong> cidadão e profissional”. A<br />

<strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> tem, <strong>como</strong> eixo central, a criação <strong>de</strong> condições para a<br />

permanência do cidadão na sua região, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformá-la com vistas<br />

a produzir melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida humana coletiva. Ela questiona mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

escola que trata a <strong>educação</strong> <strong>como</strong> um trampolim para escapar da região <strong>de</strong> origem<br />

ou para alcançar um lugar na parte mais alta da pirâmi<strong>de</strong> social. A <strong>educação</strong><br />

<strong>contextualizada</strong> vem se constituindo na base para <strong>de</strong>senvolvimento local, uma<br />

alternativa para a superação da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre as pessoas, entre as cida<strong>de</strong>s e<br />

mesmo entre as regiões do país.<br />

No trecho seguinte Dowbor (2006) apresenta a <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong><br />

<strong>como</strong> um <strong>instrumento</strong> importante para o <strong>de</strong>senvolvimento local que ele aponta <strong>como</strong><br />

uma possibilida<strong>de</strong> concreta dos cidadãos tomarem nas mãos a própria história.<br />

Esta visão <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos ser donos da nossa própria transformação<br />

econômica e social, <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento não se espera mas se faz,<br />

constitui uma das mudanças mais profundas que está ocorrendo no país.<br />

Tira-nos da atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> espectadores críticos <strong>de</strong> um governo sempre<br />

insuficiente, ou do pessimismo passivo. Devolve ao cidadão a compreensão<br />

<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> tomar o seu <strong>de</strong>stino em suas mãos, conquanto haja uma<br />

dinâmica social local que facilite o processo, gerando sinergia entre diversos<br />

esforços. (DOWBOR, 2006: p.1).<br />

A i<strong>de</strong>ia da <strong>educação</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento local está diretamente<br />

vinculada a esta compreensão e à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se formar pessoas que possam<br />

participar <strong>de</strong> forma ativa das iniciativas capazes <strong>de</strong> transformar o seu entorno, <strong>de</strong><br />

gerar dinâmicas construtivas. Hoje, quando se tenta promover iniciativas <strong>de</strong>ste tipo,<br />

constata-se que não só os jovens, mas inclusive os adultos <strong>de</strong>sconhecem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

origem do nome da sua própria rua, até os potenciais geográficos da região on<strong>de</strong> se<br />

criaram. A <strong>educação</strong> atual se constitui <strong>de</strong> valores e concepções equivocadas sobre a<br />

realida<strong>de</strong> da região em que se vive. Ela reproduz nas escolas a imagem<br />

estereotipada <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> improdutiva, pobre e sem potencial <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, reforçando a imagem, sobretudo nas regiões pobres, <strong>de</strong> que se<br />

<strong>de</strong>vem procurar recursos para viver em outro lugar. Essa é uma visão que durante<br />

muito tempo foi cultivada no Brasil com relação à região Nor<strong>de</strong>ste e que hoje vem<br />

sendo modificada pela <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong>. Isso ocorre, em outras regiões do<br />

país, <strong>como</strong> mostra o trecho seguinte:<br />

62


Nos municípios médios e pequenos é muito mais fácil perceber uma<br />

articulação do <strong>de</strong>senvolvimento com as necessida<strong>de</strong>s locais. São exemplos<br />

óbvios <strong>como</strong> Pintadas, na Bahia, que, <strong>como</strong> está no semiárido, está<br />

ensinando para a realida<strong>de</strong> do semiárido, está educando as pessoas para<br />

enfrentar a realida<strong>de</strong> da própria região. E isso funciona também em Santa<br />

Catarina e em tantos outros municípios. Há um programa chamado Minha<br />

escola, meu lugar, em que numa pequena localida<strong>de</strong> adaptaram, com as<br />

propostas do trabalho realizado pelo Doutor Marcos Jacob, da Embrapa<br />

Meio-Norte, a garantia no município <strong>de</strong> uma <strong>educação</strong> que não seja<br />

simplesmente voltada para o contexto dos gran<strong>de</strong>s centros, mas da<br />

implantação, no currículo escolar, <strong>de</strong> ações voltadas à realida<strong>de</strong> local. No<br />

plano metropolitano, tudo é mais complexo. A escola atinge praticamente<br />

um terço da população. Somando alunos, professores, administradores,<br />

escolares, etc., no Brasil, são 60 milhões <strong>de</strong> pessoas, o que correspon<strong>de</strong> a<br />

um terço da população do País. Então, um país extremamente capilar, são<br />

todas as famílias, são todos os bairros, daí você precisa pensar não apenas<br />

na visão, digamos <strong>de</strong> Brasil, você tem que pensar para o caso <strong>de</strong> regiões<br />

metropolitanas. Você já tinha que pensar num bairro, porque a escola tem<br />

que se inserir <strong>de</strong> maneira extremamente <strong>de</strong>nsa no bairro. E aí o próprio<br />

conceito <strong>de</strong> administração <strong>de</strong>sses processos tem que ser revisto. É<br />

importante que as crianças frequentem as escolas, não escolhendo a escola<br />

melhorzinha aqui e ali, mas uma escola que fique a uma distância em que<br />

se possa ir a pé. Hoje se trabalha muito o conceito <strong>de</strong> a criança po<strong>de</strong>r ir a<br />

pé da escola para a casa, o que significa tornar as escolas menores.<br />

(ALMEIDA; NHOQUE, apud DOWBOR, 2010: p.2).<br />

Para que haja cidadania ativa, <strong>de</strong>ve haver uma cidadania informada, e isto<br />

começa cedo. A <strong>educação</strong> não <strong>de</strong>ve servir apenas <strong>como</strong> trampolim para uma<br />

pessoa escapar da sua região, e sim lhe dar os conhecimentos necessários para<br />

ajudar a transformá-la e com isto melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida humana coletiva.<br />

2.5 Desenvolvimento local<br />

Em geral, um município se <strong>de</strong>senvolve com influência direta <strong>de</strong> eventos<br />

vindos <strong>de</strong> fora, <strong>como</strong>, por exemplo, uma pequena cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interior on<strong>de</strong> a maior<br />

fonte <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> riquezas está sujeita às variações da agricultura ou da<br />

pecuária local, não oferece perspectivas para o <strong>de</strong>senvolvimento local e social. Os<br />

cidadãos que almejarem viver em um local com maior <strong>de</strong>senvolvimento possuem<br />

basicamente a alternativa <strong>de</strong> migrar para outro espaço, para po<strong>de</strong>r se <strong>de</strong>senvolver.<br />

Em Lins, uma cida<strong>de</strong> do interior <strong>de</strong> São Paulo, com 73.000 habitantes, distante 455<br />

km da capital, havia a segunda maior indústria <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> carnes da<br />

América Latina. Tratava-se do maior complexo industrial da região que empregava<br />

1200 funcionários diretos. Não havia outra empresa em um raio <strong>de</strong> 70 km, as<br />

63


cida<strong>de</strong>s mais próximas com maior população são Araçatuba distante 70 km com<br />

uma população <strong>de</strong> 181.000 habitantes e Bauru, distante 108 km com uma população<br />

<strong>de</strong> 360.000 habitantes. Com esse panorama, a cida<strong>de</strong> vivia basicamente da indústria<br />

<strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> carnes, direta ou indiretamente, ressaltando o fato <strong>de</strong> ser a<br />

única indústria da região.<br />

A indústria da cida<strong>de</strong>, em conjunto com o SENAI, implantou <strong>de</strong>ntro da<br />

fábrica, cursos técnicos profissionalizantes somente para os funcionários, esses,<br />

mesmo estudando fora do horário <strong>de</strong> trabalho, pagavam para estudar, ou seja, quem<br />

não trabalhava na gran<strong>de</strong> indústria <strong>de</strong> carnes, não podia frequentar a escola e, por<br />

outro lado, a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> engenharia da cida<strong>de</strong> era privada e não oferecia curso<br />

superior no período noturno. Além disso, as suas mensalida<strong>de</strong>s não condiziam com<br />

a realida<strong>de</strong> econômica da cida<strong>de</strong>. É óbvio que a indústria em questão não tinha<br />

interesse em compartilhar com a socieda<strong>de</strong> local os cursos técnicos que oferecia em<br />

parceria com o Senai, pois o corpo discente se manifestava ansioso para concluir o<br />

curso e assim po<strong>de</strong>r sair da cida<strong>de</strong> e almejar uma vida melhor em uma cida<strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong>senvolvida, por razões óbvias, em especial por conta da faixa salarial muito<br />

abaixo da média no interior paulista. Diante <strong>de</strong>ssa situação, os moradores da cida<strong>de</strong><br />

não tinham perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento se não fosse através da indústria local<br />

ou <strong>de</strong> outra gran<strong>de</strong> indústria que se instalasse na cida<strong>de</strong>, uma vez que as cida<strong>de</strong>s<br />

ligeiramente maiores estão no mínimo a uma distância <strong>de</strong> 70 km.<br />

Percebe-se um cenário no qual as pessoas com <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ascensão social<br />

buscam trabalhar em uma indústria para ter a chance <strong>de</strong> estudar e mudar-se da<br />

cida<strong>de</strong>, “a nossa tradição nos leva as economias <strong>de</strong> escala. Quando pensamos em<br />

empresas que, <strong>de</strong> certa forma, simbolizam para nós o <strong>de</strong>senvolvimento mo<strong>de</strong>rno,<br />

vemos escalas <strong>de</strong> produção muito elevadas, <strong>como</strong> é o caso <strong>de</strong> empresas<br />

automobilísticas ou <strong>de</strong> eletrodomésticos” (DOWBOR, 2008: p.33). As políticas<br />

públicas também não ajudavam para reverter esse quadro. O processo <strong>de</strong><br />

industrialização <strong>de</strong> uma região <strong>de</strong>senvolve a cultura <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>pendência da<br />

socieda<strong>de</strong>, pois se torna mais prático para o cidadão a passivida<strong>de</strong>, “por outro lado,<br />

<strong>como</strong> o gigantismo das empresas as leva em geral a produzir em massa, <strong>de</strong> forma<br />

muito padronizada, per<strong>de</strong>-se, na produção em gran<strong>de</strong> escala, a flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

resposta ao que é realmente necessário para os diferentes indivíduos ou grupos que<br />

64


compõe a socieda<strong>de</strong>” (DOWBOR, 2008: p.34). Ainda se referindo à passivida<strong>de</strong> da<br />

socieda<strong>de</strong> frente ao po<strong>de</strong>r centralizado no interesse das gran<strong>de</strong>s economias Dowbor<br />

discorre, apontando duas fontes principais:<br />

A nossa passivida<strong>de</strong> tem sido alimentada e realimentada em duas fontes. A<br />

primeira é o liberalismo, que nos ensina que <strong>de</strong>vemos evitar <strong>de</strong> nos<br />

intrometer na construção do mundo que nos cerca, porque existe uma “mão<br />

invisível”, o mercado, que assegura que chegaremos automaticamente ao<br />

“melhor dos mundos”. O que nos explicam, na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negar os<br />

absurdos, é que os outros caminhos são piores.<br />

A segunda é a da visão “estatizante”, que nos assegura que o planejamento<br />

central porá or<strong>de</strong>m em nossas vidas, simplificação que já foi <strong>de</strong>smentida<br />

pelos fatos. (DOWBOR, 2008: p.12).<br />

A socieda<strong>de</strong> local não tinha autonomia para <strong>de</strong>senvolver-se e vivia à espera<br />

da chegada <strong>de</strong> outra gran<strong>de</strong> indústria, entretanto, isso não ocorreu. A solução seria<br />

a <strong>educação</strong>, conforme resume Dowbor:<br />

A idéia <strong>de</strong> <strong>educação</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento local está diretamente<br />

vinculada a esta compreensão, e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se formar pessoas que<br />

amanhã possam participar <strong>de</strong> forma ativa das iniciativas capazes <strong>de</strong><br />

transformar o seu entorno, <strong>de</strong> gerar dinâmicas construtivas. Hoje, quando<br />

se tenta promover iniciativas <strong>de</strong>sse tipo, constata-se que não só os jovens,<br />

mas inclusive os adultos <strong>de</strong>sconhecem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a origem do nome <strong>de</strong> sua<br />

própria rua até os potenciais do subsolo da região on<strong>de</strong> se criaram. Para<br />

termos cidadania ativa, temos <strong>de</strong> ter uma cidadania informada, e isto<br />

começa cedo. A <strong>educação</strong> não <strong>de</strong>ve apenas servir <strong>como</strong> trampolim para<br />

uma pessoa escapar da sua região: <strong>de</strong>ve dar-lhe os conhecimentos<br />

necessários para ajudar a transformá-la. (DOWBOR, 2006: p.1).<br />

A visão <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento chega até uma região através <strong>de</strong><br />

investimentos <strong>de</strong> instalações <strong>de</strong> empresas privadas ou uma gran<strong>de</strong> obra<br />

governamental, sempre prevaleceu na cultura brasileira. A comunida<strong>de</strong> espera, <strong>de</strong><br />

forma passiva, que o <strong>de</strong>senvolvimento venha <strong>de</strong> fora com dinâmicas <strong>de</strong> políticas<br />

públicas. Os recursos e projetos externos são importantes, mas <strong>de</strong>vem existir<br />

apenas <strong>como</strong> um complemento da dinâmica da própria socieda<strong>de</strong> local. Várias<br />

regiões, municípios e comunida<strong>de</strong>s, construíram espaços <strong>de</strong> mobilização,<br />

organizaram-se e <strong>de</strong>senvolveram-se através dos potenciais disponíveis no local; a<br />

relevância do <strong>de</strong>senvolvimento acontecer através da organização local da<br />

comunida<strong>de</strong> leva ao <strong>de</strong>senvolvimento cultural e social <strong>como</strong> afirma Dowbor:<br />

Décadas <strong>de</strong> experiências com projetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento comprovam, no<br />

entanto, que a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-organização local, a riqueza do capital<br />

social, a participação cidadã e o sentimento <strong>de</strong> apropriação do processo<br />

pela comunida<strong>de</strong> são elementos vitais em sua consolidação. O<br />

<strong>de</strong>senvolvimento não é, meramente, um conjunto <strong>de</strong> projetos voltados ao<br />

65


crescimento econômico. É uma dinâmica cultural e política que transforma a<br />

vida social. (DOWBOR, 2009: p.5).<br />

Outras experiências no campo da <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> ocorreram na<br />

região do semi-árido nor<strong>de</strong>stino. Dessa forma os moradores <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> esperar<br />

pelo <strong>de</strong>senvolvimento e passaram a fazê-lo. No caso citado, o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u diretamente da ação da globalização, e sim do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local <strong>como</strong> afirma Dowbor:<br />

“Promover o <strong>de</strong>senvolvimento local não significa voltar às costas para os<br />

processos mais amplos, inclusive os planetários: significa utilizar as diversas<br />

dimensões territoriais segundo os interesses da comunida<strong>de</strong>” (DOWBOR,<br />

2006: p.3).<br />

Hoje, em quase todos os assuntos que dizem respeito ao <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

nos vetores das causas está a globalização, mas nem tudo é globalizado, <strong>de</strong> uma<br />

maneira mais simples, o espaço local está mais próximo da socieda<strong>de</strong>. Segundo<br />

Dowbor:<br />

É interessante constatar que quanto mais se <strong>de</strong>senvolve a globalização,<br />

mais as pessoas estão resgatando o espaço local, e buscando melhorar as<br />

condições <strong>de</strong> vida no seu entorno imediato. (DOWBOR, 2006: p.3).<br />

