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Alfabetização histórica é possível? Elvis Roberto Lima da Silva ...

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<strong>Alfabetização</strong> <strong>histórica</strong> <strong>é</strong> <strong>possível</strong>?<br />

<strong>Elvis</strong> <strong>Roberto</strong> <strong>Lima</strong> <strong>da</strong> <strong>Silva</strong> ∗<br />

Resumo: O presente artigo tem como proposta provocar o debate sobre a possibili<strong>da</strong>de de<br />

construir uma prática educativa pauta<strong>da</strong> no conceito de “<strong>Alfabetização</strong> Histórica”. O escopo<br />

central deste estudo <strong>é</strong> identificar e analisar o processo de ensino e aprendizagem do saber<br />

histórico nos anos iniciais, resgatando práticas tradicionais de um conhecimento histórico<br />

determinista e sem significado, problematizando os desafios <strong>da</strong> educação <strong>histórica</strong><br />

emancipadora destina<strong>da</strong> às crianças, propiciando condições para uma reflexão crítica e ativa<br />

sobre as práticas e experiências de ensinar história. As intencionali<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais desse<br />

ensaio são identificar como <strong>é</strong> <strong>possível</strong> construir um processo de alfabetização e letramento<br />

histórico e fomentar condições teóricas sobre a elaboração de proposições que dialoguem com<br />

o ensino de história nos anos iniciais.<br />

Palavras chaves: Ensino de história, prática pe<strong>da</strong>gógica e alfabetização.<br />

Literacy is historically possible?<br />

Abstract: This article there is induce debate about the possibility of building an educational<br />

practice based on the concept of "Historical Literacy." The scope of this study is to identify<br />

and analyze the process of teaching and learning of historical knowledge in the early years,<br />

restoring traditional practices of a deterministic historical knowledge and meaningless,<br />

discussing the challenges of historic emancipatory education to children, providing conditions<br />

for a reflection critical and active on the practices and experiences of teaching history. The<br />

fun<strong>da</strong>mental intentions of this paper are to identify how you can build a process of literacy<br />

and literacy history and foster conditions on the development of theoretical propositions that<br />

dialogue with the teaching of history in the early years.<br />

∗ Mestrando do programa de estudos pós-graduados em Educação: História, Política, Socie<strong>da</strong>de pela<br />

PUC-SP.


Keywords: Teaching history, teaching practice and literacy.<br />

O ensino de história nos anos iniciais<br />

Não nos enganemos: a imagem que fazemos de outros povos, e de nós<br />

mesmos, está associa<strong>da</strong> à História que nos ensinaram quando <strong>é</strong>ramos crianças. Ela<br />

nos marca para o resto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Sobre essa representação, que <strong>é</strong> para ca<strong>da</strong> um de<br />

nós uma descoberta do mundo e do passado <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des, enxertam-se depois<br />

opiniões, ideias fugazes ou duradoras, como um amor... mas permanecem indel<strong>é</strong>veis<br />

as marcas <strong>da</strong>s nossas primeiras curiosi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s primeiras emoções. (FERRO,<br />

1983: 11)<br />

As primeiras experiências com o conhecimento histórico durante a infância têm duas<br />

possibili<strong>da</strong>des de terem sido abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s: de forma prazerosa, lúdica e contextualiza<strong>da</strong> ou de<br />

modo acrítico e sem nenhum significado. O ensino de história se alicerça sob essas duas<br />

perspectivas, no qual a criança estabelece uma relação de afeição ou aversão com o<br />

conhecimento histórico desde a mais tenra i<strong>da</strong>de.<br />

Sob essa mesma ótica, Ferro (1983) considera que a história que <strong>é</strong> ensina<strong>da</strong> à criança <strong>é</strong><br />

marcante durante to<strong>da</strong> sua trajetória enquanto sujeito histórico. O conhecimento histórico que<br />

