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Hematopoese, Fatores de Crescimento e Aplicação Clínica da ...

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<strong>Hematopoese</strong>, <strong>Fatores</strong> <strong>de</strong> <strong>Crescimento</strong> e <strong>Aplicação</strong> <strong>Clínica</strong><br />

<strong>da</strong> Eritropoetina na Anemia <strong>da</strong> Prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Hematopoiesis, growth factors and clinical application of erythropoietin in anemia<br />

of prematurity<br />

Maria Apareci<strong>da</strong> Zanichelli 1 , Anamaria Arbo Furrer 2 , Thogo <strong>da</strong> Silva Pereira Filho 2 , Flávio Adolfo Costa Vaz 3 .<br />

Instituto <strong>da</strong> Criança Prof. Pedro <strong>de</strong> Alcântara - H.C. - FMUSP<br />

Departamento <strong>de</strong> Pediatria <strong>da</strong> FMUSP<br />

Unitermos: hematopoese, fatores <strong>de</strong> crescimento, anemia do recém-nascido<br />

Keywords: hematopoiesis, growth factors, anemia of the newborn<br />

RESUMO:<br />

Os autores apresentam inicialmente uma revisão<br />

sobre a hematopoese enfocando a fisiologia, a circulação<br />

<strong>da</strong>s stem cells e sua relação com os diversos<br />

fatores <strong>de</strong> crescimento celular nos diversos<br />

períodos <strong>de</strong> formação <strong>da</strong>s células do sangue<br />

durante a gestação. A produção <strong>de</strong> hemoglobina<br />

Introdução<br />

O sistema hematopoético caracteriza-se por um<br />

contínuo turnover <strong>de</strong> células e conseqüentemente por<br />

um constante efeito reparativo necessário para manter<br />

a população <strong>de</strong> leucocitos, plaquetas e eritrocitos.<br />

Em resposta a um <strong>de</strong>terminado estímulo, como por<br />

exemplo, a hipóxia, sangramento ou infecção, a produção<br />

individual <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> tipo <strong>de</strong> célula po<strong>de</strong>rá ser<br />

substancialmente aumenta<strong>da</strong>. A expansibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<br />

resposta focai do sistema hematopoético são atribuí<strong>da</strong>s<br />

à população <strong>de</strong> células progenitoras ou stem cells<br />

e outras, com habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autoreplicação, ou produção<br />

<strong>de</strong> linhagens celulares diferencia<strong>da</strong>s responsivas<br />

ao sistema, através <strong>de</strong> moduladores solúveis específicos.<br />

A hematopoese compreen<strong>de</strong> três setores:<br />

1. progenitores celulares precoces (stem cells), que<br />

suportam a hematopoese.<br />

2. Precusores comprometidos (stem cell committed<br />

ou células progenitoras comprometi<strong>da</strong>s). São uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

na seqüência do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> hematopoese,<br />

a regulação e as características <strong>da</strong> eritropoetina<br />

são a seguir <strong>de</strong>scritas. Finalizamos a revisão<br />

com a fisiologia <strong>da</strong>s anemias no período neonatal<br />

do recém-nascido <strong>de</strong> termo e em prematuros<br />

além <strong>de</strong> uma breve abor<strong>da</strong>gem terapêutica.<br />

formadoras <strong>de</strong> colônias (CFU, BFU) que expan<strong>de</strong>m a<br />

população <strong>de</strong> células diferencia<strong>da</strong>s (eritrocitos, leucocitos,<br />

etc).<br />

3. fatores reguladores do crescimento hematopoético<br />

ou citoquinas, que agem sobre o sistema.<br />

STEM CELLS (5, 14)<br />

A stem cell é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como a célula que tem a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> auto-renovação, assim como a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> produzir progenitores <strong>de</strong>stinados à diferenciação<br />

(stem cell committed).<br />

Em 1961, Till e Mc Culloch <strong>de</strong>monstram que agrupamentos<br />

<strong>de</strong> células hematopoéticas (stem cell pluripotentes<br />

e/ou committed) eram capazes <strong>de</strong> crescer em<br />

baços previamente irradiados <strong>de</strong> camundongos, e que<br />

estas colônias pluripotentes exibiam diferenciação em<br />

múltiplas linhagens (eritrói<strong>de</strong>, mielói<strong>de</strong> ou megacariocítica).<br />

Experimentos citogenéticos confirmaram que estas<br />

colônias eram <strong>de</strong> mesma origem. Uma célula originava<br />

a outra e assim por diante, <strong>de</strong>riva<strong>da</strong>s portanto <strong>de</strong><br />

1 - Mestre em Hematologia pela FMUSP. Coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> Serviço <strong>de</strong> Hematologia do Hospital Briga<strong>de</strong>iro. Pós-Graduação em Pediatria - FMUSP - Doutorado.<br />

2 - Pós-Graduação em Pediatria - FMUSP - Mestrado<br />

3 - Professor Livre-Docente <strong>de</strong> Neonatologia - FMUSP.<br />

Professor Associado <strong>de</strong> Pediatria - FMUSP<br />

Diretor do Serviço <strong>de</strong> Pediatria Neonatal - I. CR. - HC. - FMUSP


urna única stem cell pluripotente, tendo sido <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s<br />

CFU-S (uni<strong>da</strong><strong>de</strong> formadoras <strong>de</strong> colonias no<br />

baco).<br />

Pluznik e Sachs, assim como Bradley e Metcalf relataram<br />

que colonias hematopoéticas podiam crescer<br />

em meios semi-sólidos se a estes fossem adiciona<strong>da</strong>s<br />

glicoproteínas. Inicialmente apenas granulócitos ou<br />

macrófagos foram produzidos, mas com adição <strong>de</strong><br />

plasma, eritropoetina e meios especiais ou específicos<br />

fatores <strong>de</strong> crescimento hematopoético, to<strong>da</strong>s as combinações<br />

<strong>de</strong> linhagens pu<strong>de</strong>ram ser encontra<strong>da</strong>s. Colônias<br />

simples pluriptotentes e com estimulação específica<br />

originaram diversos tipos <strong>de</strong> stem cells comprometi<strong>da</strong>s<br />

com funções <strong>de</strong> diferenciação e expansão <strong>da</strong><br />

linhagem celular <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>.<br />

A figura seguinte (Figura 1) mostra os diversos<br />

progenitores celulares e os fatores <strong>de</strong> crescimento<br />

hematopoético.


FATORES DE CRESCIMENTO HEMATOPOÉTICO<br />

(5, 13, 14)<br />

Os fatores estimulantes são essenciais para o<br />

crescimento <strong>de</strong> colônias hematopoéticas. São glicoproteínas<br />

que têm como função a regulação <strong>da</strong><br />

hematopoese por mecanismos complexos. Os diversos<br />

fatores <strong>de</strong> crescimento atuam sobre várias funções e<br />

apresentam múltiplos locais <strong>de</strong> produção e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

tendo sido já i<strong>de</strong>ntificados e clonados, os genes responsáveis<br />

pela síntese <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les (GM-CSF, MK-<br />

CSF, IL-4, IL-45, IL-9) localizam-se no braço longo do<br />

cromossoma 5 e os genes que codificam a eritropoe-<br />

tina (EPO), no cromossoma 7. Com este conhecimento,<br />

em uma célula qualquer po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados<br />

estes genes, fazendo-se uma cópia <strong>da</strong> região e formando<br />

assim um plasmí<strong>de</strong>o. A partir <strong>de</strong>ste, obtém-se<br />

outro DNA <strong>da</strong> região <strong>de</strong> interesse. Através <strong>de</strong> técnicas<br />

<strong>de</strong> son<strong>da</strong>s <strong>de</strong> DNA o plasmí<strong>de</strong>o é introduzido em uma<br />

bactéria, como a Escherichia coli, por exemplo. Esta,<br />

ao multiplicar-se, produzirá o fator <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>sejado.<br />

A seguir apresentamos uma tabela dos fatores <strong>de</strong><br />

crescimento hematopoético e algumas <strong>de</strong> suas características<br />

(Tabela 1).


