21.04.2013 Views

digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE - PPGL ...

digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE - PPGL ...

digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE - PPGL ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

2000<br />

<strong>Letras</strong><br />

d i g i t a i s<br />

Teses e Dissertações originais <strong>em</strong> formato digital<br />

Expressões Indiciais <strong>em</strong><br />

Contextos <strong>de</strong> Uso: por uma<br />

caracterização dos<br />

dêiticos discursivos<br />

Mônica Magalhães Cavalcante<br />

<strong>Programa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Pós</strong>-<strong>Graduação</strong><br />

<strong>em</strong> <strong>Letras</strong>


Ficha Técnica<br />

Coor<strong>de</strong>nação do Projeto <strong>Letras</strong> Digitais<br />

Angela Paiva Dionísio e Anco Márcio Tenório Vieira (orgs.)<br />

Consultoria Técnica<br />

Augusto Noronha e Karla Vi<strong>da</strong>l (Pipa Comunicação)<br />

Projeto Gráfico e Finalização<br />

Karla Vi<strong>da</strong>l e Augusto Noronha (Pipa Comunicação)<br />

Digitalização dos Originais<br />

Maria Cândi<strong>da</strong> Paiva Dionízio<br />

Revisão<br />

Angela Paiva Dionísio, Anco Márcio Tenório Vieira e Michelle Leonor <strong>da</strong> Silva<br />

Produção<br />

Pipa Comunicação<br />

Apoio Técnico<br />

Michelle Leonor <strong>da</strong> Silva e Rebeca Fernan<strong>de</strong>s Penha<br />

Apoio Institucional<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />

<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pós</strong>-<strong>Graduação</strong> <strong>em</strong> <strong>Letras</strong>


Apresentação<br />

Criar um acervo é registrar uma história. Criar um acervo digital é dinamizar a<br />

história. É com essa perspectiva que a Coor<strong>de</strong>nação do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pós</strong>-<strong>Graduação</strong><br />

<strong>em</strong> <strong>Letras</strong>, representa<strong>da</strong> nas pessoas dos professores Angela Paiva Dionisio e Anco<br />

Márcio Tenório Vieira, criou, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006, o projeto <strong>Letras</strong> Digitais: 30<br />

anos <strong>de</strong> teses e dissertações. Esse projeto surgiu <strong>de</strong>ntre as ações com<strong>em</strong>orativas<br />

dos 30 anos do PG <strong>Letras</strong>, programa que teve início com cursos <strong>de</strong> Especialização<br />

<strong>em</strong> 1975. No segundo s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 1976, surgiu o Mestrado <strong>em</strong> Linguística e Teoria<br />

<strong>da</strong> Literatura, que obteve cre<strong>de</strong>nciamento <strong>em</strong> 1980. Os cursos <strong>de</strong> Doutorado <strong>em</strong><br />

Linguística e Teoria <strong>da</strong> Literatura iniciaram, respectivamente, <strong>em</strong> 1990 e 1996. É<br />

relevante frisar que o <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pós</strong>-<strong>Graduação</strong> <strong>em</strong> <strong>Letras</strong> <strong>da</strong> <strong>UFPE</strong>, <strong>de</strong> longa<br />

tradição <strong>em</strong> pesquisa, foi o primeiro a ser instalado no Nor<strong>de</strong>ste e Norte do País. Em<br />

<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2008, contava com 455 dissertações e 110 teses <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s.<br />

Diante <strong>de</strong> tão grandioso acervo e do fato <strong>de</strong> apenas as pesquisas <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s a partir<br />

<strong>de</strong> 2005 possuir<strong>em</strong> uma versão digital para consulta, os professores Angela Paiva<br />

Dionisio e Anco Márcio Tenório Vieira, autores do referido projeto, <strong>de</strong>cidiram<br />

oferecer para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> acadêmica uma versão digital <strong>da</strong>s teses e dissertações<br />

produzi<strong>da</strong>s ao longo <strong>de</strong>stes 30 anos <strong>de</strong> história. Criaram, então, o projeto <strong>Letras</strong><br />

Digitais: 30 anos <strong>de</strong> teses e dissertações com os seguintes objetivos:<br />

(i) produzir um CD-ROM com as informações fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong>s 469<br />

teses/dissertações <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s até <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006 (autor, orientador, resumo,<br />

palavras-chave, <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa, área <strong>de</strong> concentração e nível <strong>de</strong> titulação);


(ii) criar um Acervo Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, digitalizando<br />

todo o acervo originalmente constituído apenas <strong>da</strong> versão impressa;<br />

(iii) criar o hotsite <strong>Letras</strong> Digitais: Teses e Dissertações originais <strong>em</strong> formato<br />

digital, para publicização <strong>da</strong>s teses e dissertações mediante autorização dos<br />

autores;<br />

(iv) transportar para mídia eletrônica off-line as teses e dissertações digitaliza<strong>da</strong>s,<br />

para integrar o Acervo Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, disponível<br />

para consulta na Sala <strong>de</strong> Leitura César Leal;<br />

(v) publicar <strong>em</strong> DVD coletâneas com as teses e dissertações digitalizados,<br />

organiza<strong>da</strong>s por área concentração, por nível <strong>de</strong> titulação, por orientação etc.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento do projeto prevê ações <strong>de</strong> diversas or<strong>de</strong>ns, tais como:<br />

(i) <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>rnação <strong>da</strong>s obras para procedimento alimentação automática <strong>de</strong><br />

escaner;<br />

(ii) tratamento técnico <strong>de</strong>scritivo <strong>em</strong> meta<strong>da</strong>dos;<br />

(iii) produção <strong>de</strong> Portable Document File (PDF);<br />

(iv) revisão do material digitalizado<br />

(v) procedimentos <strong>de</strong> reenca<strong>de</strong>rnação <strong>da</strong>s obras após digitalização;<br />

(vi) diagramação e finalização dos e-books;<br />

(vii) backup dos e-books <strong>em</strong> mídia externa (CD-ROM e DVD);<br />

(viii) <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> rotinas para regularização e/ou cessão <strong>de</strong> registro <strong>de</strong><br />

Direitos Autorais.<br />

Os organizadores


2000<br />

Expressões Indiciais <strong>em</strong><br />

Contextos <strong>de</strong> Uso: por uma<br />

caracterização dos<br />

dêiticos discursivos<br />

Mônica Magalhães Cavalcante<br />

Copyright © Mônica Magalhães Cavalcante, 2000<br />

Reservados todos os direitos <strong>de</strong>sta edição. Reprodução proibi<strong>da</strong>, mesmo parcialmente,<br />

s<strong>em</strong> autorização expressa do autor.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO<br />

Program a <strong>de</strong> P6s-Gradua~ao <strong>em</strong> <strong>Letras</strong><br />

Doutorado <strong>em</strong> Lingiifstica<br />

EXPRESSOES INDICIAIS EM CONTEXTOS DE USO:<br />

por uma caracteriza~ao dos <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

Monica Magalhaes Cavalcante<br />

Recife<br />

fevereiro <strong>de</strong> 2000


Monica Magalhaes Cavalcante<br />

EXPRESSOES INDICIAIS EM CONTEXTOS DE USO:<br />

por uma caracteriza~ao dos <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

Tese submeti<strong>da</strong> it Coor<strong>de</strong>na


EXPRESSOES INDICIAIS EM CONTEXTOS DE USO:<br />

por uma caracterizavao dos <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

Prof. Dr. Luiz Antonio Marcuschi<br />

(Orientador)


Costuma-se distinguir amifora e <strong>de</strong>ixis discursiva apenas <strong>em</strong> termos<br />

<strong>de</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, afirmando-se que, enquanto os anaf6ricos<br />

retomam, no contexto, enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s pontuais, os <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

recuperam conteudos difusos. Tal separayao <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> cont<strong>em</strong>plar, no<br />

entanto, 0 principio <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo qual se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> todos os<br />

fen6menos <strong>de</strong>iticos. Este trabalho t<strong>em</strong> 0 objetivo <strong>de</strong> caracterizar os<br />

<strong>de</strong>iticos discursivos, propondo urn conjunto <strong>de</strong> trayos capazes <strong>de</strong><br />

diferencia-Ios dos anaf6ricos contendo el<strong>em</strong>entos indiciais. Sob a<br />

hip6tese <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>ixis discursiva pertence, por legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao<br />

quadro <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis <strong>em</strong> geral, analisa-se seu carMer intersubjetivo, que se<br />

revela nao apenas no procedimento <strong>de</strong>itico <strong>de</strong> refocalizar os objetos<br />

<strong>de</strong> discurso, conduzindo a atenyao do <strong>de</strong>stinatario para um it<strong>em</strong><br />

especifico do campo <strong>de</strong>itico, quanta na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer, <strong>em</strong><br />

certos casos, as coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s do falante no ambito dos espayOS fisicos<br />

textuais. Al<strong>em</strong> disso, acrescenta-se, ao parametro <strong>da</strong> abrangencia<br />

referencial <strong>da</strong>s express5es indiciais, a discriminayao <strong>de</strong> quatro<br />

subtipos <strong>de</strong> anaf6ricos e <strong>de</strong>iticos discursivos <strong>de</strong>finidos <strong>de</strong> acordo com<br />

os seguintes criterios: a relayao entre aspectos formais e tipo <strong>de</strong><br />

motivayao do el<strong>em</strong>ento indicial; a <strong>de</strong>scriyao <strong>da</strong> (re)categorizayao<br />

lexical <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong>; a especie <strong>de</strong> retoma<strong>da</strong> (total ou parcial); a<br />

direyao do movimento r<strong>em</strong>issivo; e 0 status informacional.


Anaphor and discoursive <strong>de</strong>ixis have been distinguished only by<br />

means of referenciality taking into consi<strong>de</strong>ration that, while anaphoric<br />

el<strong>em</strong>ents retake punctual entities in the context, discoursive <strong>de</strong>ictics<br />

recover diffuse information. However, such a distinction does not<br />

cont<strong>em</strong>plate the principle of subjectivity by which all the <strong>de</strong>ictic<br />

phenomena are <strong>de</strong>fined. The purpose of this work is to characterize<br />

the discoursive <strong>de</strong>ictics and to propose a group of features capable of<br />

differentiating th<strong>em</strong> from the anaphorics containing <strong>de</strong>ictic el<strong>em</strong>ents.<br />

Un<strong>de</strong>r the hypothesis that discoursive <strong>de</strong>ixis belongs legitimately to<br />

the sch<strong>em</strong>e of general <strong>de</strong>ixis, it is analyzed its intersubjective<br />

character, which is revealed not only in the <strong>de</strong>ictic procedure of<br />

refocusing discoursive objects, which leads the addressee's<br />

attentiveness towards a specific it<strong>em</strong> of the <strong>de</strong>ictic field, but also in<br />

the capacity to recognize, in certain cases, the speaker's coordinates in<br />

the textual physical spaces. To compl<strong>em</strong>ent the escope of <strong>de</strong>ictic<br />

expressions of referenciality, four anaphoric and <strong>de</strong>ictic discoursive<br />

subclasses were ad<strong>de</strong>d. They were <strong>de</strong>fined according to the following<br />

criteria: the relationship between formal aspects and the kind of<br />

motivation of the <strong>de</strong>ictic el<strong>em</strong>ent; the <strong>de</strong>scription of the lexical<br />

(re)categorization; the kind of retake (total or partial); the direction of<br />

the r<strong>em</strong>issive mov<strong>em</strong>ent; and the informational status.