Dessa forma o <strong>de</strong>senvolvimento local contribui para a <strong>inclusão</strong> social,<br />

sobretudo, a <strong>inclusão</strong> da comunida<strong>de</strong> em questão, o conhecimento da cultura local<br />

em <strong>de</strong>trimento da cultura global – não em nível <strong>de</strong> substituição – <strong>como</strong> veículo<br />

urgente pela busca da autonomia particular e coletiva.<br />

2.6 Inclusão Social<br />

A questão da exclusão social no Brasil não é novida<strong>de</strong>, o que no início da<br />

colonização excluía os índios, excluiu a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escravos <strong>de</strong> origem africana,<br />

passou por mudanças <strong>de</strong> meios e formas <strong>de</strong> exclusão, e hoje exclui uma vasta<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> grupos, nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos, <strong>de</strong>ntre os mais comuns estão os<br />

moradores das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixa renda, são os favelados, sem renda,<br />

migrantes, sem teto entre outros <strong>de</strong> um modo geral. A evolução capitalista no Brasil<br />

vem provocando uma série <strong>de</strong> problemas sociais, conhecidos com a urbanização<br />

das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s. Nos anos 70 e 80, entendia-se que a formação da pobreza<br />

nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos era uma consequência do êxodo rural que os<br />

66


problemas <strong>de</strong> mendicância, da formação <strong>de</strong> favelas, da <strong>de</strong>linquência e da violência,<br />

tinham origem nos movimentos migratórios, em especial das regiões norte e<br />

nor<strong>de</strong>ste do país.<br />

O fenômeno da pobreza urbana manifesta-se na luta pelo mercado <strong>de</strong><br />

trabalho, pela renda, pelo acesso a bens <strong>de</strong> serviços. Há ainda raízes <strong>de</strong>ste<br />

fenômeno no modo <strong>de</strong> produção capitalista cujos resultados, entre outros,<br />

manifestam-se na exclusão. Inclui-se aqui o fato <strong>de</strong> as pessoas fugirem do campo<br />

em busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida na cida<strong>de</strong>, estes já ingressam no cenário<br />

urbano <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sigual seja por baixa escolarida<strong>de</strong> ou qualificação profissional,<br />

somadas à falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego.<br />

Nos gráficos, a seguir, busca-se i<strong>de</strong>ntificar a movimentação da população<br />

entre as regiões, somente na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e em relação ao rendimento<br />

familiar, para tal buscam-se os valores do total <strong>de</strong> migrantes por região do país no<br />

período <strong>de</strong> 2001 a 2007.<br />

Figura 6 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílios 2001/2007<br />

67


Os valores consultados junto ao IBGE referem-se ao percentual <strong>de</strong><br />

migrantes <strong>de</strong> outras regiões brasileiras. No gráfico, ao fundo, está a região centro-<br />

oeste com 37 por cento da população sendo migrantes, a maior representação <strong>de</strong><br />

pessoas resi<strong>de</strong>ntes não-naturais da região <strong>de</strong> residência; a região su<strong>de</strong>ste está ao<br />

centro com quase 20 por cento <strong>de</strong> migrantes e a região nor<strong>de</strong>ste com variações<br />

inferiores a um ponto percentual, apresenta o menor valor em migrantes.<br />

Os dados disponibilizados pelo IBGE remetem a uma procura maior na<br />

região Centro-oeste e a menor pela região Nor<strong>de</strong>ste, a primeira impressão que se<br />

tem é que há um interesse maior pela região Centro-oeste, Norte e Su<strong>de</strong>ste,<br />

respectivamente, e que os migrantes sejam na maioria da região Nor<strong>de</strong>ste. Vale<br />

ressaltar que a região su<strong>de</strong>ste apresenta queda no período conforme tabela abaixo:<br />

Tabela 1; Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílios 2001/2007<br />

No gráfico a seguir, recorre-se ao mesmo período e às mesmas regiões,<br />

porém os dados são <strong>de</strong> população em milhões <strong>de</strong> habitantes. A região su<strong>de</strong>ste, ao<br />

fundo, se <strong>de</strong>staca das outras regiões <strong>de</strong>vido a seus 80 milhões <strong>de</strong> habitantes, em<br />

seguida, está a região nor<strong>de</strong>ste também populosa com 54 milhões <strong>de</strong> habitantes, a<br />

região centro-oeste, com uma população <strong>de</strong> quase 14 milhões <strong>de</strong> habitantes é a <strong>de</strong><br />

menor número <strong>de</strong> habitantes.<br />

68


Figura 7; Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílios 2001/2007<br />

A seguir, o novo gráfico das pessoas não-naturais da região <strong>de</strong> residência<br />

com a população migrante <strong>de</strong> outras regiões em milhões <strong>de</strong> habitantes.<br />

69


Figura 8<br />

O que se constata é que se analisarmos a migração <strong>de</strong> pessoas por regiões,<br />

teremos uma impressão <strong>de</strong> que a região Centro-oeste é a mais procurada por<br />

pessoas que buscam viver em outra região, e a região Nor<strong>de</strong>ste é a que tem a<br />

menor procura, o que ocorre é que ao converter os dados <strong>de</strong> percentual para<br />

número <strong>de</strong> habitantes, a região su<strong>de</strong>ste posiciona-se com o maior volume <strong>de</strong><br />

migrantes <strong>de</strong> outras regiões, são 14 milhões <strong>de</strong> migrantes <strong>de</strong> outras regiões vivendo<br />

na região su<strong>de</strong>ste, o volume é maior do que toda a população da região Centrooeste,<br />

analisando esses valores é notório que a região su<strong>de</strong>ste é a mais procurada<br />

pelas pessoas que buscam viver em outra região.<br />

No gráfico abaixo, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo foi isolada para expor a evolução<br />

do percentual <strong>de</strong> migrantes <strong>de</strong> outras regiões no período <strong>de</strong> 2001 a 2007.<br />

70


em %<br />

19<br />

18,5<br />

18<br />

17,5<br />

17<br />

taxa <strong>de</strong> migrantes em São Paulo - SP<br />

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007<br />

Período<br />

Figura 9; Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílios 2001/2007.<br />

Da região Su<strong>de</strong>ste, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, até há uma década atrás, era<br />

consi<strong>de</strong>rada <strong>como</strong> a que mais recebia migrantes <strong>de</strong> todas as regiões do país, em<br />

busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida. A gran<strong>de</strong> maioria é <strong>de</strong> pessoas naturais das<br />

regiões Norte e Nor<strong>de</strong>ste. De acordo com os dados anteriores, observamos que a<br />

região Su<strong>de</strong>ste ainda concentra um gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> migrantes, porém é notório<br />

que o percentual <strong>de</strong>cresce nos últimos anos. Em relação à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, a<br />

redução é mais expressiva, o que expõe a evolução do <strong>de</strong>sinteresse pela cida<strong>de</strong>,<br />

conforme Dowbor discorre:<br />

Hoje, com o esgotamento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte do êxodo rural, o crescimento<br />

<strong>de</strong>mográfico migratório arrefeceu. A taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong><br />

São Paulo foi <strong>de</strong> 0,9% na última década. Mas as médias enganam.<br />

Enquanto bairros mais antigos têm hoje uma população estacionária, e o<br />

centro antigo <strong>de</strong> São Paulo apresenta até um crescimento negativo, na<br />

periferia convivemos com taxas <strong>de</strong> expansão muito fortes: Cida<strong>de</strong><br />

Tira<strong>de</strong>ntes, por exemplo, na periferia leste <strong>de</strong> São Paulo, apresentou uma<br />

taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> 8% ao ano durante a última década, Parelheiros <strong>de</strong><br />

7%, enquanto a Sé no centro recuava numa taxa <strong>de</strong> 2,2% ao ano. Na<br />

dimensão da Gran<strong>de</strong> São Paulo, observamos uma lógica semelhante.<br />

Estimativas do Sea<strong>de</strong> para 200/2003 apresentam uma taxa <strong>de</strong> crescimento<br />

anual <strong>de</strong> 6,9% para Itapevi, 5,1% para Caieiras, <strong>de</strong> 4,7% para Itapecirica da<br />

Serra, só para dar alguns exemplos. (DOWBOR, 2004: p.1).<br />

Esse panorama tem influência com o <strong>de</strong>senvolvimento local através da<br />

ampliação do microcrédito, <strong>como</strong> política <strong>de</strong> promoção econômica e social que,<br />

entre outros recursos, ajudaram a promover o <strong>de</strong>senvolvimento em outras regiões<br />

distantes da capital paulista. Segundo a Coor<strong>de</strong>nação do Programa Nacional <strong>de</strong><br />

Microcredito Orientado (PNMPO), junto ao MT, Ministério do Trabalho e emprego,<br />

em referência aos clientes <strong>de</strong> carteira ativa com data base <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2005,<br />

temos:<br />

71


REGIÃO<br />

MICROCRÉDITO POR REGIÃO<br />

CLIENTES VALOR DA CARTEIRA<br />

ATIVOS<br />

ATIVA<br />

VALOR MEDIO DOS<br />

CRÉDITOS<br />

SUL 24.003 52.987.455,00 2.208,00<br />

CENTRO-OESTE 3.194 3.766.863,00 1.179,00<br />

SUDESTE 19.432 20.629.421,00 1.062,00<br />

NORDESTE 43.073 32.935.334,00 765,00<br />

NORTE 2.571 5.242.812,00 2.039,00<br />

TOTAL BRASIL 92.273 115.561.885,00 1.252,00<br />

Tabela 2; Fonte: DOWBOR (2008) apud Ministério do trabalho (2005: p.311).<br />

O maior número <strong>de</strong> clientes está no Nor<strong>de</strong>ste, 43.073, para uma carteira<br />

ativa <strong>de</strong> R$ 32.935.334,00, o que representa um credito médio <strong>de</strong> R$ 765,00.<br />

A região Sul apresenta o maior valor em carteira ativa: R$ 52.987.455,00, e<br />

a segunda posição <strong>de</strong> clientes ativos, 24.003, com o maior valor médio <strong>de</strong> crédito:<br />

R$ 2.208,00.<br />

Os dados revelam uma solicitação <strong>de</strong> microcrédito para estrutura interna da<br />

microempresa informal, maior nas regiões Nor<strong>de</strong>ste e Sul. Nota-se que os dados da<br />

região Nor<strong>de</strong>ste apontam para a maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> clientes ativos e o menor valor<br />

médio <strong>de</strong> crédito em relação às outras regiões, isso significa o maior volume <strong>de</strong><br />

micro empreen<strong>de</strong>dores.<br />

Por outro lado, o gráfico abaixo mostra a constante queda no rendimento<br />

familiar na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

72


Unida<strong>de</strong> (1000 famílias)<br />

1600<br />

1400<br />

1200<br />

1000<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

0<br />

Famílias, por classes <strong>de</strong> rendimento mensal familiar (em salários mínimos)<br />

Unida<strong>de</strong> territorial São Paulo - SP<br />

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />

Período<br />

Ate 1 salário<br />

<strong>de</strong> 1 a 2 salários<br />

<strong>de</strong> 2 a 3 salários<br />

<strong>de</strong> 3 a 5 salários<br />

<strong>de</strong> 5 a 10 salários<br />

<strong>de</strong> 10 a 20 salários<br />

Mais <strong>de</strong> 20 salários<br />

Figura 10; Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílios 2001/2009.<br />

No gráfico acima, o volume <strong>de</strong> famílias da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, no período<br />

<strong>de</strong> 2001 a 2009, é apontado pela renda mensal em salários mínimo. Analisando os<br />

dados dos gráficos acima, é simples constatar que mesmo a região Su<strong>de</strong>ste, sendo<br />

a que recebe o maior número <strong>de</strong> migrantes <strong>de</strong> outras regiões, a gran<strong>de</strong> taxa <strong>de</strong><br />

migrantes vem sendo reduzida em seu maior referencial, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

No gráfico da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> famílias por renda em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> salários<br />

mínimo, é nítido o aumento das famílias que possuem um rendimento mensal<br />

familiar <strong>de</strong> até 6 salários mínimo e a redução nas famílias que possuem um<br />

rendimento mensal acima <strong>de</strong> 10 salários mínimo. Po<strong>de</strong>-se concluir que, ao longo <strong>de</strong><br />

quase <strong>de</strong>z anos, o número <strong>de</strong> pessoas vindas <strong>de</strong> outras regiões vem sofrendo uma<br />

constante redução. A gran<strong>de</strong> massa que, nos anos 1970 e 1980, migrava do Norte e<br />

Nor<strong>de</strong>ste do país, em busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida, diminuiu e, hoje, não se<br />

aponta para gran<strong>de</strong> interesse em mudar para região Su<strong>de</strong>ste. Por outro lado, a<br />

população <strong>de</strong> São Paulo está crescendo, a população <strong>de</strong> baixa renda também<br />

cresce, enquanto a população com renda maior está sendo reduzida ano a ano, em<br />

suma, a pobreza está crescendo tanto quanto a população, a riqueza está reduzindo<br />

e o número <strong>de</strong> migrantes também. Po<strong>de</strong>mos resumir que, <strong>de</strong> fato, hoje não são os<br />

migrantes a maior parcela componente da pobreza e má distribuição <strong>de</strong> renda da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. A pobreza aumenta por questões econômicas e sociais e,<br />

73


junto com ela, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos e, junto com isso, a<br />

cultura da exclusão social. As causas econômicas da exclusão incluem motivos<br />

globais, no caso a <strong>educação</strong>, e também razões históricas. Por ter sido iniciada na<br />

vida das pessoas ainda quando crianças, juntamente com o convívio social, acaba<br />

por ser a principal razão da exclusão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento <strong>de</strong> formação. A escola<br />

possui a característica <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r atuar <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>scentralizada procurando<br />

aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> local. Se a urgência na <strong>educação</strong> <strong>de</strong> uma<br />

metrópole for o <strong>de</strong>senvolvimento da cultura da <strong>inclusão</strong>, a <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong><br />

é a ferramenta <strong>de</strong> acesso local para iniciar o movimento da cultura <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento local na própria comunida<strong>de</strong>.<br />

A <strong>inclusão</strong> social é um processo complexo, se configura em dimensões<br />

materiais, afetivas, políticas, relacionais e subjetivas. É um processo dialético em<br />

relação à exclusão, envolve o homem e sua relação com os outros, sendo um<br />

produto do funcionamento do sistema e do meio. Está ligada diretamente à pobreza<br />

e à <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. A pobreza não é somente a pobreza <strong>como</strong> referência <strong>de</strong> baixa<br />

renda, uma vez que a questão da renda está diretamente ligada às questões fiscais<br />

do estado <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> com<br />

programas governamentais assistencialistas <strong>como</strong> é o caso do programa “bolsa<br />

família” ou “bolsa escola”; a pobreza em questão é a pobreza <strong>como</strong> privação das<br />

capacida<strong>de</strong>s básicas (SEN, 2000: p.35), <strong>como</strong> <strong>de</strong>fine Sen:<br />

Existem boas razões para que se veja a pobreza <strong>como</strong> uma privação <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong>s básicas, e não apenas <strong>como</strong> baixa renda. A privação <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong>s elementares po<strong>de</strong> refletir-se em morte prematura, subnutrição<br />

significativa (especialmente <strong>de</strong> crianças), morbi<strong>de</strong>z persistente,<br />

analfabetismo muito disseminado e outras <strong>de</strong>ficiências. (SEN, 2000: p.35).<br />

O autor discorre sobre a distinção conceitual <strong>de</strong> pobreza, <strong>como</strong> ina<strong>de</strong>quação<br />

<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s, e pobreza, <strong>como</strong> baixo nível <strong>de</strong> renda, sem <strong>de</strong>svinculá-las, uma vez<br />

que a renda é um meio importante <strong>de</strong> obter capacida<strong>de</strong>s, o que se busca é a<br />

obtenção <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s para conduzir um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> auferir renda. Em relação à<br />

aquisição <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s <strong>como</strong> fonte <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> renda Sen discorre:<br />

Não ocorre apenas que, digamos, melhor <strong>educação</strong> básica e serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> elevem diretamente a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida; esses dois fatores também<br />

aumentem o potencial <strong>de</strong> a pessoa auferir renda e assim livrar-se da<br />

pobreza medida pela renda. Quanto mais inclusivo for o alcance da<br />

74


<strong>educação</strong> básica e dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, maior será a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

que mesmo os potencialmente pobres tenham uma chance maior <strong>de</strong><br />

superar a penúria. (SEN, 2000: p.113).<br />

Frente a esses dados, vemos que existe uma tendência à <strong>educação</strong> se<br />

tornar nivelada por baixo, pois as comunida<strong>de</strong>s das periferias e bairros pobres da<br />

capital paulista estão aumentando e consigo a cultura do <strong>de</strong>sinteresse pela<br />

formação acadêmica. Nas salas <strong>de</strong> aula das escolas públicas, as diferenças que<br />