HEMATOPOESE PRE-NATAL (9)<br />

Durante a gestação, a formação do sangue começa<br />

com a stem cell hematopoética primitiva. A hemotopoese<br />

pré-natal ocorre em três períodos anatômicos:<br />

- Período mesoblástico<br />

- Período hepático<br />

- Período mielói<strong>de</strong><br />

Período Mesoblástico: Inicialmente, stem cells<br />

pluripotentes e precursores eritrói<strong>de</strong>s comprometidos<br />

são produzidos a partir <strong>de</strong> células mesenquimais embrionárias<br />

do saco vitelino, presentes nos estágios precoces<br />

<strong>da</strong> gestação a partir do 16 Q ou 19 Q dia <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

intrauterina. Os agrupamentos celulares ou "clusters"<br />

originam uma linhagem <strong>de</strong> células interiores, livres,<br />

que são a primeira geração <strong>da</strong>s stem cells pluripotentes.<br />

A eritropoese neste período é essencialmente<br />

megaloblástica Caracteriza-se por uma hematopoese<br />

vascular ou extra-embrionaria. O período mesoblástico<br />

permanece ativo até a 10- ou 12 a semana <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

intra-uterina.<br />

Período Hepático: Inicia se ao redor <strong>da</strong> 6- semana<br />

gestaciona, no período <strong>da</strong> produção coriônica ou<br />

vitelínica <strong>da</strong>s células vermelhas. Do 3 Q ao 5 Q mês <strong>de</strong><br />

gestação os precursores eritrói<strong>de</strong>s perfazem 50% <strong>da</strong>s<br />

células nuclea<strong>da</strong>s do fígado. Precursores mielói<strong>de</strong>s e<br />

dos megacariócitos também estão presentes. Concomitantemente,<br />

outros órgãos <strong>de</strong>senvolvem-se, assumindo<br />

a função hematopoética, como o timo, o baço e os<br />

gânglios linfáticos. A hematopoese visceral atinge o<br />

seu pico ao redor do 3 Q e 4 Q mês <strong>de</strong> gestação, <strong>de</strong>clinando<br />

progressivamente entre o 6 Q e 7° mês.<br />

Período Mielói<strong>de</strong>: Na 10 a semana, em alguns ossos<br />

longos já po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>tectar precocemente a formação<br />

<strong>de</strong> algumas células hematopoéticas, mas esta função<br />

inicia-se efetivamente ao final <strong>da</strong> 12 a semana. Na 30 a<br />

semana <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong>s as linhagens celulares já se encontram<br />

representa<strong>da</strong>s na medula óssea com 100% <strong>de</strong><br />

celulari<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A figura seguinte mostra os diferentes períodos <strong>da</strong><br />

hematopoese intra-uterina (Figura 2).


CIRCULAÇÃO DE STEM CELLS (14)<br />

A stem cell hematopoética pluripotencial migra<br />

dos sítios extraembrionários para as vísceras do embrião<br />

e para a medula óssea fetal, talvez atraí<strong>da</strong> pelas<br />

melhores condições do microambiente. Esta suposição<br />

é sustenta<strong>da</strong> pelos achados <strong>de</strong> estudos em camundongos<br />

que <strong>de</strong>monstram <strong>de</strong>pendência <strong>da</strong> hematopoese<br />

intraembriônica, com saco vitelino intacto.<br />

A circulação <strong>de</strong> stem cells parece ser menos importante<br />

em preparações usando quimeras compostas<br />

PRODUÇÃO DE HEMOGLOBINA (9)<br />

Durante a seqüência <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />

hematopoese em saco vitelino, baço, fígado e medula<br />

óssea, diversas varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> hemoglobina são sintetiza<strong>da</strong>s<br />

e substitui<strong>da</strong>s.<br />

As primeiras ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> globina produzi<strong>da</strong>s no embrião<br />

possuem distintas seqüências <strong>de</strong> polipeptí<strong>de</strong>os e<br />

são as ca<strong>de</strong>ias zeta (ç), semelhantes à alfa (a), e as<br />

<strong>de</strong> embrião <strong>de</strong> saco vitelino <strong>de</strong> aves.<br />

O mo<strong>de</strong>lo permite a diferenciação <strong>da</strong> progenie <strong>de</strong><br />

stem cells do saco vitelino para a do embrião. O fluxo<br />

<strong>de</strong> stem cells parece ser bidirecional e stem cells <strong>de</strong><br />

ca<strong>da</strong> lado po<strong>de</strong>m levar eritroblastos primitivos e <strong>de</strong>finitivos.<br />

Isto <strong>de</strong>monstra que fatores <strong>de</strong> tempo na embriogênese<br />

e origem <strong>de</strong> migração <strong>de</strong> stem cells são importantes<br />

para a seqüência <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças que caracterizam<br />

a hematopoese pré-natal, como <strong>de</strong>monstra a figura<br />

3, abaixo.<br />

ca<strong>de</strong>ias épsilon, (S), similares à ca<strong>de</strong>ia gama (y).<br />

Dois pares <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>ssas ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> globina<br />

formam a porção proteica <strong>da</strong> hemoglobina Gower l<br />

(ç2S 2), que é a hemoglobina <strong>de</strong> embriões com menos<br />

<strong>de</strong> 5 a 6 semanas <strong>de</strong> gestação.<br />

Quando a síntese <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias alfa se inicia, a hemoglobina<br />

Gower 2 (a2 B 2) po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tecta<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro<br />

do saco vitelino com a i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional <strong>de</strong> 4


semanas. É ausente em embriões <strong>de</strong> 13 semanas.<br />

A hemoglobina Portland (ç2 y2) é encontra<strong>da</strong> em<br />

embriões mas persiste em crianças homozigotas para<br />

talassemia.<br />

A síntese <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias ç e S diminui progressivamente<br />

à medi<strong>da</strong> que a eritropoese hepática substitui a<br />

do saco vitelico.<br />

Estas três hemoglobinas embrionárias (Gower l, 2<br />

e Portland), com alta afini<strong>da</strong><strong>de</strong> p[elo oxigênio, são<br />

também proteínas que o transportam. Já foram <strong>de</strong>scritas<br />

persistindo em crianças com distúrbios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

As células do fígado, baço e medula produzem hemoglobina<br />

fetal Hb F (a2 y2), a mais importante hemoglobina<br />

na vi<strong>da</strong> embrionária, que compõe 90 a 95%<br />

do total <strong>da</strong>s hemoglobinas do feto, até a 34- a 36 g semana<br />

<strong>de</strong> gestação.<br />

A síntese <strong>de</strong> hemoglobina do adulto Hb A (a2 (32)<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> em fetos <strong>de</strong> 9 semanas <strong>de</strong> gestação.<br />

Em fetos <strong>de</strong> 9 a 21 semanas a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> hemoglobina<br />

A está ao redor <strong>de</strong> 4 a 13% do total <strong>de</strong> hemoglobina.<br />

Após a 34- e 36- semanas <strong>de</strong> gestação, a<br />

percentagem <strong>de</strong> HbA aumenta, enquanto que a Hb F<br />

diminui. A quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> hemoglobina fetal em<br />

recém-nascidos <strong>de</strong> termo varia <strong>de</strong> 53 a 95% do total <strong>de</strong><br />

hemoglobina.<br />

A concentração <strong>de</strong> hemoglobina fetal diminui após<br />

o nascimento em aproxima<strong>da</strong>mente 3% por semana e<br />

é geralmente inferior a '3% do total <strong>de</strong> hemoglobina<br />

aos 6 meses <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. A taxa <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong> produção<br />

<strong>da</strong> hemoglobina fetal está diretamente relaciona<strong>da</strong><br />

à i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional <strong>da</strong> criança e não parece<br />

ser afeta<strong>da</strong> pelas mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> ambiente e tensão <strong>de</strong><br />

oxigênio ocorri<strong>da</strong>s no momento do nascimento.<br />

Diversas doenças hereditárias são caracteriza<strong>da</strong>s<br />

pela persistência <strong>da</strong> hemoglobina fetal. Estas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

são <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s a trocas ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s <strong>da</strong> síntese <strong>da</strong>s<br />

ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> globina y,s, (3.<br />

CARACTERÍSTICAS DA HEMOGLOBINA FETAL (Hb F)<br />

A Hb F tem uma afini<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo oxigênio maior<br />

que a Hb A. No cordão umbilical, 50% <strong>da</strong> tensão satura<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> oxigênio (P 50) é <strong>de</strong> 19 a 21 mmHg, 6 a 8<br />

mmHg mais baixa que do adulto normal.<br />

O <strong>de</strong>svio <strong>da</strong> curva <strong>de</strong> dissociação <strong>de</strong> hemoglobinaoxigênio<br />

para a esquer<strong>da</strong> resulta <strong>da</strong> pouca afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

Hb F com o 2,3-DPG. O aumento <strong>da</strong> afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Hb F<br />

com o oxigênio confere uma vantagem para o feto<br />

quanto à transferência <strong>de</strong> oxigênio <strong>da</strong> mãe para o feto.<br />

A Hb F é resistente à <strong>de</strong>snaturação por alcalinos,<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> que tem por base a sua quantificação<br />

química, método utilizado para <strong>de</strong>tectar células fetais<br />

no sangue materno.<br />

O nível <strong>de</strong> Hb é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional<br />

e prematuros têm relativamente mais Hb F que crianças<br />

a termo. Já se <strong>de</strong>monstrou que gêmeos têm a mesma<br />

quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Hb F, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do peso e <strong>da</strong><br />

zigoci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Recém-nascidos que sofreram hipóxia crônica <strong>de</strong><br />

mães portadoras <strong>de</strong> doenças cardiacas e pulmonares<br />

têm níveis maiores <strong>de</strong> Hb F.<br />

Doenças hemolíticas têm sido associa<strong>da</strong>s a baixos<br />

níveis <strong>de</strong> Hb F.<br />

Proporções aumenta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Hb F ao nascimento<br />

têm sido relata<strong>da</strong>s em recém-nascidos que apresentam<br />

trissomia do cromossoma 13 e diminuição dos níveis<br />

são vistas na trisomia do cromossoma 21.<br />

Os mecanismos responsáveis pelas trocas or<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> expressão dos genes <strong>da</strong> globina permanecem<br />

não totalmente compreendidos. Muitas evidências,<br />

entretanto, favorecem a hipótese <strong>de</strong> que a síntese<br />

<strong>de</strong> globina é regula<strong>da</strong> a um nível celular mais primitivo,<br />

reconhecido pelos precursores eritrói<strong>de</strong>s. Este conceito<br />

apóia-se na observação <strong>de</strong> que manipulação do<br />

ph ou saturação <strong>de</strong> oxigênio não alteram o padrão <strong>da</strong><br />

produção <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> globina pelos eritroblastos<br />

diferenciados.<br />

A figura 4 retrata a síntese <strong>da</strong>s diferentes ca<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> hemoglobina na vi<strong>da</strong> fetal.


