MAFRAnotícias OUTUBRO 2003 - 28 OBRAS MUNICIPAIS
OBRAS MUNICIPAIS Lugar on<strong>de</strong> dois mundos se cruzam - estando, primeiramente, consagrado aos membros da corte e ao clero e <strong>de</strong>pois, com a implantação da república, aberto ao público - o Jardim do Cerco cumpre a verda<strong>de</strong>ira função <strong>de</strong> um jardim histórico: testemunhar o ritmo da história e <strong>de</strong>monstrar a beleza do património natural, numa perspectiva educativa. A mais recente intervenção traduz-se na entrada em funcionamento da Nora, que se constitui como um dos pontos <strong>de</strong> atracção mais importantes do jardim. Com vista à recuperação do Jardim do Cerco, a <strong>Câmara</strong> <strong>Municipal</strong>, sua entida<strong>de</strong> gestora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994, tem vindo a <strong>de</strong>senvolver um conjunto <strong>de</strong> intervenções, repondo as suas características históricas e valorizando a sua componente natural. Estas intervenções são efectuadas <strong>de</strong> acordo com o Plano Director <strong>de</strong> Restauro do Jardim do Cerco, um documento elaborado mediante protocolo estabelecido pela <strong>Câmara</strong> <strong>Municipal</strong> com o Instituto Superior <strong>de</strong> Agronomia e que contou com o contributo do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR). A recente recuperação da nora integra-se num projecto <strong>de</strong> requalificação mais abrangente, que se relaciona com a reposição <strong>de</strong> todo o sistema hidráulico original do jardim, do qual fazem também parte o tanque, os lagos e as cascatas, o poço e o aqueduto. De acordo com as directrizes <strong>de</strong>ste plano, a autarquia tem vindo a <strong>de</strong>senvolver um conjunto <strong>de</strong> acções, sendo uma das primeiras a anulação do palco e do parque infantil até então existentes e que haviam sido construídos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1974 com o intuito <strong>de</strong> proporcionar um maior convívio entre a população. Estas estruturas surgiam claramente <strong>de</strong>senquadradas do traçado e imagem originais do jardim. Contudo, <strong>de</strong> modo a promover esta componente social na utilização do próprio espaço, proce<strong>de</strong>u-se à edificação <strong>de</strong> um novo Parque <strong>de</strong> Jogo e Recreio, adaptado às actuais exigências para a segurança dos mais novos, e <strong>de</strong> um Parque <strong>de</strong> Merendas. Foram ainda criadas duas áreas relvadas junto à entrada do jardim. JARDIM DO CERCO, UM ESPAÇO DINÂMICO E PEDAGÓGICO Funções histórica e educativa Apesar <strong>de</strong> não existir qualquer nascente natural no Cerco, a água nunca secava nos seus lagos, fontes e bicas. Tal ficava a <strong>de</strong>ver-se a um sistema <strong>de</strong> canalização que permitia a recolha <strong>de</strong> águas subterrâneas nas nascentes da Tapada. Por sua vez, estas eram transportadas ao longo <strong>de</strong> um aqueduto até ao palácio/convento, atravessando o jardim, circulando por gravida<strong>de</strong> e culminando numa cisterna com 300 metros cúbicos. A nora, instalada no poço, permitia a elevação da água até a uma cota mais alta <strong>de</strong> terreno, sendo encaminhada para a cascata do tanque gran<strong>de</strong> e para o aqueduto. No final <strong>de</strong>ste aqueduto a água era repartida para a rega do horto dos fra<strong>de</strong>s e para o funcionamento dos lagos e cascatas do parterre. Foi agora reposto todo este sistema, complementado com o retorno <strong>de</strong> novo à nora <strong>de</strong> toda a água em circulação, visando uma melhor gestão <strong>de</strong>ste recurso. O restauro da nora exigiu um aprofundado estudo dos mecanismos <strong>de</strong> elevação <strong>de</strong> água, nomeadamente um trabalho <strong>de</strong> pesquisa relativo às noras da época para saber como estas funcionavam, bem como o levantamento das dimensões das suas peças e a análise das ma<strong>de</strong>iras utilizadas na sua execução. As duas mulas historicamente utilizadas como força motriz foram substituídas por um motor, passando este sistema a ser mecânico. Ao mesmo tempo, foram restaurados o aqueduto, cascatas e lagos. Desta forma, a nora passou a constituir-se como um dos pontos <strong>de</strong> atracção mais importantes do jardim, tanto na componente <strong>de</strong> recuperação histórica, repondo em funcionamento um elemento activo do século XVIII, como na sua função educativa e pedagógica, <strong>de</strong>monstrando o modo <strong>de</strong> utilização do mesmo pela população. Maior dinamismo Como local <strong>de</strong>stinado ao recreio, o Jardim do Cerco incluía espaços <strong>de</strong>stinados aos jogos da bola, da laranjinha e do aro. Num horizonte próximo, perspectiva-se, em termos <strong>de</strong> restauro, a reconstituição e reactivação <strong>de</strong>stes divertimentos que foram bastante praticados não só entre as classes populares, como no seio do clero e da nobreza. A esta vertente lúdica, associa-se o intuito <strong>de</strong> recuperar o horto botânico dos fra<strong>de</strong>s, local <strong>de</strong> estudo e cultivo <strong>de</strong> espécies medicinais e aromáticas para uso interno no convento, divulgando os conhecimentos que foram reunidos pela comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> religiosos. Aliás, este é o espaço que permite estabelecer uma maior ligação ao monumento mandado edificar por D. João V, quer numa perspectiva espacial, quer no âmbito temática, através da sua botica. Este processo <strong>de</strong> dinamização do Jardim do Cerco completar-se-á com a recuperação do seu muro e com a i<strong>de</strong>ntificação das suas espécies arbóreas através <strong>de</strong> sinaléctica a<strong>de</strong>quada, tendo por base o levantamento já efectuado. Entretanto, a autarquia continuará a viabilizar a organização <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cariz cultural e ambiental que permitam fazer do Jardim do Cerco o local privilegiado não só para o lazer e para a contemplação, como para a aprendizagem e para o conhecimento. MAFRAnotícias OUTUBRO 2003 - 29
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