Ao PleDT, pelo amparo financeiro, indispensavel a<br />

qualquer pesquisa.<br />

Ao Prof. Dr. Luiz AntOnio Marcuschi, principalmente<br />

pelas valiosas recomen<strong>da</strong>yoes <strong>de</strong> leitura.<br />

Ao Prof. Dr. Jose L<strong>em</strong>os Monteiro, pela critica<br />

pormenoriza<strong>da</strong> e atenta a este trabalho.<br />

A Francisca Marta Jaguaribe <strong>de</strong> Lima e familia, pela<br />

acolhi<strong>da</strong>, pelo carinho, pelos pequenos cui<strong>da</strong>dos que<br />

reconfortam<br />

e alentam.


A ciencia, por tudo 0 que e1a engendra.


LIST A DE QUAD ROS 10<br />

LISTA DE GAAFICOS 11<br />

1.2.1 A nO(;aofun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> pessoa <strong>em</strong> Benveniste ..•.................•.. 26<br />

1.2.2 A intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> outro sentido .....•.•..•....•...................... 29<br />

1.5.1 Diixis <strong>de</strong> pessoa ..e ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 37<br />

1.5.2 Deixis <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po ..........•...•.•..•.•.••.•••••....•..................•.................... 42<br />

1.5.3 Diiixis <strong>de</strong> lugar 48<br />

1.5.4 Deixis do discurso ...•.........•....•.................................................... 53<br />

CAPITULO 3 - ANAFORA vs. DEIXIS DISCURSIV A<br />

E AS DUAS FACES DA MOEDA 83<br />

4.1 Referencia e pressuposi~ao 98<br />

4.2 Rela~ao forma-fun~ao-significado nos el<strong>em</strong>entos indiciais 104


4.3 Restri~oes f0rmais 110<br />

4.3.1 Motivariio dos el<strong>em</strong>entos indicia is no discurso 122<br />

4.3.1.1 R<strong>em</strong>issao ao espm;o extralingtiistico 126<br />

4.3.1. 2 R<strong>em</strong>issao ao conhecimento partilhado 127<br />

4.3.1. 3 R<strong>em</strong>issao ao espafo jisico do texto 131<br />

4.3.1.4 Renlissao ao contexto 135<br />

4.4.1 Expressoes indiciais motiva<strong>da</strong>s pelo esparo extralingUistico 140<br />

4.4.2 Expressoes indiciais motiva<strong>da</strong>s pelo esparo fisico do texto 142<br />

4.4.3 Expressoes indiciais motiva<strong>da</strong>s pelo conhecimento partilhado. 144<br />

4.4.4 Expressoes indiciais motiva<strong>da</strong>s pelo conte'Cto 146<br />

CAPiTULO 5 - PROCESSOS DE DESIGNA(AO NAS EXPRESSOES<br />

CONTEXTUALMENTE MOnV ADAS 149<br />

5.1 (Re)categoriza~ao <strong>de</strong> anaforicos e <strong>de</strong>iticos discursivos 150<br />

5.1.1 Transformariio opera<strong>da</strong> ou marca<strong>da</strong> pela expressiio indicia!.. 150<br />

5.1. 2 Homologariio <strong>de</strong> atributos explicitamente predicados .........•....• 153<br />

5.4 Status informacional dos <strong>de</strong>iticos discursivos 172<br />

5.4.1 Perspectiva do ouvinte ..............................................................•... 173<br />

5.4.2 Perspectiva do discurso .........................................................•...... 177<br />

ANEXO 1 - NORMAS DE TRANSCRI(AO DO NURCfPORCUFORT 205<br />

ANEXO 2 - NORMAS DE TRANSCRI(AO DO NELFE 206


QUADRO 1 - Pronomes <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo e circunstanciaI.. 106<br />

QUADRO 2 - Rela~ao entre classes e valores s<strong>em</strong>anticos<br />

nas exp ressoes indicia is 111<br />

QUADRO 3 - Rela~ao entre forma, fun~ao e tipo <strong>de</strong><br />

m0tiva ~a0 nos anaf 6ricos . 124<br />

QUADRO 4 - Rela~ao entre forma, fun~ao e tipo <strong>de</strong><br />

motiva~ao nos <strong>de</strong>iticos discursivos 124<br />

QUADRO 5 - Deiticos discursivos com nomes rotuladores 171


GRA.FICO 1 - Distribui~ao <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos e<br />

anafo ricos na amostra 110<br />

GRA.FICO 2 - Distribui~ao dos valores s<strong>em</strong>anticos<br />

dos el<strong>em</strong>entos indiciais ...•............................................................................... 111<br />

GRA.FICO 3 - Distribui~ao dos valores s<strong>em</strong>anticos<br />

<strong>em</strong> rela~ao as classes formais 112<br />

GRA.FICO 4 - Freqiiencia <strong>de</strong> SNs e pronomes nas<br />

expressoes indiciais.......... 114<br />

GRA.FICO 5 - Rela~ao entre forma, valor s<strong>em</strong>antico<br />

e tipo <strong>de</strong> motiva~ao nos anaforicos 125<br />

GRA.FICO 6 - Rela~ao entre forma, valor s<strong>em</strong>antico<br />

e tipo <strong>de</strong> motiva~ao nos <strong>de</strong>iticos discursivos 125<br />

GRA.FICO 7 - Rela~ao entre condicionamento e<br />

modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>signa~ao nos anaforicos 156<br />

GRA.FICO 8 - Rela~ao entre condicionamento e<br />

modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>signa~ao nos <strong>de</strong>iticos discursivos 157<br />

GRA.FICO 9 - Distribui~ao dos referentes novos<br />

para 0 discurso .........................•................................................................. '" 179<br />

GRAFICO 10 - Distribui~ao <strong>da</strong>s cataforas 180<br />

GRA.FICO 11 - Distribui~ao <strong>da</strong>s expressoes indiciais<br />

<strong>em</strong> rela~ao as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> discurso 188<br />

GRA.FICO 12 - Distribui«;ao <strong>da</strong>s expressoes indiciais<br />

segundo 0 grau <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> 188<br />

GRA.FICO 13 - Rela~ao entre mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva<br />

e grau <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> nas expressoes indiciais 189


Quando compreen<strong>de</strong>mos um enunciado, nao<br />

estamos enten<strong>de</strong>ndo apenas 0 que as palavras<br />

diz<strong>em</strong>; as palavras, por si, nao diriam na<strong>da</strong>, nao<br />

fosse nosso conhecimento ricamente <strong>de</strong>talhado e os<br />

po<strong>de</strong>rosos processos cognitivos que SaD acionados<br />

por nos. (Turner)


A <strong>de</strong>ixis po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita nao somente como urn processo que reflete 0 condicionamento<br />

mutuo entre 0 sujeito <strong>em</strong> seu contexte socio-cultural e a linguag<strong>em</strong>, mas tamb<strong>em</strong> como uma<br />

relavao <strong>de</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>. As duas maneiras <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar 0 mesmo fenomeno tern revertido<br />

<strong>em</strong> certa confusao terminologica, originando <strong>de</strong>finiv5es ora equivalentes a novao <strong>de</strong> anafora, ora<br />

urn tanto quanta a marg<strong>em</strong> dos modos <strong>de</strong> referenciavao, <strong>em</strong> privilegio <strong>de</strong> aspectos<br />

essencialmente intersubjetivos.<br />

Com 0 proposito <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver alguns trayos que distingu<strong>em</strong> e aproximam anafora e<br />

<strong>de</strong>ixis discursiva, 0 presente trabalho caracteriza as express5es foricas 1 contendo el<strong>em</strong>entos<br />

indiciais, que, no ambito <strong>da</strong>s pesquisas sobre referenciavao, costumam figurar como<br />

"anaforicas", mas que, por se constituir<strong>em</strong> <strong>de</strong> formas <strong>de</strong>iticas, po<strong>de</strong>m ser reaprecia<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> urn esqu<strong>em</strong>a geral <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis e <strong>de</strong> suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s subjetivas.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> pesquisar os <strong>de</strong>iticos discursivos nasceu, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma intuivao sintatica,<br />

por ocasiao <strong>de</strong> urn estudo, que iniciamos no Mestrado, sobre a omissao <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entos<br />

verbais. Mas a observa


el<strong>em</strong>entos do contexto, e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhava no discurso uma funyao peculiar, mas, a nosso ver,<br />

condiciona<strong>da</strong> por restriyoes s<strong>em</strong>antico-sintaticas e pragmiticas ain<strong>da</strong> pouco especifica<strong>da</strong>s.<br />

No campo <strong>da</strong> LingLiistica <strong>de</strong> Texto, formayoes como "este <strong>de</strong>sabafo, isso, essa coisa" etc.<br />

as quais equivale esse tipo <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>ento omisso - sao classifica<strong>da</strong>s como <strong>de</strong>itico-<br />

discursivas, ou, as vezes, como anaf6ricas, ain<strong>da</strong> que s<strong>em</strong>pre restritas as formas manifestas. Nao<br />

<strong>de</strong>mos seguimento, por<strong>em</strong>, a averiguayao do que po<strong>de</strong>ria influenciar as diferentes realizayoes <strong>de</strong><br />

compl<strong>em</strong>entos verbais, porque ela esbarrava no probl<strong>em</strong>a anterior e mais complexo <strong>de</strong><br />

caracterizar melhor os pr6prios <strong>de</strong>iticos discursivos; <strong>de</strong> explicar <strong>em</strong> que se distinguiam dos<br />

anaf6ricos que tamb<strong>em</strong> portavam el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>iticos; e <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver-Ihes a estrutura interna<br />

relacionando-a com seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho no discurso.<br />

Compreen<strong>de</strong>ndo a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> conciliar justificativas sintiticas e estritamente<br />

s<strong>em</strong>anticas, circunscritas ao entorno <strong>da</strong> frase, com explicayoes que ultrapassam 0 nivel frastico<br />

e se esgotam no discurso, <strong>de</strong>cidimos pela ruptura te6rica com uma linguistica que visa<br />

meramente a i<strong>de</strong>ntificar e a <strong>de</strong>screver uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s estruturais, e passamos a adotar uma perspectiva<br />

discursiva segundo a qual estas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s linguisticas resultam <strong>de</strong> urn conjunto <strong>de</strong> operayoes<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn ato enunciativo.<br />