ERITROPOETINA (5, 15)<br />

Em 1906, Carnot e Deflandre sugeriram que a<br />

hipóxia arterial gerasse um fator humoral capaz <strong>de</strong> estimular<br />

a produção <strong>de</strong> células vermelhas. Esta afirmação<br />

não foi aceita, apesar <strong>de</strong> correta, <strong>de</strong>vido a sua<br />

não-comprovação experimental.<br />

Em 1950, Reissman estudou em ratos o estímulo <strong>da</strong><br />

produção <strong>de</strong> células vermelhas por um fator humoral.<br />

Apenas em 1953 provou-se uma evidência direta<br />

<strong>da</strong> existência <strong>da</strong> eritropoetina com um mecanismo <strong>de</strong><br />

ação semelhante ao dos hormônios.<br />

A eritropoetina é um hormônio polipeptídico que<br />

induz e mantém a proliferação <strong>de</strong> células progenitoras<br />

eritrói<strong>de</strong>s na medula óssea e a diferenciação <strong>de</strong> células<br />

vermelhas maduras no sangue periférico. Este fator<br />

<strong>de</strong> crescimento hematopoético também encurta o período<br />

<strong>de</strong> trânsito do proeritroblasto a eritrocito.<br />

A eritropoetina parece estar envolvi<strong>da</strong> com a produção<br />

<strong>de</strong> células vermelhas na fase medular <strong>da</strong> eritropoese<br />

fetal durante o terceiro trimestre. Seu nível aumenta<br />

com a i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional e atinge valores significativos<br />

após a 34 a semana <strong>de</strong> gestações. Em recémnascidos<br />

sadios, a eritropoetina cai a níveis in<strong>de</strong>tectáveis<br />

após o nascimento, mas é novamente mensura-<br />

<strong>da</strong> após o sexto dia <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Entretanto, se existe estímulo<br />

suficiente, como anemia hemolítica ou doença<br />

cardíaca congênita cianótica, o recém-nascido é capaz<br />

<strong>de</strong> produzi-la.<br />

Em prematuros sadios, através <strong>de</strong> radioimunoensaio,<br />

foi possível <strong>de</strong>tectar níveis <strong>de</strong> eritropoetina circulante<br />

quando a hemoglobia sofria uma que<strong>da</strong> <strong>de</strong> 13<br />

para 11 g/dl.<br />

Já em recém-nascidos com baixa porcentagem <strong>de</strong><br />

hemoglobina fetal, por exemplo, após transfusões ou<br />

com melhor oxigenação do parto, a eritropoetina não<br />

aumenta até que a hemoglobina caia 2 a 3 g/dl.<br />

REGULAÇÃO DA ERITROPOETINA SÉRICA (14,15)<br />

Como citado anteriormente, o gene para a eritropoetina<br />

humana tem sido isolado, clonado e expresso<br />

em cultura <strong>de</strong> células, tornando possível a elaboração<br />

<strong>de</strong> eritropoetina humana recombinante, comparável<br />

biológica e imunologicamente com o material isolado<br />

<strong>da</strong> urina <strong>de</strong> humanos.<br />

Baseado no conhecimento fisiológico <strong>da</strong> eritropoetina,<br />

existe uma correlação inversa entre níveis séricos<br />

<strong>de</strong> eritropoetina e nível <strong>de</strong> hemoglobina, com um<br />

mecanismo <strong>de</strong> feedback representado na figura 5.


LEUCOPOESE E MEGACARIOPOESE FETAL (9, 19)<br />

Embora os leucocitos possam ser i<strong>de</strong>ntificados no<br />

fígado e no tecido conjuntivo com 5 a 7 semanas <strong>de</strong><br />

gestação, a mielopoese é mínima em relação a eritropoese<br />

até que a hematopoese medular seja restabeleci<strong>da</strong>.<br />

Na 12- semana <strong>de</strong> gestação, granulócitos e seus<br />

precursores compõem 30 a 40% dos elementos celulares<br />

<strong>da</strong> medula óssea. Poucos granulócitos são vistos<br />

na circulação antes <strong>da</strong> 20- semana. Aumentam em<br />

número até níveis que, ao nascimento, exce<strong>de</strong>m em<br />

muito os <strong>de</strong> adultos.<br />

Linfócitos estão presentes em estruturas extra-embrionárias<br />

e no fígado a partir <strong>da</strong> 10 E semana, quando<br />

a linfopoese quantitativamente significativa começa a<br />

se <strong>de</strong>senvolver, no timo e no tecido linfói<strong>de</strong> intestinal.<br />

Os linfócitos estão presentes na medula óssea a partir<br />

<strong>da</strong> 12- semana. Seu número aumenta rapi<strong>da</strong>mente até<br />

lOOOO<strong>da</strong>mente 3000/mm3 por ocasião do nascimento.<br />

Os antígenos que i<strong>de</strong>ntificam os linfócitos em subgrupos<br />

T ou B são <strong>de</strong>tectados com 7 e 8 semanas, e<br />

por volta <strong>da</strong> 16- semana a maioria dos linfócitos circulantes<br />

já terá receptores <strong>de</strong> membrana que os i<strong>de</strong>ntifiquem<br />

como pertencentes à linhagem T ou B.<br />

Monócitos e eosinófilos po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados<br />

durante o <strong>de</strong>senvolvimento fetal precoce, mas só na<br />

meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> gestação são vistos em esfregaços sangüíneos.<br />

Megacariócitos po<strong>de</strong>m ser observados pela<br />

primeira vez entre a 5 g e a 6- semana <strong>de</strong> gestação, no<br />

saco vitelino e posteriormente aparecem no fígado. No<br />

3 s mês estão na medula óssea e sangue. As plaquetas<br />

são vistas por volta <strong>da</strong> 11- semana e aumentam em<br />

número rapi<strong>da</strong>mente, até atingirem concentrações<br />

comparáveis às do adulto.<br />

Os fatores <strong>de</strong> coagulação, como os elementos celulares<br />

do sangue, têm origem fetal. Já na 20- semana a<br />

maioria já alcançou níveis <strong>de</strong> 10 a 30% dos <strong>de</strong> adultos.<br />

Com 32 semanas o fibrinogênio e os fatores V, VII e<br />

XIII já alcançaram valores <strong>de</strong> adultos. Os fatores <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> vitamina K permanecem em níveis<br />

baixos durante a vi<strong>da</strong> fetal.<br />

CARACTERÍSTICAS HEMATOLÓGICAS DO<br />

RECÉM-NASCIDO (2,9)<br />

A transição abrupta <strong>da</strong> hipóxia relativa intra-uterina<br />

para um ambiente rico em oxigênio <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia<br />

diferentes respostas que afetam a eritropoese no<br />

período neontal. Nos primeiros 2 meses <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> o<br />

recém-nascido irá experimentar suas mais alta concentração<br />

<strong>de</strong> hemoglobina, assim como a mais baixa <strong>de</strong><br />

seu <strong>de</strong>senvolvimento. O mecanismo responsável<br />

parece ser iniciado pelo súbito aumento <strong>da</strong> oxigenação<br />

tissular que se dá no parto. Este estímulo é<br />

transmitido à medula óssea pela diminuição <strong>da</strong> eritropoetina<br />

do plasma. Seus níveis, muito mais altos<br />

que os <strong>de</strong> adultos, caem imediatamente após o nascimento.<br />

Com 24 horas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> estão inferiores aos dos<br />

adultos e assim permanecem no l- mês, levando a<br />

uma diminuição do número <strong>de</strong> precursores vermelhos<br />

na medula óssea.<br />

A reduzi<strong>da</strong> sobrevivência <strong>da</strong>s hemácias, a expansão<br />

do volume sangüíneo relaciona ao crescimento,<br />

associando-se a esta que<strong>da</strong> <strong>da</strong> produção medular levam<br />

a uma diminuição gradual dos níveis <strong>de</strong> hemoglobina<br />

circulante até chegar a 9-Hg/dl aos 2 meses.<br />

Esta que<strong>da</strong> não se associa a doença e parece não se<br />

prevenir através <strong>de</strong> suplementação. É a chama<strong>da</strong> "anemia<br />

fisiológica" do recém-nascido.<br />

O recém-nascido pré-termo apresenta, além <strong>de</strong><br />

uma sobrevi<strong>da</strong> <strong>de</strong> eritrocitos mais encurta<strong>da</strong>, por alterações<br />

na função <strong>da</strong> membrana <strong>da</strong> hemácia, um volume<br />

corpuscular médio maior que o <strong>de</strong> recém-nascidos<br />

<strong>de</strong> termo. A natureza dinâmica do compartimento<br />

eritrói<strong>de</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento fetal tardio é revela<strong>da</strong><br />

pelas diferenças observa<strong>da</strong>s entre os valores hematológicos<br />

do prematuro e <strong>da</strong> criança <strong>de</strong> termo.<br />

As concentrações <strong>de</strong> hemoglobina vão <strong>de</strong> I4.5g/dl<br />

na 28- semana <strong>de</strong> gestação a 15g/dl com 34 semanas<br />

e na 40 E semana estão em torno <strong>de</strong> l6.8g/dl. Em crianças<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s para a i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional, a relação<br />

Hb/I<strong>da</strong><strong>de</strong> Gestacional é linear. Um prematuro nasce,<br />

portanto, com uma hemoglobina um pouco inferior<br />

em relação a um recém-nascido <strong>de</strong> termo.<br />

A contagem <strong>de</strong> reticulócitos é maior no prematuro,<br />

po<strong>de</strong>ndo chegar a 6-10% em algumas situações. Há<br />

ain<strong>da</strong> uma relação inversa entre o número <strong>de</strong> células<br />

nuclea<strong>da</strong>s e a i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional. Normoblastos são<br />

rapi<strong>da</strong>mente retirados <strong>da</strong> circulação nos primeiros dias<br />

<strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, embora em prematuros possam ser encontrados<br />

até 7 dias.<br />

Mostramos na figura 6 a que<strong>da</strong> dos níveis <strong>de</strong> hemoglobina<br />

observa<strong>da</strong> no período neonatal para<br />

recém-nascidos <strong>de</strong> termo e prematuros.