<strong>é</strong> construído durante a infância será essencial para descobrir, in<strong>da</strong>gar, questionar e refletir<br />

sobre sua vi<strong>da</strong> enquanto sujeito <strong>da</strong> história e consequentemente selar uma relação de<br />

curiosi<strong>da</strong>de, prazer e envolvimento com o saber histórico.<br />

É necessário um sensível olhar pe<strong>da</strong>gógico, crítico e cui<strong>da</strong>doso com o ensino de<br />

história na infância. Quantos alunos durante sua trajetória escolar foram obrigados a pintar<br />

caravelas para comemorar o “Descobrimento do Brasil”, enfeitar-se com cocar e tinta no rosto<br />

para celebrar o “Dia do Índio” ou at<strong>é</strong> mesmo confeccionar uma espa<strong>da</strong> de jornal para festejar<br />

a “Independência do Brasil”. Quem em sua vi<strong>da</strong> escolar, já não se deparou em situações como<br />

as descritas acima?<br />

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Essas práticas pe<strong>da</strong>gógicas de ensinar história são ain<strong>da</strong> difundi<strong>da</strong>s atualmente, frutos<br />

de um longo processo que está impregnado no contexto escolar, desde a d<strong>é</strong>ca<strong>da</strong> de 1980<br />

quando Brites (1985) já alertava sobre a perversa relação estabeleci<strong>da</strong> entre a criança e a<br />

história que lhe <strong>é</strong> ensina<strong>da</strong>, trazendo à tona dentre as várias ponderações, a perspectiva sobre<br />

o modo como o saber histórico estava sendo apresentado: comemoração dos personagens<br />

ditos significativos para a formação <strong>histórica</strong> do Brasil. Adverte que esse modelo apresenta a<br />

história ao educando como algo exterior, um espetáculo e al<strong>é</strong>m de valorizar o herói, neutraliza<br />

todos os conflitos buscando a noção de harmonia social. A implicação desse processo <strong>é</strong> a<br />

destruição <strong>da</strong> memória <strong>histórica</strong> que <strong>é</strong> inculca<strong>da</strong> com versões oficiais e heroicas resultando<br />

numa domesticação e alienação.<br />

Esses preceitos são frutos de um ensino de história tradicional que reproduzia e<br />

resumia todo o processo histórico pautado na tríade <strong>da</strong>ta, fato e o herói. Em súmula, as<br />

práticas pe<strong>da</strong>gógicas de história nos anos iniciais e finais se alicerçavam em um elencado<br />

número de acontecimentos históricos a serem transmitidos ao educando passivamente,<br />

exaltando a ação heroica de uma pequena parcela de sujeitos e uma eleva<strong>da</strong> carga de <strong>da</strong>tas<br />

<strong>histórica</strong>s a serem decora<strong>da</strong>s, isso <strong>é</strong> um aprendizado desvinculado <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de concreta do<br />

educando, negando sua ação enquanto sujeito histórico e que priorizava a pura e simples<br />

memorização mecânica. Esses fun<strong>da</strong>mentos provocavam no educando uma relação negativa<br />

com o saber histórico, compreendendo com um conhecimento determinista de pura<br />

“decoreba”. Esta noção já era critica<strong>da</strong> por Murilo Mendes desde 1930, quando analisa o<br />

ensino de história no curso secundário:<br />

Nossos adolescentes tamb<strong>é</strong>m detestam a História. Voltam-lhe ódio<br />

entranhado e dela se vingam sempre que podem, ou decorando o mínimo de<br />

conhecimentos que o “ponto” exige valendo lestamente <strong>da</strong> “cola” para passar nos<br />

exames. A história como lhes <strong>é</strong> ensina<strong>da</strong> <strong>é</strong>, realmente, odiosa [...] (MENDES, 1935:<br />

41 apud NADAI, 1993: 143)<br />

Devido a essas e outras circunstâncias devemos problematizar como está sendo<br />

efetivado o ensino de história nos primeiros anos do ensino fun<strong>da</strong>mental. Refletir sobre as<br />

3


práticas e experiências de ensinar história, in<strong>da</strong>gando novas proposições e abor<strong>da</strong>gens do<br />

saber histórico.<br />

De acordo com as considerações delinea<strong>da</strong>s por Oliveira (2011), entende que as s<strong>é</strong>ries<br />

iniciais do ensino fun<strong>da</strong>mental são momentos únicos que assinalam a iniciação <strong>da</strong> criança em<br />

um novo mundo. Em linhas gerais: o trabalho com o conhecimento histórico <strong>é</strong> de extrema<br />

relevância, pois se trata de inserir a criança no mundo do saber histórico e social.<br />