S<strong>em</strong>elhante abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> que ve 0 discurso como construido e realizado <strong>em</strong> urn contexto<br />

<strong>em</strong>pirico nao implica, necessariamente, uma renuncia aos aspectos estruturais e, Slm, a<br />

alternativa <strong>de</strong> reconsi<strong>de</strong>rar como 0 nivel estritamente "lingLiistico" se organiza na pratica<br />

discursiva. Comeyamos a examinar, assim, como 0 discurso <strong>em</strong> situayao, e instavel por<br />

natureza, reestrutura os recursos que 0 viabilizam, <strong>de</strong>ntre eles as expressoes referenciais com<br />

dSiticos, a que <strong>de</strong>nominamos expressoes indiciais.<br />

Por apostarmos numa estreitissima ligayao entre restriyoes formais, funcionais e<br />

cognitivo-interacionais, indissociaveis do contexto <strong>de</strong> uso, verificamos, ao longo do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, a hip6tese geral <strong>de</strong> que os dSiticos discursivos nao sofr<strong>em</strong> as mesmas<br />

<strong>de</strong>terminayoes dos anaf6ricos e <strong>de</strong> que a pesquisa <strong>de</strong>stes condicionamentos po<strong>de</strong>ria revelar<br />

diferentes subtipos <strong>de</strong> expressoes indiciais.<br />

Guiando-nos por tal suposiyao, abrimos 0 capitulo 1 refletindo sobre a <strong>de</strong>finiyao do<br />

fenomeno geral <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis, dimensionado, <strong>em</strong> Benveniste (1988) e Lahud (1979), como uma<br />

expressao <strong>da</strong> presenya do sujeito no discurso, <strong>de</strong> sua subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e "pessoali<strong>da</strong><strong>de</strong>", nOyoes<br />

basicas que separam os dSiticos do carater mais representativo dos anaf6ricos.<br />

Com apoio na indicayao <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> revela<strong>da</strong> pelas relayoes <strong>de</strong>iticas, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos, ja<br />

neste capitulo, que os cinco tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis, primeiramente classificados por Fillmore (1971),<br />

nao tern 0 mesmo status no discurso, conforme se po<strong>de</strong>ria acreditar pelo conjunto


aparent<strong>em</strong>ente homogeneo <strong>em</strong> que costumam ser apresenta<strong>da</strong>s. A <strong>de</strong>ixis discursiva - e,<br />

analogamente, as anaforas indiciais - <strong>de</strong>v<strong>em</strong> situar-se num nivel inferior, nao s6 par se<br />

afastar<strong>em</strong>, as vezes, do referencial <strong>de</strong> posicionamento do falante, como tamb<strong>em</strong> por<br />

representar<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre uma metafora do espayo <strong>de</strong>itico <strong>da</strong> situayao enunciativa canonica.<br />

o capitulo 2 <strong>de</strong>ixa patente 0 inevitavel entrecruzamento <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis com as nOyoes <strong>de</strong><br />

referencia, anafora e correferencia - ja que to<strong>da</strong> expressao <strong>de</strong>itica e necessariamente referencial;<br />

mas, ao criticar a visao tradicional <strong>de</strong>sses conceitos, reavalia-os segundo urn ponto <strong>de</strong> vista<br />

interacional cognitivo-discursivo, que encara os referentes como construtos culturais,e nao<br />

como el<strong>em</strong>entos do mundo extralingiiistico. Optando, entao, par uma concepyao re<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

anafora, estabelec<strong>em</strong>os alguns dos parametros pelos quais tamb<strong>em</strong> os <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

<strong>de</strong>veriam ser revistos.<br />

o capitulo 3, reconsi<strong>de</strong>rando os estudos sobre <strong>de</strong>ixis e anafara como feIiomenos amplos,<br />

probl<strong>em</strong>atiza os criterios pelos quais <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos indiciais tern sido<br />

<strong>de</strong>scritos ate 0 momento, aguyando 0 olhar sobre os principios <strong>de</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que subjaz<strong>em</strong> a caracterizayao <strong>de</strong> ambos e que lanyam <strong>em</strong> terreno movediyo to<strong>da</strong>s<br />

as tentativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>finiyao ate entao <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong>s. Dai argumentamos <strong>em</strong> favor <strong>da</strong> funyao<br />

refocalizadora <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis discursiva, que <strong>em</strong>presta as enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s uma pro<strong>em</strong>inencia discursiva<br />

quase nunca encontra<strong>da</strong> na anafora, mas que, par si s6, tamb<strong>em</strong> nao e capaz <strong>de</strong> diferenciar os<br />

dois fenomenos.<br />

Deste ponto <strong>em</strong> diante, comeyam a ser interpretados os resultados <strong>da</strong>s frequencias obti<strong>da</strong>s,<br />

por meio <strong>de</strong> que analisamos as variaveis relaciona<strong>da</strong>s a forma, a motivayao dos <strong>de</strong>iticos, aos<br />

diversos modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar as enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s referenciais e ao status informacional, b<strong>em</strong> como as<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> discurso e ao grau <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> - aspectos ain<strong>da</strong> bastante inexplorados<br />

nos estudos sobre 0 assunto.<br />

o capitulo 4 e respal<strong>da</strong>do pela re<strong>de</strong>finiyao <strong>de</strong> pressuposiyao, proposta por Ducroe (1977),<br />

a partir <strong>da</strong> qual pon<strong>de</strong>ramos sobre as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s estruturais dos pronomes <strong>de</strong> valor<br />

<strong>de</strong>monstrativo e circunstancial, <strong>em</strong> comparayao com 0 <strong>de</strong>finido <strong>da</strong>s expressoes anaf6ricas nao-<br />

indiciais. Atribuimos, com base nesses criterios, quatro tipos <strong>de</strong> condicionamento aos el<strong>em</strong>entos<br />

indiciais que marcam <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos, e discutimos sua relayao com os<br />

aspectos formais, funcionais e s<strong>em</strong>anticos.<br />

Sugerimos, ao final do capitulo, uma subclassificayao <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos<br />

indiciais que cont<strong>em</strong>ple os trayos basicos e consensuais <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> urn, mas que nao <strong>de</strong>scui<strong>de</strong> <strong>de</strong>


suas especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> referenciayao e subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, par que se i<strong>de</strong>ntificam, simultaneamente,<br />

com os fen6menos <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis e <strong>da</strong> anaJora.<br />

o capitulo 5 se <strong>de</strong>dica a analise dos processos <strong>de</strong> (re)categarizayao lexical construidos<br />

pel as expressoes <strong>de</strong> forma nominal, e caracteriza especialmente os <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

realizados por SNs com <strong>de</strong>monstrativos como estando associados a estrategias <strong>de</strong> rotulayao.<br />

Classificamos tres subconjuntos <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos rotuladores, consoante 0 tipo <strong>de</strong><br />

metalinguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> que se val<strong>em</strong> e 0 grau <strong>de</strong> generali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que se revest<strong>em</strong>. Em segui<strong>da</strong>,<br />

examinamos 0 status infarmacional <strong>da</strong>s expressoes indiciais, unindo os resultados a diferentes<br />

condicionamentos, assim como a direyao do movimento r<strong>em</strong>issivo, momento <strong>em</strong> que voltamos<br />

atenyao aos <strong>em</strong>pregos cataf6ricos.<br />

o capitulo final faz breves reflexoes sobre como 0 tipo <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, fala<strong>da</strong> e escrita, e<br />

o grau <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> dos discursos influenciam a seleyao dos el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> estudo, abrindo<br />

caminho, assim, a novas investigayoes quanta a utilizayao <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos<br />

indiciais nos mais variados contextos <strong>de</strong> uso.<br />

No que toca aos aspectos metodol6gicos, construimos 0 objeto <strong>de</strong>sta pesquisa por meio do<br />

metodo qualitativo, para enten<strong>de</strong>r os diferentes sentidos <strong>em</strong> que se <strong>em</strong>pregam os <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos e os anaf6ricos indiciais <strong>em</strong> diversas situayoes comunicativas. A partir <strong>de</strong>sses <strong>da</strong>dos<br />

<strong>em</strong>piricos, aplicamos urn procedimento indutivo pelo qual to<strong>da</strong>s as hip6teses do estudo 4 foram,<br />

entao, gera<strong>da</strong>s.<br />

Como auxilio a interpretayao qualitativa dos <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> acordo com 0 mo<strong>de</strong>lo te6rico<br />

escolhido, acrescentamos urn estudo quantitativo baseado <strong>em</strong> calculos percentuais, a fim <strong>de</strong><br />

verificar e comparar a freqilencia <strong>da</strong>s categorias examina<strong>da</strong>s. Nossa preocupayao se ateve muito<br />

menos aos resultados <strong>de</strong> porcentag<strong>em</strong> do que a avaliayao dos conceitos te6ricos que<br />

fun<strong>da</strong>mentariam a pesquisa e a compreensao <strong>da</strong>s operay5es cognitivo-discursivas e interacionais<br />

que orientam 0 funcionamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos.<br />

Nao se i<strong>de</strong>ntificara, no trabalho, uma separayao entre <strong>em</strong>basamento te6rico e analise dos<br />

resultados, pois to<strong>da</strong>s as <strong>de</strong>finiyoes e caracterizayoes sao revistas e discuti<strong>da</strong>s <strong>em</strong> concomitancia<br />

4 Sobre a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aplica


com a evi<strong>de</strong>nciayao dos <strong>da</strong>dos <strong>em</strong>piricos, fartamente ex<strong>em</strong>plificados <strong>em</strong> todo 0 percurso do<br />

<strong>de</strong>senvo 1vimento.<br />

Selecionamos uma ,a-rnostra que combinasse metodos <strong>de</strong> analise <strong>de</strong> textos escritos e <strong>de</strong><br />

transcriyoes, para compreen<strong>de</strong>r como funcionam as categorias <strong>em</strong> estudo, e como os<br />

participantes <strong>da</strong> comunicayao consegu<strong>em</strong> arranja-las <strong>em</strong> seu discurso.<br />