Os valores <strong>de</strong> hemoglobina são influenciados pelo<br />

local <strong>da</strong> coleta sangüínea. A perfusão dos vasos ñas<br />

extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos recém-nascidos é menor, resultando<br />

em uma maior transu<strong>da</strong>ção e hemoconcentração. A relação<br />

hematócrito capilar/venoso é maior que 1. Va-<br />

lores <strong>de</strong> até 1.20 são vistos em prematuros com menos<br />

<strong>de</strong> 30 semanas. Com o avançar <strong>da</strong> gestação esta relação<br />

cai. Ao nascimento os valores são 5 a 10%<br />

maiores no sangue capilar em relação ao venoso, como<br />

<strong>de</strong>monstrado por Oettinger na tabela 2.


O clampeamento precoce ou tardio dos vasos umbilicais ao nascimento acarreta variações nos níveis <strong>de</strong> Hb<br />

que são representa<strong>da</strong>s na tabela 3-<br />

Portanto, para chegarmos a uma <strong>de</strong>finição do que<br />

seria o estado hematológico normal para um recémnascido<br />

<strong>de</strong> termo e para um prematuro, muitas variáveis<br />

precisam ser leva<strong>da</strong>s em consi<strong>de</strong>ração: i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

gestacional; resposta à transição <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> fetal para o<br />

ambiente oxigenado, com redução <strong>da</strong> eritropoetina;<br />

presença ou não <strong>de</strong> agravos; intervalo entre o nascimento<br />

e o clampeamento do cordão; local <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se<br />

coletou a amostra <strong>de</strong> sangue para análise, entre outros.<br />

Só assim po<strong>de</strong>remos compreen<strong>de</strong>r o que representa,<br />

quando e como abor<strong>da</strong>r a anemia em um<br />

recém-nascido.<br />

ANEMIA NO PERÍODO NEONATAL (2)<br />

A anemia presente ao nascimento ou <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong><br />

durante as primeiras semanas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> é classifica<strong>da</strong>,<br />

classicamente, em 3 categorias fun<strong>da</strong>mentais:<br />

- Anemia por per<strong>da</strong> sangüínea<br />

- Anemia hemolítica<br />

- Anemia por produção ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong><br />

Po<strong>de</strong>-se acrescentar ain<strong>da</strong>, como um quarto tipo<br />

<strong>de</strong> situação, a chama<strong>da</strong> "anemia fisiológica do recémnascido"<br />

ou "anemia <strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong>" que, como se<br />

verá adiante , é o resultado <strong>de</strong> peculiares a<strong>da</strong>ptações<br />

do setor eritropoético do recém-nascido, em especial<br />

do prematuro.<br />

ANEMIA POR PERDA SANGÜÍNEA<br />

A per<strong>da</strong> sangüínea como causa <strong>de</strong> anemia po<strong>de</strong><br />

ocorrer no período pré-natal, intraparto ou nos<br />

primeiros dias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Suas causa, varia<strong>da</strong>s, vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

hemorragias ocultas antes do parto, aci<strong>de</strong>ntes obstétricos,<br />

hemorragias internas, até o excesso <strong>de</strong> coletas <strong>de</strong><br />

amostras sangüíneas para exames laboratoriais.<br />

Listamos algumas a seguir:<br />

Hemorragia oculta antes do pano:<br />

- Feto-maternas<br />

Amniocentese traumática<br />

Espontânea<br />

Secundária a manobras obstétricas<br />

- Feto-fetais<br />

Aci<strong>de</strong>ntes obstétricos:<br />

- Rotura do cordão umbilical<br />

- Hematoma <strong>de</strong> cordão ou <strong>de</strong> placenta<br />

- Rotura <strong>de</strong> vaso umbilical anômalo<br />

Vasos aberrantes<br />

Inserção velamentar do cordão<br />

Vasos comunicantes em placenta multilobula<strong>da</strong><br />

- Incisão <strong>da</strong> placenta durante a cesárea<br />

- Placenta prévia<br />

- Deslocamento prematuro <strong>da</strong> placenta<br />

Hemorragia interna<br />

- Intracraniana<br />

- Cefalohematoma gigante<br />

- Retroperitoneal<br />

- Rotura <strong>de</strong> fígado<br />

- Rotura esplenica<br />

Em cerca <strong>de</strong> 8% <strong>da</strong>s gestações 0.5 a 40 mi <strong>de</strong><br />

sangue são transferidos do feto à mãe e em 1% <strong>da</strong>s<br />

gestações a quantia exce<strong>de</strong> a 40 ml. São mais freqüentes<br />

após amniocentese traumática.<br />

Transfusão feto-fetal é observa<strong>da</strong> em gravi<strong>de</strong>z<br />

múltipla com placenta monocorial, o que ocorre em


cerca <strong>de</strong> 70% <strong>da</strong>s gestações monozigóticas. 13 a 33%<br />

<strong>de</strong>stas situações associam-se a hemorragia feto-fetal. A<br />

diferença entre Hb dos gêmeos é marcante, até 5g/dl.<br />

Hemorragia interna em um recém-nascido po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong> difícil diagnóstico, mas <strong>de</strong>ve ser cogita<strong>da</strong> caso<br />

a criança apresente anemia não associa<strong>da</strong> a ictericia<br />

nas primeiras 24 a 72 horas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Partos traumáticos<br />

po<strong>de</strong>m causar hematomas subdurais ou hemorragias<br />

subaracnoi<strong>de</strong>as, além <strong>de</strong> cefalematomas.<br />

ANEMIA HEMOLÍTICA (2)<br />

Define-se um processo hemolítico como aquele<br />

que acarreta encurtamento do tempo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> normal<br />

dos eritrócitosm que em adultos é <strong>de</strong> 100 a 200 dias.<br />

Para neonatos, cujos eritrocitos duram 60 a 80 dias ao<br />

termo e apenas 20 a 30 dias no período que vai <strong>de</strong> 30<br />

a 32 semanas <strong>de</strong> gestação, a <strong>de</strong>finição usa<strong>da</strong> é diferente.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se a anemia hemolítica como um processo<br />

manifestado por aumento persistente na contagem<br />

<strong>de</strong> reticulócitos, com ou sem redução <strong>da</strong> hemoglobina,<br />

na ausência <strong>de</strong> hemorragia atual ou prévia.<br />

Também po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar este diagnóstico em situações<br />

<strong>de</strong> que<strong>da</strong> rápi<strong>da</strong> <strong>da</strong> hemoglobina sem aumento<br />

<strong>de</strong> reticulócitosm na ausência <strong>de</strong> hemorragia. Costuma<br />

estar associa<strong>da</strong> a hiperbilirrubinemia.<br />

Listamos a seguir algumas causa <strong>de</strong> anemia hemolítica<br />

no período neonatal:<br />

- Imunes<br />

Incompatibili<strong>da</strong><strong>de</strong> Rh, ABO e <strong>de</strong> outros grupos<br />

sangüíneos<br />

Anemia hemolítica autoimune materna<br />

Anemia hemolítica induzi<strong>da</strong> por droga<br />

- Infecciosas<br />

Septicemia bacteriana<br />

Infecções congênitas: sífilis, malária, CMV,<br />

rubéola, herpes disseminado, toxoplasmose<br />

- Coagulação intravascular dissemina<strong>da</strong><br />

- Anemias macro e microangiopáticas<br />

- Galactosemia<br />

- Acidóse prolonga<strong>da</strong> ou recorrente<br />

- Doenças hereditárias <strong>da</strong> membrana do eritrocito<br />

- Picnocitose<br />

- Deficiências enzimáticas do eritrocito: piruvatoquinase,<br />

G-6-PD isomerase, 5-nucleoti<strong>da</strong>se<br />

- Hemoglobinopatias<br />

Deve-se salientar que as mutações nas ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

hemoglobina geralmente não acarretam sintomatologia<br />

clínica no período neonatal, pois a Hb A constitui<br />

geralmente menos que 30% <strong>da</strong> Hb normal ao nascimento.<br />

A dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> do diagnóstico <strong>da</strong> anemia falciforme<br />

no período neonatal é um exemplo marcante<br />

<strong>de</strong>ste fato.<br />

ANEMIA POR PRODUÇÃO DIMINUÍDA (12)<br />

O exemplo clássico <strong>de</strong>ste grupo <strong>de</strong> anemias no<br />

período neonatal é <strong>da</strong>do pela síndrome <strong>de</strong> Blackfandiamond,<br />

uma aplasia pura <strong>da</strong> série vermelha,<br />

condição <strong>de</strong> ocorrência rara. Esta é caracteriza<strong>da</strong> pela<br />

produção normal <strong>de</strong> leucocitos e <strong>de</strong> plaquetas, mas<br />

com insuficiência <strong>da</strong> eritropoese. Valores baixos d Hb<br />

e reticulocitopenia são observados já nos primeiros<br />

dias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Po<strong>de</strong>-se associar a anomalias físicas e as<br />

crianças costumam evoluir com baixa estatura. Além<br />

<strong>de</strong>sta síndrome, po<strong>de</strong>mos observar anemia por produção<br />

reduzi<strong>da</strong> em infecções congênitas como é o<br />

caso <strong>da</strong> rubéola e <strong>da</strong> parvovirose, entre outras.<br />

