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Artur Nogueira Santos e Costa - XV Encontro Regional de História ...

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ENSINO DE HISTÓRIA E CURRÍCULO: RELAÇÕES ENTRE DIRETRIZES,<br />

PARÂMETROS, CONTEÚDOS E CONHECIMENTO HISTÓRICO NA SALA DE<br />

AULA DE ESCOLAS PÚBLICAS. 1<br />

<strong>Artur</strong> <strong>Nogueira</strong> <strong>Santos</strong> e <strong>Costa</strong>*<br />

Regina Ilka Vieira Vasconcelos**<br />

RESUMO:<br />

Este trabalho apresenta os resultados parciais do projeto <strong>de</strong> pesquisa “Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> e<br />

Currículo: relações entre diretrizes, parâmetros, conteúdos e conhecimento histórico na sala<br />

<strong>de</strong> aula <strong>de</strong> escolas públicas do Ensino Fundamental. Uberlândia-MG (2000-2010)”; que<br />

<strong>de</strong>dica-se a analisar a organização do currículo <strong>de</strong> <strong>História</strong> em escolas públicas <strong>de</strong> Ensino<br />

Fundamental (anos finais) <strong>de</strong> Uberlândia MG, ao longo do período 2000-2010. Os principais<br />

objetivos articulam-se em conhecer e problematizar processos <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> conteúdos para a<br />

disciplina <strong>de</strong> <strong>História</strong> no Ensino Fundamental em escolas estaduais e municipais <strong>de</strong><br />

Uberlândia, relacionando-os à prática docente e ao cotidiano <strong>de</strong> escolas públicas.<br />

PALAVRAS-CHAVE: <strong>História</strong> Social e Escola Pública; Currículo e Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>,<br />

Cotidiano Escolar e Conhecimento Histórico.<br />

ABSTRACT:<br />

This paper presents partial results of the research project “History Teaching and Curriculum:<br />

relations gui<strong>de</strong>lines, parameters, content and historical knowledge in the classroom of public<br />

schools in the elementary school. Uberlândia-MG (2000-2010)”, that aims to analyze the<br />

organization's of curriculum of history in public schools in elementary school (final year) of<br />

Uberlândia MG, over the period 2000-2010. The main objectives are to meet and discuss<br />

procedures for selection of content for the discipline of history in elementary school in state<br />

and municipal schools in Uberlândia, establishing relationships to teaching practice and daily<br />

life in public schools.<br />

KEYWORDS: Social History and Public School; Curriculum and Teaching of History; Daily<br />

Life in School and Historical Knowledge.<br />

***<br />

1 Este texto apresenta os resultados parciais do projeto <strong>de</strong> pesquisa “Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> e Currículo: relações entre<br />

diretrizes, parâmetros, conteúdos e conhecimento histórico nas salas <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> escolas públicas. Uberlândia –<br />

MG. 2000 – 2010.”, <strong>de</strong>senvolvido sob os auspícios do Programa Institucional <strong>de</strong> Apoio à Iniciação Científica –<br />

PIAIC – UFU, sob orientação da professora Dra. Regina Ilka Vieira Vasconcelos.<br />

*Graduando em <strong>História</strong> (5° Período) pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia. Pesquisador vinculado ao<br />

Programa Institucional <strong>de</strong> Apoio à Iniciação Científica.<br />

**Doutora em <strong>História</strong> Social pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo. Professora dos Cursos <strong>de</strong><br />

Graduação em <strong>História</strong> e do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>História</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia.


Temos, com frequência, presenciado diversas discussões a respeito da questão do<br />

currículo. Tomando-o como um problema em aberto, e como um movimento histórico, na<br />

medida em que se concretiza a partir das experiências <strong>de</strong> diversos sujeitos, observamos que é<br />

possível abordar, aqui, alguns pontos nodais acerca <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>bates. Trata-se <strong>de</strong> um exercício<br />

que compreen<strong>de</strong> a análise <strong>de</strong> documentos que se articulam à organização curricular, mas<br />

também a tomada da escola pública como espaço <strong>de</strong> investigação histórica, visto que é nela<br />

que os currículos são, <strong>de</strong> fato, postos em prática.<br />

O primeiro apontamento revela a concepção <strong>de</strong> currículo da qual estamos falando.<br />

