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A VIAGEM DE IBN AMMÂR DE SÃO BRÁS A SILVES - Campo ...

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A. Fernandes, A. Khawli, L. Fraga<br />

E quando Ibn Ammâr lhe recitou trechos das suas obras e retirou o véu que encobria as suas<br />

motivações, o homem cochichou algo ao ouvido de seu servo que saiu e logo voltou com um<br />

saco cheio de cevada e disse: “toma isto, pois entre os pecadores és tu o mais digno”.<br />

A alma de Ibn Ammâr ardeu de paixão; esqueceu o seu próprio nome, transpirou<br />

abundantemente e interrogou-se sobre a melhor maneira de aproveitar esta dádiva e pensava<br />

no seu burro. Sentia-se desprezível por aceitar essa oferta, regressando atormentado à<br />

escuridão da noite, batendo a terra com os pés e mordendo de raiva os dedos em sangue.<br />

E quando Ibn Ammâr atingiu uma posição de prestígio voltou de repente à casa desse<br />

homem, acompanhado por ilustres homens de Estado, e a terra tremeu com o bater dos pés<br />

dos servos e das patas dos cavalos. Então, esse homem tentou satisfazê-lo oferecendo-lhe os<br />

seus bens, vendo em Ibn Ammâr um prodígio ou o vestígio de um sonho.<br />

Ibn Ammâr lembrou-lhe o tempo passado e confirmou que tudo isso já acontecera. O homem<br />

por sua vez estremecia entre medo e vergonha, sonhando apenas com um poço de água na<br />

terra ou com uma escada que o levasse até aos céus.<br />

Mas Ibn Ammâr não se zangou com ele porque este lhe recitou aquela poesia. Ibn Ammâr<br />

perdoou-lhe aquela dádiva, oferecendo-lhe um saco cheio de dirhames e disse-lhe: “ Se não<br />

tivesses mostrado o teu respeito, ensinava-te a cortesia. E se ontem tivesses enchido este saco<br />

de trigo, hoje estaria cheio de ouro”.<br />

Ibn Bassâm, al-Dakhîra, vol. II, texto árabe pp 368-371; tradução portuguesa de Elena<br />

Koroleva-Kapyirina, “Os poetas de Silves na antologia de Ibn Bassâm”, in Actas das<br />

III jornadas de Silves, Silves 1997, pp. 87-97.<br />

Versão de al-Marrâcuxî<br />

Muito jovem foi para Silves onde se instruiu e onde estudou literatura sob a direcção de<br />

vários mestres, entre outros Hajaje Iúçufe ibne Iça Alalame. Dali partiu para Córdova onde<br />

continuou os mesmos estudos e onde se revelou um poeta hábil de tal modo que aproveitou o<br />

talento poético para ganhar o seu sustento.<br />

Começou a percorrer o Andaluz, procurando as larguezas não só dos príncipes como as de<br />

qualquer um que aceitasse os seus ditirambos, pouco se importando que a recompensa<br />

procedesse de um rei ou de um homem vulgar.<br />

Sobre tal procedimento conta-se uma história singular. No decurso das suas viagens chegou<br />

a Silves apenas com um cavalo [aliás uma besta] e sem ter que lhe dar comer. Dedicou então<br />

10 <strong>Campo</strong> Arqueológico de Tavira 2006- www.arqueotavira.com

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