A investigayao tomou por base 73 discursos, com uma distribuiyao propositalmente<br />

dispar: 54 escritos, mas somente 19 orais. A <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre 0 numero <strong>de</strong> textos <strong>da</strong>s duas<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s discursivas se <strong>de</strong>veu a tentativa <strong>de</strong> equilibrar, tanto quanta possivel, a amostra<br />

eleita, pois as conversas ou narrativas espontaneas e as aulas e conferencias apresentaram urn<br />

maior volume textual <strong>em</strong> relayao aos <strong>de</strong>mais generos escritos, tais como cartas pessoais,<br />

noticias, instruyoes etc. Pela irrelevancia <strong>de</strong> urn controle rigoroso para os objetivos pretendidos,<br />

procuramos simplesmente contrabalanyar 0 numero <strong>de</strong> palavras e as restriyoes conjuga<strong>da</strong>s do<br />

grau <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva. Assim, <strong>de</strong> acordo com este ultimo<br />

parametro, agrupamos os discursos <strong>em</strong> dois blocos, ca<strong>da</strong> urn <strong>de</strong>les, por sua vez, subdividido <strong>em</strong><br />

fala e escrita:<br />

Mais espontaneo<br />

Menos espontaneo<br />

Fala<br />

Fala<br />

Escrita<br />

Escrita<br />

Sab<strong>em</strong>os, contudo, que tal subdivisao e meramente convencional, <strong>de</strong> vez que estamos<br />

li<strong>da</strong>ndo com urn continuum. Eis por que certos generos havidos como menos espontaneos se<br />

enquadrariam perfeitamente na classe dos mais espontaneos, ao passo que outros ja assumiriam<br />

as caracteristicas espera<strong>da</strong>s.<br />

Em segui<strong>da</strong>, os blocos foram arrumados <strong>de</strong> modo a comportar urn numero nao muito<br />

<strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> palavras, quando postos <strong>em</strong> cotejo os grupos <strong>de</strong> fala e escrita <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />

conjunto. Desprezando as oscilayoes inevitaveis, mas, para nos, <strong>de</strong> pouca relevancia, os<br />

discursos alcanyaram uma media aproxima<strong>da</strong> <strong>de</strong> 73.000 palavras, distribui<strong>da</strong>s do seguinte<br />

modo: os menos espontaneos perfizeram urn total <strong>de</strong> 76.897 palavras, enquanto os mats<br />

espontaneos chegaram a 69.657.


Do total <strong>de</strong> discursos, 43 faz<strong>em</strong> parte do Nucleo <strong>de</strong> Estudos Lingillsticos <strong>de</strong> Fala e Escrita<br />

(NELFE), <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuc0 5 . Outros 7 (<strong>em</strong> lingua fala<strong>da</strong>) pertenc<strong>em</strong> ao<br />

PORCUFORT (Portugues Oral Culto <strong>de</strong> Fortaleza), fruto <strong>de</strong> urn antigo projeto correspon<strong>de</strong>nte<br />

ao NURC, <strong>em</strong> Fortaleza, organizado pelo professor Jose L<strong>em</strong>os Monteiro, na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Ceani 6 . as 23 restantes (todos na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> escrita) foram por n6s coletados com<br />

o intuito nao s6 <strong>de</strong> harmonizar a amostra, mas tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong> diversifica-Ia, acrescentando<br />

diferentes generos.<br />

As normas <strong>de</strong> transcrivao utiliza<strong>da</strong>s pelo Nucleo <strong>de</strong> Estudos Lingilisticos <strong>de</strong> Fala e Escrita<br />

coinci<strong>de</strong>m, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte, com as do Projeto NURC, mas se constitu<strong>em</strong> <strong>de</strong> mais algumas<br />

convenv5es que aten<strong>de</strong>m a outras especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s, como as <strong>da</strong> analise <strong>da</strong> conversavao. Damos a<br />

conhecer, nos anexos 1 e 2, ain<strong>da</strong> que minimamente, os sinais <strong>de</strong> maior ocorrencia e a maneira<br />

como foram dispostos, por cad a projeto <strong>de</strong> que se originaram, na reproduvao grafica <strong>da</strong> fala.<br />

Constam dos generos comunicativos utilizados: conversa e narrativa espontanea,<br />

entrevista, carta pessoal, bilhete, conversa on-line, artigo <strong>de</strong> jornal assumi<strong>da</strong>mente popular,<br />

propagan<strong>da</strong>, entrevista formal, aula, conferencia, editorial, cronica, carta ao editor, noticia <strong>de</strong><br />

jomal, instruvao, ensaio, conto, ata <strong>de</strong> reuniao, ata <strong>de</strong> julgamento, projeto e artigo cientifico.<br />

Listamos, no anexo 3, ca<strong>da</strong> urn dos textos observados e sua respectiva <strong>de</strong>scrivao.<br />

I<strong>de</strong>ntificamos, classificamos e codificamos, a principio, 2397 ocorrencias <strong>de</strong> express5es<br />

f6ricas apresentando el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>iticos. Numa segun<strong>da</strong> consi<strong>de</strong>ravao, por<strong>em</strong>, eliminamos 397<br />

express5es que apontavam exclusivamente para a situavao enunciativa, ou para el<strong>em</strong>entos do<br />

conhecimento partilhado, s<strong>em</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> retoma<strong>da</strong> contextual. Limitamo-nos, assim, a<br />

2000 ocorrencias que propiciavam a busca <strong>de</strong> referentes presentes no discurso, ou que eram<br />

inferidos a partir <strong>de</strong>le, pela ativavao <strong>de</strong> frames.<br />

Num plano geral, 0 estudo quer aten<strong>de</strong>r ao objetivo amplo <strong>de</strong> distinguir os <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos dos anaf6ricos indiciais, caracterizando-os e <strong>de</strong>finindo-Ihes posslveis subgrupos, <strong>de</strong><br />

acordo com 0 conjunto <strong>de</strong> variaveis escolhi<strong>da</strong>s.<br />

Para evitar pre-julgamentos, tomamos como <strong>de</strong>iticos discursivos apenas os que saG<br />

reconheci<strong>da</strong>mente aceitos como tais, isto e, os que se refer<strong>em</strong>, <strong>em</strong> funvao metalinguistica, as<br />

50 projeto <strong>de</strong>senvolvido pelo Nlicleo <strong>de</strong> Estudos Lingiiisticos <strong>de</strong> Fala e Escrita (NELFE) como Projeto lntegrado<br />

Fala e Escrita e financiado pelo C1',TPqe v<strong>em</strong> sendo coor<strong>de</strong>nado, atualmente, pelo Prof Dr. Luiz Antonio<br />

Marcuschi, com a participaQao dos seguintes pesquisadores <strong>da</strong> P6s-Gradua


pr6prias formas <strong>de</strong> texto, ou as sequencias or<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s <strong>de</strong> texto, b<strong>em</strong> como aqueles que retomam<br />

conteudos proposicionais, ou seja, os que abrang<strong>em</strong> informayoes difusas.<br />

Excluimos os anaf6ricos manifestados por sintagmas nominais constituidos por pronomes<br />

pessoais <strong>de</strong> terceira pessoa e aqueles formados por artigo <strong>de</strong>finido <strong>de</strong>terminando 0 nome, ou<br />

mesmo s<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminayao. Restringimo-nos as expressoes referenciais com pronomes <strong>de</strong><br />

natureza <strong>de</strong>monstrativa, circunstancial, e as vezes numeral, e com outras formas <strong>de</strong>iticas<br />

equivalentes, s<strong>em</strong>pre que recuperavam enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s pontualmente localizaveis. Esta <strong>de</strong>cisao teve a<br />

vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong> permitir a melhor observayao dos trayos caracteristicos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma, favorecendo<br />

uma comparayao mais "neutra" <strong>em</strong> relayao a separayao dos dois fenomenos.<br />

Os anaf6ricos indiciais e os <strong>de</strong>iticos discursivos foram, entao, primeiramente, avaliados<br />

<strong>em</strong> relayao as seguintes variaveis formais:<br />

1) Descri~ao do sintagma:<br />

sintagma nominal;<br />

pronome.<br />

2) Aspecto s<strong>em</strong>antico do el<strong>em</strong>ento indicial:<br />

valor <strong>de</strong>monstrativo;<br />

valor circunstancial;<br />

valor numeral.<br />

3) Fun~ao do el<strong>em</strong>ento indicial<br />

substantiva;<br />

adjetiva;<br />

adverbial.<br />

4) Pessoa gramatical do <strong>de</strong>itico:<br />

pnmelra pessoa;<br />

segun<strong>da</strong> pessoa;<br />

terceira pessoa;<br />

nenhuma pessoa (ou seja, os que, a rigor, se constituiriam como nao-pessoa, mas que<br />

nao apresentam uma forma "pessoal" antagonica; ficam, neste caso, os numerais e<br />

cenos <strong>de</strong>monstrativos como tal, s<strong>em</strong>elhante etc.).


5) Motiva~ao do el<strong>em</strong>ento indicial:<br />

conhecimento partilhado;<br />

espayO fisico real <strong>da</strong> comunicayao;<br />

espayO fisico do texto;<br />

contexto.<br />

Por fim, passamos a cotejaAas com as variaveis relativas aos processos <strong>de</strong> referenciayao e<br />

<strong>de</strong>signayao lexical, b<strong>em</strong> como com 0 status informacional <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s retoma<strong>da</strong>s:<br />

6) Tipo <strong>de</strong> (re)categoriza~ao lexical:<br />

co-significayao;<br />

recategorizayao<br />

categorizayao<br />

(obs: Foram ain<strong>da</strong> subc1assificados os tipos <strong>de</strong> (re)categorizayao e, no caso dos <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos, os tipos <strong>de</strong> rotulayao.)<br />

nenhuma (re)categorizayao (os que nao san co-significativos, mas tamb<strong>em</strong> nao<br />

(re)categorizam).<br />

7) Tipo <strong>de</strong> retoma<strong>da</strong>:<br />

total (correferencial);<br />

parcial (nao-correferencial)<br />

8) Sentido do movimento r<strong>em</strong>issivo:<br />

para frente;<br />

para tnis;<br />

para frente e para tras;<br />

nenhum sentido (quando 0 el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>itico, par si s6, nao r<strong>em</strong>ete a outra enti<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

contexto).


9) Status informacional:<br />

a) Sob a perspectiva do ouvinte:<br />

Velho para 0 ouvinte;<br />

Novo para 0 ouvinte.<br />

b) Sob a perspectiva do discurso:<br />

Velho para 0 discurso;<br />

Novo para 0 discurso.<br />

Como se po<strong>de</strong> notar, por vezes foi necessario consi<strong>de</strong>rar isola<strong>da</strong>mente 0 subgrupo dos<br />

dSiticos discursivos e 0 dos anaf6ricos, a fim <strong>de</strong> examinar diversas variaveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong><br />

relayao a alguma outra, alya<strong>da</strong> it categoria <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.