Para isso, tomamos por base as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental,<br />

aprovadas em 1998. Segundo elas:<br />

[...] este conceito [o <strong>de</strong> Currículo] envolve outros três, quais sejam: currículo<br />

formal (planos e propostas pedagógicas), currículo em ação (aquilo que<br />

efetivamente acontece nas salas <strong>de</strong> aula e nas escolas) currículo oculto (o<br />

não dito, aquilo que tanto alunos, quanto professores trazem, carregado <strong>de</strong><br />

sentidos próprios criando as formas <strong>de</strong> relacionamento, po<strong>de</strong>r e convivência<br />

nas salas <strong>de</strong> aula). (BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para o<br />

Ensino Fundamental, 1998: 6)<br />

Como percebemos, o conceito <strong>de</strong> currículo engloba não apenas planos e propostas,<br />

mas tudo aquilo que se movimenta em torno do processo educacional. Este conceito nos é<br />

caro pois nos permite enten<strong>de</strong>r que nossa discussão avança no sentido <strong>de</strong> estudar um objeto<br />

que é passível <strong>de</strong> mudanças, transformações. Essas mudanças se fazem pelo fato <strong>de</strong> que a<br />

história é constantemente reescrita, novas propostas curriculares são apresentadas, novos<br />

alunos, com diversas experiências, chegam à escola, e, para além disso, a cada dia, todos os<br />

sujeitos envolvidos na concretização do currículo adquirem novas experiências. Isso, por um<br />

lado, é algo instigante e, por outro, torna nosso trabalho mais complexo.<br />

Outro ponto fundamental trata-se enten<strong>de</strong>r a importância dos currículos na<br />

organização <strong>de</strong> nosso trabalho, do trabalho dos educadores. Nas palavras <strong>de</strong> Miguel Arroyo,<br />

o currículo é o pólo estruturante <strong>de</strong> nosso trabalho. As formas em que<br />

trabalhamos, a autonomia ou falta <strong>de</strong> autonomia, as cargas horárias, o<br />

isolamento em que trabalhamos... <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m e estão estreitamente<br />

condicionados às lógicas em que se estruturam os conhecimentos, os<br />

conteúdos, matérias e disciplinas nos currículos. (ARROYO, 2007: 18)


Por se tratar <strong>de</strong> um trabalho ainda em curso, damo-nos a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar, aqui,<br />

indagações e problematizações que nos são provocações, e que estão latentes em nossa<br />

investigação. São, <strong>de</strong> toda forma, questões para que possamos refletir. Com base na<br />

proposição <strong>de</strong> Arroyo, questionamo-nos: nossos professores são ativos na elaboração dos<br />

currículos oficiais? Eles conhecem os documentos que versam sobre a organização curricular,<br />

produzidos pelo Ministério da Educação e pelo Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação? Ainda sobre<br />

esses documentos: as abertura e “brechas” que neles se fazem presentes são, igualmente,<br />

conhecidas? Esses são pontos <strong>de</strong> discussão que nos permitem conhecer qual a lógica seguida<br />

por nossos professores para a estruturação curricular.<br />

Esse é um ponto importante pois que tem sido comum ouvirmos <strong>de</strong> professores da<br />

educação básica que os currículos oficiais propostos pelo MEC e pelas secretarias estaduais<br />

<strong>de</strong> educação são fechados e não permitem que eles construam suas próprias propostas<br />

curriculares, implementando temas que consi<strong>de</strong>rem pertinente. Contudo, ao analisar esses<br />

documentos, percebemos algo que vai <strong>de</strong> encontro a essa perspectiva. Nas Diretrizes<br />

Curriculares Nacionais, observamos:<br />

Ao <strong>de</strong>finir as Diretrizes Curriculares Nacionais, a Câmara <strong>de</strong> Educação<br />

Básica do CNE inicia o processo <strong>de</strong> articulação com Estados e Municípios,<br />

através <strong>de</strong> suas próprias propostas curriculares, <strong>de</strong>finindo ainda um<br />

paradigma curricular para o Ensino Fundamental, que integra a Base<br />

Nacional Comum, complementada por uma Parte Diversificada, a ser<br />

concretizada na proposta pedagógica <strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong> escolar do País.<br />

(BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental,<br />

1998: 6)<br />

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais <strong>de</strong> <strong>História</strong> – PCNs, notamos:<br />

[...] os conteúdos são apresentados apenas como sugestões <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s,<br />

que não <strong>de</strong>vem ser trabalhadas na sua integrida<strong>de</strong>. O professor po<strong>de</strong><br />

selecionar alguns temas históricos, alguns procedimentos <strong>de</strong> estudo e<br />

atitu<strong>de</strong>s importantes <strong>de</strong> serem valorizados <strong>de</strong> acordo com o diagnóstico que<br />

faz dos domínios dos alunos e <strong>de</strong> acordo com questões contemporâneas<br />

pertinente à realida<strong>de</strong> social, econômica, política e cultural, da localida<strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> mora, da sua região, do seu país e do mundo. (BRASIL, PCNs, 1998:<br />

55-56)<br />

Percebemos, pois, que estes dois documentos – o primeiro (as Diretrizes) orienta a<br />

organização dos currículos, em geral, e, o segundo (os PCNs), orienta a organização dos<br />

currículos <strong>de</strong> história, em especial – não se apresentam como algo a ser rigorosamente<br />

cumpridos. Quando, nas Diretrizes Curriculares Nacionais, é feita a referência às propostas<br />

pedagógicas <strong>de</strong> cada escola, visualizamos uma abertura para os professores atuarem no<br />

sentido <strong>de</strong> realizar aquilo que eles têm reclamado. É um espaço, portanto, do qual nossos<br />

3


profissionais po<strong>de</strong>m se valer para incorporar, ao currículo, temas, discussões, métodos e o que<br />

mais ansiarem, <strong>de</strong> acordo com o que for pertinente. Quanto aos PCNs, notamos que é dito que<br />

os conteúdos são apresentados como sugestões, mas que não se trata <strong>de</strong> uma obrigatorieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> trabalhar com todos eles. O que temos são possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudos, lançadas como algo a<br />

nortear a organização dos planos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> nossos professores. Além disso, percebemos,<br />

também, que é abordada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o professor articular a proposta feita com as<br />

condições sociais, econômicas, políticas e culturais da localida<strong>de</strong> em que vive. Isso nos<br />

permite dizer que, ao contrário do que temos ouvido, a proposta dos PCNs não é uma amarra,<br />

que engessa o trabalho <strong>de</strong> professores e lhes cerceia toda a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção curricular.<br />

Po<strong>de</strong>mos, também, apresentar alguns pontos estabelecidos pela Lei <strong>de</strong> Diretrizes e<br />

Bases da Educação Nacional - LDBs, <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996, que estabelece bases e diretrizes<br />

para a organização escolar no Brasil, em todos os níveis. O primeiro artigo <strong>de</strong>ssa lei diz:<br />

A educação abrange os processos formativos que se <strong>de</strong>senvolvem na vida<br />

familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições <strong>de</strong> ensino e<br />

pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da socieda<strong>de</strong> civil e nas<br />

manifestações culturais. (BRASIL, LDBs, 2010: 7)<br />

Consi<strong>de</strong>rando esta perspectiva, e resgatando a concepção <strong>de</strong> currículo com a qual<br />

estamos trabalhando 2 , é possível problematizar a questão da construção dos currículos nas<br />

escolas públicas. Notamos, a partir das LDBs, que a educação é um processo que se dá não<br />

apenas no ambiente escolar, ou em sala <strong>de</strong> aula. Ao contrário, trata-se <strong>de</strong> um movimento mais<br />

ampo, que se concretiza a partir das experiências cotidianas <strong>de</strong> cada sujeito. A escola, a sala<br />

<strong>de</strong> aula, e o ensino <strong>de</strong> história, estão em constante relação com essas experiências. Os<br />

aspectos da vida familiar, as relações sociais estabelecidas a partir do trabalho, entre outros<br />

aspectos, articulam-se ao <strong>de</strong>sempenho escolar <strong>de</strong> cada aluno. Tal fato se dá por diversos<br />

motivos. Primeiro, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar que todos esses aspectos obtidos a partir da<br />

vida cotidiana influenciam na construção do conhecimento por cada aluno. Outro ponto é que,<br />

na elaboração dos currículos, a “realida<strong>de</strong> social” que permeia o cotidiano escolar <strong>de</strong>ve ser<br />

tomada como campo indissociável da prática docente.<br />

Outra questão que nos tem chamando a atenção é o fato <strong>de</strong> que a escola pública tem<br />

sido consi<strong>de</strong>rada, inclusive pela mídia, como o espaço do fracasso, da dificulda<strong>de</strong> e do<br />