Com base nestas elucubrações <strong>é</strong> necessário questionar a relação inicial <strong>da</strong> criança com<br />

o conhecimento histórico, pois <strong>é</strong> principalmente nesta fase que a curiosi<strong>da</strong>de infantil está<br />

aguça<strong>da</strong> para conhecer o novo e tecendo relações complexas no e com o mundo, sendo assim<br />

esse <strong>é</strong> um momento fun<strong>da</strong>mental de iniciar a criança a refletir e raciocinar historicamente de<br />

forma contextualiza<strong>da</strong>.<br />

Nesta mesma abor<strong>da</strong>gem Siman (2011) discorre que ensinar história às crianças <strong>é</strong> uma<br />

aventura magnífica, geralmente elas são impávi<strong>da</strong>s para perguntar, questionar, in<strong>da</strong>gar,<br />

expressar suas ideias, raciocínios, sentimentos e saberes, em síntese: a criança está aberta ao<br />

novo e ao desconhecido. A criança estabelece relações inusita<strong>da</strong>s e instigantes, situações<br />

nunca pensa<strong>da</strong>s pelo mundo adultocêntrico. Conhecer o universo <strong>da</strong> criança permite ao adulto<br />

se rejuvenescer diariamente com um olhar infantil sobre o mundo. Ressalta enfaticamente que<br />

<strong>é</strong> nosso dever e compromisso teórico, acadêmico e político conhecer como o educando pensa<br />

historicamente, suas possibili<strong>da</strong>des reais e potenciais em diferentes i<strong>da</strong>des e criar situações de<br />

aprendizagem favoráveis.<br />

Nessa relação inicial <strong>da</strong> criança com a história, há uma rica possibili<strong>da</strong>de de colocar<br />

em xeque todos os questionamentos que a instigam. Refletir historicamente <strong>é</strong> abrir um leque<br />

de possibili<strong>da</strong>des para raciocinar sobre a história, pensar sobre o passado, compreender o<br />

presente e projetar o futuro, em síntese comparando acontecimentos no tempo tendo como<br />

referência anteriori<strong>da</strong>de, simultanei<strong>da</strong>de e posteriori<strong>da</strong>de, estabelecendo conexões e relações<br />

iniciais entre diferentes temporali<strong>da</strong>des e espaciali<strong>da</strong>des. O educando nesta perspectiva ativa<br />

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todos os mecanismos mentais que possibilitam questionar inúmeras possibili<strong>da</strong>des e<br />

alternativas de um mesmo assunto a ser explorado, proporcionando ao educador pensar<br />

historicamente juntamente com um olhar infantil, dialogando juntamente com a criança,<br />

tecendo a função de produtores do conhecimento histórico, numa relação dialógica e dial<strong>é</strong>tica.<br />

Essa abor<strong>da</strong>gem <strong>é</strong> consoli<strong>da</strong>r um aprendizado histórico motivador, emancipador e<br />

transformador, pois o educando sob a mediação do professor assume uma atitude de aprendiz<br />

ativo e reflexivo.<br />

Esse artigo tem a intencionali<strong>da</strong>de de tecer caminhos e possibili<strong>da</strong>des para refletir<br />

como ensinar história para as crianças. Tendo como postulado promover questionamentos<br />

teóricos e metodológicos, que embasam práticas pe<strong>da</strong>gógicas que proporcionem a<br />

concretização de um processo de “<strong>Alfabetização</strong> Histórica”.<br />

Refletir e raciocinar historicamente dialogando com o processo de alfabetização e<br />

letramento<br />

De acordo com o aporte teórico de Brites (1985) na qual discute que no campo do<br />

ensino de história algumas transformações devem ser consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s, principalmente no aspecto<br />

de não apresentar a história tradicional sem senso de critici<strong>da</strong>de, pondo em prática outras<br />

concepções metodológicas de ensino de história, que esteja alicerça<strong>da</strong> na história de vi<strong>da</strong> dos<br />

educandos e a refletir sua própria vi<strong>da</strong> como um processo histórico. Com base nestas<br />

in<strong>da</strong>gações <strong>é</strong> imensa responsabili<strong>da</strong>de do educador não reforçar e propagar práticas educativas<br />

que excluam o educando do processo de ensino e aprendizagem, isto <strong>é</strong>, sucedido na<br />

elaboração de planejamentos desvinculados do contexto social do aluno, avaliações<br />

classificatórias e punitivas, metodologias arcaicas e situações didáticas que desconsiderem a<br />

reali<strong>da</strong>de e a leitura de mundo desse sujeito, no ato <strong>da</strong> construção do conhecimento histórico.<br />