<strong>de</strong>veriam ser uma boa razão para se trabalhar e pôr em prática a <strong>inclusão</strong> e se<br />

tornar uma cultura dos gran<strong>de</strong>s centros, apenas se reforçam.<br />

Os diferentes grupos sociais con<strong>de</strong>nsados na metrópole promovem o reforço<br />

das diferenças, em especial no ambiente escolar, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria haver promoção<br />

social resulta em fracasso escolar, uma vez que o ambiente escolar aten<strong>de</strong><br />

estudantes com enormes diferenças culturais. A partir das diferenças e da cultura<br />

que cada um possui, surge uma proposta <strong>de</strong> ligação para iniciar, <strong>de</strong> fato, um<br />

processo <strong>de</strong> convivência dos diferentes grupos sociais.<br />

É neste plano que <strong>de</strong>sponta a imensa riqueza da iniciativa local: <strong>como</strong> cada<br />

localida<strong>de</strong> é diferenciada, segundo o seu grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, a região<br />

on<strong>de</strong> se situa, a cultura herdada, as ativida<strong>de</strong>s predominantes na região, a<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados recursos naturais, as soluções terão <strong>de</strong> ser<br />

diferentes para cada uma. E só as pessoas que vivem na localida<strong>de</strong>, que a<br />

conhecem efetivamente, é que sabem realmente quais são as necessida<strong>de</strong>s<br />

mais prementes, os principais recursos subutilizados e assim por diante. Se<br />

elas não tomarem iniciativas, dificilmente alguém o fará para elas.<br />

(DOWBOR, 2006: p.4).<br />

A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong>, no panorama atual, se torna uma importante<br />

ferramenta nos projetos, on<strong>de</strong> se preten<strong>de</strong> reduzir a exclusão social em uma<br />

comunida<strong>de</strong> que possui gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. O crescimento das favelas<br />

urbanizadas é um gran<strong>de</strong> exemplo disso, essas comunida<strong>de</strong>s são provenientes <strong>de</strong><br />

ocupação territorial que, com o passar do tempo, se <strong>de</strong>senvolveu e, <strong>de</strong> certa<br />

maneira, houve a urbanização do local, <strong>como</strong> é o caso da comunida<strong>de</strong> que será<br />

estudada no capítulo seguinte, com um projeto <strong>de</strong> escola on<strong>de</strong> os princípios das<br />

ativida<strong>de</strong>s se baseiam na <strong>educação</strong> para <strong>de</strong>senvolvimento local através <strong>de</strong> uma<br />

proposta <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

75


CAPÍTULO 3<br />

EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA:<br />

UMA POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO SOCIAL NA METRÓPOLE<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste capítulo é discutir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> social <strong>de</strong> crianças e<br />

adolescentes que vivem em situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> em regiões metropolitanas,<br />

por meio do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong>. Para<br />

isso, preten<strong>de</strong>-se apresentar uma <strong>de</strong>scrição pormenorizada do Projeto Alavanca,<br />

que funciona <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003, na comunida<strong>de</strong> São Remo, buscando com isso encontrar<br />

evidências <strong>de</strong> que a ação por ele proposta na comunida<strong>de</strong> tem contribuído para a<br />

<strong>inclusão</strong> social dos jovens <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong>.<br />

A escolha da <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong>, <strong>como</strong> <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong><br />

social, <strong>como</strong> problema <strong>de</strong> pesquisa, está relacionada com a minha própria história<br />

<strong>de</strong> vida e a escolha <strong>de</strong>ste projeto, em particular, <strong>como</strong> objeto da pesquisa está<br />

relacionada à minha atuação nele, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> sua implantação. Assim,<br />

estudá-lo, em certo sentido, é enten<strong>de</strong>r uma ação da qual participo e, por meio da<br />

qual, busca-se a construção <strong>de</strong>sta socieda<strong>de</strong>, ao lado <strong>de</strong> outras pessoas que têm as<br />

mesmas aspirações.<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa, adotou-se uma abordagem qualitativa.<br />

Embora elementos, <strong>como</strong> os gráficos, tenham sido usados, a preocupação maior foi<br />

utilizar estes dados para compreen<strong>de</strong>r o objeto pesquisado, buscando situá-lo no<br />

cenário mais amplo e buscando verificar a sua contribuição para a comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

está inserido. Como técnica <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados, recorreu-se ao estudo bibliográfico<br />

e documental que foi completado pelo relato da história <strong>de</strong> vida do pesquisador e<br />

pela observação participante uma vez que também este pesquisador é um dos<br />

colaboradores do projeto.<br />

76


Antes <strong>de</strong> falar mais especificamente do projeto é importante falar da<br />

comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele está instalado.<br />

3.1 A comunida<strong>de</strong> São Remo<br />

A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominada São Remo fica na Região Oeste da cida<strong>de</strong>,<br />

próximo à cida<strong>de</strong> Universitária. Embora se trate <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> pobre, tem<br />

<strong>como</strong> vizinhos bairros <strong>de</strong> classe media <strong>como</strong> Bonfiglioli, Jaguaré e Butantã. A<br />

comunida<strong>de</strong> surgiu há cerca <strong>de</strong> 30 anos, em uma área pertencente à universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo, ocupada por pessoas que trabalharam na construção da<br />

universida<strong>de</strong>. A origem do nome da comunida<strong>de</strong> é uma pequena rua chamada São<br />

Remo que existe no local.<br />

A cida<strong>de</strong> universitária, campus da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, cuja<br />

construção durou entre 1952 e 1972, contou com a colaboração <strong>de</strong> muitos operários<br />

que ali trabalharam. A maior parte <strong>de</strong>ssa mão <strong>de</strong> obra era composta por operários<br />

migrantes <strong>de</strong> outros estados sendo a maioria do Norte e Nor<strong>de</strong>ste. Esses formaram<br />

uma vila <strong>de</strong> operários, na margem oeste do terreno, com barracos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e<br />

sobras <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> construção. Ali permaneceram <strong>de</strong>vido à localização e, com o<br />

tempo, foram formando famílias. A área pertence à Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e<br />

tem 74.300m 2 , nos limites nor<strong>de</strong>ste da comunida<strong>de</strong> há um gran<strong>de</strong> muro da Cida<strong>de</strong><br />

Universitária com dois acessos <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres, ao norte há outro muro do 16º<br />

Batalhão da Policia Militar, a sudoeste o limite é a Avenida Corifeu <strong>de</strong> Azevedo<br />

Marques, um importante acesso à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Osasco. O mapa abaixo mostra a<br />

localização da comunida<strong>de</strong> no bairro.<br />

77


Figura 11; Fonte: Google mapas.<br />

A comunida<strong>de</strong> possui saneamento básico, postes <strong>de</strong> iluminação pública,<br />

2,2km <strong>de</strong> ruas asfaltadas com sarjetas e calçadas que foram construídas através da<br />

influência e mobilização <strong>de</strong> candidatos políticos em campanha eleitoral. Possui<br />

também um comércio local com mercados, lanchonetes, “lan-house”, bares, lojas <strong>de</strong><br />

roupas, oficina mecânica, borracharia, duas serralherias entre uma gran<strong>de</strong><br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos e serviços que são oferecidos. No limite on<strong>de</strong> a comunida<strong>de</strong><br />

faz divisa com os muros da cida<strong>de</strong> universitária da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, há<br />

um campo <strong>de</strong> futebol em terra com dimensões oficiais e uma quadra poliesportiva<br />

78


em concreto também com dimensões oficiais. Um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> moradores que<br />

vivem na comunida<strong>de</strong> São Remo trabalha no campus da USP seja diretamente ou<br />

indiretamente em lanchonetes, restaurantes entre outros. A comunida<strong>de</strong> possui um<br />

centro comunitário para organizar as necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> local, um circo<br />

escola e outras organizações não governamentais.<br />

Foto 1– comunida<strong>de</strong> São Remo vista do bairro.<br />

Foto 2– interior da Comunida<strong>de</strong> São Remo.<br />

O transporte é facilitado por ônibus das diversas linhas que circulam nas<br />

avenidas Corifeu <strong>de</strong> Azevedo Marques, Escola Politécnica e Rio Pequeno, outras<br />

linhas circulam <strong>de</strong>ntro do campus da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo que permite o<br />

acesso a pe<strong>de</strong>stre em dois lugares, um é ao lado <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> ônibus e o outro<br />

79


dá acesso ao Hospital Universitário. Em um raio <strong>de</strong> 400m do centro da comunida<strong>de</strong>,<br />

há dois gran<strong>de</strong>s supermercados, farmácias, caixas eletrônicos bancário, loja <strong>de</strong><br />

materiais <strong>de</strong> construção, oficinas mecânicas, padaria, lojas <strong>de</strong> produtos e serviços<br />

que dispensam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>slocamento maior para buscar o que possa<br />

precisar.<br />

Segundo dados coletados pelo Projeto Alavanca Brasil através <strong>de</strong> seus<br />

voluntários, hoje vive na comunida<strong>de</strong> São Remo cerca <strong>de</strong> 6.000 habitantes cuja faixa<br />

etária é apresentada no gráfico abaixo.<br />

Figura 12; Fonte: Projeto Alavanca Brasil.<br />

Concluímos que a comunida<strong>de</strong> possui uma população <strong>de</strong> 3600 crianças,<br />

jovens e adolescentes que são, portanto, maioria absoluta e estão por toda parte.<br />

Nas horas livres, a principal ativida<strong>de</strong> dos jovens é jogar bola, soltar pipas, e andar<br />

<strong>de</strong> bicicleta, frequentam muito a “lan-house” para acesso à Internet, e para jogar<br />

“ví<strong>de</strong>o games”. O ambiente <strong>de</strong> Internet oferecido pelo projeto é a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

eles mais gostam, mas os jovens que não frequentam um curso regular ou<br />

participam <strong>de</strong> alguma forma no Projeto Alavanca não costumam fazer uso dos<br />

computadores do projeto, mesmo sendo convidados a fazer uso eles rejeitam.<br />

80


Foto 3– crianças jogando bola.<br />

Em uma parte do tempo livre, estão guiando automóveis e pilotando<br />

motocicletas, sempre sem capacete em alta velocida<strong>de</strong>, pelas ruas estreitas da<br />

comunida<strong>de</strong>, muitos aparentando cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Isso se dá<br />

principalmente pela ausência <strong>de</strong> policiais que não fazem ronda na comunida<strong>de</strong>. A<br />

ausência do estado <strong>de</strong>ixa as crianças e jovens em situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> social<br />

e exposta ao tráfico e outras formas <strong>de</strong> violência. Esta ausência do estado é ponto<br />

importante no que diz respeito à manutenção da situação <strong>de</strong> marginalida<strong>de</strong> em uma<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>como</strong> a São Remo, ao lado da comunida<strong>de</strong> está um batalhão <strong>de</strong> polícia,<br />

na comunida<strong>de</strong> passa o caminhão <strong>de</strong> lixo, o carteiro, o agente <strong>de</strong> leitura da energia<br />

elétrica, mas não passa nenhum policial ou viatura em ronda. Essa postura é um<br />

81


facilitador para os jovens ficarem mais à vonta<strong>de</strong> em seu bairro, perpetuando uma<br />

situação <strong>de</strong> abandono, às vezes, chamada <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. Segundo Sen (2000):<br />

Os papeis instrumentais da liberda<strong>de</strong> incluem vários componentes distintos,<br />

porém inter-relacionados, <strong>como</strong> facilida<strong>de</strong>s econômicas, liberda<strong>de</strong>s<br />

políticas, oportunida<strong>de</strong>s sociais, garantias <strong>de</strong> transparências e segurança<br />

protetora. Esses direitos, oportunida<strong>de</strong>s e intitulamentos instrumentais<br />

possuem fortes enca<strong>de</strong>amentos entre si, que po<strong>de</strong>m se dar em diferentes<br />

direções. O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento é crucialmente influenciado por<br />

essas inter-relações. (SEN, 2000: p.71).<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento dos jovens na comunida<strong>de</strong> São Remo possui uma<br />

liberda<strong>de</strong> distinta da liberda<strong>de</strong> das pessoas que não moram na São Remo, isso<br />

influencia diretamente a formação <strong>de</strong>les e os conceitos <strong>de</strong> relações dos valores<br />

sociais. Quando é conveniente para o estado intervir, ele o faz, quando não, basta<br />

se ausentar e a comunida<strong>de</strong> cuida <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver. Se o estado não fizer uma<br />

intervenção, não será a organização dos moradores locais que a fará. Dowbor<br />

(2008) afirma que somos educados a acreditar que a organização <strong>de</strong> nosso<br />

cotidiano ocorre por uma esfera superior, o Estado.<br />

Os moradores da comunida<strong>de</strong> São Remo sofrem com o estigma <strong>de</strong> compor a<br />

maior comunida<strong>de</strong> do bairro <strong>de</strong> Bonfiglioli, on<strong>de</strong> há moradores <strong>de</strong> classe média a<br />

media baixa. Eles sentem seu bairro <strong>de</strong>svalorizado pela presença <strong>de</strong> favelas<br />

urbanizadas que trazem consigo drogas e criminalida<strong>de</strong>. Em algumas situações em<br />

sala <strong>de</strong> aula, na escola SENAI, on<strong>de</strong> há alunos bolsistas, moradores <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> favelas da região e também durante a convivência com os<br />

moradores da comunida<strong>de</strong> São Remo, po<strong>de</strong>-se notar que há duas situações<br />

distintas <strong>de</strong> conduta: quando se está fora da comunida<strong>de</strong> e na presença <strong>de</strong> outras<br />

pessoas. Se no caso, o interlocutor for uma pessoa <strong>de</strong> classe média e o assunto é<br />

referente à moradia ou bairro on<strong>de</strong> vive, o jovem morador da comunida<strong>de</strong> conduz o<br />

diálogo, omitindo quaisquer referências ao local on<strong>de</strong> mora, ou se no caso, a pessoa<br />

for alguém com maior proximida<strong>de</strong> o assunto constantemente é <strong>de</strong>sviado e nunca é<br />

possível se aprofundar no tema. Porém, se o interlocutor for morador <strong>de</strong> outra<br />

comunida<strong>de</strong>, o tema se <strong>de</strong>senvolve sem obstáculos e, sobretudo é tratado com<br />

orgulho pelos jovens, <strong>como</strong> uma situação <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> e coragem. A situação<br />

apresentada por Almeida (2003) <strong>de</strong>screve esta situação:<br />

82


Neste contexto, a agressivida<strong>de</strong> parece ser um sinal <strong>de</strong> que o tratamento<br />

dispensado a estas crianças e adolescentes, quer pela escola quer pelos<br />

colegas da parte mais nobre do bairro, não é bom, sendo este conflito um<br />

sinal <strong>de</strong> <strong>como</strong> se dá o relacionamento na escola. As crianças são bem<br />

tratadas, respeitadas, integradas ou estigmatizadas, rejeitadas,<br />

discriminadas. As conversas com crianças e adolescentes têm revelado que<br />

a agressivida<strong>de</strong> aparente escon<strong>de</strong> um complexo <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> crônico,<br />

sendo o enfrentamento uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesa. Este complexo <strong>de</strong><br />

inferiorida<strong>de</strong> fica evi<strong>de</strong>nte quando olhamos as fichas <strong>de</strong> matrícula do<br />

pessoal do Vera Cruz. Quase todos dão o en<strong>de</strong>reço da Rua Leonice Alves<br />

Rodrigues. Geralmente, não colocam o en<strong>de</strong>reço correto com vergonha <strong>de</strong><br />

dizer que são da favela, o que dificulta o encontro das crianças que<br />

<strong>de</strong>saparecem da escola. (ALMEIDA, 2003: p.108).<br />

A questão acima <strong>de</strong>scrita revela os reflexos do estigma que sofrem os<br />

moradores jovens da comunida<strong>de</strong> em questão, os jovens buscam eventos <strong>de</strong><br />