ABORDAGEM DIAGNOSTICA (12)<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> situações que<br />

po<strong>de</strong>m levar a anemia no período neonatal, torna-se<br />

imperativo estabelecer um roteiro para um melhor diagnóstico<br />

e uma abor<strong>da</strong>gem terapêutica mais acerta<strong>da</strong>.<br />

No caso <strong>da</strong>s anemias por per<strong>da</strong> sangüínea, a criança<br />

com per<strong>da</strong> agu<strong>da</strong> ao nascimento apresenta sintomas<br />

e sinais evi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> choque: pali<strong>de</strong>z, taquicardia,<br />

taquipnéia, que<strong>da</strong> <strong>da</strong> pressão arterial e perfusão<br />

periférica lentifiça<strong>da</strong>. Uma história obstétrica <strong>de</strong>talha<strong>da</strong><br />

é valiosa para se suspeitar <strong>de</strong>sta condição. A terapêutica<br />

transfusional está claramente indica<strong>da</strong> para corrigir<br />

as per<strong>da</strong>s sangüíneas agu<strong>da</strong>s. Deve-se monitorizar<br />

os níveis <strong>de</strong> hemoglobina pré e pós-transfusão.<br />

Nas per<strong>da</strong>s crônicas <strong>de</strong> sangue, como é o caso do<br />

excesso <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> sangue, a repercussão<br />

clínica nem sempre é evi<strong>de</strong>nte. A criança po<strong>de</strong><br />

apresentar-se somente <strong>de</strong>scora<strong>da</strong> e com baixo ganho<br />

pon<strong>de</strong>rai, sem outros sinais evi<strong>de</strong>ntes. A <strong>de</strong>cisão quanto<br />

a se transfundir ou não o paciente torna-se difícil.<br />

Muitos consi<strong>de</strong>ram a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> manter um bom<br />

transporte <strong>de</strong> oxigênio para o recém-nascido e aplicam<br />

a fórmula <strong>de</strong> oxigênio disponível (ver adiante)<br />

para indicação ou não <strong>de</strong> uma transfusão.<br />

Outros optam pela suplementação <strong>de</strong> ferro e vitaminas,<br />

o que também é <strong>de</strong> discutível eficácia, visto<br />

que as reservas <strong>de</strong> ferro no período neonatal são<br />

gran<strong>de</strong>s, como já foi comprovado.<br />

A tabela 4 sugere um roteiro <strong>de</strong> diagnóstico para<br />

todos os grupos <strong>de</strong> anemia comentados.


ANEMIA DA PREMATURIDADE (18, 20, 21)<br />

Devido ao seu nascimento antecipado, os recémnascidos<br />

prematuros não estão com o seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

completo e portanto não se encontram perfeitamente<br />

preparados para a vi<strong>da</strong> extra-uterina,<br />

necessitando uma rápi<strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação ao novo meio<br />

ambiente.<br />

Ao nascimento, o recém-nascido <strong>de</strong> termo e o prematuro<br />

são policitêmicos, eritroblastêmicos, hipervolêmicos<br />

e hipersi<strong>de</strong>rêmicos, apresentando ain<strong>da</strong><br />

A concentração <strong>da</strong> hemoglobina permanecerá<br />

então estável durante várias semanas e voltará a elevar-se<br />

lentamente. O nível mais baixo no valor <strong>de</strong> concentração<br />

<strong>da</strong> hemoglobina varia com o grau <strong>de</strong> prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Níveis tão baixos como 7 g/dl po<strong>de</strong>m ser<br />

observados em prematuros nascidos com menos <strong>de</strong><br />

lOOOg que não sofreram flebotomías anteriores, suscitando<br />

a preocupação sobre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se trans-<br />

altos níveis <strong>de</strong> hemoglobina, <strong>de</strong> hematócrito e <strong>de</strong> saturação<br />

<strong>de</strong> transferina. Seus eritrocitos têm elevado<br />

volume corpuscular médio. Tanto o prematuro como<br />

o recém-nascido <strong>de</strong> termo experimentam ao longo <strong>da</strong>s<br />

primeiras 8 a 12 semanas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> uma que<strong>da</strong> nesses<br />

valores. Nos prematuros o fenômeno é observado<br />

mais cedo e a magnitu<strong>de</strong> do <strong>de</strong>clínio é maior, não se<br />

conhecendo muito bem seu motivo.<br />

A tabela 5 mostra a variação <strong>de</strong>stes valores hematológicos<br />

no prematuro.<br />

fundir o neonato. No entanto, muitas <strong>de</strong>stas crianças<br />

po<strong>de</strong>m estar clinicamente bem, mostrando que toleram<br />

bem os baixos níveis <strong>de</strong> hemoglobina. As<br />

mu<strong>da</strong>nças na produção <strong>de</strong> hemácias após o nascimento<br />

refletem um aumento na oxigenação <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> ao<br />

início <strong>da</strong> respiração pulmonar, ao mesmo tempo em<br />

que ocorre uma redistribuição do fluxo sangüíneo<br />

logo após o parto.


FISIOLOGÍA DA ANEMIA DA PREMATURIDADE<br />

(16, 17, 18)<br />

Eritropoetina e sua regulação<br />

A produção <strong>de</strong> eritrocitos é normalmente regula<strong>da</strong><br />

por um hormônio glicoproteico chamado eritropoetina;<br />

A eritropoetina não atravessa a placenta e o feto<br />

po<strong>de</strong> produzí-la <strong>de</strong> forma quantitativamente eficiente.<br />

Sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> é <strong>de</strong>tectável no sangue do cordão e valores<br />

elevados são vistos em prematuros que nasceram<br />

antecipa<strong>da</strong>mente ou que apresentaram hipóxia intrauterina.<br />

A quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> eritropoetina produzi<strong>da</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

não apenas do nível <strong>de</strong> hemoglobina, mas também <strong>da</strong><br />

afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> hemoglobina pelo oxigênio. Deste modo,<br />

a produção <strong>de</strong> eritropoetina está diminuí<strong>da</strong> como<br />

resposta à transfusão e mostra-se aumenta<strong>da</strong> pela presença<br />

<strong>de</strong> anemia ou hipóxia.<br />

Se a concentração <strong>de</strong> hemoglobina é examina<strong>da</strong><br />

isola<strong>da</strong>mente, observa um aumento gradual na<br />

eritropoetina sérica quando temos que<strong>da</strong> do Hb até<br />

valores em torno <strong>de</strong> 10-11 g/dl. Estes <strong>da</strong>dos estão <strong>de</strong><br />

acordo com os estudos <strong>de</strong> Gairdner, em 1952, que<br />

concluiu que concentrações <strong>de</strong> hemoglobina <strong>de</strong> 11-12<br />

g/dl po<strong>de</strong>m resultar em estímulo à eritropoese na<br />

medula óssea <strong>de</strong> prematuros.<br />

A julgar pelas mu<strong>da</strong>nças na porcentagem <strong>de</strong> reticulócitos<br />

no sangue periféricos e nos precursores<br />

eritrói<strong>de</strong>s na medula óssea, po<strong>de</strong>-se esperar uma marca<strong>da</strong><br />

diminuição nos níveism aumento dos seus valores<br />

entre l e 3 meses <strong>de</strong>pois, com maior ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> eritropoese.<br />

