Cícero Dantas Martins – De Barão a Coronel - Programa de Pós ...
Cícero Dantas Martins – De Barão a Coronel - Programa de Pós ...
Cícero Dantas Martins – De Barão a Coronel - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Ao po<strong>de</strong>r mo<strong>de</strong>rador cabia aprovar ou não as medidas emanadas do legislativo, nomear<br />
os senadores vitalícios e, inclusive, dissolver a Câmara dos <strong>De</strong>putados, como fez a 22 <strong>de</strong> maio<br />
<strong>de</strong> 1872 por achar perigosa as discussões a respeito do orçamento do Ministério da Marinha, a<br />
hierarquia do regime.<br />
É bem verda<strong>de</strong> que as prerrogativas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r mo<strong>de</strong>rador quando se <strong>de</strong>u o inci<strong>de</strong>nte<br />
narrado por <strong>Cícero</strong> <strong>Dantas</strong> em 1872, apesar <strong>de</strong> se manterem até o final do império, já eram<br />
mais maleáveis, pois com a criação da presidência do Conselho <strong>de</strong> Ministros, em 1847, dimi-<br />
nuiu a área <strong>de</strong> atrito entre o Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>rador e a camada dominante senhorial, pois ficou<br />
convencionado que o imperador nomearia apenas o presi<strong>de</strong>nte do Conselho, que, por sua vez,<br />
escolheria os <strong>de</strong>mais ministros.<br />
A camada dominante passou a ter, <strong>de</strong>sse modo, um espaço <strong>de</strong> manobras maior para<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r mais eficazmente os seus interesses. Contudo a própria estrutura parlamentar do Bra-<br />
sil contribuía para a centralização do estado na mão do imperador, afinal, o parlamentarismo<br />
adotado no país diferia daquele praticado na Europa; que nisso seguia o mo<strong>de</strong>lo inglês.<br />
No parlamentarismo europeu, o primeiro-ministro era eleito pelo Parlamento, que tam-<br />
bém tinha força para <strong>de</strong>pô-lo. Em suma, o legislativo controlava o executivo, e portanto o mi-<br />
nistério era responsável perante o Parlamento.<br />
No Brasil, ao contrário, o ministério era, ao menos legalmente, responsável perante o<br />
Po<strong>de</strong>r Legislativo. O Parlamento nada podia contra os ministros, que governavam ignorando o<br />
legislativo e prestando contas apenas ao imperador. Por esse motivo, o parlamentarismo foi<br />
chamado <strong>de</strong> "as avessas".<br />
A aristocracia rural, <strong>de</strong>ssa forma, anulou as principais conquistas liberais ao subtrair do<br />
Ato Adicional e do Código <strong>de</strong> Processo Criminal sua posição autonomista. Restaurando o<br />
Conselho <strong>de</strong> Estado e criando a presidência do Conselho <strong>de</strong> Ministros, a camada dominante<br />
estava apenas se aparelhando a<strong>de</strong>quadamente para exercer o seu domínio sobre a socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
modo a conduzi-la segundo seus interesses <strong>de</strong> classe.<br />
A organização do estado, portanto, perpassava pela união da vonta<strong>de</strong> centralizadora do<br />
imperante que coincidiu com os anseios da elite rural e da burocracia estatal como um todo.<br />
O barão <strong>de</strong> Jeremoabo, como membro da antiga aristocracia rural açucareira baiana não<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> contribuir com a or<strong>de</strong>m vigente, seja através <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> convencimento nos<br />
bastidores, seja através <strong>de</strong> sua participação ativa com o seu voto <strong>de</strong> <strong>de</strong>putado. Na sessão <strong>de</strong> 16<br />
<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1872 foi um dos que contribuiu com o governo nos 49 votos que teve, contra 50<br />
<strong>de</strong> oposição. Ele mesmo justifica sua posição: "Logo que cheguei fui procurado por ambos os<br />
113