<strong>inclusão</strong> <strong>como</strong> é o caso <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> estudo em escolas do bairro, esses eventos<br />

têm o objetivo <strong>de</strong> oferecer chance <strong>de</strong> estudo e promover a <strong>inclusão</strong>. O que ocorre<br />

com a chance <strong>de</strong> estudo que alguns jovens recebem, se torna o início <strong>de</strong> um<br />

processo <strong>de</strong> preparo para o <strong>de</strong>senvolvimento pessoal seguido da mudança para<br />

outro local já <strong>de</strong>senvolvido, segundo Dowbor:<br />

De certa forma, o cidadão que vive num bairro que não lhe agrada pensa<br />

em mudar <strong>de</strong> bairro, ou <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, mas não pensa muito na possibilida<strong>de</strong> e<br />

direito <strong>de</strong> intervir no espaço em que vive, <strong>de</strong> participar da criação <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para si e para sua família. (DOWBOR, 2008: p.30).<br />

A questão da <strong>inclusão</strong> na prática é um panorama subjetivo a cada indivíduo,<br />

uma vez que os relacionamentos com outros jovens do mesmo bairro, com classes<br />

sociais muito distintas não se <strong>de</strong>senvolvem além dos limites da escola. Dessa<br />

maneira, a sociabilida<strong>de</strong> entre os jovens moradores da comunida<strong>de</strong> em questão,<br />

sofre com a falta <strong>de</strong> organização, mesmo que haja os eventos promotores <strong>de</strong><br />

<strong>inclusão</strong>, os recursos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da imagem é o resultado da exclusão por<br />

diferenciações sociais <strong>como</strong> <strong>de</strong>screve Sawaya (2010):<br />

Fica claro que um “vazio social” ganhou toda a periferia e que não existe<br />

nenhum sinal <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> organizada nos bairros populares. Ao nos<br />

reportarmos à <strong>de</strong>scrições dos sociólogos e etnólogos dos anos 50 e 60,<br />

constatamos que a intensida<strong>de</strong> das relações sociais nesses bairros diminuiu<br />

83


muito. A vida coletiva se transformou, sob o efeito das diferenciações<br />

sociais, no mundo operário: alguns grupos em ascensão mudaram <strong>de</strong><br />

bairro, outros, ao contrário, passaram por um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificação e<br />

empobreceram. Um número crescente <strong>de</strong> famílias não po<strong>de</strong> contar com<br />

nenhuma outra possibilida<strong>de</strong> que morar em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>svalorizadas.<br />

Interiorizando uma imagem negativa e adotando atitu<strong>de</strong>s marcadas pela<br />

introspecção, procuram evitar seus vizinhos. É sabido <strong>como</strong> se constituem<br />

as reputações familiares; <strong>de</strong>ssa forma tudo incita a se calar e a tornar o<br />

menos visível possível das inseguranças da vida cotidiana. É digno <strong>de</strong> nota<br />

o fato <strong>de</strong> que muitos ainda têm esperança <strong>de</strong> encontrar um emprego e <strong>de</strong><br />

mudar <strong>de</strong> bairro. (SAWAIA, 2010: p.74-75).<br />

Na comunida<strong>de</strong> São Remo, existe um centro comunitário que funciona <strong>como</strong><br />

a associação <strong>de</strong> moradores. Neste centro organizam-se e viabilizam-se ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> cunho social, <strong>de</strong> interesse dos moradores. Há ainda o auxílio com mão <strong>de</strong> obra e<br />

local, inclusive para projetos <strong>de</strong> outras entida<strong>de</strong>s, <strong>como</strong> em várias ativida<strong>de</strong>s e<br />

projetos <strong>de</strong>senvolvidos pelo Projeto Alavanca. Funciona <strong>como</strong> uma associação<br />

parceira <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> com a população local e assim também solicitam<br />

das outras organizações no bairro e fora <strong>de</strong>le recursos e apoio para as ativida<strong>de</strong>s. É<br />

uma relação <strong>de</strong> parceria com troca <strong>de</strong> favores sendo facilitadores para ambos. A<br />

associação <strong>de</strong> moradores foi a mediadora entre a comunida<strong>de</strong> São Remo e o<br />

Projeto Alavanca, na realização do projeto <strong>de</strong> uma escola com um prédio maior<br />

<strong>de</strong>ntro da comunida<strong>de</strong>. Como a comunida<strong>de</strong> não dispõe <strong>de</strong> espaço para que se<br />

possa construir mais um prédio, a solução encontrada foi construir o prédio no lugar<br />

on<strong>de</strong> fica a quadra poliesportiva, pois, por diversas vezes a associação solicitou, ao<br />

Projeto Alavanca Brasil, a instalação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> iluminação na quadra,<br />

infelizmente não está <strong>de</strong>ntro do perfil <strong>de</strong> investimento, mas uma proposta veio<br />

aten<strong>de</strong>r tanto a comunida<strong>de</strong> São Remo quanto o Projeto Alavanca Brasil. Foi feito<br />

um projeto <strong>de</strong> um prédio que seria construído no local on<strong>de</strong> hoje é a quadra<br />

poliesportiva; no prédio haveria três pavimentos sendo, o primeiro no térreo, para<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> marcenaria, fábrica <strong>de</strong> brinquedos, oficina para exposições e<br />

ativida<strong>de</strong>s em geral, outro pavimento logo acima do térreo com salas <strong>de</strong> aula e<br />

diretório acadêmico, e o último pavimento com uma quadra poliesportiva coberta,<br />

com dimensões inferiores à anterior, porém compatíveis com as ativida<strong>de</strong>s,<br />

iluminação, uma pequena arquibancada, banheiros e acesso com rampa pelo lado<br />

externo do prédio. Depois dos <strong>de</strong>senhos técnicos construiu-se com a ajuda dos<br />

jovens da comunida<strong>de</strong> uma maquete que foi apresentada aos representantes das<br />

84


indústrias interessadas em financiar a construção. Projeto para apresentação do<br />

prédio vi<strong>de</strong> apêndice.<br />

Foto 4– maquete do projeto <strong>de</strong> um novo prédio.<br />

Há problemas com o lixo da comunida<strong>de</strong> São Remo, no que se refere à<br />

armazenagem e à manutenção da limpeza nas ruas e nas calçadas. Na parte mais<br />

alta da comunida<strong>de</strong>, existe um <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> lixo construído <strong>de</strong> alvenaria, fruto <strong>de</strong><br />

campanha para a organização do lixo, o local possui um portão para proteger os<br />

sacos <strong>de</strong> lixo dos cães que vivem na rua. No inicio do uso do local, os moradores<br />

organizavam o lixo <strong>de</strong>vidamente em sacos e mantinham o portão fechado, com o<br />

passar do tempo essa prática <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir e se torna comum os moradores<br />

jogarem os sacos <strong>de</strong> lixo do lado <strong>de</strong> fora do local <strong>de</strong> armazenagem, isso faz com<br />

que os sacos se espalhem e ocupem um maior espaço, e o portão fica impedido <strong>de</strong><br />

manter-se fechado, os cães rasgam os sacos e ajudam a espalhar o lixo. Quando<br />

essa situação se torna insuportável, alguns moradores se manifestam in<strong>como</strong>dados<br />

com o lixo invadindo a rua e reclamam com a associação dos moradores para<br />

provi<strong>de</strong>nciar uma reforma <strong>de</strong> ampliação do <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> lixo, nessa hora se faz<br />

necessário uma intervenção <strong>de</strong> alguma organização para realizar um novo evento.<br />

As campanhas em geral apresentam resultados imediatos, mas com o passar do<br />

tempo acabam sendo esquecidos, <strong>de</strong>vido à baixa a<strong>de</strong>são às praticas <strong>de</strong> organização<br />

do lixo, com isso as campanhas continuam e revelam-se mal sucedidas.<br />

85


Foto 5– lixo espalhado pela calçada.<br />

Na parte mais baixa da comunida<strong>de</strong>, passa um córrego que é canalizado<br />

antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar por ela. É apelidado pelos moradores <strong>de</strong> “Riacho Doce”,<br />

passa a céu aberto pela comunida<strong>de</strong>, o cheiro forte e a poluição são somados aos<br />

lixos que os moradores jogam nele. No pequeno espaço <strong>de</strong> margem, estão<br />

construídas algumas casas <strong>de</strong> alvenaria e barracos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, em época <strong>de</strong> chuva<br />

forte, a velocida<strong>de</strong> e o volume da água aumentam e fazem com que as casas e os<br />

barracos nas margens da água ou sobre palafitas caiam parcialmente nas águas.<br />

Quando isso acontece os moradores se mobilizam, ajudam <strong>como</strong> po<strong>de</strong>m as famílias<br />

que tiveram suas casas e barracos <strong>de</strong>struídos e, em pouco tempo, os barracos são<br />

reconstruídos.<br />

Foto 6– casas às margens do riacho.<br />

86


3.2 O projeto alavanca<br />

O nascimento do Projeto Alavanca Brasil, se <strong>de</strong>u entre abril e julho <strong>de</strong> 2003,<br />

quando a coor<strong>de</strong>nadora geral Dorothea Swartz veio da Alemanha para o Brasil<br />

cursar a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> administração <strong>de</strong> empresas na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

(USP).<br />

Nas redon<strong>de</strong>zas do prédio da faculda<strong>de</strong>, Dorothea conheceu uma família que<br />

morava na comunida<strong>de</strong> São Remo. Era uma família que, <strong>como</strong> muitas da<br />

comunida<strong>de</strong>, vivia do trabalho informal. O pai reciclava papel e alguns dos filhos<br />

vendiam pequenos materiais <strong>como</strong> lápis, borrachas e canetas. Após obter maior<br />

aproximação com essa família, <strong>de</strong>scobriu que essas crianças apresentavam gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fasagem escolar. A partir <strong>de</strong>ste momento, sensibilizada com a situação, ela iniciou<br />

seus trabalhos.<br />

Em agosto <strong>de</strong> 2003, tentando compreen<strong>de</strong>r o sistema escolar brasileiro,<br />

Dorothea matriculou uma criança <strong>de</strong>ssa família em um curso <strong>de</strong> computação e<br />

inglês e, em seus horários vagos, dava aulas para crianças <strong>de</strong>sta família e realizava<br />

passeios culturais expandindo o universo <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong>ssas crianças. Até<br />

então, a ajuda que ela tinha para oferecer às crianças, vinha <strong>de</strong> recursos próprios,<br />

com o tempo a situação tornou-se insustentável.<br />

As pessoas do circulo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> Dorothea sensibilizaram-se com a<br />

situação e iniciaram um processo <strong>de</strong> ajuda financeira, a ajuda era paliativa e ela<br />

sentia-se <strong>de</strong>sconfortável que recursos viessem <strong>de</strong> pessoas físicas e resolveu fundar<br />

a ONG “Projeto Alavanca Brasil” e assim buscar recursos em empresas privadas.<br />

As empresas com as quais Dorothea iniciou os contatos são multinacionais<br />

que possuem matriz na Alemanha, isso <strong>de</strong>vido à facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso. Com o tempo,<br />

os recursos passaram a vir <strong>de</strong> doações <strong>de</strong>ssas parcerias formadas com empresas,<br />

indústrias, instituições governamentais e não-governamentais; os recursos são em<br />

dinheiro, máquinas e equipamentos utilizados em aulas e manutenção da escola. A<br />

maior parte das empresas continua sendo <strong>de</strong> matriz na Alemanha, e requisitam a<br />

manutenção constante <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> idiomas alemão e inglês para ampliar as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra tanto para o Brasil quanto para Alemanha.<br />

87


Outras parcerias são firmadas no Brasil mais especificamente em São Paulo,<br />

com estabelecimentos <strong>de</strong> ensino privado que <strong>de</strong>stinam algumas bolsas <strong>de</strong> estudo<br />

integral para moradores da comunida<strong>de</strong> São Remo, materiais didáticos e<br />

participações em campanhas. São colégios da região e até, em uma distância maior,<br />

<strong>como</strong> é o caso <strong>de</strong> um colégio privado que aten<strong>de</strong> à classe alta da socieda<strong>de</strong>.<br />

Os colaboradores que atuam com mão <strong>de</strong> obra eram, no início do projeto,<br />

compostos por pessoal externo da comunida<strong>de</strong>, eram professores voluntários,<br />

estudantes <strong>de</strong> curso superior em Matemática, Letras, História, Análise <strong>de</strong> Sistemas,<br />

entre outros. Com o tempo, o projeto foi preparando colaboradores e voluntários<br />

para substituir os atuais por duas razões, a primeira é que o objetivo central do<br />

Projeto Alavanca é fazer com que os moradores locais administrem o projeto<br />

somente com moradores, e que os conhecimentos e as práticas sejam repassadas<br />

para outras pessoas po<strong>de</strong>rem substituir as atuais. Como o objetivo central do projeto<br />

é que a administração e a mão <strong>de</strong> obra sejam totalmente compostas por moradores<br />

da comunida<strong>de</strong> São Remo, com o passar do tempo os moradores seriam a maioria<br />

no projeto até atingir a totalida<strong>de</strong>; a segunda, é que os voluntários e colaboradores<br />

<strong>de</strong> fora da comunida<strong>de</strong>, em geral têm sua disposição <strong>de</strong>sgastada com o tempo,<br />

existe uma força impulsionadora do trabalho no Projeto Alavanca, em que as<br />

pessoas que estão <strong>de</strong> passagem e têm um objetivo a atingir, entre ensinar e<br />

participar com os jovens das diversas ativida<strong>de</strong>s a maior missão é promover um ou<br />

mais multiplicadores para substituir a função.<br />

Foi proposta a criação <strong>de</strong> uma escola profissionalizante <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho mecânico<br />

industrial, em conjunto com as aulas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho técnico na tradicional prancheta e<br />

em computadores via sistema CAD “computer ai<strong>de</strong>d <strong>de</strong>sign”, surge então o projeto<br />

<strong>de</strong> uma escola fábrica.<br />

Assim que surgiu o projeto <strong>de</strong> escola pensou-se em uma escola cidadã<br />

com formação para cidadania ativa e <strong>educação</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento (GADOTTI;<br />

ROMÃO 1997), uma estrutura organizacional que fosse a<strong>de</strong>rente aos objetivos do<br />

projeto. Buscou-se uma organização com estrutura flexível e que permitisse o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável dos projetos existentes e iniciar novos projetos ou<br />

encerrar ações sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rever a estrutura organizacional. Pensou-se<br />

também que esta estrutura <strong>de</strong>veria permitir que o projeto disseminasse sua<br />

88


metodologia e replicasse suas ações em outros locais. Desta forma, o Projeto<br />

Alavanca adotou uma divisão <strong>de</strong> estrutura celular, pois esta, atendia melhor a estes<br />

requisitos.<br />

A estrutura organizacional do Projeto Alavanca é composta pela Coor<strong>de</strong>nação<br />

Geral, Comissões <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Multiplicadores e a Comissão <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Organizacional e Ética e por quatro secretarias.<br />