Estudos recentes sobre a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> eritropoetina<br />

em prematuros mostram que níveis plasmáticos <strong>de</strong>ste<br />

hormônio respon<strong>de</strong>m mais às alterações nas características<br />

<strong>da</strong> dissociação hemoglobina-oxigênio que à<br />

concentração <strong>de</strong> hemoglobina isola<strong>da</strong>mente, os níveis<br />

pós-natais <strong>de</strong> eritropoetina em prematuros não transfundidos<br />

mostram uma rápi<strong>da</strong> que<strong>da</strong> logo após o<br />

nascimento. Então, os níveis aumentam lentamente,<br />

enquanto o nível <strong>de</strong> hemoglobina cai durante a progressão<br />

<strong>da</strong> anemia do prematuro.<br />

Havendo menos oxigênio disponível do que<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong>m os tecidos, produz-se uma anemia ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira<br />

e po<strong>de</strong>-se então esperar um aumento na produção<br />

<strong>de</strong> eritropoetina. Quando são analisa<strong>da</strong>s as variáveis<br />

envolvi<strong>da</strong>s no mecanismo <strong>de</strong>man<strong>da</strong>-oxigênio<br />

disponível, nota-se que um <strong>de</strong>clínio na tensão venosa<br />

central <strong>de</strong> oxigênio correlaciona-se com estimulação à<br />

produção <strong>de</strong> eritropoetina. A que<strong>da</strong> na tensão <strong>de</strong><br />

oxigênio venoso central parece ser o indicardor mais<br />

sensível <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> anemia, uma vez que seu<br />

valor representa a integração <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as variáveis envolvi<strong>da</strong>s<br />

no mecanismo <strong>de</strong>man<strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

oxigênio: concentração <strong>de</strong> Hb, afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s hemácias<br />

pelo oxigênio, níveis eritrocitários, débito cardíaco e<br />

oxigenação arterial. Um estudo <strong>de</strong> Stockman e colaboradores,<br />

em 1984, mostrou em 21 prematuros com<br />

Hb entre 5.8 e 17.7 g/dl que, quando a tensão <strong>de</strong><br />

oxigênio venoso central (PVO2) encontrava-se entre O<br />

e 35 torr (nromal > 38 torr), 41% dos valores <strong>de</strong><br />

eritropoetina estavam acima do normal.<br />

Para valores entre 30 e 35 torr, 79% dos níveis<br />

estavam aumentados. Se a PVO2 era menor que 30<br />

torr, 100% dos valores <strong>de</strong> eritropoetina estavam elevados,<br />

como ilustra a figura seguinte (Figura 7).<br />

CONCENTRAÇÃO DE HEMOGLOBINA (3,18)<br />

A que<strong>da</strong> na concentração <strong>de</strong> hemoglobina verifica<strong>da</strong><br />

no período neonatal po<strong>de</strong> ser atribuí<strong>da</strong> ao aumento<br />

abrupto na oferta <strong>de</strong> oxigênio que ocorre com o início<br />

<strong>da</strong> função pulmonar.<br />

Ao nascimento, a concentração <strong>de</strong> hemoglobina do<br />

sangue do cordão <strong>de</strong> prematuros é alta, com valores<br />

<strong>de</strong> 17.5 +- 1.6 g/dl, semelhantes aos encontrados nos<br />

recém-nascidos <strong>de</strong> termo. Esta relativa policitemia é<br />

resultado do ambiente hipóxico intra-uterino. A produção<br />

<strong>de</strong> células vermelhas é eleva<strong>da</strong>, presumivelmente<br />

como resposta a uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> aumenta<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

eritropoetina que ocorre como resposta à hipóxia tissular.<br />

O alto grau <strong>de</strong> produção eritrocitária é refletido


pela contagem <strong>de</strong> reticulócitos, que po<strong>de</strong> chegar a 5%<br />

ou mais nos prematuros.<br />

Uma pequena e breve elevação na concentração <strong>de</strong><br />

hemoglobina po<strong>de</strong>rá ser observa<strong>da</strong> durante o primeiro<br />

ou segundo dia <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, como conseqüência <strong>da</strong> hemoconcentração<br />

transitoria que sofre o recém nascido, resultante<br />

<strong>de</strong> urna pobre ingestão oral <strong>de</strong> líquidos, <strong>da</strong> eliminação<br />

<strong>de</strong> água ou mesmo <strong>de</strong> uma menor transfusão placentária<br />

que possa ter ocorrido ao nascimento.<br />

A oxigenação proporciona<strong>da</strong> pela ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> pulmonar<br />

satura a hemoglobina do sangue arterial e com<br />

isto a oferta <strong>de</strong> oxigênio aos tecidos é facilita<strong>da</strong>. Isto<br />

resulta em uma diminuição na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> eritropoetina<br />

e em um <strong>de</strong>créscimo na produção <strong>de</strong> hemácias.<br />

No sangue periférico estas mu<strong>da</strong>nças refletem-se<br />

numa que<strong>da</strong> na contagem <strong>de</strong> reticulócitos. Na medula<br />

óssea a percentagem <strong>de</strong> precursores eritrói<strong>de</strong>s diminui<br />

<strong>de</strong> uma média <strong>de</strong> 35% ao nascimento para 15% com<br />

uma semana <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, além <strong>de</strong> cessar a hematopoese<br />

extramedular. A rapi<strong>de</strong>z com que a concentração <strong>de</strong><br />

hemoglobina cai e o nível mais baixo atingido variam<br />

inversamente com a i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional. A figura<br />

seguinte (figura 7) ilustra estas mu<strong>da</strong>nças.<br />

Fica claro que a concentração <strong>de</strong> hemoglobina é<br />

apenas uma <strong>da</strong>s muitas variáveis que regulam a a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong><br />

oferta <strong>de</strong> oxigênio e a a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> criança às<br />

alterações <strong>de</strong>sta oferta. Se confirmaos apenas nos<br />

níveis <strong>de</strong> hemoglobina po<strong>de</strong>remos estar fazendo um<br />

julgamento grosseiro para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> anemia. É a<br />

relação entre a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> liberar oxigênio nos<br />

tecidos e a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong>stes o que <strong>de</strong>termina se existe<br />

ou não uma anemia. Uma série <strong>de</strong> fatores influenciam<br />

esta relação. Se o ar inspirado for uma mistura pobre<br />

em oxigênio, se a função pulmonar estiver prejudica<strong>da</strong><br />

ou se houver algum tipo <strong>de</strong> bloqueio alvéolo-capilar,<br />

a oxigenação arterial estará prejudica<strong>da</strong>, Por;outro<br />

lado, o conteúdo <strong>de</strong> oxigênio no sangue <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

odis fatores: <strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> hemoglobina e <strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sta em se ligar ao oxigênio. Esta característica<br />

se expressa pela curva <strong>de</strong> dissociação hemoglobina-oxigênio.<br />

Além disso, a habili<strong>da</strong><strong>de</strong> em ce<strong>de</strong>r o<br />

oxigênio transportado é função do débito cardíaco. A<br />

quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oxigênio realmente liobera<strong>da</strong> nos tecidos<br />

é funçnao <strong>da</strong> posição <strong>da</strong> curva <strong>de</strong> dissoação <strong>da</strong><br />

hemoglobina, além <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> metabólica <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado tecido.<br />

Todos esses fatores <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados antes<br />

<strong>de</strong> se <strong>de</strong>cidir pela realização <strong>de</strong> uma transfusão sangüínea<br />

no prematuro.<br />

AFINIDADE HEMOGLOBINA-OXIGÊNIO (2,18)<br />

A molécula <strong>de</strong> hemoglobina combina-se reversivelmente<br />

com o oxigênio, o que permite que ela<br />

capte o mesmo nos pulmões e o libere nos tecidos. A<br />

afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> hemoglobina pelo oxigênio assume particular<br />

importância na interpretação <strong>da</strong> anemia <strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Representa-se quantitativamente pela<br />

curva <strong>de</strong> dissociação <strong>de</strong> hemoglobina-oxigênio, na<br />

qual a P50 é a tensão <strong>de</strong> oxigênio na qual 50% <strong>da</strong><br />

hemoglobina está satura<strong>da</strong>. A curva do feto e do<br />

recém-nascido é <strong>de</strong>svia<strong>da</strong> para a esquer<strong>da</strong>, com P50<br />

<strong>de</strong> 18-22 mmHg, ilustrando a maior afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> hemoglobina<br />

pelo oxigênio, que favorece a sua extração<br />

<strong>da</strong> circulação materna em um ambiente hipóxico.<br />

Alterações na afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> hemoglobina pelo<br />

oxigênio cumprem um importante papel na regulação<br />

<strong>da</strong> liberação do gás nos tecidos do prematuro.<br />

Observa-se umd esvio para a direita na curva, o que<br />

resulta em uma diminuição <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> hemoglobina<br />

em se ligar ao oxigênio com um conseguinte<br />

aumento na possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> liberação do mesmo a<br />

nível tecidual.<br />

A figura seguinte (figura 8) mostra uma típica curva<br />

<strong>de</strong> dissociação hemoglobina oxigênio. A curva à<br />

esquer<strong>da</strong> representa a <strong>de</strong> um recém-nato. A curva<br />

média, a <strong>de</strong> uma criança maior ou adulto normais. A<br />

curva <strong>da</strong> direita é uma curva "<strong>de</strong>svia<strong>da</strong> à direita",<br />

observa<strong>da</strong> como fenômeno compensatório em muitas<br />

formas <strong>de</strong> anemia, hipóxia e certas hemoglobinopatias<br />

<strong>de</strong> "baixa afini<strong>da</strong><strong>de</strong>" e em estado <strong>de</strong> acidóse.