2 A concepção <strong>de</strong> currículo com a qual estamos trabalhando é aquela abordada pelas Diretrizes Curriculares<br />

Nacionais, <strong>de</strong> 1998, conforme já citado anteriormente.<br />

4


<strong>de</strong>sencanto. A Revista Carta Capital, em uma matéria intitulada “Na terra <strong>de</strong> Marlboro”,<br />

escrita por Sandra <strong>Santos</strong>, refere-se ao cotidiano escolar da seguinte maneira:<br />

As aulas começam tensas. Os jovens têm o péssimo hábito <strong>de</strong> falar ao mesmo tempo<br />

que os professores. [...] Os alunos brigam <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula (inclusive com<br />

socos e pontapés) e se o mestre tenta tomar providências, a ameaça está na ponta<br />

da língua: “Tenho um ‘três-oitão’, lá em casa” – frase <strong>de</strong> uma aluna <strong>de</strong> 7ª séria<br />

que, infelizmente, não é exceção. (SANTOS, 2006: 8)<br />

Essas matérias, que tratam diretamente do ofício do professor, conferem <strong>de</strong>staque ao<br />

viés da violência, do fracasso e do <strong>de</strong>sinteresse a permearem as relações sociais entre os<br />

diversos agentes que estão envolvidos no processo educativo. Nessa mesma matéria, po<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong>stacar, também, o seguinte trecho:<br />

Numa reunião, Professora falou <strong>de</strong> sua insegurança e do medo <strong>de</strong> ser agredida<br />

fisicamente. Foi ridicularizada. Semanas <strong>de</strong>pois, após uma vitória do Corinthians,<br />

um grupo <strong>de</strong> alunos da 8ª série 3 comemorou tentando sufocar a docente com a<br />

ban<strong>de</strong>ira do time... Ela escrevia na lousa quando um rapaz <strong>de</strong> 15 anos a cobriu com<br />

o pano e a puxou para trás, tentando <strong>de</strong>rrubá-la. Professora, que é hipertensa,<br />

exigiu providências que, então, foram tomadas: o aluno recebeu uma suspensão <strong>de</strong><br />

dois dias. Não havia como negligenciar. (SANTOS, 2006: 9)<br />

Essas questões têm sido abordadas frequentemente pela mídia. Trata-se <strong>de</strong> uma<br />

concepção <strong>de</strong> que a escola pública não consegue mais cumprir com seu papel <strong>de</strong> ensinar. Ela é<br />

tida como o ambiente em que a violência e a abnegação são fatores fortemente presentes. Não<br />

queremos, aqui, negar que a escola tenha problemas e conflitos. Estes são, por sinal,<br />

característicos das relações humanas. Contudo, questionamo-nos: o ensino <strong>de</strong> história, em<br />

suas múltiplas abordagens, po<strong>de</strong> contribuir para transformar essa realida<strong>de</strong>? Quais fatores são<br />

responsáveis por essa concepção <strong>de</strong> que a escola está em crise? Visualizamos, a partir <strong>de</strong>sses<br />

questionamentos, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que seja mantido pelos profissionais <strong>de</strong> história da<br />

educação básica, e mesmo por nós, da Universida<strong>de</strong>, o espírito crítica e que se propõe a<br />

refletir.<br />

Nesse sentido, pensando no que o ensino <strong>de</strong> história po<strong>de</strong> contribuir, lembramo-nos <strong>de</strong><br />

Elza Nadai, quando, em seu texto O Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> no Brasil: trajetória e perspectiva,<br />

ela, se utilizando <strong>de</strong> alguns apontamentos feitos por Murilo Men<strong>de</strong>s, ainda nos anos <strong>de</strong> 1930,<br />

apresenta algumas mazelas sofridas pelo ensino <strong>de</strong> história. Entre essas mazelas, <strong>de</strong>stacamos:<br />

o fato <strong>de</strong> os alunos não gostarem da história, <strong>de</strong> eles valerem-se da “cola” para obter<br />

aprovação nos exames, entre outros. Men<strong>de</strong>s ressalta que não atribui à juventu<strong>de</strong> a culpa pelo<br />