SECRETARIA<br />

ADMINISTRATIVA<br />

ESTRUTURA DO PROJETO ALAVANCA BRASIL<br />

FORMAÇÃO DE<br />

MULTIPLICADORES<br />

SECRETARIA<br />

EXECUTIVA<br />

COORDENAÇÃO<br />

GERAL<br />

SECRETARIA DE<br />

RELAÇÕES PÚBLICAS<br />

Figura 13<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

ORGANIZACIONAL E ÉTICA<br />

SECRETARIA DE<br />

COMUNIDADES<br />

Os objetivos do projeto são <strong>de</strong>finidos em reuniões das secretarias com a<br />

coor<strong>de</strong>nação geral do projeto, representante dos alunos e representante da<br />

comunida<strong>de</strong> local, os tópicos são divididos em pontos <strong>de</strong> maior e menor urgência,<br />

durante a reunião é <strong>de</strong>finido o modo <strong>de</strong> <strong>como</strong> será acompanhado o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e quais serão os responsáveis pelo acompanhamento e avaliação. Os parceiros<br />

externos são as indústrias, escolas e voluntários, eles acompanham o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> todo o projeto inclusive dos investimentos em recursos<br />

financeiros.<br />

89


As secretarias promovem todos os trabalhos do Projeto Alavanca. Na<br />

Secretaria Administrativa são organizadas todas as células que executam tarefas <strong>de</strong><br />

planejamento e organização <strong>de</strong> projetos, ou seja, estas células dão suporte às<br />

células executivas. As secretarias cuidam da captação <strong>de</strong> recursos, compra <strong>de</strong><br />

materiais, recrutamento <strong>de</strong> voluntários e sistemas <strong>de</strong> informação, entre outros. Caso<br />

o Projeto Alavanca seja replicado em outra comunida<strong>de</strong>, as células administrativas<br />

não precisam ser duplicadas.<br />

A Secretaria Executiva reúne todas as células relacionadas a programas<br />

educacionais, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento comunitário e geração <strong>de</strong> renda, ou seja, as<br />

ações que o Projeto Alavanca promove junto com as comunida<strong>de</strong>s locais. Quando<br />

uma ação for replicada em outra comunida<strong>de</strong>, as células executivas garantem que<br />

sejam aproveitadas todas as lições aprendidas voltadas à <strong>de</strong>terminada ação no novo<br />

local.<br />

Células vinculadas à Secretaria <strong>de</strong> Relações Públicas cuidam das relações<br />

que o Projeto Alavanca mantém com públicos internos e externos. O sucesso <strong>de</strong> um<br />

trabalho social em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer diálogos<br />

frutíferos com moradores da comunida<strong>de</strong> local, voluntários, instituições públicas,<br />

empresas e doadores. O diálogo constitui a condição básica para promoção <strong>de</strong><br />

ações <strong>de</strong> melhoria em conjunto, mobilização em prol <strong>de</strong> um mesmo objetivo e<br />

colaboração duradoura.<br />

A Secretaria <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong>s organiza células <strong>de</strong> diversas comunida<strong>de</strong>s<br />

on<strong>de</strong> o Projeto Alavanca atua em conjunto com outras organizações. Esta secretaria<br />

toma conta que as ações sejam suficientemente adaptadas às necessida<strong>de</strong>s locais e<br />

que os moradores participem <strong>de</strong> todo processo <strong>de</strong> planejamento, implantação e<br />

avaliação das ações propostas.<br />

A coor<strong>de</strong>nação geral garante que todas as células se comuniquem entre si e<br />

colaborem na realização da mesma visão - a implantação <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> melhoria<br />

local auto-sustentável e auto-financiado. As comissões dão ênfase a duas<br />

estratégias principais para o alcance <strong>de</strong>sta visão:<br />

90


1. a comissão <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> multiplicadores é responsável por<br />

elaborar e promover formação para os moradores se tornarem multiplicadores.<br />

Para isso, precisam apren<strong>de</strong>r todos os processos indispensáveis para a<br />

continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ação social, além <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res comunitários.<br />

2. a comissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento organizacional e ética garante que<br />

regularmente seja revisada a metodologia <strong>de</strong> trabalho do projeto alavanca,<br />

analisando quais programas <strong>de</strong>vem ser iniciados, precisam <strong>de</strong> adaptação ou<br />

<strong>de</strong>vem ser encerrados. Além disso, promove um diálogo constante entre<br />

voluntários moradores e doadores sobre os valores que <strong>de</strong>vem nortear os<br />

trabalhos do projeto alavanca nas comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> atua. Dessa forma a<br />

comunida<strong>de</strong> participa com representantes pais, alunos, voluntários e<br />

representantes da associação <strong>de</strong> amigos do bairro.<br />

O po<strong>de</strong>r público acompanha a escola nas questões <strong>de</strong> registros fiscais e<br />

legais, a organização possui se<strong>de</strong> própria, tem registro <strong>como</strong> organização nãogovernamental,<br />

CNPJ, registro na prefeitura <strong>de</strong> São Paulo, reconhecimento da<br />

UNICEF e do governo alemão.<br />

Os alunos que frequentam a escola são certificados pela própria escola nos<br />

cursos <strong>de</strong> curta duração <strong>como</strong> é o caso dos cursos <strong>de</strong> informática, inglês, alemão,<br />

marcenaria entre outros, estamos no terceiro ano aguardando o processo <strong>de</strong><br />

reconhecimento pela re<strong>de</strong> SENAI com cursos <strong>de</strong> aprendizagem industrial. Os cursos<br />

do tipo reforço escolar não emitem certificado.<br />

O Projeto Alavanca Brasil é uma instituição sem fins lucrativos que visa<br />

promover a emancipação política e <strong>inclusão</strong> social autodirigidas <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

baixa renda. Rejeitando quaisquer formas <strong>de</strong> paternalismo e assistencialismo, a<br />

instituição integra pessoas <strong>de</strong> todas as classes em um processo <strong>de</strong>mocrático e<br />

participativo <strong>de</strong> planejamento e direção. Compreen<strong>de</strong> que este processo <strong>de</strong><br />

libertação e <strong>inclusão</strong> tem que acontecer em quatro níveis:<br />

1. Dando acesso à cultura, <strong>educação</strong>, economia e lazer pelo<br />

estabelecimento <strong>de</strong> programas sócio-educativos e <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda nas<br />

comunida<strong>de</strong>s pobres,<br />

91


2. Promovendo o acesso das classes pobres a instituições <strong>de</strong><br />

<strong>educação</strong> e cultura fora do seu alcance,<br />

3. Contribuindo para a melhoria do ensino público,<br />

4. Desenvolvendo programas <strong>de</strong> formação cidadã e sensibilização<br />

junto a classes mais elevadas, visando à redução <strong>de</strong> pré-conceitos e a<br />

aproximação <strong>de</strong> todas as partes. Julga-se necessária esta aproximação para<br />

que as classes que integram o povo brasileiro, cada vez mais, se enxerguem<br />

<strong>como</strong> "irmãos” e juntamente promovam políticas públicas mais justas e<br />

igualitárias.<br />

O Projeto Alavanca Brasil se compreen<strong>de</strong> <strong>como</strong> incubadora <strong>de</strong> núcleos <strong>de</strong><br />

<strong>educação</strong> e transformação social. Os núcleos necessitam auto-gestão e auto-<br />

sustentabilida<strong>de</strong> financeira. Todos os núcleos <strong>de</strong>vem atuar em re<strong>de</strong>, trocando<br />

experiências, criando sinergias e propiciando a força necessária para a luta social<br />

que enfrentam.<br />

Responsáveis: Rosângela dos Santos Costa, Reginaldo dos Santos Luz;<br />

Atendimento: 05 crianças e adolescentes da comunida<strong>de</strong> São Remo, aulas no<br />

Colégio Universitário Jardim Bonfiglioli acontecem em meio-período, sendo que no<br />

outro período as crianças têm aulas <strong>de</strong> acompanhamento escolar individual ou em<br />

grupo, encontros para planejar seu projeto bimestral <strong>de</strong> intervenção na comunida<strong>de</strong>,<br />

atendimento semanal médio: 10 horas. Realização dos encontros em casa dos<br />

bolsistas ou na Se<strong>de</strong> do Projeto Alavanca Brasil, Participação do Grupo <strong>de</strong><br />

Formação Cidadã.<br />

3.2.1 Objetivos do Projeto Alavanca Brasil:<br />

- Promover a <strong>inclusão</strong> social mediante oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação escolar<br />

melhor para crianças e adolescentes com alto potencial e <strong>de</strong> baixa renda;<br />

- Estruturar um programa educacional <strong>de</strong> longo prazo e altamente integrado,<br />

composto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação escolar, pessoal, bem <strong>como</strong> cidadã;<br />

- Formar mediante o programa <strong>de</strong> “Bolsas para Escolas Particulares”<br />

multiplicadores para atuar na transformação social;<br />

92


- Envolver toda a comunida<strong>de</strong> neste projeto <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> social – familiares,<br />

professores, bolsistas, parceiros e voluntários do Projeto.<br />

3.2.2 Perfil dos Bolsistas:<br />

O Projeto Alavanca Brasil seleciona para o Programa <strong>de</strong> Bolsas para Escolas<br />

Particulares crianças que se <strong>de</strong>stacam pela sua curiosida<strong>de</strong>, criticida<strong>de</strong>,<br />

persistência, responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sempenho escolar. Consi<strong>de</strong>ra-se o apoio e a<br />

estrutura familiares, bem <strong>como</strong> seu reconhecimento do valor da <strong>educação</strong>. Dá-se<br />

preferência a crianças e adolescentes com uma atitu<strong>de</strong> cidadã, ou seja, participação<br />

<strong>de</strong> um voluntariado ou movimento popular.<br />

Na comunida<strong>de</strong> São Remo há várias crianças que surpreen<strong>de</strong>m pela sua<br />

curiosida<strong>de</strong> e potencial, porém faltam as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudo para elas<br />

<strong>de</strong>senvolverem o mesmo e se tornarem transformadores sociais. Julga-se<br />

importante promover a integração entre vários níveis sociais para combater pré-<br />

conceitos e inquietações existentes nos dois lados. Busca-se formar um conjunto <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong>s voltadas à personalida<strong>de</strong> (responsabilida<strong>de</strong>, consciência em relação com a<br />

oportunida<strong>de</strong> e seu papel social, humilda<strong>de</strong>), à escola e participação do Projeto<br />

(organização, pontualida<strong>de</strong>, alto <strong>de</strong>sempenho, assiduida<strong>de</strong>, interesse) e em relação<br />

com a comunida<strong>de</strong> (participação, iniciativa, integração). Para isto são <strong>de</strong>senvolvidas<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação pessoal, escolar e cidadã. Acredita-se que a família e a<br />

escola são agentes-chaves na formação da criança, portanto o Projeto tenta integrar<br />

seu trabalho com estes agentes mediante envolvimento dos mesmos no<br />

planejamento, na execução e avaliação da proposta. Além disso, são <strong>de</strong>senvolvidas<br />

conversas pedagógicas com os educadores voluntários para integrar o máximo a<br />

metodologia. Bimestralmente, são realizados encontros <strong>de</strong> avaliação com bolsistas e<br />

seus familiares para discutir o rendimento obtido e estabelecer novas metas. Os<br />

bolsistas, a partir da 3° série, atuam <strong>como</strong> voluntários. Cada um, bimestralmente,<br />

elabora uma redação segundo um tema sugerido.<br />

3.2.3 Histórico <strong>de</strong> eventos:<br />

Abril a Julho <strong>de</strong> 2003: Contato com pessoas da comunida<strong>de</strong> São Remo e<br />

compreensão maior do estado do sistema escolar brasileiro.<br />

93


Agosto <strong>de</strong> 2003: Matrícula <strong>de</strong> uma criança da comunida<strong>de</strong> em um curso <strong>de</strong><br />

computação e <strong>de</strong> inglês.<br />

Janeiro <strong>de</strong> 2004: Captação <strong>de</strong> recursos com pessoas físicas na Alemanha<br />

para po<strong>de</strong>r matricular crianças em escolas particulares, negociação com vários<br />

colégios privados.<br />

Fevereiro <strong>de</strong> 2004: Matrícula <strong>de</strong> duas crianças no Colégio Jardim Bonfiglioli<br />

(pagamento integral).<br />

Março <strong>de</strong> 2004: Recrutamento <strong>de</strong> voluntários, início das aulas <strong>de</strong><br />

acompanhamento escolar.<br />

Junho <strong>de</strong> 2004: Divulgação do Projeto em escolas públicas para encontrar<br />

mais alunos com condições <strong>de</strong> futuramente entrar em escola particular.<br />

Julho <strong>de</strong> 2004: Alcance <strong>de</strong> mais 11 bolsas no Colégio Jardim Bonfiglioli (troca<br />

por serviços que o Projeto Alavanca Brasil presta na escola).<br />

Agosto <strong>de</strong> 2004: Ampliação do programa <strong>de</strong> Acompanhamento Escolar para a<br />

comunida<strong>de</strong> toda, formulação do perfil que se preten<strong>de</strong> formar nos bolsistas, início<br />

dos serviços prestados junto ao colégio (reforço <strong>de</strong> matemática e oficina <strong>de</strong> web-<br />

site), início do voluntariado dos bolsistas no Projeto.<br />

Setembro <strong>de</strong> 2004: Estruturação da célula pela contratação <strong>de</strong> uma pessoa<br />

para a sua administração.<br />

Outubro <strong>de</strong> 2004: Início do atendimento psicológico para apoiar a integração<br />

das crianças na nova escola, início da elaboração do plano estratégico, captação <strong>de</strong><br />

apostilas para as crianças junto com a Editora Mo<strong>de</strong>rna, saída <strong>de</strong> uma bolsista.<br />

Dezembro <strong>de</strong> 2004: Presença do Projeto no Sábado Cultural do Colégio<br />

Jardim Bonfiglioli.<br />

Fevereiro <strong>de</strong> 2005: Recebimento <strong>de</strong> doações <strong>de</strong> apostilas usadas no colégio,<br />

sistema <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> serviços para todos os bolsistas.<br />

94


Junho <strong>de</strong> 2005: Elaboração <strong>de</strong> um contrato <strong>de</strong> parceria com o Colégio Jardim<br />

Bonfiglioli, mudança da proposta <strong>de</strong> trabalho realizado no Colégio (incubação <strong>de</strong><br />

projetos sociais junto com alunos <strong>de</strong>ntro do Programa “Despertar o Olhar”), saída <strong>de</strong><br />

mais uma bolsista.<br />

Agosto <strong>de</strong> 2005: Elaboração <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> avaliação dos bolsistas,<br />

participação dos pais dos bolsistas <strong>como</strong> voluntários, início da participação frequente<br />

nas reuniões pedagógicas do Colégio.<br />

Novembro <strong>de</strong> 2005: Envolvimento <strong>de</strong> voluntários para discussão da<br />

metodologia, <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> lançar projetos bimestrais <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> eventos<br />

comunitários sob responsabilida<strong>de</strong> dos bolsistas.<br />

Dezembro <strong>de</strong> 2005: Festa <strong>de</strong> encerramento do ano letivo no Colégio<br />

Externato Jardim Bonfiglioli, com apresentações <strong>de</strong> alunos.<br />

Externato.<br />

Janeiro <strong>de</strong> 2006: Compra <strong>de</strong> materiais para os bolsistas, início das aulas no<br />

Fevereiro <strong>de</strong> 2006: Rosângela e Reginaldo passam a coor<strong>de</strong>narem a célula<br />

dos bolsistas.<br />

bolsistas.<br />

Março <strong>de</strong> 2006: Conversa com a diretora e acordo quanto à situação dos<br />

Marco <strong>de</strong> 2006: Reginaldo, voluntário do Projeto Alavanca Brasil, passa a<br />

prestar serviço na biblioteca do Externato Jardim Bonfiglioli.<br />

Maio <strong>de</strong> 2006: Os bolsistas passam a ser financiados por doação vinda da<br />

França, através da voluntária Katiuscia.<br />

Junho <strong>de</strong> 2006: Devido ao acordo feito, os pais participam da <strong>de</strong>coração da<br />

festa Junina do Externato Jardim Bonfiglioli.<br />

Julho <strong>de</strong> 2006: Avaliação dos pais sobre o Programa <strong>de</strong> bolsas, Avaliação<br />

com os bolsistas sobre o Programa <strong>de</strong> bolsas: recesso escolar, retirada dos enfeites<br />

da festa junina.<br />

95


Agosto <strong>de</strong> 2006: Saída <strong>de</strong> uma bolsista, reinício das aulas do segundo<br />

semestre, Marcos, voluntário do Projeto Alavanca Brasil, inicia as aulas no Externato<br />