Temos o desafio de construir uma nova ideia de educação, com práticas educativas<br />

acolhedoras e significativas, que respeite o educando enquanto sujeito produtor de saberes,<br />

5


culturas e conhecimento histórico. Com bases nestas explanações <strong>é</strong> importante refletir sobre o<br />

processo de alfabetização e letramento histórico, <strong>é</strong> de extrema relevância acadêmica esboçar<br />

algumas considerações iniciais dentro desse enfoque.<br />

De acordo com as eluci<strong>da</strong>ções de Fonseca (2009) na qual considera que o caminho do<br />

ensino e aprendizagem histórico possibilita vivenciar experiências sociais e <strong>histórica</strong>s em<br />

movimentos e suas rupturas e permanências, afirmando que o estudo de história desde os<br />

primeiros anos de escolarização permite ao educando se conhecer e reconhecer diferentes<br />

grupos sociais, perceber a diversi<strong>da</strong>de e tamb<strong>é</strong>m possibilita concretizar analogias entre<br />

distintas socie<strong>da</strong>des em diversifica<strong>da</strong>s espaciali<strong>da</strong>des e temporali<strong>da</strong>des. Neste sentido <strong>é</strong><br />

fun<strong>da</strong>mental aprender história no processo de constituição <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des e na formação <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Compreende-se que o saber histórico <strong>é</strong> formativo, não pode ser dicotomizado do<br />

processo de alfabetização e letramento.<br />

Dentro dessas abor<strong>da</strong>gens sobre a construção <strong>da</strong> leitura e escrita, Soares (2010) analisa<br />

a dimensão social do processo de alfabetização e letramento, avaliando que o letramento não <strong>é</strong><br />

apenas um estado ou condição, mas uma prática social, que possibilita ao educando<br />

habili<strong>da</strong>des de ler e escrever em determinado contexto destinado a uma prática social<br />

específica, entendendo e classificando letramento dentro de uma visão “revolucionária”, na<br />

qual as habili<strong>da</strong>des de leitura e escrita não são apreendi<strong>da</strong>s como neutras, mas são vistas como<br />

um conjunto de práticas socialmente constituí<strong>da</strong>s abrangendo o ato de ler e escrever,<br />

configura<strong>da</strong>s por processos sociais mais complexos e responsáveis por reforçar ou questionar<br />

valores, tradições, padrões presentes no tecido social.<br />

Com essas proposições <strong>é</strong> presumível suscitar algumas considerações iniciais sobre o<br />

conceito de “<strong>Alfabetização</strong> Histórica”. A criança muito antes de adentrar no processo de<br />

escolarização, está inseri<strong>da</strong> num contexto cultural e social de múltiplas linguagens textuais,<br />

imag<strong>é</strong>ticas, filmográficas, musicais, etc.. Essas múltiplas linguagens são expostas<br />

cotidianamente à criança, ao inserir-se no contexto escolar com essa bagagem cultural, essa<br />

leitura de mundo deve ser ponto de parti<strong>da</strong> para a construção de saberes históricos<br />

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contextualizados. Fatalmente durante o processo de alfabetização e letramento o educador fica<br />

tolhido pelas prescrições institucionais que lhes são impostas e acaba priorizando o processo<br />

de alfabetização pautado unicamente em materiais didáticos pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> área de Língua<br />