3 A 8ª série a que se refere a matéria é, hoje, o chamado 9º Ano do ensino fundamental.<br />

5


ódio à disciplina. Ao contrário, diz que “a <strong>História</strong>, como lhes é ensinada, é realmente<br />

odiosa.” (MENDES apud NADAI, set. 92 / ago. 93, p. 143).<br />

Nessa linha <strong>de</strong> raciocínio, Nadai questiona:<br />

Em que medida as questões apontadas são válidas para a juventu<strong>de</strong> e a escola<br />

contemporâneas? Terão os estudantes superado a i<strong>de</strong>ia “<strong>de</strong> que a história como lhes<br />

é ensinada é realmente odiosa” e os professores partido para a organização <strong>de</strong><br />

outras práticas pedagógicas mais significativas? Em que medida discurso e prática se<br />

unificam? Para que direção elas apontam? (NADAI, set. 92 / ago. 93: 143)<br />

O questionamento <strong>de</strong> Nadai nos chama a atenção pelo fato <strong>de</strong> que, mesmo passados<br />

quase oitenta anos <strong>de</strong> quando Men<strong>de</strong>s chegava a tais conclusões, essas indagações estão<br />

latentes em nossas discussões. Seguindo o passo <strong>de</strong> Nadai, perguntamos, também: o que seria<br />

um ensino <strong>de</strong> história que superasse as mazelas apontadas por Men<strong>de</strong>s? Esta indagação nos<br />

remete à argumentação da professora Déa Ribeiro Fenelon, que afirma:<br />

Não tenho dúvida <strong>de</strong> que para fazer avançar qualquer proposta concreta<br />

como professores <strong>de</strong> <strong>História</strong> [...], temos <strong>de</strong> assumir a responsabilida<strong>de</strong><br />

social e política com o momento vivido. Para isto, seria necessário, antes <strong>de</strong><br />

mais nada, romper com uma maneira tradicional <strong>de</strong> conceber conhecimento,<br />

sua produção e sua transmissão. Isto significa, em primeiro lugar, o<br />

posicionamento no presente, para sermos coerentes com a postura <strong>de</strong><br />

“sujeitos da <strong>História</strong>”. Se queremos avançar nessa perspectiva, temos <strong>de</strong> nos<br />

consi<strong>de</strong>rar como “produtores” nessa socieda<strong>de</strong> que queremos <strong>de</strong>mocrática e<br />

não como simples repetidores e reprodutores <strong>de</strong> concepções ultrapassadas.<br />

(FENELON, 1982: 8)<br />

A posição <strong>de</strong> Fenelon sugere que fazer e ensinar <strong>História</strong> é ativida<strong>de</strong> que exige que<br />

nos posicionemos não como simples agentes reprodutores <strong>de</strong> um “conhecimento” já acabado,<br />

consolidado, mas como sujeitos ativos em sua construção, na construção da <strong>História</strong>. Além<br />

disso, sua proposição rompe, diretamente, com os mol<strong>de</strong>s tradicionalistas <strong>de</strong> produzir<br />

<strong>História</strong>, à medida em que <strong>de</strong>ixa evi<strong>de</strong>nte que temos que nos responsabilizar quanto ao<br />

momento social e político vivido, o que significa que fazer <strong>História</strong> é pensar passado e<br />

presente <strong>de</strong> forma articulada, levando em conta, então, não só a subjetivida<strong>de</strong>, mas, também,<br />

as inserções sociais e os compromissos políticos do historiador, <strong>de</strong> modo mais amplo.<br />

Temos lutado por um ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> que contribua para a formação <strong>de</strong> alunos<br />

críticos, que tenham consciência <strong>de</strong> que fazer <strong>História</strong> não é apenas estudar o passado, mas é<br />

exercício que não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>svinculado das condições do presente, que tenham consciência<br />