[A linguag<strong>em</strong>] e trio projun<strong>da</strong>mente marca<strong>da</strong><br />

pela expressao <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que n6s 110S<br />

perguntamos se, construi<strong>da</strong> <strong>de</strong> outro modo, po<strong>de</strong>ria<br />

ain<strong>da</strong> juncionar e chamar-se linguag<strong>em</strong>. (E.<br />

Benveniste)<br />

A palavra "<strong>de</strong>ixis,,7 passou ao latim com 0 valor "mostrar, indicar, assinalar", e este<br />

significado etimol6gico foi parcial mente preservado, mesmo com a especializayao linguistica<br />

do termo. A maioria dos linguistas e fil6sofos <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> fato, consi<strong>de</strong>ra os <strong>de</strong>iticos como<br />

os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> lingua que, diferent<strong>em</strong>ente dos outros signos linguisticos, r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a situayao<br />

enunciativa construi<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno do <strong>em</strong>issor. Em parte assentados nessa base comum (<strong>em</strong>bora<br />

divergindo <strong>em</strong> principios importantes), foram <strong>de</strong>finidos primeiramente os "in<strong>de</strong>xical symbols"<br />

(signos indicadores, ou simbolos-indices), <strong>de</strong> Peirce; os "shifters", <strong>de</strong> Jespersen 8 , os<br />

"<strong>em</strong>brayeurs", <strong>de</strong> Jakobson 9 ; os "indicadores <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>", <strong>de</strong> Benveniste (ver, sobre isto,<br />

Lahud, 1979), <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Foi Buhler lO (1982) qu<strong>em</strong> primeiro trayou uma distinyao linguistica geral entre palavras<br />

ostensivas e palavras <strong>de</strong>signadoras. As primeiras, chamou <strong>de</strong> "sinais"; as ultimas, <strong>de</strong><br />

"simbolos". A tese principal <strong>de</strong> Buhler, monta<strong>da</strong> sobre a natureza expressiva e subjetiva <strong>da</strong><br />

dSixis, e <strong>de</strong> que as express5es indiciais s6 refer<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong>itico, orientado por<br />

urn sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s cuja orig<strong>em</strong>, ou ponto zero, e estabeleci<strong>da</strong> pelo eu e pelo aqui-e-<br />

agora (por sua vez, tamb<strong>em</strong> referenciados pelo eu). Ao campo dSitico <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, Buhler<br />

Cf. <strong>em</strong> Ferreira~ 1986:531 0 verbete "<strong>de</strong>ixis: (cs)[Do gr. <strong>de</strong>ixis, eos.] S. f. Ling. 1. Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> que tern a<br />

linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar <strong>de</strong>monstrando e nao conceituando."<br />

8 Ler, <strong>em</strong> Lahud (1979), a critica it <strong>de</strong>finic;ao dos shifters, <strong>de</strong> Jespersen, <strong>em</strong> que se confun<strong>de</strong> a noc;ao <strong>de</strong> significado<br />

com a <strong>de</strong> referencia. Transcrev<strong>em</strong>os, aqui, a conceituac;ao: "Uma classe <strong>de</strong> palavras que apresenta enorme<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para as cri.a....·19aS SaDaquelas cujo significado difere <strong>de</strong> acordo com a situac;ao, <strong>de</strong> modo que a cria..'1c; as<br />

percebe como aplica<strong>da</strong>s ora a uma coisa, ora a outra (...). Tais palavras po<strong>de</strong>m ser chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> shifters".<br />

(Jespersen, 1964:123).<br />

9 A <strong>de</strong>scric;ao dos <strong>em</strong>breantes ("<strong>em</strong>brayeurs"), <strong>em</strong> Jakobson (1963), esta inseri<strong>da</strong> na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong>s fun~es <strong>da</strong><br />

linguag<strong>em</strong>. Os <strong>em</strong>breantes seriam as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do c6digo que r<strong>em</strong>eteriam obrigatorianlente it mensag<strong>em</strong> e po<strong>de</strong>riam<br />

ser simbolizados pela formula eu-qui-agora. Acumulariam as fum;oes <strong>de</strong> simbolo, por se associarcm ao referente<br />

por uma conven


opos 0 campo simbolico, aquele que reflete a representayao convencional <strong>de</strong> objetos,<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e eventos.<br />

Enquanto que no campo simbolico, para Buhler (1982), as palavras <strong>de</strong>signadoras receb<strong>em</strong><br />

seu significado completo, especifico e preciso, s<strong>em</strong> recorrer a aspectos <strong>da</strong> situayao enunciativa,<br />

no campo <strong>de</strong>itico 0 significado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong>s pistas situacionais, nao requerendo uma<br />

representayao convencional, senao apenas uma indica~ao que permita i<strong>de</strong>ntificar 0 objeto.<br />

Como afirma Lahud, na mesma rota <strong>de</strong> Frege:<br />

As circunstancias discursivas tomam-se urna parte cIaexpressao do<br />

sentido completo (...). 0 conhecimento <strong>da</strong>s circunstancias que acompanham<br />

as palavras torna-se, enmo, urna condi


Palavras como eu, voce, aqui, ali, hoje, ont<strong>em</strong>, aquilo etc. mu<strong>da</strong>m <strong>de</strong> referente <strong>em</strong> fun


Mas ja quando intenta <strong>de</strong>finir as diferentes especies <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis, 0 autor caminha <strong>em</strong> sentido<br />

oposto: <strong>da</strong> enunciayao para a forma. Levinson (1983) segue roteiro s<strong>em</strong>elhante, apenas<br />

enriquecendo, com observayoes pertinentes, a c1assificayao basica <strong>de</strong> Fillmore. Lyons opta,<br />

/1<br />

por<strong>em</strong>, pela primeira abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>, como se percebe pel a <strong>de</strong>finiyao a seguir:<br />

a loealizal;ao e i<strong>de</strong>ntifieal;ao <strong>de</strong> pessoas, objetos, eventos, proeessos e<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sendo meneiona<strong>da</strong>s, ou referi<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> relal;ao ao eontexto espaciot<strong>em</strong>poral<br />

eriado e mantido pelo ato <strong>de</strong> fala, e a partieipal;ao, nele,<br />

tipieamente, <strong>de</strong> um linieo falante e <strong>de</strong> pelo menos um <strong>de</strong>stinatario (Lyons,<br />

1977:637).<br />

Assim tamb<strong>em</strong> se conduz<strong>em</strong> as pesquisas <strong>de</strong> Benveniste (1988), a cujas i<strong>de</strong>ias Lahud<br />

(1979) termina a<strong>de</strong>rindo 14 , e, sobretudo, 0 trabalho pioneiro <strong>de</strong> Buhler (1982).<br />

S<strong>em</strong> duvi<strong>da</strong> que os dois modos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rayao do fenomeno sac cont<strong>em</strong>plados neste<br />

trabalho, entretanto nossos propositos, uma vez recaindo sobre 0 comportamento <strong>da</strong>s expressoes<br />

contendo <strong>de</strong>iticos, pen<strong>de</strong>m para a segun<strong>da</strong> maneira <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r 0 t<strong>em</strong>a. Nao estamos operando<br />

reformulayoes sobre a nOyao <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis, e sim, investigando por que formas se expressa a <strong>de</strong>ixis<br />

discursiva <strong>em</strong> lingua portuguesa; 0 que motiva 0 <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> uma forma <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong><br />

outra; que consequencias as relayoes morfoss<strong>em</strong>anticas traz<strong>em</strong> para 0 movimento r<strong>em</strong>issivo <strong>da</strong>s<br />

expressoes indiciais e como isso repercute nos modos <strong>de</strong> referenciayao e nas manifestayoes <strong>de</strong><br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> no discurso.<br />

Falar sobre 0 modo como a ancorag<strong>em</strong> socio-espacio-t<strong>em</strong>poral motiva a forma <strong>de</strong>itica e<br />

situar 0 ponto <strong>de</strong> referencia do enunciador no centro <strong>de</strong>sse sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s; e admitir 0<br />

fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> na pratica <strong>da</strong> lingua.<br />

A refen3ncia ao sujeito <strong>da</strong> enunciayao alicerya todo 0 pensamento <strong>de</strong> Benveniste, para<br />

qu<strong>em</strong> a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> psiquica que mant<strong>em</strong> permanente a consciencia. E eIa que<br />

faz <strong>em</strong>ergir, no hom<strong>em</strong>, a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, e, por sua vez, e a linguag<strong>em</strong> que<br />

<strong>de</strong>termina a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> pela instancia Iinguistica <strong>da</strong> categoria <strong>de</strong> pessoa. Esse jogo dialetico<br />

firma, assim, a base lingiiistica <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

14 Lahud 0 diz textua1mente: "A teoria <strong>de</strong> Benveniste parece-nos, pois, a mais representativa do 'ponto <strong>de</strong> vista'<br />

sobre a <strong>de</strong>ixis que aqui tentamos apreen<strong>de</strong>r..." (Lahud, 1979:115)


Conceber a linguag<strong>em</strong> como mero instrumento <strong>de</strong> comunicayao e estar dissociando,<br />

tacitamente, 0 hom<strong>em</strong> <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> do discurso. Mais do que urn simples veiculo, ela esta na<br />

propria natureza humana. Se the compete a funyao <strong>de</strong> transportar conteudos, e somente porque a<br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> que esta completamente imbui<strong>da</strong>, capacita-a para tanto l5 . Declara Benveniste<br />

que "e na linguag<strong>em</strong> e pela linguag<strong>em</strong> que 0 hom<strong>em</strong> se constitui como sujeito; porque s6 a<br />

linguag<strong>em</strong> fun<strong>da</strong>menta na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, na sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que e a do ser, 0 conceito <strong>de</strong> "ego".<br />

Subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e linguag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>sse modo, se interpenetram nas trocas comunicativas<br />

institui<strong>da</strong>s pelas relayoes interpessoais, <strong>da</strong>i a importancia <strong>da</strong> nOyao <strong>de</strong> pessoa na tese <strong>de</strong><br />

Benveniste. So experimentando 0 contraste com 0 outro e que 0 hom<strong>em</strong> passa a ter consciencia<br />

<strong>de</strong> si mesmo. Quando 0 enunciador se propoe como sujeito, referindo-se a si mesmo como eu<br />

no discurso, ele, ao mesmo t<strong>em</strong>po, estabelece urn tu, com qu<strong>em</strong> mantera uma relayao <strong>de</strong><br />

reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essa polari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas e a condiyao fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, como<br />

Benveniste ratifica <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>:<br />

A linguag<strong>em</strong> e, pois, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, pelo fato <strong>de</strong><br />

conter s<strong>em</strong>pre as fonnas lingliisticas apropria<strong>da</strong>s a sua ex-pressao; e 0<br />

discurso provoca a <strong>em</strong>ergencia <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, pelo fato <strong>de</strong> consistir <strong>de</strong><br />

instancias discretas. A linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> algum modo prop6e formas "vazias" <strong>da</strong>s<br />

quais ca<strong>da</strong> locutor <strong>em</strong> exercicio <strong>de</strong> discurso se apropria e as quais refere a sua<br />