Jardim Bonfiglioli, dando continuida<strong>de</strong> ao Programa Despertar o Olhar, junto com a<br />

diretora e professora Edna. Nesse período, também foram confeccionadas<br />

camisetas do Externato Jardim Bonfiglioli para os bolsistas e a apresentação das<br />

camisetas para a diretora Edna. Ainda em agosto, ocorreu a seleção <strong>de</strong> novos<br />

bolsistas e contato com o colégio COC em Osasco, para a aceitação <strong>de</strong> novos<br />

bolsistas no programa <strong>de</strong> bolsas: Aulas <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para futuros bolsistas, Prova <strong>de</strong><br />

avaliação para futuros bolsistas. Aluno do Projeto Alavanca presta vestibulinho no<br />

colégio COC em Osasco; é aprovado no vestibulinho; Dorothea e Rosângela fazem<br />

apresentação do Programa <strong>de</strong> bolsas e conversa com pedagogas e direção do<br />

colégio COC em Osasco, Psicóloga da escola COC em Osasco se interessa pelo<br />

programa <strong>de</strong> bolsas do Projeto Alavanca Brasil.<br />

Bolsistas.<br />

Setembro <strong>de</strong> 2006: Boletim informativo Geral tendo <strong>como</strong> <strong>de</strong>staque os<br />

Outubro <strong>de</strong> 2006: Alunos do Projeto Alavanca Brasil prestam prova no<br />

Colégio COC em Osasco e todos passam na prova, porém não foram matriculados.<br />

Dezembro <strong>de</strong> 2006: Apresentação <strong>de</strong> final <strong>de</strong> ano no colégio Externato Jardim<br />

Bonfiglioli com a participação dos bolsistas, Saída <strong>de</strong> três alunos do Programa <strong>de</strong><br />

bolsas, por não estarem <strong>de</strong> acordo com as normas propostas pelo Projeto Alavanca<br />

Brasil, início <strong>de</strong> negociação para substituição <strong>de</strong> bolsas que foram <strong>de</strong>socupadas.<br />

Janeiro <strong>de</strong> 2007: Pedido <strong>de</strong> doação <strong>de</strong> materiais escolares, para papelarias<br />

da região e Editora Mo<strong>de</strong>rna.<br />

bolsas.<br />

Março <strong>de</strong> 2007, por opção da mãe, dois alunos se <strong>de</strong>sligam do programa <strong>de</strong><br />

Junho <strong>de</strong> 2007: durante quatro dias pais e voluntários do Projeto Alavanca<br />

enfeitam a escola para festa junina, Festa junina do colégio com a participação <strong>de</strong><br />

todos os alunos do programa <strong>de</strong> bolsas: Retirada <strong>de</strong> boletins <strong>de</strong> alunos bolsistas,<br />

todos com bom rendimento, Festa <strong>de</strong> encerramento do primeiro semestre, Reunião<br />

<strong>de</strong> pais e mestres no colégio, Retirada <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>irinhas da escola. Janeiro: Reunião<br />

96


com os bolsistas que reafirmam seus i<strong>de</strong>ais quanto à comunida<strong>de</strong>, após a reunião<br />

foi realizado a distribuição <strong>de</strong> materiais.<br />

Fevereiro <strong>de</strong> 2008: reinício das aulas no antes <strong>de</strong>nominado Externato Jardim<br />

Bonfiglioli, atual Colégio Universitário Bonfiglioli.<br />

3.2.4 Desafios atuais:<br />

• Aumentar o número <strong>de</strong> educadores para as ativida<strong>de</strong>s.<br />

• Captação <strong>de</strong> recursos para manutenção das ativida<strong>de</strong>s.<br />

• Estruturação <strong>de</strong> um material didático.<br />

• Aperfeiçoamento das ativida<strong>de</strong>s para conseguir maior<br />

alinhamento com os interesses e necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong>.<br />

• Projeto <strong>de</strong> motivação dos alunos para aumentar sua participação,<br />

frequência e permanência.<br />

• Doadores físicos para compra <strong>de</strong> materiais didáticos, para-<br />

didáticos, e uniforme escolar dos alunos bolsistas.<br />

Hoje a comunida<strong>de</strong> São Remo vê o Projeto Alavanca <strong>como</strong> uma instituição da<br />

própria comunida<strong>de</strong> com a real possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento pessoal tanto dos<br />

estudantes que são acompanhados diariamente no reforço escolar <strong>como</strong> dos<br />

estudantes que apren<strong>de</strong>m idiomas e almejam uma experiência <strong>de</strong> fazer parte do<br />

programa <strong>de</strong> intercâmbio, e assim ter a chance <strong>de</strong> conhecer outros países. Há ainda<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento pessoal dos funcionários e voluntários que<br />

percebem diretamente o reconhecimento do seu trabalho pelos moradores do bairro<br />

e da comunida<strong>de</strong> local pelo <strong>de</strong>senvolvimento das pessoas e, sobretudo, da<br />

relevância do Projeto Alavanca Brasil em âmbito nacional e internacional. Isso se<br />

passa em um ambiente agradável que já é parte da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong> São<br />

Remo, a presença <strong>de</strong> amigos e vizinhos faz do Projeto Alavanca Brasil uma escola<br />

da comunida<strong>de</strong> por conta da administração ser aberta e composta <strong>de</strong> pessoas da<br />

comunida<strong>de</strong> local, <strong>como</strong> afirma Almeida (2005), se referindo ao movimento Escola<br />

Aberta, não caber em uma gra<strong>de</strong> curricular fechada, pois esse tipo <strong>de</strong> instituição<br />

exige mudança nos tempos e espaços tanto da escola quanto das pessoas, o autor<br />

se refere à escola <strong>como</strong> espaço da comunida<strong>de</strong> local:<br />

97


Quando se fala que a escola é da comunida<strong>de</strong>, é necessário evitar a<br />

confusão entre a escola <strong>como</strong> patrimônio público, cujo serviço se <strong>de</strong>stina a<br />

todos que necessitam e a escola <strong>como</strong> “espaço privatizado” por pessoas ou<br />

instituições que se auto<strong>de</strong>terminam representantes <strong>de</strong>stes e, quando não,<br />

seus substitutos. A escola não é patrimônio privado <strong>de</strong> uma pessoa, <strong>de</strong> um<br />

grupo ou <strong>de</strong> uma instituição, por mais representativos que se digam ou que<br />

efetivamente sejam. Ela é sempre um lugar <strong>de</strong> todos, sobretudo daqueles<br />

que as adversida<strong>de</strong>s acabaram por <strong>de</strong>ixar sem voz, os excluídos. É<br />

diferente a escola ser um espaço público, cujo serviço é <strong>de</strong>mocratizado, e<br />

um espaço <strong>de</strong> que alguns se apossam <strong>como</strong> se fosse privado, até mesmo<br />

consi<strong>de</strong>rando o servidor público <strong>como</strong> se fosse seu empregado particular.<br />

(ALMEIDA, 2005: p.56).<br />

Nas ativida<strong>de</strong>s do cotidiano do Projeto Alavanca Brasil, convive-se com<br />

resultados práticos, quanto à contextualização da escola em promover o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local. Nas semanas que antece<strong>de</strong>m as eleições é comum que os<br />

partidos busquem nas favelas mão <strong>de</strong> obra para panfletagem nos semáforos e nos<br />

calçadões; isso não é diferente na comunida<strong>de</strong> São Remo: presenciou-se na época<br />

das eleições para governador <strong>de</strong> estado, em 2008, uma evasão dos funcionários, o<br />

telefone do Projeto Alavanca Brasil estava constantemente recebendo ligações à<br />

procura dos funcionários, os mesmos conversavam em tom baixinho ao telefone ou<br />

eram muito breves na ligação. Na sequência, pediam para sair um instante alegando<br />

a busca da solução <strong>de</strong> um problema pessoal, nos dias seguintes, não vinham<br />

trabalhar e, quando retornavam, alegavam problemas pessoais. Todos os outros que<br />

ficavam, além dos alunos sabiam que aqueles funcionários trabalhavam nos<br />

semáforos da região com panfletagens, em troca <strong>de</strong> um “bom dinheiro” <strong>como</strong> diziam,<br />

a prática nunca foi repreendida por ninguém no Projeto Alavanca Brasil.<br />

Nas eleições para presi<strong>de</strong>nte da república em 2010, notou-se uma gran<strong>de</strong><br />

mudança nos hábitos dos mesmos funcionários, com a proximida<strong>de</strong> do período das<br />

eleições, as ligações começaram a acontecer, <strong>como</strong> <strong>de</strong> costume, ninguém se<br />

manifestou sobre as <strong>de</strong>cisões pessoais do funcionário, mas <strong>de</strong>ssa vez, notou-se que<br />

falavam no telefone com expressões negativas, seguidas <strong>de</strong> um sussurro “não vai<br />

dar, eu estou trabalhando”. O que acontecia fora confirmado nas conversas com os<br />

outros funcionários: as pessoas que fazem parte do Projeto Alavanca Brasil <strong>de</strong>ssa<br />

vez recusaram as propostas <strong>de</strong> trabalho temporário. Continuamos <strong>de</strong>ixando as<br />

pessoas à vonta<strong>de</strong> para <strong>de</strong>cidir on<strong>de</strong> e <strong>como</strong> querem trabalhar.<br />

98


Esse fato po<strong>de</strong> ser entendido <strong>como</strong> uma sensação <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, as<br />

pessoas que trabalham no Projeto Alavanca Brasil, sentem a importância <strong>de</strong> estar<br />

presentes para as tarefas acontecerem, o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local está<br />

presente, principalmente, nas <strong>de</strong>cisões das pessoas em valorizar sua ativida<strong>de</strong>,<br />

comunida<strong>de</strong> e cultura.<br />

3.3 Intercâmbio e ativida<strong>de</strong>s<br />

Dorothea estava <strong>de</strong>scendo a rua, ao passar ao lado <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> crianças,<br />

ela percebeu que um <strong>de</strong>les estava brincando com uma metralhadora <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

Ela parou e, aparentemente zangada, olhou para o menino que aparentava cinco<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Nesse momento, o menino apontou a “arma” e com a boca fez um<br />

som <strong>de</strong> uma rajada; foi o que bastou para Dorothea ficar furiosa e tomar do menino<br />

o brinquedo, com certa dificulda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à resistência da criança. Quando ela tirou<br />

o brinquedo do menino, ele pegou uma pedra e ameaçou atirar nela. Ela <strong>de</strong>volveu o<br />

brinquedo ao menino que a agrediu verbalmente. Tal reação foi suficiente para que a<br />

mãe do menino, em companhia <strong>de</strong> outras mulheres que estavam sentadas na<br />

calçada, rirem da cena.<br />

Na primeira oportunida<strong>de</strong> em que o episódio foi rememorado, ela disse não<br />

concordar com crianças brincando com armas. Ela ainda alegou que sabia que um<br />

marceneiro da comunida<strong>de</strong> construía armas com sobras <strong>de</strong> retalhos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e as<br />

dava para as crianças. Ela já conversara com ele a respeito, e tudo se repetia: no<br />

momento da conversa ele concordava, mas quando ela vira as costas, ele voltava a<br />

fazer as armas <strong>de</strong> brinquedo. Ela comentou que, na Alemanha, as crianças não<br />

brincam <strong>de</strong> armas, em hipótese nenhuma, se isso acontecer a criança <strong>de</strong>ve ser<br />

repreendida e ter o seu brinquedo <strong>de</strong>struído.<br />

Explicou-se que, até alguns anos atrás, no Brasil, as armas <strong>de</strong> brinquedo<br />

eram comuns e, para os adultos, nisso, não havia nenhum problema.<br />

Como comentamos antes, o estado é conivente com a liberda<strong>de</strong> informal nas<br />

ruas da comunida<strong>de</strong> São Remo, isso se reflete na segurança que o menino teve em<br />

enfrentar um adulto que tomou seu brinquedo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong> que tipo <strong>de</strong><br />

99


inquedo fosse. Pergunta-se: em um ambiente fora da comunida<strong>de</strong> <strong>como</strong>, por<br />

exemplo, na escola o menino teria a mesma reação?<br />

A partir <strong>de</strong>sse evento, propuseram-se cursos para ensinar as crianças a<br />

<strong>de</strong>senhar outros tipos <strong>de</strong> brinquedos com retalhos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira dos marceneiros. O<br />

próprio marceneiro iria apren<strong>de</strong>r a construir outros brinquedos, <strong>de</strong>ssa vez, com maior<br />

valor educativo, assim <strong>como</strong> as crianças seriam induzidas a <strong>de</strong>sejarem brinquedos<br />

mais a<strong>de</strong>quados, sobretudo, sobretudo, <strong>de</strong> cunho pacífico. Depois do ocorrido com o<br />

menino, direcionou-se o foco para uma <strong>educação</strong> cultural, pensando no isolamento<br />

que os moradores da comunida<strong>de</strong> São Remo sofrem tanto por parte do estado <strong>como</strong><br />

parte da socieda<strong>de</strong>, propôs-se um projeto maior, um intercâmbio cultural entre<br />

jovens brasileiros e alemães. Os jovens estudantes alemães entram em contato com<br />

os colaboradores na se<strong>de</strong> em Krummensee, Bran<strong>de</strong>nburg, Alemanha, passam por<br />

uma triagem, recebem material com a <strong>de</strong>scrição do Brasil, contendo informações<br />

culturais, geográficas, populacional, educacional e política, informações e histórico<br />

da comunida<strong>de</strong> São Remo e <strong>de</strong> seus moradores, estudam a língua portuguesa e<br />

escrevem um projeto contendo o que po<strong>de</strong>riam fazer para os jovens da comunida<strong>de</strong><br />

São Remo experimentar outra cultura, o que eles po<strong>de</strong>riam acrescentar para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local e <strong>como</strong> po<strong>de</strong>riam receber um intercambista da comunida<strong>de</strong><br />

São Remo.<br />

Após a escolha do voluntário intercambista, ele recebe mais materiais<br />

contendo informações mais <strong>de</strong>talhadas do projeto e seus objetivos, exercita a língua<br />

portuguesa com o pessoal do Projeto Alavanca é <strong>de</strong>finido o tempo pré-<strong>de</strong>terminado<br />

<strong>de</strong> permanência no Brasil, o projeto cuida da carta ofício para obtenção do visto <strong>de</strong><br />

um ano e em seguida o voluntário viaja para o Brasil.<br />

O voluntário estrangeiro <strong>de</strong>ve ficar morando na comunida<strong>de</strong> São Remo,<br />

convivendo com os moradores locais, eles são levados aos pontos turísticos da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e até em outras cida<strong>de</strong>s, possuem um banco <strong>de</strong> horas para<br />

trabalho na se<strong>de</strong> do projeto, trabalham <strong>como</strong> monitores em quase todas as<br />

ativida<strong>de</strong>s do Projeto Alavanca e colocam em prática o projeto que i<strong>de</strong>alizaram ainda<br />

na Alemanha, recebem uma quantia em dinheiro mensal para gastos pessoais e no<br />

final do período passam quinze dias em qualquer cida<strong>de</strong> do Brasil por conta do<br />

Projeto Alavanca Brasil.<br />

100


Os projetos dos alemães são variados e vão ao encontro <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s<br />

pessoais, <strong>como</strong> é o caso <strong>de</strong> um jovem marceneiro <strong>de</strong> móveis rústicos, <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

não industrializada. Através <strong>de</strong> processos manuais usando serrote, formão e arco <strong>de</strong><br />

pua, ministrou cursos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho e fabricação <strong>de</strong> móveis e, juntamente com os<br />

alunos, construiu uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobiliário para o Projeto Alavanca. O curso<br />

possui uma base em geometria bastante <strong>de</strong>senvolvida e requer pouco recurso e<br />

baixo investimento em ferramentas. Nas aulas, releva-se o fato <strong>de</strong> esse trabalho é<br />

muito valorizado na Alemanha.<br />

Foto 7– curso <strong>de</strong> marcenaria e moveis rústicos.<br />

Outro projeto <strong>de</strong>senvolvido por um estudante <strong>de</strong> Geografia foi um curso <strong>de</strong><br />

mapeamento da comunida<strong>de</strong>, com pesquisa social, houve também uma escola <strong>de</strong><br />

futebol para meninas com uma jovem jogadora <strong>de</strong> futebol amador, jogos<br />

cooperativos, reforço escolar com o ensino da Matemática praticado na Alemanha,<br />

construção e organização da biblioteca comunitária, entre outras ativida<strong>de</strong>s, mas<br />

todos os voluntários alemães lecionam o idioma alemão e, assim, preparam os<br />

jovens da comunida<strong>de</strong> para viajar à Alemanha.<br />

Cinco jovens, sendo duas moças e três rapazes, com ida<strong>de</strong>s entre 17 e 22<br />

anos, moradores da comunida<strong>de</strong> São Remo, viajaram para a Alemanha, compondo<br />

parte do programa <strong>de</strong> intercâmbio cultural. Os jovens ficaram entre seis meses e um<br />

ano, durante esse tempo, eles convivem na casa <strong>de</strong> uma família fazendo parte do<br />

cotidiano local, estudam o idioma alemão, fazem cursos <strong>de</strong> capacitação e trabalham<br />