O mais importante fator na regulação <strong>da</strong> afini<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

hemoglobina-oxigênio é a diferença entre a afini<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> hemoglobina fetal (HbF) e <strong>da</strong> hemoglobina adulta<br />

(HbA) pelo 2,3 difosfoglicerato (2,-DPG). Já em'1930,<br />

Anselmino e Hoffman observaram que o sangue fetal<br />

tinha uma fini<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo oxigênio maior que a do<br />

sangue materno. Notaram uma P50 8 mmHg mais<br />

baixa no sangue fetal que no adulto.<br />

Posteriormente mostrou-se que células <strong>de</strong> adulto e<br />

feto, dialisa<strong>da</strong>s para remover o 2,3-DPG, manifestavam<br />

uma afini<strong>da</strong><strong>de</strong> virtualmente idêntica pelo oxigênio.<br />

Estudos posteriores com Usados <strong>de</strong> hemoglobina fetal<br />

<strong>de</strong>monstraram que a HbF tem uma afini<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo<br />

oxigênio menor que a <strong>da</strong> Hb A. Esta peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

ficou bem entendi<strong>da</strong> quando <strong>de</strong>monstrou-se que a<br />

afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> HbF pelo 2,3-DPG é bem menor que a <strong>da</strong><br />

HbA. Como se sabe, o 2,3-DPG compete com o<br />

oxigênio nos sítios <strong>de</strong> ligação com a hemoglobina e,<br />

como a HbF tem afini<strong>da</strong><strong>de</strong> bem menor por esta substância<br />

que a HbA, aquela é então capaz <strong>de</strong> ligar-se<br />

mais fortemente ao oxigênio. Os altos níveis <strong>de</strong> hemoglobina<br />

fetal nas hemácias do feto e do recém-nascido<br />

respon<strong>de</strong>m pela maior afini<strong>da</strong><strong>de</strong> hemoglobina-oxigênio.<br />

Como conseqüíntese <strong>de</strong>sta última, há uma progressiva<br />

diminuição na afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> hemoglobina com<br />

o oxigênio e maior afini<strong>da</strong><strong>de</strong> com o 2,3-DPG. As curvas<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> I IbF e aumento <strong>de</strong> HbA seguem<br />

padrão sigmói<strong>de</strong>, cuja intersecção se dá por volta <strong>da</strong><br />

30- a 32- semana pós-conceptual, quando a HbA<br />

começa a ser produzi<strong>da</strong> em níveis significativos. Não<br />

se relaciona portanto com i<strong>da</strong><strong>de</strong> pós-natal, mas sim<br />

com a i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional <strong>da</strong> criança.<br />

O nível <strong>de</strong> 2,3-DPG nos eritrocitos gradualmente<br />

aumenta com o <strong>de</strong>correr <strong>da</strong> gestaçãop e, ao termo, sua<br />

concentração nas células vermelhas é similar à do<br />

adulto. Este nível po<strong>de</strong> cair temporariamente nos<br />

primeiros dias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, e volta a aumentar. As hemácias<br />

do recém-nascido estão sujeitas aos mesmos<br />

mecanismo <strong>de</strong> controle <strong>da</strong> síntese <strong>de</strong> 2,3-DPG do<br />

adulto, mas a magnitu<strong>de</strong> <strong>da</strong> resposta po<strong>de</strong> estar dimuí<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong>, o 2,3-DPG é 6 vezes menos estável no<br />

eritrocito neonato. A conseqüência <strong>de</strong>stas mu<strong>da</strong>nças é<br />

um gradual <strong>de</strong>svio para a direita na curva <strong>de</strong> dissociação<br />

hemoglobina-oxigênio, que irá favorecer a liberação<br />

do oxigênio a nível dos tecidos do neonato.<br />

CONSEQÜÊNCIA CLÍNICA DAS ALTERAÇÕES DE<br />

AFINIDADE Hb-OXIGÊNIO (16,18)<br />

A fórmula Hb x % saturação O 2 x 1,36 ml O2por<br />

grama <strong>de</strong> Hb <strong>de</strong>fine a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> carrear oxigênio,<br />

e está dimuí<strong>da</strong> nos dois primeiros meses e meio <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Mas, se assumirmos uma pressão <strong>de</strong> oxigênio<br />

venosa central (PVO2) <strong>de</strong> 40 mmHg, a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> real<br />

<strong>de</strong> O2 passível <strong>de</strong> ser libera<strong>da</strong> nos tecidos <strong>da</strong> criança<br />

aumenta. Por exemplo, um prematuro <strong>de</strong> lOOOg com<br />

Hb <strong>de</strong> 15 g/dl e P50 <strong>de</strong> 19 mmHg irá liberar nos tecidos<br />

l ml <strong>de</strong> 02 para ca<strong>da</strong> 100 ml <strong>de</strong> sangue que passa<br />

no leito capilar. Esta mesma criança, com 2 ou 3 meses<br />

<strong>de</strong> ia<strong>de</strong>, com Hb <strong>de</strong> 8 g/dl, terá uma liberação <strong>de</strong> 2,1<br />

ml/100 ml <strong>de</strong> sangue, graças ao <strong>de</strong>svio para a direita<br />

na curva <strong>de</strong> dissociação <strong>da</strong> hemoglobina-oxigênio,<br />

com P 50 então <strong>de</strong> 24 mmHg.<br />

E possível avaliar a importância <strong>da</strong> curva observando-se<br />

a contagem <strong>de</strong> reticulócitos e o nível <strong>de</strong><br />

eritropoetina sob várias condições <strong>de</strong> P50. Crianças<br />

transfundi<strong>da</strong>s ou que sofreram exsangüíneo-transfusão,<br />

pela substituição abrupta <strong>de</strong> sua Hb F pela Hb<br />

A e conseqüente <strong>de</strong>svio <strong>da</strong> curva, têm menor contagem<br />

<strong>de</strong> reticulócitos para qualquer valor <strong>de</strong> Hb. Do<br />

mesmo modo, o nível <strong>de</strong> eritropoetina é menor em<br />

qualquer circunstância, como ilustra a figura seguinte<br />

(Figura 9).


LIBERAÇÃO DE OXIGÊNIO NOS TECIDOS (18,22)<br />

A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> do sangue em carrear oxigênio é<br />

proporcional à concentração <strong>de</strong> hemoglobina. No<br />

neonato, o sangue tem uma gran<strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transportar o oxigênio <strong>de</strong>vido à afini<strong>da</strong><strong>de</strong> maior que<br />

possui a Hb F pelo mesmo, mas a habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

liberá-lo nos tecidos está prejudica<strong>da</strong>. Entre o primeiro<br />

e terceiro mês <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> do sangue no<br />

transporte do oxigênio diminui, mas essa aparente<br />

<strong>de</strong>svantagem é compensa<strong>da</strong> pelo aumento na possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> liberar o oxigênio a nível tecidual. Após<br />

este período a habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> liberar oxigênio permanece<br />

constante a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças na concentração<br />

<strong>de</strong> hemoglobina e <strong>da</strong> afini<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo gás.<br />

Se a anemia é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> exclusivamente em relação<br />

aos valores <strong>de</strong> hemoglobina, muitos erros ocorrem. É<br />

possível que se encontrem prematuros com Hb <strong>de</strong><br />

10.5 g/dl com sintomatologia enquanto outros com<br />

níveis <strong>de</strong> 7g/dl mostram-se asintomáticos e clinicamente<br />

estáveis. Deve-se pensar no conceito <strong>de</strong> anemia<br />

consi<strong>de</strong>rando-se também a posição <strong>da</strong> curva <strong>de</strong> dissociação<br />

<strong>de</strong> hemoglobina-oxigênio.<br />

Em 1978, Wardrop e colaboradores criaram o conceito<br />

<strong>de</strong> "oxigênio disponível" mostrando a correlação<br />

entre e este e o surgimento <strong>de</strong> sintomas no recém-nascido.<br />

O conceito <strong>de</strong>riva-se <strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> hemoglobina<br />

e <strong>da</strong> P50 obti<strong>da</strong>s in vivo. Em seu estudo calcularam<br />

a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oxigênio passível <strong>de</strong> ser libera<strong>da</strong> por<br />

<strong>de</strong>cilitro <strong>de</strong> sangue. Demonstraram uma correlação linear<br />

entre o oxigênio disponível e a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> criança medi<strong>da</strong><br />

em semanas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concepção, através <strong>da</strong> fórmula:<br />

OD = (054 + 0.005 x i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional em semanas) x Hb<br />

on<strong>de</strong>:<br />

OD = oxigênio disponível<br />

i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional = i<strong>da</strong><strong>de</strong> pré-natal + i<strong>da</strong><strong>de</strong> pós-natal<br />

Esta fórmula assume uma P50 previsível <strong>de</strong>vido ao<br />

fato <strong>de</strong> a concentração <strong>de</strong> hemoglobina <strong>de</strong>crescer <strong>de</strong><br />

uma forma programa<strong>da</strong> basea<strong>da</strong> na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> concepção.<br />