"pessoa", <strong>de</strong>finindo-se ao mesmo t<strong>em</strong>po a si mesmo como eu e a urn parceiro<br />

como tu. (Benveniste, 1988:289)<br />

15 Esta id6ia condiz, parcialmente, com 0 dialogismo <strong>de</strong> Bakhtin, mas <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> enfocar os condicionamentos<br />

s6cio-i<strong>de</strong>ol6gicos que norteiam 0 ponto <strong>de</strong> vista do autor, claramente expresso no seguinte excerto: "A lingua<br />

existe nao por si mesma, mas somente <strong>em</strong> conjun


As formas "vazias" (!)16 <strong>de</strong> que fala 0 autor sao precisamente os <strong>de</strong>iticos pessoais J7 ,<br />

representados pelas duas primeiras pessoas. De fato, vistas sob 0 principio <strong>da</strong> comunica


comum: 0 <strong>de</strong> apresentar urn objeto <strong>de</strong> fala, somente as duas primeiras po<strong>de</strong>m tomar <strong>da</strong> palavra e<br />

se tornar<strong>em</strong> <strong>em</strong>issoras, exercendo, assim, urn "papel ativo" na comunicayao; a terceira nao<br />

po<strong>de</strong>. Leia-se, por<strong>em</strong>, nesse "papel passivo comum", <strong>de</strong> que fala Cervoni (1989), uma analise<br />

<strong>da</strong> funyao estritamente referencial dos pronomes. Examinando somente par esse angulo <strong>de</strong><br />

referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se, corn efeito, superestimar 0 valor <strong>da</strong> terceira pessoa, utilizando 0<br />

mesmo argumento do autor <strong>de</strong> que, sendo a categoria <strong>de</strong> pessoa 0 suporte necessario a to<strong>da</strong><br />

predicayao, a terceira serviria <strong>de</strong> base para todos os nomes 19 . Cervoni (1989) ape1a para uma<br />

hipotese <strong>da</strong> psicomecanica <strong>de</strong> que qualquer fen6meno exige urn ponto fixo, <strong>de</strong> natureza<br />

espacial, urn ele, abstrato ao extr<strong>em</strong>o, como suporte minimo para todos os acontecimentos.<br />

Essa "pessoa <strong>de</strong> universo" seria tao fun<strong>da</strong>mental que qualquer outra pessoa so existiria ern<br />

substituiyao a ela.<br />

Veja-se que, por esse mew, a analise se inverteria, ja que tal visao esvaZIana a<br />

pessoali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> condiyao natural que a institui: a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Urn po<strong>de</strong>r tao ilimitado assim,<br />

cedido it terceir~ pessoa, <strong>da</strong>ria uma abrangSncia irrestrita it categoria dos dSiticos, <strong>da</strong>i por que<br />

Cervoni (1989) recua ante 0 risco e endossa a tese <strong>de</strong> Benveniste (1988).<br />

Efetivamente, na<strong>da</strong> justifica incluir 0 ele na mesma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> funcional dos outros dois,<br />

como 0 faz Levinson, muito <strong>em</strong>bora admita que compete aos dSiticos pessoais 0 papel <strong>de</strong><br />

assegurar a propria troca lingtiistica. Afirma 0 autor:<br />

A <strong>de</strong>ixis <strong>de</strong> pessoa diz respeito a codifica


A nOyao <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> aqui sustenta<strong>da</strong> nao comparte <strong>da</strong> mesma visao <strong>de</strong> sujeito<br />

"assujeitado" enalteci<strong>da</strong> pela corrente <strong>da</strong> analise do discurso com inspirayao <strong>em</strong> Althusser,<br />

Foucault e Lacan. A tese <strong>de</strong> que a i<strong>de</strong>ologia interpela os individuos <strong>em</strong> sujeitos, ou <strong>de</strong> que 0<br />

sujeito e a categoria constitutiva <strong>de</strong> to<strong>da</strong> i<strong>de</strong>ologia, tern fun<strong>da</strong>mentado as propostas <strong>de</strong> Pecheux<br />

e, <strong>de</strong> algum modo, <strong>de</strong> analistas do discurso, como Maingueneau, Orlandi e outros.<br />

Afirma-se que a "forma-sujeito" (introduzi<strong>da</strong> por Althusser, apud Pecheux, 1995) e a<br />

forma <strong>de</strong> existencia historica <strong>de</strong> qualquer individuo, aquele que age nas prMicas sociais. A<br />

subordinayao (assujeitamento) do sujeito ao Outro, mas <strong>de</strong> modo autonomo, se <strong>da</strong>ria por urn<br />

processo natural e socio-historico, pelo estabelecimento do interdiscurso como real, Nas<br />

palavras <strong>de</strong> Pecheux:<br />

Somos, assim, levados a exammar as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s discursivas <strong>da</strong><br />

forma-sujeito, do "Ego-imagirulrio", como "sujeito do discurso". Ja<br />

observamos que 0 sujeito se constitui pelo "esquecimento" <strong>da</strong>quilo que 0<br />

<strong>de</strong>termina. Po<strong>de</strong>mos, agora, precisar que a interpela


formayoes i<strong>de</strong>ol6gicas constituam processos <strong>de</strong> comunicayao implicitos influenciando as<br />

pniticas discursivas. S6 nao aceitamos 0 <strong>de</strong>terminismo (<strong>em</strong>bora negado pelos analistas do<br />

discurso) que parece subjugar 0 sujeito <strong>da</strong> enunciavao a sua formayao i<strong>de</strong>ol6gica,<br />

caracterizando, consequent<strong>em</strong>ente, 0 discurso (chamado <strong>de</strong> "formavao discursiva") segundo<br />

<strong>de</strong>terminayoes exteriores. Tomamos, com efeito, 0 texto como objeto <strong>em</strong>pirico, mas s<strong>em</strong>pre<br />

indissociavel <strong>de</strong> seu contexto <strong>de</strong> uso, que inclui suas condiyoes <strong>de</strong> produyao. A diferenva e que<br />

nao enfocamos os aspectos institucionais, s6cio-hist6ricos, e valorizamos a ac;ao dos sujeitos na<br />

construyao <strong>de</strong> seu discurso, 0 qual tamb<strong>em</strong> contribui para a criayao do contexto. Por essa razao,<br />

continuamos a atribuir imporHincia as marcas <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> entranha<strong>da</strong>s no texto, nao as<br />

concebendo como mero reflexo <strong>da</strong> centrali<strong>da</strong><strong>de</strong> do sujeito na enunciayao, mas vendo-as como<br />

sinais <strong>da</strong> realizavao <strong>de</strong> outro tipo <strong>de</strong> intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, aquela que se <strong>da</strong> entre 0 falante, 0<br />

discurso e 0 contexto <strong>de</strong> criayao.<br />

E privilegiando esse inter-relacionamento que tamb<strong>em</strong> Lyons (1982), numa critic a a<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> subjetiva <strong>da</strong> 1inguag<strong>em</strong> esbova<strong>da</strong> por Benveniste (1988), por Buhler (1982), e<br />

diriamos ate que por e1e pr6prio <strong>em</strong> posic;oes anteriores, <strong>de</strong>nuncia a interpretayao positivista <strong>da</strong><br />

oposiyao entre subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que, por muito t<strong>em</strong>po, orientou 1inguistas e<br />

fi16sofos <strong>da</strong> 1inguag<strong>em</strong>.<br />

o carater subjetivo, sustenta 0 autor, nao po<strong>de</strong> reduzir-se a simples questao <strong>da</strong><br />

indicia1i<strong>da</strong><strong>de</strong>, n<strong>em</strong>, tao-somente, <strong>de</strong>ve referir -se ao modo como as linguas naturais expressam as<br />

atitu<strong>de</strong>s e crenyas do sujeito <strong>da</strong> enunciavao. Concor<strong>da</strong>ndo, parcial mente, com Benveniste<br />

(1988), Lyons (1982) reafirma que a 1inguag<strong>em</strong> nao e puramente um instrumento para a<br />

expressao do pensamento proposicional, e que 0 significado linguistico nao se totaliza na<br />

representayao simb61ica, objetiva. A estrutura e 0 uso <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> pressupo<strong>em</strong>, a um s6<br />

t<strong>em</strong>po, um componente subjetivo (por meio do qual 0 falante expressa a si mesmo) e um<br />

componente objetivo (abrangendo um conjunto <strong>de</strong> proposiyoes comunicaveis).<br />

Mas Lyons (1982) diverge <strong>de</strong> Benveniste (1988) num ponto crucial: 0 do continuum<br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>-objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> nas linguas naturais. Ora <strong>de</strong>c1ara<strong>da</strong>mente presente, como nas marcas<br />

<strong>de</strong> indiciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ora sutilmente disfarvado, 0 subjetivo se entranha na lingua, que <strong>de</strong>le se nutre,<br />

numa especie <strong>de</strong> processo simbi6tico. Assim adverte 0 autor:<br />

po<strong>de</strong>-se argiiir plausivelmente, primeiro, que a distiw;ao entre 0 subjetivo e 0<br />

objetivo e gradual, e roo absoluta, e, segundo, que 0 que e aqui <strong>de</strong>scrito como<br />

objetivo e, <strong>em</strong> orig<strong>em</strong>, intersubjetivo, <strong>de</strong> modo que a linguag<strong>em</strong> esti muito<br />

mais profun<strong>da</strong>mente imbui<strong>da</strong> <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do que estou supondo. (Lyons,<br />

1982:105 - grifo nosso)


As linguas po<strong>de</strong>m variar quanta ao grau <strong>de</strong> objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que elas imp6<strong>em</strong> ou permit<strong>em</strong><br />

aos usuarios, e ha muito mais valores <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> implicitados nos enunciados <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

linguas do que 0 que se inscreve nas marcas <strong>de</strong> indiciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, principalmente quando se avalia 0<br />

complexo intricamento entre <strong>de</strong>ixis e mo<strong>da</strong>lizayao do discurso.<br />

Enten<strong>da</strong>-se, <strong>de</strong> tudo isto, que a "pnitica intersubjetiva" <strong>da</strong>s trocas comunicativas (entre eu<br />

e IU), <strong>de</strong> que fala Benveniste (1988), nao e exatamente 0 que se <strong>de</strong>fine como "relayao<br />

intersubjetiva" entre 0 hom<strong>em</strong> e a linguag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> Lyons. Explica 0 autor:<br />

Dev<strong>em</strong>os tamb<strong>em</strong> buscar <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a tese do subjetivismo<br />

ilocucionano a partir do ponto <strong>de</strong> vista do existencialismo ou do<br />

estruturalismo fenomeno16gico (que tern muito <strong>em</strong> comum), argiiindo que a<br />

individuo esti <strong>em</strong> um re1acionamento variave1 e dialetico com a mundo <strong>em</strong><br />

que habita; que a eu pensante ou percebedor, ou sujeito, toma-se assim um<br />

agente ilocucionano, como uma consequencia <strong>de</strong> seu ser, potencialmente por<br />

dota


planejar a soluyao <strong>de</strong> urn probl<strong>em</strong>a. Na fala comunicativa, a cnanya tentaria estabelecer<br />

comunicayao corn os outros.<br />

Constituindo urn esta,gio transitorio, a fala egocentrica evoluiria "socialmente" para a<br />

fala interior, momento crucial ern que a linguag<strong>em</strong> comeyaria a servir ao intelecto, e os<br />

pensamentos passariam a ser verbalizados. A crianya <strong>de</strong>scobriria, nessa fase, a funyao simbolica<br />