Portuguesa, não levando em consideração um elevado leque de possibili<strong>da</strong>des que os demais<br />

saberes escolares potencializam nesse processo de forma mais contextualiza<strong>da</strong> e dialógica<br />

com outras áreas do conhecimento.<br />

Necessitamos cultivar propostas pe<strong>da</strong>gógicas que investiguem o processo de<br />

alfabetização que fomente um refletir historicamente, isto ilustra o movimento de construção<br />

de uma “<strong>Alfabetização</strong> Histórica”. Essa prática pe<strong>da</strong>gógica não desconsidera a importância do<br />

sujeito de se apropriar criticamente do ato de ler e escrever, mas que seja dialogado com a<br />

aprendizagem <strong>histórica</strong>. Podemos ensinar o educando a ler o mundo e concomitantemente<br />

pensar historicamente por interm<strong>é</strong>dio de uma fotografia antiga, a partir de um pequeno trecho<br />

de um documento histórico, análise de um filme ou desenho, apreciação de uma obra de arte,<br />

com base em uma ro<strong>da</strong> de conversa, discutir uma letra de música, atrav<strong>é</strong>s de uma ro<strong>da</strong> de<br />

leitura sobre a desconstrução de <strong>da</strong>tas comemorativas, recortes de jornais e revistas e dentre<br />

outras inúmeras possibili<strong>da</strong>des. Carecemos urgentemente de inserir a criança no fato que o<br />

conhecimento histórico <strong>é</strong> processual, entender a história atrav<strong>é</strong>s de uma construção de atores<br />

sociais concretos. Autorizar o aluno refletir sobre o objeto de estudo, perceber como examinar<br />

historicamente e produzir seu próprio conhecimento histórico, com isso estaremos<br />

possibilitando práticas pe<strong>da</strong>gógicas que considere o aluno enquanto sujeito histórico e<br />

protagonista do processo de ensino e aprendizagem, habilitando-o a raciocinar historicamente<br />

<strong>da</strong>ndo-lhe voz e carta de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia para atuar no mundo de forma mais crítica e ativa.<br />

As ponderações de Oliveira (2011) considera um aspecto essencial: que nos anos<br />

iniciais há professor polivalente que leciona to<strong>da</strong>s as disciplinas, sendo assim a linha divisória<br />

que ca<strong>da</strong> disciplina <strong>é</strong> vista de forma estanque e desarticula<strong>da</strong> com outros saberes, ganha<br />

contornos mais maleáveis, pois uma disciplina dialoga com outros saberes, contribuindo para<br />

romper a rigidez relaciona<strong>da</strong> ao uso do tempo, do espaço e <strong>da</strong> organização dos saberes,<br />

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configurando-se uma área fecun<strong>da</strong> para investigações que possibilite compreender como<br />

promover o trabalho com os conteúdos históricos dialogando com outras áreas do<br />

conhecimento. A relação didática estabeleci<strong>da</strong> em sala de aula, a progressão do conhecimento<br />

histórico <strong>é</strong> um processo alimentado pelo diálogo constante que o aluno consoli<strong>da</strong> diante às<br />

estrat<strong>é</strong>gias metodológicas propostas pelo professor, essa lógica viabiliza o educador<br />

ressignificar e redefinir o processo de ensino e aprendizagem. A disciplina de história requer<br />

metodologias específicas, pois uma questão central a ser refleti<strong>da</strong> <strong>é</strong>: entender e atuar visando à<br />

progressão do conhecimento histórico dentro do espaço educativo, de forma que esse não seja<br />

uma mera repetição de narrativas amplia<strong>da</strong>s quantitativamente ao longo dos anos escolares,<br />

necessitamos compreender o que <strong>é</strong> e como se aprende em História. Pensar no conhecimento<br />

do sujeito, para to<strong>da</strong> e qualquer ação educativa, <strong>é</strong> o ponto de parti<strong>da</strong> para a discussão sobre a<br />

progressão do conhecimento histórico na escola, mas concomitantemente a importância dos<br />

conhecimentos pr<strong>é</strong>vios no processo educacional.<br />

Considerações finais<br />

Tendo como embasamento teórico as ponderações discorri<strong>da</strong>s, temos a oportuni<strong>da</strong>de<br />

de valorizar as múltiplas linguagens e pensamentos que a criança traz ao espaço escolar, isso<br />

será um modo de produzir história junto com o aluno, selado num prazeroso processo de<br />

alfabetização e letramento histórico, mas isso só será <strong>possível</strong>, respeitando o olhar infantil que<br />

deman<strong>da</strong> um exercício do nosso olhar, requer enxergar o processo educativo sob a ótica <strong>da</strong><br />

curiosi<strong>da</strong>de dos pequenos, quebrando a visão adultocêntrica de refletir historicamente.<br />