Quando o OD é calculado para crianças com<br />

menos <strong>de</strong> 32 semanas <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> gestacional, um resultado<br />

menor que 7 ml/dl é mais freqüentemente associado<br />

a sinais e sintomas <strong>de</strong> anemia.<br />

Este cálculo só tem valor em crianças cuja hemoglobina<br />

possa ser previsível basea<strong>da</strong> na i<strong>da</strong><strong>de</strong> pós-conceptual,<br />

isto é, em crianças que não foram transfundi<strong>da</strong>s<br />

nem sofreram exsangüíneo-transfusão ou que não<br />

tiveram gran<strong>de</strong>s quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sangue colhi<strong>da</strong>s para<br />

exames. No trabalho <strong>de</strong> Wardrop notou-se que os<br />

achados clínicos associados com anemia e valores <strong>de</strong><br />

OD < 7 ml/dl melhoraram após transfusão <strong>de</strong> sangue.<br />

Entretanto, outros autores não conseguiram reproduzir<br />

os resultados obtidos por Wardrop.<br />

FERRO E FERRITINA (2,20)<br />

A diminuição nos níveis <strong>de</strong> eritropoetina e, portanto,<br />

na produção <strong>de</strong> eritrocitos, leva a um estado <strong>de</strong><br />

hemocaterese aumenta<strong>da</strong> com predomínio <strong>da</strong> <strong>de</strong>struição<br />

sobre a produção <strong>de</strong> hemácias. O ferro resultante<br />

<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>struição aumenta<strong>da</strong> será armazenado para uso<br />

posterior, o que <strong>de</strong>monstra não haver neste período<br />

carência <strong>de</strong> ferro, mas sim um menor aproveitamento<br />

do mesmo. O feto resguar<strong>da</strong>-se bem <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong><br />

ferro, retirando-o dá circulação <strong>da</strong> mãe, mesmo que a<br />

ferremia materna seja baixa. O recém-nascido e, particularmente<br />

o prematuro, têm altos níveis si<strong>de</strong>rêmicos<br />

no cordão.<br />

A <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> ferro não parece ter importância<br />

na anemia <strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong> durante os primeiros 2<br />

meses <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, a menos que tenha ocorrido per<strong>da</strong><br />

sangüínea neonatal ou gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> retira<strong>da</strong> em<br />

coleta <strong>de</strong> exames. Após 2 meses, uma anemia ferropriva<br />

po<strong>de</strong>rá ocorrer no prematuro, a menos que seja<br />

administra<strong>da</strong> suplementação <strong>de</strong> ferro.<br />

A ferritina sérica reflete os estoques do ferro corpóreo.<br />

Nos recém-nascidos <strong>de</strong> termo, seus níveis no<br />

sangue do cordão são bastante elevados. Aumentam<br />

até atingir um máximo no 1 Q mês <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, para <strong>de</strong>pois<br />

cair aos níveis mais baixos com 6 meses, <strong>de</strong>vido à<br />

mobilização do ferro <strong>de</strong> seus sítios para a produção <strong>de</strong>


hemácias. Os níveis mantêm-se estáveis até a puber<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

quando os indivíduos do sexo masculino passam<br />

a ter valores maiores que os do sexo feminino.<br />

Nos prematuros, o estoque <strong>de</strong> ferro po<strong>de</strong> estar prejudicado<br />

<strong>de</strong>vido ao seu nascimento antecipado, uma<br />

vez que a maior veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> ferro nos<br />

sítios <strong>de</strong> estoque ocorre no 3 Q trimestre <strong>de</strong> gestação.<br />

TERAPÊUTICA COM ERITROPOETINA<br />

RECOMBINANTE (1,4,6,7,8,10,11)<br />

Para nenhum outro período <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> torna-se tão<br />

difícil <strong>de</strong>cidir sobre a real necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se transfundir<br />

o paciente que, se por um lado apresenta níveis<br />

baixos <strong>de</strong> hemoglobina, po<strong>de</strong>, apesar disto, ter um<br />

quadro <strong>de</strong> anemia pouco exuberante clinicamente.<br />

Isto ocorre, em particular, no prematuro. Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

na alimentação, dispnéia, taquipnéia, taquicardia,<br />

hipoativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e pali<strong>de</strong>z são consi<strong>de</strong>rados tradicionalmente<br />

sinais e sintomas <strong>de</strong> anemia. No entanto, todos<br />

eles po<strong>de</strong>m ser vistos também em outras patologias<br />

neonatais em que a anemia po<strong>de</strong> ou não ocorrer<br />

simultaneamente.<br />

Para se avaliar o grau <strong>de</strong> anemia do recém-nascido<br />

pré-termo que não recebeu ain<strong>da</strong> transfusão e não<br />

apresenta outras doenças no momento, tem sido<br />

usado, além <strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> hemoglobina no<br />

sangue, o já <strong>de</strong>scrito índice <strong>de</strong> oxigênio disponível"<br />

(OD). Verificou-se que valores menores <strong>de</strong> 7 ml/dl<br />

correlacionam-se bem com a sintomatologia, <strong>de</strong>vendo<br />

os pacientes com tais valores ser transfundidos.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se que o tratamento através <strong>de</strong> transfusões<br />

leva a um retardo na volta <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

eritropoetina, prolongando assim o quadro <strong>de</strong> anemia<br />

<strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong>. A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se estimular a<br />

eritropoese através <strong>da</strong> oferta precoce <strong>de</strong> eritr interesse<br />

<strong>de</strong> muitos pesquisadores.<br />

Diversos estudos piloto em pequeno número <strong>de</strong><br />

pacientes sugerem que as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> transfusão<br />

<strong>de</strong> sangue ficaram reduzi<strong>da</strong>s nos prematuros que receberam<br />

eritropoetina humana recombinante (rHuEPO),<br />

diminuindo <strong>de</strong>sta forma os riscos transfusionais, como<br />

mostrado por Dallman(4).<br />

Em 1987 Shannon e colaboradores estabeleceram<br />

in vitro que colônias eritrói<strong>de</strong>s obti<strong>da</strong>s <strong>de</strong> sangue periférico<br />

<strong>de</strong> prematuros eram responsáveis a eritropoetina<br />

humana recombinante <strong>da</strong> mesma forma que a obti<strong>da</strong><br />

em sangue periférico <strong>de</strong> adulto. Este estudo foi<br />

importante para direcionar os diversos trabalhos clínicos,<br />

utilizando-se a eritropoetina humana recombinante<br />

como terapia para prematuros. Seu uso tem sido<br />

feito por via subcutánea ou endovenosa e em doses<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s induz a substancial reticulocitose. Por<br />

razões farmacológicas, George e colaboradores (7)<br />

<strong>de</strong>monstraram que os prematuros necessitam doses <strong>de</strong><br />

eritropoetina superiores às utiliza<strong>da</strong>s pelos adultos.<br />

O tempo <strong>de</strong> tratamento com eritropoetina, seus<br />

efeitos colaterais, toxici<strong>da</strong><strong>de</strong>, via <strong>de</strong> administração<br />

i<strong>de</strong>al, doses a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s, além <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou não<br />

<strong>de</strong> se utilizar ferro suplementar <strong>de</strong>vem ser ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s<br />

através <strong>de</strong> um estudo multicêntrico randomizado<br />

nos Estados Unidos, para a introdução <strong>de</strong>sta<br />

terapia como prática clínica no tratamento <strong>da</strong> anemia<br />

<strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A tabela 6, modifica <strong>de</strong> Halperin (8), relaciona os<br />

resultados <strong>de</strong> alguns estudos com a utilização <strong>de</strong><br />

eritropoetina humana recombinante (rHuEPO) no<br />

tratamento <strong>da</strong> anemia <strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong>.


Conclusão<br />

A par <strong>de</strong> um conhecimento mais profundo <strong>da</strong><br />

hematopoese na vi<strong>da</strong> fetal e neonatal e dos fatores<br />

que a regulam, em especial a eritropoetina, chegou-se<br />

a uma nova conceituação e abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s anemias<br />

do recém-nascido, entre elas, <strong>da</strong> anemia <strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Sua etiologia é relaciona<strong>da</strong> em parte às<br />

baixas concentrações <strong>de</strong> eritropoetina sérica observa<strong>da</strong>s<br />

em prematuros. Os riscos associados a transfusão<br />

e o efeito inibidor <strong>da</strong> mesma sobre a produção<br />

<strong>de</strong> eritropoetina levaram a tentativas <strong>de</strong> urilização<br />

<strong>de</strong>ste fator como mais uma medi<strong>da</strong> terapêutica nos<br />

pacientes com anemia <strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong><strong>de</strong>. Respostas<br />

biológicas foram relata<strong>da</strong>s levando à diminuição <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transfusões em alguns grupos. Estudos<br />

mais amplos vêm sendo realizados, com o intuito <strong>de</strong><br />

tornar mais claro o critério <strong>de</strong> indicação <strong>da</strong> eritropoetina<br />

humana recombinante (rHuEPO) para prevenção<br />

ou tratamento <strong>de</strong>sta doença, importante fator <strong>de</strong> morbi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

em prematuros.<br />

Summary<br />

Hematopoiesis, growth factors and clinical application<br />

of erythropoietin in anemia of prematurity<br />

The authors present a review about hematopoiesis.<br />

They focus initially on stem cell circulation<br />

and its relationship to the many growth factors<br />

during the various stages of blood cell formation<br />

along gestation. Hemoglobin production<br />

along hematopoiesis, erythropoietin characteristics<br />

and regulation are then discussed. Finally,<br />

the physiopathology of neonatal anemia of term<br />

and preterm newborns is reviewed with a brief<br />

discussion of their therapeutic approach, with<br />

emphasis on the anemia of prematurity.<br />

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Recebido para publicação: 24/05/1995<br />

Aceito para publicação: 31/05/1995<br />

En<strong>de</strong>reço para Correspondência<br />

Prof. Flávio A. C. Vaz<br />

Instituto <strong>da</strong> Criança - Hospital <strong>da</strong>s <strong>Clínica</strong>s - FMUSP<br />

Av. Dr. Enéas <strong>de</strong> Carvalho Aguiar, 647<br />

CEP 05413-000 - São Paulo - SP

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