101


junto com os voluntários alemães que vivem na Alemanha. Fazem visitas às<br />

empresas dos colaboradores e participam das apresentações e reuniões para<br />

obtenção <strong>de</strong> recursos. Fazem um “diário <strong>de</strong> bordo” e, semanalmente, realizam uma<br />

vi<strong>de</strong>oconferência com os amigos, alunos e gestores no Projeto Alavanca Brasil, na<br />

comunida<strong>de</strong> São Remo. Com isso, divi<strong>de</strong>m parte das experiências vividas no<br />

momento em que acontecem. O projeto envia para o intercâmbio os jovens<br />

moradores da comunida<strong>de</strong> São Remo, que <strong>de</strong>vem possuir condição mínima <strong>de</strong> ler,<br />

escrever e falar o idioma alemão, ler razoavelmente o idioma inglês, e<br />

comprometem-se em organizar e ministrar palestra e curso para os outros alunos e<br />

integrantes do Projeto Alavanca sobre as experiências vividas fora do Brasil e<br />

relacionar com o futuro.<br />

O resultado disso é bastante positivo na questão do <strong>de</strong>senvolvimento, os<br />

jovens voltaram com uma visão mais ampla <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e participam da reunião <strong>de</strong><br />

secretaria e coor<strong>de</strong>nação, <strong>de</strong>monstram maturida<strong>de</strong> para discutir os caminhos a<br />

seguir tanto no Projeto Alavanca Brasil <strong>como</strong> na comunida<strong>de</strong> São Remo.<br />

Com a convivência diária <strong>de</strong> vários jovens alemães na comunida<strong>de</strong> São<br />

Remo, é notável a mudança nos moradores em relação à valorização do espaço<br />

local, é <strong>como</strong> se a casa recebesse visita <strong>de</strong> fora e, antes que a visita se torne<br />

totalmente da casa, ela vai embora e outras novas chegam. Com o tempo, os<br />

moradores foram se acostumando com o trânsito <strong>de</strong> pessoas que não são da<br />

comunida<strong>de</strong>. Constantemente, organizam-se almoços e cada um tem o espaço para<br />

colocar em prática suas aptidões culinárias, ministram-se oficinas <strong>de</strong> fazer pão <strong>de</strong><br />

queijo, preenchem-se as vagas na cozinha rapidamente, inclusive pelos alemães.<br />

Em conversas com moradores sobre a presença <strong>de</strong> estrangeiros na comunida<strong>de</strong>, a<br />

imagem é sempre positiva com valorização do local somado com a experiência que<br />

alguns adquirem fora do Brasil, e orgulham-se da comunida<strong>de</strong> São Remo ser<br />

reconhecida internacionalmente. A conquista da doação <strong>de</strong> um automóvel por<br />

intermédio da câmara <strong>de</strong> comercio Brasil-Alemanha, foi motivo <strong>de</strong> muita alegria para<br />

a comunida<strong>de</strong>, a entrega do veículo foi feita pela Chanceler da Alemanha Angela<br />

Merkel e os diretores das fábricas do Brasil e da Alemanha receberam alguns alunos<br />

na unida<strong>de</strong> fabril da Volkswagen em São Bernardo do Campo.<br />

102


Foto 8– Doação do automóvel.<br />

Algumas ativida<strong>de</strong>s são do tipo mutirão, <strong>como</strong> foi o caso da pintura do Projeto<br />

Alavanca Brasil. Logo após as obras <strong>de</strong> construção estar terminadas, as pare<strong>de</strong>s do<br />

prédio precisavam <strong>de</strong> pintura. Buscou-se contato e conseguiu-se junto a uma<br />

indústria fabricante <strong>de</strong> tinta, todo o material para fazer a pintura do prédio. Quando o<br />

material chegou, a indústria enviou os pintores para começarem o trabalho.<br />

Convocaram-se todos os jovens para pintar o prédio. A experiência <strong>de</strong>u muito<br />

trabalho, pois no início era tudo motivo <strong>de</strong> alegria. O envolvimento foi tão gran<strong>de</strong> que<br />

houve disputa na escolha das cores e dos pintores da escada. quando se<br />

completavam Após duas semanas <strong>de</strong> trabalho, tudo estava pronto. Os bons<br />

resultados são <strong>de</strong>vidos ao fato <strong>de</strong> que o prédio é pintado pela comunida<strong>de</strong> local e,<br />

também, é conservado pela comunida<strong>de</strong> local.<br />

Foto 9– Fachada do prédio.<br />

103


Outras ativida<strong>de</strong>s são promovidas <strong>como</strong> é o caso <strong>de</strong> passeios culturais em<br />

conjunto com a realização dos cursos, são oferecidos várias ativida<strong>de</strong>s e oficinas<br />

com profissionais das áreas relacionadas com o tema. No caso, a <strong>educação</strong> para o<br />

meio ambiente tem um objetivo em comum, o conhecimento do espaço quanto à<br />

geografia, ecologia e biodiversida<strong>de</strong> local.<br />

Foto 10– oficina <strong>de</strong> reciclagem e meio ambiente.<br />

Os alunos fotografam e i<strong>de</strong>ntificam as espécies <strong>de</strong> animais que vivem na<br />

região <strong>como</strong>, por exemplo, as capivaras que vivem nas margens do rio Pinheiros e<br />

transitam entre as galerias, dutos e pelo córrego Pirajussara, das margens do rio até<br />

o interior do campus universitário da USP.<br />

Os alunos e voluntários vão a passeios <strong>de</strong> barco no rio Tietê. Entre as<br />

ativida<strong>de</strong>s, há passeios em locais <strong>de</strong> cultura e lazer próximos <strong>como</strong> é o caso do pico<br />

do Jaraguá, Bienal <strong>de</strong> arte mo<strong>de</strong>rna, Bienal do livro, Museu do Ipiranga, Museu da<br />

língua portuguesa, Pinacoteca do Estado <strong>de</strong> São Paulo, Estação ciência, Vila <strong>de</strong><br />

Paranapiacaba, entre outros.<br />

104


Foto 11 – passeio <strong>de</strong> barco pelo rio Tietê.<br />

Foto 12– visita à Bienal do livro.<br />

Foto 13– passeio ao Pico do Jaraguá.<br />

105


Foto 14– Passeio ao sítio São Lourenço da Serra.<br />

As fotos acima registram alguns das ativida<strong>de</strong>s externas em grupo, são<br />

passeios <strong>de</strong> cunho cultural e recreativo. Os passeios são escolhidos, conforme o<br />

aproveitamento do conteúdo cultural, em relação à localida<strong>de</strong> e conforme o custo<br />

financeiro. Quanto mais longe for o local <strong>de</strong> visita, mais conteúdo ele <strong>de</strong>ve oferecer,<br />

por exemplo, as ativida<strong>de</strong>s na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo são avaliadas, com base no<br />

custo financeiro, isso porque a região possui uma oferta muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

culturais gratuitas ou <strong>de</strong> baixo custo, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investimento elevado<br />

necessitam <strong>de</strong> uma avaliação mais apurada. Essa prática mantém as condições<br />

primárias <strong>de</strong> acesso do grupo social, são passeios que as pessoas da comunida<strong>de</strong><br />

São Remo po<strong>de</strong>riam fazer sem muito esforço financeiro, mas o <strong>de</strong>sconhecimento<br />

dos programas culturais gratuitos e <strong>de</strong> baixo custo resultam na a<strong>como</strong>dação e o<br />

Projeto Alavanca Brasil atua praticando a cultura da busca <strong>de</strong> recursos possíveis<br />

para o local, ou seja, os passeios não são soluções paliativas, os jovens que vão<br />

aos passeios, com o tempo, percebem que também po<strong>de</strong>m ir sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

outro. Referindo-se à questão da <strong>de</strong>mocratização da cultura, Freire discorre:<br />

Partíamos <strong>de</strong> que a posição normal do homem, (...) era e não apenas estar<br />

no mundo, mas com ele. A <strong>de</strong> travar relações permanentes com este<br />

mundo, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>corre pelos atos <strong>de</strong> criação e recriação, o<br />

acrescentamento que ele faz ao mundo, natural, que não fez, representado<br />

na realida<strong>de</strong> cultural. E <strong>de</strong> que, nestas relações com a realida<strong>de</strong> e na<br />

realida<strong>de</strong>, trava o homem uma relação especifica – <strong>de</strong> sujeito para objeto –<br />

<strong>de</strong> que resulta o conhecimento, que expressa pela linguagem. (FREIRE,<br />

2003: p.112-113).<br />

106


3.4 Impactos do Projeto Alavanca Brasil<br />

As bolsas <strong>de</strong> estudo são, sem dúvida, um bom recurso para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos estudantes da comunida<strong>de</strong> São Remo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do<br />

projeto, as bolsas <strong>de</strong> estudo estão presentes e são <strong>de</strong>sejadas por diversas mães<br />

que buscam um futuro melhor para o seus filhos.<br />

Inicialmente o projeto tinha <strong>como</strong> priorida<strong>de</strong>s as ativida<strong>de</strong>s divididas em<br />

grupos, são eles: intercâmbio cultural, passeios e eventos, participação dos<br />

moradores, reforço escolar e bolsas <strong>de</strong> estudo. Na figura abaixo as setas indicam o<br />

grau <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> para a seta <strong>de</strong> maior tamanho e menor priorida<strong>de</strong> para a seta<br />

menor.<br />

O intercâmbio cultural é <strong>de</strong> baixa priorida<strong>de</strong> por limitações financeiras,<br />

passeios e eventos são <strong>de</strong> média priorida<strong>de</strong> pela fácil realização, a participação <strong>de</strong><br />

moradores em todas as ativida<strong>de</strong>s é <strong>de</strong> maior importância para continuida<strong>de</strong> dos<br />

trabalhos, o reforço escolar é <strong>de</strong> média priorida<strong>de</strong> por limitações <strong>de</strong> espaço físico e<br />

baixa a<strong>de</strong>são e as bolsas <strong>de</strong> estudo são <strong>de</strong> baixa priorida<strong>de</strong>.<br />

EDUCAÇÃO<br />

CONTEXTUALIZADA<br />

PRIORIDADE DAS ATIVIDADES<br />

INTERCÂMBIO<br />

CULTURAL<br />

PASSEIOS E<br />

EVENTOS<br />

PARTICIPAÇÃO DE<br />

MORADORES<br />

REFORÇO<br />

ESCOLAR<br />

BOLSAS DE<br />

ESTUDO<br />

Figura 14<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

LOCAL<br />

107


Durante a realização das ativida<strong>de</strong>s, as bolsas <strong>de</strong> estudo se <strong>de</strong>stacaram em<br />

relação às outras.<br />

EDUCAÇÃO<br />

CONTEXTUALIZADA<br />

REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES<br />

INTERCÂMBIO<br />

CULTURAL<br />

PASSEIOS E<br />

EVENTOS<br />

PARTICIPAÇÃO DE<br />

MORADORES<br />

REFORÇO<br />

ESCOLAR<br />

BOLSAS DE<br />

ESTUDO<br />

Figura 15<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

LOCAL<br />

Os resultados das ativida<strong>de</strong>s levaram ao <strong>de</strong>senvolvimento pessoal e local<br />

conforme a figura abaixo.<br />

EDUCAÇÃO<br />

CONTEXTUALIZADA<br />

RESULTADO DAS ATIVIDADES<br />

INTERCÂMBIO<br />

CULTURAL<br />

PASSEIOS E<br />

EVENTOS<br />

PARTICIPAÇÃO DE<br />

MORADORES<br />

REFORÇO<br />

ESCOLAR<br />

BOLSAS DE<br />

ESTUDO<br />

Figura 16<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

LOCAL / PESSOAL<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

PESSOAL<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

LOCAL<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

PESSOAL<br />

CONFLITO<br />

PESSOAL<br />

108


Nos resultados das ativida<strong>de</strong>s as bolsas <strong>de</strong> estudo se <strong>de</strong>stacam com a<br />

geração <strong>de</strong> conflitos pessoais <strong>de</strong>vido à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhamento no grupo<br />

escolar.<br />

Percebeu-se que a condição <strong>de</strong> permanência no local não <strong>de</strong>ve ser base para<br />

os objetivos das ativida<strong>de</strong>s, e sim uma questão <strong>de</strong> opção uma vez que o próprio<br />

local po<strong>de</strong> gerar <strong>de</strong>senvolvimento nos moradores.<br />

Figura 17<br />

Os ajustes nos planejamentos são necessários para a<strong>de</strong>quar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento no contexto metropolitano on<strong>de</strong> este se faz em uma condição <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />

Seria senso comum imaginar que, ao matricular uma criança em uma escola<br />

<strong>de</strong> grupo social abastado, se está fazendo <strong>inclusão</strong> e reduzindo as distâncias entre<br />

os grupos sociais em questão. Na dimensão teórica, estaria realmente reduzindo as<br />

distâncias dos grupos, na dimensão prática da escola, as diferenças são reforçadas<br />

pelos aspectos físicos, culturais e, em especial, pelo <strong>de</strong>senvolvimento escolar, este<br />

último, por sua vez, po<strong>de</strong> gerar uma condição <strong>de</strong> isolamento do grupo <strong>de</strong><br />

convivência escolar, resultando em mais dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem até a<br />

condição <strong>de</strong> exclusão velada. Não se preten<strong>de</strong> aqui, criticar o trabalho que se tem<br />

109


feito em relação às bolsas <strong>de</strong> estudo em instituições <strong>de</strong> ensino privado, a solução é<br />

válida, mas é paliativa, e a maior parcela do <strong>de</strong>senvolvimento local não está na<br />

<strong>educação</strong> formal, segundo Gohn:<br />

(...) é importante reiterar novamente que a <strong>educação</strong> não formal não <strong>de</strong>ve<br />

ser vista, em hipótese alguma, <strong>como</strong> algum tipo <strong>de</strong> proposta contra ou<br />

alternativa à <strong>educação</strong> formal, escolar. Já afirmamos: ela não <strong>de</strong>ve ser<br />

<strong>de</strong>finida pelo que não é, mas sim pelo que ela é – um espaço concreto <strong>de</strong><br />

formação com a aprendizagem <strong>de</strong> saberes para vida em coletivos, para a<br />

cidadania. Esta formação envolve aprendizagens tanto <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m subjetiva –<br />

relativa ao plano emocional e cognitivo das pessoas – <strong>como</strong> aprendizagem<br />

<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s corporais, técnicas, manuais etc. que os capacitam para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação, resultado <strong>de</strong> um produto<br />

<strong>como</strong> fruto do trabalho realizado. Estes saberes não po<strong>de</strong>m ser valores<br />

impostos, <strong>de</strong> cima para baixo, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando a autonomia <strong>de</strong><br />

cidadãos(ãs). Mas estes(as) cidadãos(ãs) não po<strong>de</strong>m ser vistos<br />

isoladamente. A contextualização do lugar e tempo on<strong>de</strong> ocorrem processos<br />