<strong>da</strong>s palavras, e a linguag<strong>em</strong> se tornaria racional. Quando a fala interior se formasse, as<br />

estruturas domina<strong>da</strong>s pela crianya se tornariam a propria base do pensamento. A partir <strong>da</strong>i, 0<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do pensamento passaria a ser <strong>de</strong>terminado pela linguag<strong>em</strong>, pelos instrumentos<br />

lingiiisticos do pensamento e pela experiencia socio-cultural <strong>da</strong> crianya.<br />

Estes pensamentos repercut<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> hoje, mas corn reformulayoes profun<strong>da</strong>s e diversas<br />

(ver, porex<strong>em</strong>plo, Albano, 1990). Menyao especial seja feita a tese <strong>de</strong> Mon<strong>da</strong><strong>da</strong>; Dubois<br />

(1995), pela qual se orienta esta pesquisa, <strong>de</strong> que n<strong>em</strong> mesmo os objetos do mundo<br />

extralingiiistico saD categorizados <strong>de</strong> forma i<strong>de</strong>ntica pelos sist<strong>em</strong>as cognitivos humanos.<br />

Conforme mostrar<strong>em</strong>os no capitulo 2, as categorizayoes naturais ou sociais mu<strong>da</strong>m na mesma<br />

proporyao ern que variam as perspectivas pelas quais urn el<strong>em</strong>ento ou urn fato e i<strong>de</strong>ntificado.<br />

Ern trabalho anterior, ern que ja pretendia <strong>de</strong>screver como se organiza a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

enunciativa, Mon<strong>da</strong><strong>da</strong> (1994) fun<strong>da</strong>menta seu estudo justamente nessa intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que<br />

faz permanente a reconstruyao do discurso e dos "objetos <strong>de</strong> discurso" que processam a<br />

vamos analisar mais os tra


progressivamente na dinfunica discursiva. Dito <strong>de</strong> outro modo: 0 objeto <strong>de</strong><br />

discurso nao leva it verbaliza9ao <strong>de</strong> urn objeto autonomo e exi<strong>em</strong>o ao<br />

discurso; ele nao e urn "referente" que tena sido codificado lingiiisticamente.<br />

(Mon<strong>da</strong><strong>da</strong>, 1994:62)<br />

Embora estejamos usando como pressuposto esse mesmo conceito <strong>de</strong> referencia<br />

<strong>em</strong>ban<strong>de</strong>irado par Mon<strong>da</strong><strong>da</strong> e outros, nao achamos necessaria substituir termos classicos como<br />

referente (e referencia) par "objeto <strong>de</strong> discurso" (e "referenciayao"). Empregar<strong>em</strong>os<br />

indistintamente urn au outro, <strong>de</strong>ixando claro, por<strong>em</strong>., <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ja, a alicerce te6rico que as<br />

estabe1ece.<br />

Existe uma base comum para as categorias com que se constr6i a comunicayao, mas, a<br />

todo instante, as interlocutores passam <strong>de</strong>sse eixo central para diversos pontos perifericos, <strong>de</strong><br />

acordo com as mu<strong>da</strong>nyas <strong>de</strong> contexto, au com as prop6sitos argumentativos.<br />

o mesmo comportamento variavel se observa - e com maior razao - nas categorias<br />

lingLiisticas. As formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>signayao sao negocia<strong>da</strong>s pelos interlocutores a todo momenta no<br />

discurso, atraves <strong>de</strong> transformayoes, correyoes e ratificayoes. Eis par que a processo <strong>de</strong> se<br />

referir ao mundo atraves <strong>da</strong> lingua (par meio <strong>de</strong> expressoes referenciais indiciais) e vista, neste<br />

trabalho, como resultante <strong>de</strong> praticas simb6licas intersubjetivas.<br />

Par esse amparo te6rico, enten<strong>de</strong>mos como fort<strong>em</strong>ente intersubjetivo a relacionamento<br />

entre os sujeitos do discurso e a nOyaO<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis, viabiliza<strong>da</strong> na lingua pela categoria <strong>de</strong> pessoa.<br />

Diss<strong>em</strong>os que, par se referir<strong>em</strong> a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do discurso, as duas primeiras pes soas se <strong>de</strong>sgarram<br />

<strong>da</strong> terceira para constituir e orientar, como el<strong>em</strong>entos fun<strong>da</strong>mentais, uma outra classe <strong>de</strong> signos<br />

ados <strong>de</strong>iticos.<br />

A analise <strong>de</strong> Benveniste (1988) trata as pronomes ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente pessoals como<br />

"indicadores <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>"; a termo <strong>de</strong>iticos e reservado aos pronomes <strong>de</strong> valor<br />

<strong>de</strong>monstrativo e circunstancial, que mensuram as nOyoes <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>/distancia no t<strong>em</strong>po e<br />

no espayo a partir <strong>da</strong> instancia discursiva que cont<strong>em</strong> eu, explicitamente au nao. Tamb<strong>em</strong><br />

indicam subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> as t<strong>em</strong>pos verbais, pautados que sao pelos t<strong>em</strong>pos do discurso; contudo<br />

nao sao alvo <strong>de</strong> nosso interesse.<br />

Os <strong>de</strong>iticos representados par tais pronomes se <strong>de</strong>ixam gular pelos indicadores <strong>de</strong><br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (au <strong>de</strong> pessoali<strong>da</strong><strong>de</strong>), mas se <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> par urn trayo bastante peculiar, ausente


na categoria <strong>de</strong> pessoa: sao tamb<strong>em</strong> indicadores <strong>de</strong> ostensao, fixam fronteiras espaclals e<br />

t<strong>em</strong>porais segundo 0 posicionamento do eu no momento do ato comunicativo.<br />

Nao obstante a escolha terminol6gica - que nao adotar<strong>em</strong>os, pois induimos os pessoais<br />

tamb<strong>em</strong> entre os dSiticos, Benveniste (1988) assevera, com proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que 0 trayo essencial<br />

que caracteriza todo um grupo <strong>de</strong> signos dSiticos e a relayao entre 0 indicador (quer seja <strong>de</strong><br />

pessoa, t<strong>em</strong>po ou lugar) e a presente instancia <strong>de</strong> discurso. Isso e 0 que, <strong>de</strong> resto, <strong>de</strong>fine a dSixis.<br />

Assim, estando <strong>de</strong>sprovi<strong>da</strong> <strong>da</strong> condiyao <strong>de</strong> pessoali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a terceira<br />

pessoa gramatical <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha, no discurso, uma funyao <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente representativa. Nao<br />

lhe compete promover 0 elo entre 0 enunciado e a enunciayao, mas representar um outro<br />

segmento construido a partir do mesmo contexto discursivo, a que muitas vezes se t<strong>em</strong> chamado<br />

<strong>de</strong> "antece<strong>de</strong>nte". Eis por que, Lahud refina as proposiyoes <strong>de</strong> Benveniste (1988) ao associar 0<br />

ele a dimensao s<strong>em</strong>antica <strong>da</strong> "representayao anaf6rica":<br />

o ele nao e pessoal na exata medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que e anaforico; ou, que a<br />

dispari<strong>da</strong><strong>de</strong> entre eu/tu e ele, sobre a qual tanto insistimos, correspon<strong>de</strong> ao<br />

fato que ele "representa", ao passo que eu/tu sao signos <strong>de</strong> uma "rela«ao ao<br />

ato <strong>de</strong> fala". (Lalmd, 1979:118)<br />

Desse modo, <strong>em</strong> Benveniste (1988), a mesma linha <strong>de</strong>marcat6ria que separa os pronomes<br />

realmente pessoais eu/tll do pronome nao-pessoal ele tamb<strong>em</strong> divi<strong>de</strong>, respectivamente, os<br />

dSiticos e os anaf6ricos. Enquanto os dSiticos, organizados a partir dos indicadores <strong>de</strong><br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (eu e tu) refer<strong>em</strong> a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> enunciativa, os anaf6ricos (representados por ele)<br />

nao indicam pessoa e nao participam, portanto, do componente subjetivo <strong>da</strong> lingua, uma vez<br />

que seu papel e outro: 0 <strong>de</strong> promover um elo referen<strong>da</strong>l entre dois termos <strong>em</strong> algum sentido<br />

presentes no contexto do discurso.<br />

Vista sob 0 plano <strong>da</strong> pessoali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a separayao entre as classes <strong>de</strong> dSiticos e anaf6ricos ate<br />

pareceria bastante niti<strong>da</strong>, to<strong>da</strong>via n<strong>em</strong> mesmo na <strong>de</strong>scriyao <strong>de</strong> Benveniste (1988) a fronteira esta<br />

b<strong>em</strong> <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>. Uma vez que, para 0 autor, a nao-pessoa e 0 unico modo <strong>de</strong> uma instancia <strong>de</strong><br />

discurso nao r<strong>em</strong>eter a si pr6pria, entao, por uma questao <strong>de</strong> coerSncia, 0 que ele trata como<br />

<strong>de</strong>iticos (ou seja, pronomes <strong>de</strong>monstrativos e circunstanciais) tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve inserir-se no grupo<br />

<strong>de</strong> "terceira pessoa". E e exatamente isto que <strong>de</strong>clara 0 autor:


Assim, na classe formal do pronomes, os chamados <strong>de</strong> "terceira<br />

pessoa" sac inteiramente diferentes <strong>de</strong> eu e tu, pela sua fun~ao e pela sua<br />

natureza. Como ja se viu ha muito t<strong>em</strong>po, as formas como ele, 0, isso etc. s6<br />

serv<strong>em</strong> na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> substitutos abreviativos (Benveniste, 1988:282 -<br />

negrito nosso)<br />

circunstanciais, ao mesmo t<strong>em</strong>po que se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> com base nos indicadores <strong>de</strong> pessoali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(pela relayao com eu e tu), pertenc<strong>em</strong> igualmente it categoria <strong>da</strong> nao-pessoa (s<strong>em</strong>pre concebi<strong>da</strong><br />

pelo autor como "nao-subjetiva") e, como tais, estao aptos a r<strong>em</strong>eter it reali<strong>da</strong><strong>de</strong> objetiva.<br />

Assim, a "mesma mao" que os expurga do conjunto dos pessoais e tamb<strong>em</strong> a que os traz <strong>de</strong><br />

volta it condiyao <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Leia-se no pr6prio autor:<br />