<strong>de</strong> que o conhecimento histórico é algo que precisa ser (re)pensado constantemente, que<br />

tenham consciência <strong>de</strong> que somos nós mesmos que construímos nossa história. Queremos<br />

produzir uma <strong>História</strong> (e ensiná-la) em que todos os sujeitos envolvidos, não só os<br />

6


pertencentes às classes <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r político, mas também os das “camadas populares”<br />

(DAVIES, 2011), possam “fazer parte da cena, não como coadjuvantes ou figurantes, porém,<br />

como atores <strong>de</strong> seu tempo.” (MACHADO, 1999: 2)<br />

Neste mesmo sentido, po<strong>de</strong>mos abordar, ainda, os Conteúdos Básicos Curriculares da<br />

área <strong>de</strong> <strong>História</strong> – CBCs – do estado <strong>de</strong> Minas Gerais, que apresentam uma série <strong>de</strong><br />

proposições. Notamos o esforço <strong>de</strong> ruptura com a história tradicionalista, a nova concepção <strong>de</strong><br />

documentos e, principalmente, o espaço para as camadas populares na história. Esse<br />

documento, norteador dos currículos oficiais do estado <strong>de</strong> Minas Gerais, traz uma abordagem<br />

que, relacionada ao que dizia Fenelon, nos permite refletir sobre as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho<br />

com a disciplina <strong>de</strong> <strong>História</strong>. (BRASIL, Minas Gerais, CBCs <strong>de</strong> <strong>História</strong>, 2010: 14)<br />

Insistimos, portanto, na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar os <strong>de</strong>bates sobre ensino <strong>de</strong> história e<br />

currículo como uma problemática em aberto e como um objeto <strong>de</strong> pesquisa histórica,<br />

pensando a escola pública como campo fértil <strong>de</strong> investigação e como um <strong>de</strong>safio que se<br />

apresenta a nós. Propomos o exercício <strong>de</strong> refletir, constantemente, sobre uma questão que, se<br />

pensada <strong>de</strong> forma mais ampla, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sdobrada em várias outras: que ensino <strong>de</strong> história<br />

queremos?<br />

Referências:<br />

BRASIL. Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei n. 9.394, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 5. ed. Brasília: Câmara dos<br />

Deputados, Coor<strong>de</strong>nação Edições Câmara, 2010.<br />

______. Ministério da Educação. Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação. Câmara <strong>de</strong> Educação<br />

Básica. Parecer CEB n.4/98. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.<br />

Brasília, DF: MEC/SEB, 1998.<br />

______. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: <strong>História</strong>. Brasília:<br />

Ministério da Educação, Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental, 1998.<br />

FENELON, Déa Ribeiro. A formação do historiador e a realida<strong>de</strong> do ensino. Projeto <strong>História</strong>.<br />

São Paulo, n. 2, p. 7-19, ago. 1982.<br />

GONZÁLES ARROYO, Miguel. Indagações sobre currículo: educandos e educadores: seus<br />

direitos e o currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria <strong>de</strong> Educação Básica, 2007.<br />

MACHADO, Maria Clara Tomaz. Olhares sobre a cida<strong>de</strong>: o local e o regional na ótica do<br />

historiador. In: Anais do <strong>Encontro</strong> Uberlândia – Olhares sobre a cida<strong>de</strong>. Uberlândia, UFU,<br />

1999.<br />

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MINAS GERAIS. Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Minas Gerais. Conteúdo Básico<br />

Comum - CBC. Conteúdos Básicos Curriculares <strong>de</strong> <strong>História</strong> do Ensino Fundamental. Belo<br />

Horizonte: SEE, 2010.<br />

NADAI, Elza. O ensino <strong>de</strong> história no Brasil: trajetória e perspectiva. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong>. São Paulo, v. 13, n. 25/26, p. 143-162, set. 1992/ago. 1993<br />

RICCI, Cláudia Sapag. Quando os discursos não se encontram: imaginário do professor <strong>de</strong><br />

história e Reforma Curricular dos anos 80 em São Paulo. Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong>. São<br />

Paulo, v. 18, n. 36, p. 68-88, 1998.<br />

SANTOS, Sandra. Na terra <strong>de</strong> Marlboro. Carta na Escola, São Paulo, n. 5, p. 8-11, abr. 2006.<br />

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