<strong>de</strong> <strong>educação</strong> não formal é algo <strong>de</strong> suma importância para enten<strong>de</strong>r seu<br />

caráter, sentido e significado também. (GOHN, 2010: p.40).<br />

A proposta do Projeto Alavanca Brasil é <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local por<br />

consequência do <strong>de</strong>senvolvimento cultural do sujeito no local, há intenção <strong>de</strong> que as<br />

pessoas se <strong>de</strong>senvolvam com recursos próprios, <strong>como</strong> acontece com as ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> reforço escolar. Os jovens que iniciaram as aulas <strong>de</strong> acompanhamento e reforço<br />

escolar eram voluntários <strong>de</strong> fora da comunida<strong>de</strong> São Remo, com o tempo foram<br />

substituídos por monitores que um dia foram estudantes do Projeto Alavanca Brasil.<br />

Hoje muitos já foram substituídos por outros e assim sucessivamente. Apren<strong>de</strong>r e<br />

ensinar fazem parte da vida, da existência humana (FREIRE, 1997). A <strong>de</strong>scoberta, a<br />

criação, a linguagem, a monitoria, assim <strong>como</strong> os outros ofícios, já são<br />

<strong>de</strong>senvolvidos por moradores locais.<br />

Outras ativida<strong>de</strong>s acontecem com maior frequência <strong>como</strong> é o caso do<br />

cineclube que acontece nos sábados à tar<strong>de</strong>. Antes do filme, é feita uma pequena<br />

reunião e o assunto relacionado ao tema do filme é discutido abertamente para<br />

<strong>de</strong>pois iniciar a projeção, é feita uma pequena pausa <strong>de</strong> alguns minutos para<br />

distribuir ao público refresco e pipoca, e ao término do filme são questionadas as<br />

conclusões <strong>de</strong> cada um.<br />

110


Hoje o Projeto Alavanca Brasil possui no quadro <strong>de</strong> funcionários, secretarias,<br />

coor<strong>de</strong>nação e direção, somente moradores locais, as crianças têm a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

entrar e sair, vão a pé, pois estão a uma pequena caminhada <strong>de</strong> casa, têm <strong>como</strong><br />

monitores seus colegas <strong>de</strong> bairro mais experientes, respeitam as instalações,<br />

ajudam a manter as instalações. Estes são alguns dos valores locais, valores<br />

comunitários, as amiza<strong>de</strong>s e experiências internacionais, o uso <strong>de</strong> computadores em<br />

re<strong>de</strong>, os idiomas que se apren<strong>de</strong>m fazem o mundo menor para os olhos dos jovens<br />

da Comunida<strong>de</strong> São Remo. Essa forma <strong>de</strong> <strong>educação</strong> integral, ou seja, na escola, no<br />

bairro, em casa, promove a autonomia crítica e <strong>de</strong> escolha e é nesse sentido que<br />

Dowbor afirma:<br />

O que visamos é uma escola um pouco menos lecionadora, e um pouco<br />

mais articuladora dos diversos espaços do conhecimento que existem em<br />

cada localida<strong>de</strong>, em cada região. E educar os alunos <strong>de</strong> forma a que se<br />

sintam familiarizados e inseridos nesta realida<strong>de</strong>. (DOWBOR, 2006: p.8).<br />

A cultura <strong>de</strong> administrar uma ONG que é da comunida<strong>de</strong> São Remo para a<br />

comunida<strong>de</strong> São Remo faz dos moradores, gestores do próprio <strong>de</strong>stino, somente<br />

quem é morador saberá as necessida<strong>de</strong>s do local, portanto é preciso fazer conhecer<br />

a dinâmica do grupo social para posteriormente po<strong>de</strong>r intervir.<br />

111


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O objetivo inicial da pesquisa foi compreen<strong>de</strong>r em que medida a proposta <strong>de</strong><br />

<strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> atua <strong>como</strong> <strong>instrumento</strong> <strong>de</strong> <strong>inclusão</strong> social em regiões<br />

metropolitanas. Para isso buscou-se enten<strong>de</strong>r a noção <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong>,<br />

a partir <strong>de</strong> uma revisão da literatura sobre o assunto, uma reflexão sobre o próprio<br />

processo formativo, por meio do qual foi possível <strong>de</strong>stacar as dificulda<strong>de</strong>s que um<br />

jovem enfrenta em um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> escola que privilegia a or<strong>de</strong>m, em <strong>de</strong>trimento da<br />

inteligência e da criativida<strong>de</strong>. Recorreu-se também à observação participante uma<br />

vez que o pesquisador atua no projeto on<strong>de</strong> é realizada a pesquisa.<br />

O trabalho <strong>de</strong> campo foi realizado no Projeto Alavanca Brasil, uma entida<strong>de</strong><br />

do terceiro setor que surgiu <strong>como</strong> apoio à escolarização das crianças <strong>de</strong> uma favela<br />

e que, com o passar do tempo, teve seu raio <strong>de</strong> atuação ampliado e passou a<br />

trabalhar, visando a matricular as crianças que estavam fora da escola, a buscar<br />

bolsas <strong>de</strong> estudo em escolas da região para os alunos que se <strong>de</strong>stacavam e a<br />

promover ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> profissionalização para jovens e adultos da comunida<strong>de</strong><br />

com perspectiva <strong>de</strong> colocação no mercado <strong>de</strong> trabalho. O projeto teve início a partir<br />

<strong>de</strong> uma iniciativa individual e, aos poucos, foi conseguindo a<strong>de</strong>sões <strong>de</strong> pessoas e<br />

empresas que passaram a contribuir para o seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Uma das principais ban<strong>de</strong>iras do projeto é promover o <strong>de</strong>senvolvimento local<br />

por meio da garantia <strong>de</strong> direito à escola para as crianças, do aumento da<br />

escolarização dos jovens e adultos e da profissionalização. Para isso, hoje a<br />

entida<strong>de</strong> viabiliza 300 bolsas <strong>de</strong> estudo para crianças em escolas particulares da<br />

região local, possui cursos preparatórios pré-vestibular, reforço escolar, cursos <strong>de</strong><br />

capacitação em ativida<strong>de</strong>s <strong>como</strong> informática, marcenaria e artes gráficas; cursos <strong>de</strong><br />

línguas em inglês e alemão e um programa <strong>de</strong> intercâmbio cultural <strong>de</strong> estudantes e<br />

profissionais <strong>de</strong> diversas partes da Alemanha que atuam <strong>como</strong> voluntários. Desta<br />

forma, não se caracteriza <strong>como</strong> uma escola e, sim, <strong>como</strong> uma ativida<strong>de</strong> paralela à<br />

escola.<br />

O projeto hoje conta com apoio do programa <strong>de</strong> voluntariado do governo<br />

alemão, que fornece recursos para a viagem e estadia dos voluntários, os <strong>de</strong>mais<br />

cursos e bolsas têm o apoio financeiro <strong>de</strong> parcerias com empresas situadas na<br />

112


Região Oeste <strong>de</strong> São Paulo com se<strong>de</strong> na Alemanha <strong>como</strong> é o caso da Semikron.<br />

Outros incentivos, <strong>como</strong> doações, são <strong>de</strong> origem em outras empresas (Volkswagen,<br />

Basf, Bosch, Votorantim, Munte) e da câmara <strong>de</strong> comercio Brasil-Alemanha. A<br />

entida<strong>de</strong> possui o reconhecimento da Unicef.<br />

A pesquisa mostra que o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto tem contribuído para a<br />

facilitação do percurso dos jovens na escola e para a sua profissionalização.<br />

Contudo, ainda há uma certa distância entre a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> formação e permanência no<br />

local. Muitos jovens, quando adquirem certa capacitação profissional e conseguem<br />

emprego, vão procurar lugar melhor para viver. Mas, há aqueles que ficam e que<br />

procuram melhorar as condições <strong>de</strong> vida no local. Neste sentido, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar<br />

a participação <strong>de</strong> pessoas da comunida<strong>de</strong> na coor<strong>de</strong>nação da escola, preocupação<br />

com a <strong>de</strong>stinação do lixo e maior interesse pelo acompanhamento das carianças na<br />

escola.<br />

A viabilização <strong>de</strong> bolsas em escolas particulares tem se mostrado uma<br />

proposta, em certo sentido, ina<strong>de</strong>quada para a comunida<strong>de</strong> e há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<br />

revista. As crianças do projeto geralmente não se adaptam nas escolas <strong>de</strong> classe<br />

média para on<strong>de</strong> vão. Incluí-los nestas escolas apresentou-se <strong>como</strong> uma iniciativa<br />

que promovia angústia e sofrimento para aqueles que não aceitavam se converter à<br />

i<strong>de</strong>ologia da escola.<br />

Essa situação tem mostrado que, aos poucos, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>como</strong><br />

trampolim para uma pessoa escapar da sua região ou galgar um posto mais alto na<br />

pirâmi<strong>de</strong> social vem sendo substituída pela i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma <strong>educação</strong> voltada para a<br />

rearticulação social. À medida que a comunida<strong>de</strong> começa a ter mais acesso ao<br />

conhecimento e vai apren<strong>de</strong>ndo a lidar com ele po<strong>de</strong> intervir na própria realida<strong>de</strong><br />

com vista a transformá-la para melhor e com isto promover a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

humana coletiva. A <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> é um <strong>instrumento</strong> importante para<br />

este processo, na medida em que ela aponta para uma possibilida<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> os<br />

cidadãos tomarem nas mãos a própria história.<br />

Construir uma proposta <strong>de</strong>ste tipo, em um cenário complexo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo, não é tarefa fácil ainda mais em uma realida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a situação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> em que vivem as pessoas provoca sentimentos e reações diversas<br />

113


naqueles que tentam nela intervir. Mas, mesmo neste cenário, se <strong>de</strong>senvolve o<br />

projeto Alavanca que vem procurando criar um espaço <strong>de</strong> preparação do jovem para<br />

atuar na socieda<strong>de</strong> na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> profissional e cidadão.<br />

O projeto tem contribuído para o fortalecimento da visão, segundo a qual<br />

po<strong>de</strong>mos ser donos da nossa própria história e promover nela a transformação<br />

econômica social e cultural necessária. Fortalece a percepção <strong>de</strong> que o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento não se espera, mas se faz, e que po<strong>de</strong> promover uma das<br />

mudanças mais profundas que está ocorrendo no país. Dessa forma, será possível<br />

tirar cada um <strong>de</strong> nós da atitu<strong>de</strong> cômoda <strong>de</strong> espectadores críticos da ineficiência<br />

alheia (Dowbor, 2006) e colocar-nos <strong>como</strong> construtores do nosso próprio <strong>de</strong>stino. A<br />

experiência <strong>de</strong> <strong>educação</strong> voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento local vem acontecendo em<br />

muitos municípios do Brasil, sobretudo, no semi-arido nor<strong>de</strong>stino. Surge daí uma<br />

promessa no sentido <strong>de</strong> superação da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social que promove tanta<br />

incerteza para nossos jovens.<br />

A reflexão sobre estas experiências mostrou certa semelhança entre os<br />

princípios que as orientam e os princípios que vêm orientando o trabalho<br />

<strong>de</strong>senvolvido, por meio do projeto Alavanca. A pesquisa mostrou que é possível o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>contextualizada</strong> em um contexto<br />

complexo <strong>como</strong> o <strong>de</strong> uma metrópole <strong>como</strong> São Paulo.<br />

114


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<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Petrópolis: Vozes, 2010.<br />

SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento <strong>como</strong> liberda<strong>de</strong>: São Paulo: Companhia<br />

das letras, 2000.<br />

SILVA, Jair Militão da. A autonomia da escola pública: a re-humanização da<br />

escola. Campinas: Papirus, 1996.<br />

_________________. Como fazer trabalho comunitário?. São Paulo: Paulus,<br />

2003.<br />

117


Projeto <strong>de</strong> escola profissionalizante<br />

Escopo do projeto:<br />

APÊNDICE<br />

O projeto a seguir <strong>de</strong>stina-se a construção <strong>de</strong> uma edificação na comunida<strong>de</strong><br />

do jardim São Remo, no local on<strong>de</strong> atualmente há uma quadra poliesportiva.<br />

Perspectiva frontal e lateral com cobertura<br />

O prédio <strong>de</strong>verá conter três pisos, sendo um piso térreo “piso prática”, on<strong>de</strong><br />

haverá oficinas <strong>de</strong> marcenaria com 180 m 2 com sistema <strong>de</strong> exaustão <strong>de</strong> pó-<strong>de</strong>-serra<br />

e artes gráficas com 300 m 2 , esta segunda possuirá uma área <strong>de</strong> serigrafia com<br />

37m 2 .<br />

A divisão <strong>de</strong>ssas áreas <strong>de</strong>verá ser por blocos <strong>de</strong> concreto ou divisórias em<br />

ma<strong>de</strong>ira.<br />

118


Na figura acima, a perspectiva do piso térreo, a fachada possui dois portões<br />

<strong>de</strong> entrada, o maior 4m x 2,7m que dá acesso à oficina <strong>de</strong> artes gráficas; e um<br />

menor <strong>de</strong> acesso à escada que leva ao piso superior. Na lateral esquerda do prédio,<br />

on<strong>de</strong> há um corredor <strong>de</strong> 4 metros <strong>de</strong> largura fica o portão <strong>de</strong> acesso à oficina <strong>de</strong><br />

marcenaria e a rampa <strong>de</strong> acesso aos pisos superiores.<br />

Na figura acima, <strong>de</strong>talhe da rampa <strong>de</strong> acesso aos pisos superiores.<br />

119


Detalhe da tubulação <strong>de</strong> exaustão.<br />

No fundo da oficina <strong>de</strong> artes gráficas, ficam os banheiros e espaço para<br />

bebedouros; a laje dos banheiros servirá <strong>de</strong> piso para um mezanino do setor <strong>de</strong><br />

manutenção <strong>de</strong> informática.<br />

120


RUA AQUIANÉS<br />

Acima o layout em planta do piso térreo.<br />

Acima, a figura ilustra um possível posicionamento dos pilares distanciados<br />

em 10 metros <strong>de</strong> vão na profundida<strong>de</strong> da edificação e em 7,5 metros <strong>de</strong> vão na<br />

largura da edificação.<br />

O segundo piso “piso teórico” possuirá acesso interno ao prédio via escada na<br />

porta da fachada e via rampa lateral externa ao prédio.<br />

121


Este piso <strong>de</strong>verá conter os banheiros na mesma configuração do piso térreo e<br />

12 ambientes divididos em: 5 salas <strong>de</strong> aula, 2 laboratórios <strong>de</strong> informática, 1 sala <strong>de</strong><br />

reunião, 1 auditório, 1 biblioteca, 1 refeitório e 1 grêmio acadêmico. Haverá 2<br />

corredores principais na direção longitudinal ao prédio, e um corredor transversal ao<br />

prédio; as salas serão divididas por divisórias em ma<strong>de</strong>ira ou material similar com<br />

janelas <strong>de</strong> vidro entre as salas por conta da propagação <strong>de</strong> luz, amplitu<strong>de</strong> visual.<br />

Perspectiva do “piso teórica”.<br />

O piso superior “piso convivência” será logo acima do “piso teórica”, o acesso<br />

será somente pela rampa externa do prédio, este piso terá dois banheiros na mesma<br />

configuração e localização dos pisos inferiores, em sua laje ficarão as caixas d’água.<br />

Em sua área central haverá uma quadra poli esportiva no tamanho mínimo<br />

oficial, nas laterais uma arquibancada <strong>de</strong> cada lado com uma área do tipo “dispensa”<br />

para a<strong>como</strong>dação <strong>de</strong> materiais esportivos.<br />

122


Perspectiva dos fundos e lateral<br />

Perspectiva frontal e lateral<br />

123


Perspectiva dos acessos frontal e lateral<br />

Perspectiva frontal sem a pare<strong>de</strong> da fachada.<br />

124


Perspectiva sem a pare<strong>de</strong> do fundo do prédio.<br />

Fachada do prédio<br />

125


Lateral esquerda do prédio.<br />

Lateral direita do prédio.<br />

Fundo do prédio<br />

126


Perspectiva frontal e lateral do pavimento para as oficinas<br />

Perspectiva frontal e lateral do pavimento para as salas <strong>de</strong> aula<br />

Perspectiva frontal e lateral da quadra poliesportiva<br />

127

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