O trabalho com o conhecimento histórico envolvendo crianças deve<br />

considerar a curiosi<strong>da</strong>de infantil. Essa curiosi<strong>da</strong>de, mola propulsora que leva a<br />

criança in<strong>da</strong>gar e a busca explicações para a reali<strong>da</strong>de em que vive, não está<br />

limita<strong>da</strong> a tempos e espaços específicos. A necessi<strong>da</strong>de de significância conduz-nos<br />

a inferir que a criança vive esse processo de conhecimento do outro, esteja esse<br />

outro em qualquer lugar ou tempo, considerando sempre, ou buscando sempre, o<br />

que confere significado à nossa existência. Talvez seja por esse motivo que a<br />

criança tem tanta necessi<strong>da</strong>de de entender aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana dos homens<br />

que viveram em diferentes tempos e lugares. (OLIVEIRA, 2011: 63)<br />

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Nesta mesma discussão teórica Fonseca (2009) pondera que o ato de educar requer do<br />

educador uma postura e conscientização política acerca <strong>da</strong> função <strong>da</strong> história, <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong><br />

escrita no processo de construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança, apoiando que a educação <strong>histórica</strong><br />

e a alfabetização são direitos básicos de exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia plena, pois o sujeito que não<br />

domina a leitura e escrita não consegue se situar no tempo e espaço. Neste referencial <strong>é</strong><br />

<strong>possível</strong> desenvolver a competência leitora e escritora dialogando com a ampliação <strong>da</strong>s<br />

noções de história, socie<strong>da</strong>de, cultura, ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, trabalho, tempo e espaço. De acordo com as<br />

considerações <strong>da</strong> autora não <strong>é</strong> requisito obter as habili<strong>da</strong>des de leitura e escrita para<br />

posteriormente iniciar uma educação <strong>histórica</strong>, mas defende categoricamente que a criança<br />

como sujeito histórico <strong>é</strong> o ponto de parti<strong>da</strong> para uma aprendizagem significativa. Sendo assim<br />

<strong>é</strong> <strong>possível</strong> alfabetizar aprendendo e ensinando nossa própria história, pois somos sujeitos <strong>da</strong><br />

história e do conhecimento, participando e tecendo múltiplas leituras e escritas <strong>da</strong> história.<br />

A questão desse estudo foi conjecturar algumas in<strong>da</strong>gações para propiciar uma<br />

reflexão crítica sobre o ato de aprender e ensinar história, fomentando algumas proposições<br />

sobre a ideia de “<strong>Alfabetização</strong> Histórica”. Esse <strong>é</strong> um debate que deve ultrapassar os muros <strong>da</strong><br />

escola e <strong>da</strong> academia, com o intuito de construirmos mu<strong>da</strong>nças concretas na educação<br />

<strong>histórica</strong> destina<strong>da</strong> à infância, que respeite o potencial intelectual, social e moral de ca<strong>da</strong><br />

criança, sendo cui<strong>da</strong>dosamente cultivado e orientado para um processo de alfabetização e<br />

letramento histórico.<br />

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FERRO, Marc. A manipulação <strong>da</strong> história no ensino e nos meios de comunicação. Tradução:<br />

Wladimir Araújo. São Paulo: IBRASA, 1983.<br />

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MENDES, Murilo. A História no Curso Secundário. São Paulo, Gráfica Paulista, 1935: 41 In<br />

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História. Revista Brasileira de História 25/26 ANPUH/ Marco Zero, 1993.<br />

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FONSECA; JÚNIOR (Org.) Perspectivas do Ensino de História: ensino, ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e<br />

consciência <strong>histórica</strong>. Uberlândia: Edufu, 2011.<br />

SIMAN. Lana Mara de Castro. Crianças e professora como leitoras: criação de sentidos e<br />

subversões à ordem de textos históricos escolares. In FONSECA; JÚNIOR (Org.)<br />

Perspectivas do Ensino de História: ensino, ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e consciência <strong>histórica</strong>. Uberlândia:<br />

Edufu, 2011.<br />

SOARES, Mag<strong>da</strong>. <strong>Alfabetização</strong> e letramento. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 2010.<br />

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