Os pronomes pessoais sac 0 primeiro ponto <strong>de</strong> apoio para essa<br />

revela~ao <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> na linguag<strong>em</strong>. Desses pronomes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m por<br />

sua vez outras classes <strong>de</strong> pronomes, que participam do mesmo status. Sao os<br />

indicadores <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis, <strong>de</strong>monstrativos, adverbios, adjetivos, que organizam<br />

as rela~5es espaciais e t<strong>em</strong>porais <strong>em</strong> tomo do "sujeito" tomado como ponto<br />

<strong>de</strong> referencia: "isto, aqui, agora" e suas numerosas correla~5es "isso, ont<strong>em</strong>,<br />

no ano passado, amanha" etc. Tern <strong>em</strong> comum 0 tra~o <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir<strong>em</strong><br />

somente com rela~ao a instancia <strong>de</strong> discurso na qual san produzidos, isto<br />

e, sob a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia do eu que ai se enuncia. (Benveniste, 1988:288 -<br />

negrito nosso)<br />

Lahud (1979) compreen<strong>de</strong>u muito b<strong>em</strong> a dispari<strong>da</strong><strong>de</strong> entre as duas perspectivas possiveis<br />

para a caracterizayao <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis. Se, <strong>de</strong> urn lado, os <strong>de</strong>iticos sac el<strong>em</strong>entos que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> it<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva, <strong>de</strong> outro, tern a mesma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> representativa <strong>de</strong> qualquer anaf6rico.<br />

Tendo <strong>em</strong> vista apenas a dimensao referencial do signo, <strong>de</strong>iticos e anaf6ricos po<strong>de</strong>riam<br />

caber perfeitamente num tinico grupo s<strong>em</strong>antico: aquele que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha a funyao <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar<br />

uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong>. No fundo, seriam todos "indicadores <strong>de</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>" (Benveniste, 1988). A<br />

diferenya seria apenas uma questao <strong>de</strong> grau 21 : enquanto 0 <strong>de</strong>itico mostra 0 el<strong>em</strong>ento numa<br />

situayao real <strong>de</strong> comunicayao, 0 anaf6rico 0 l<strong>em</strong>bra, ou representa-o, associando-o a urn<br />

contexto ja enunciado. Eis 0 que diz 0 autor:<br />

... na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> a assirnila~o <strong>da</strong> no~ao <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis a probl<strong>em</strong>atica <strong>da</strong><br />

referencia faz <strong>da</strong> separa~ao dos dois grupos <strong>de</strong> signos <strong>em</strong> quesllio uma<br />

simples diferen~a <strong>de</strong> grau, e nao <strong>de</strong> natureza. Mais precisamente, a partir<br />

do momento <strong>em</strong> que se conceb<strong>em</strong> os <strong>de</strong>iticos como indicadores referenciais,<br />

atribui-se a mesma fun~iio aos anaf6ricos, 0 iinico aspecto <strong>de</strong>terminando<br />

sua diferencia~iio sendo constituido pelas condir;oes <strong>de</strong> realizar;iio <strong>de</strong>ssa<br />

21 Lalmd (1979) toma, aqui, 0 argumento <strong>de</strong> Bally (apud Lahud, 1979), para qu<strong>em</strong> representar uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

realizar uma "atualiza~ao <strong>de</strong> segundo grau".


fUllI;ao comum: (...) num caso e a situa


<strong>de</strong>clara explicitamente que as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s formais <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis sao <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acordo com<br />

certos "aspectos" do ato comunicativo, isto e, <strong>de</strong> acordo com 0 que aparece, indistintamente,<br />

nos manuais <strong>de</strong> lingiiistica geral, como "coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s <strong>de</strong>iticas".<br />

Nossa proposta e que as diferentes especies <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis nao <strong>de</strong>v<strong>em</strong> figurar num mesmo<br />

plano uniforme, por pelo menos duas raz5es: pelo modo como os el<strong>em</strong>entos se refer<strong>em</strong> ao<br />

objeto discursivo, e ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> fun9ao <strong>de</strong> como r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> ao proprio sujeito.<br />

Dne-as 0 fato <strong>de</strong> se organizar<strong>em</strong> <strong>de</strong> modo egocentrico no discurso, evi<strong>de</strong>nciando a rela9ao<br />

intersubjetiva entre os sujeitos e a linguag<strong>em</strong>. To<strong>da</strong>via, assim como nao hit homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> na<br />

categoria <strong>de</strong> pessoa, tamb<strong>em</strong> nao hci entre os <strong>de</strong>iticos diversos, a come9ar pela circunstancia <strong>de</strong><br />

que somente os pronomes <strong>de</strong> primeira e segun<strong>da</strong> pessoa sao auto-referenciais, isto e, so eles<br />

retomam 0 proprio sujeito <strong>da</strong> enuncia9ao a ca<strong>da</strong> vez.<br />

A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> representar segmentos discursivos extensos, tendo por ponto <strong>de</strong><br />

referencia 0 momenta <strong>da</strong> enuncia9ao e outra singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> propria <strong>de</strong> apenas urn tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>itico.<br />

Nao se referir ao espa90 e ao t<strong>em</strong>po <strong>da</strong> situa9ao real, e sim, aos lugares do discurso, e a linha<br />

que separa os <strong>de</strong>iticos discursivos dos <strong>de</strong>mais.<br />

o que segue abaixo visa nao meramente a uma breve <strong>de</strong>scri9ao dos <strong>de</strong>iticos, mas,<br />

principal mente, ao fortalecimento <strong>de</strong> dois pontos <strong>de</strong> vista:<br />

a) <strong>de</strong> que os tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis nao apresentam 0 mesmo status;<br />

b) <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>ixis discursiva pressup5e, <strong>em</strong> alguns casos, 0 referencial do sujeito (e, se<br />

nao 0 faz <strong>em</strong> outros casos, ain<strong>da</strong> assim, nao <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> criar elos com os participantes <strong>da</strong><br />

comunica9ao, 0 que the assegura, por legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, 0 direito <strong>de</strong> pertencer, tanto quanta<br />

as outras especies, ao quadro <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis <strong>em</strong> geral).<br />

No que respeita a rela9ao com os outros <strong>de</strong>iticos, os pronomes pessoais serv<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

parametro para a <strong>de</strong>scri9ao <strong>de</strong> pronomes <strong>de</strong>monstrativos e circunstanciais (este, aqui, agora etc.<br />

- "proximos aquele que fala"; esse, ai etc. - "proximos aquele com qu<strong>em</strong> se fala"). Ate a<br />

terceira pessoa gramatical (aquila, ali etc.) consi<strong>de</strong>ra 0 tra90 <strong>de</strong> distancia (ou <strong>de</strong> nega9ao <strong>da</strong><br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>), mas s<strong>em</strong>pre medido pela posi9ao do par eu-tu. Formalmente, a maioria dos<br />

<strong>de</strong>iticos nao-pessoais, apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar<strong>em</strong> a concor<strong>da</strong>ncia <strong>em</strong> terceira pessoa, sao<br />

<strong>de</strong>limitados <strong>de</strong> acordo com os participantes do ato comunicativo e com 0 tra90 <strong>de</strong> ostensao.


Outra particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> dos pronomes pessoais, conforme concluimos, <strong>em</strong> 1.2.1, compete<br />

ain<strong>da</strong> a sua transcen<strong>de</strong>ncia sobre os outros <strong>de</strong>iticos, por fazer<strong>em</strong> uma referencia direta e {mica<br />

aos sujeitos do discurso (0 que se reflete na concor<strong>da</strong>ncia verbal). Pronomes <strong>de</strong>monstrativos e<br />

circunstanciais apenas pressupo<strong>em</strong> os interlocutores <strong>em</strong> seu posicionamento espacial e t<strong>em</strong>poral<br />

(por isso receb<strong>em</strong> as flexoes <strong>de</strong> terceira pessoa); e como se 0 seu proposito comunicativo fosse,<br />

realmente, 0 local ou 0 momenta a ser<strong>em</strong> indicados, ficando os sujeitos <strong>da</strong> enunciac;ao apenas<br />

como pano <strong>de</strong> fundo. Coisa completamente distinta acontece com os <strong>de</strong>iticos pessoais.<br />

Por vezes, por<strong>em</strong>, esse trac;o subjetivo que alavanca os <strong>de</strong>iticos pessoais ao topo <strong>da</strong> escala<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong> parece relativizar-se <strong>em</strong> certos contextos. Alguns <strong>em</strong>pregos <strong>de</strong> eu, voce (ou,<br />

menos frequent<strong>em</strong>ente, tu), por ex<strong>em</strong>plo, revest<strong>em</strong>-se <strong>de</strong> aparente impessoali<strong>da</strong><strong>de</strong> quando<br />

atuam como in<strong>de</strong>terminadores do sujeito, como na situac;ao a seguir:<br />

(1) "... e como bicicleta CAl. .. viu? .. se voce come


A gran<strong>de</strong> prova <strong>da</strong> referencia generica do eu, neste ex<strong>em</strong>plo, e a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

permuta, s<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s prejuizos, com 0 in<strong>de</strong>terminador por excelencia: 0 <strong>de</strong> terceira pes soa do<br />

singular seguido do se. Note-se que, muitas vezes, como no ex<strong>em</strong>plo acima, a escolha <strong>de</strong> voce<br />

ou <strong>de</strong> eu nao espelha a referencia <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> ao receptor ou ao <strong>em</strong>issor, respectivamente. E<br />

como se 0 falante propusesse ao ouvinte imaginar-se numa situac;ao hipotetica, suscetivel <strong>de</strong><br />

ocorrer com qualquer urn (Cavalcante, 1997a). 0 que e tratado, as vezes, como reduc;ao ou<br />

abran<strong>da</strong>mento do carater subjetivo, <strong>da</strong>do 0 recurso gramatical <strong>da</strong> in<strong>de</strong>terminac;ao do sujeito<br />

sintatico-s<strong>em</strong>antico, e, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma estrategia eficiente <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>lizac;ao do discurso, e a<br />

mo<strong>da</strong>lizayao e a propria manifestac;ao <strong>da</strong> presenc;a do sujeito no enunciado.<br />

Tamb<strong>em</strong> nao nos parece apropriado falar <strong>de</strong> uma possivel reduc;ao <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do eu<br />

s<strong>em</strong>pre que se <strong>de</strong>seje privilegiar 0 conjunto <strong>de</strong> atributos sociais impregnados no pronome.<br />

Cervoni (1989) l<strong>em</strong>bra 0 eu do poeta lirico, que r<strong>em</strong>ete, antes, a seu estatuto social; e 0 eu do<br />

jornalista ou do critico <strong>de</strong> arte, que "nao tern como efeito conferir urn carater <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente<br />

pessoal e subjetivo aos julgamentos <strong>em</strong>itidos, mas sim, ao contnirio, visa <strong>da</strong>r-Ihes peso por<br />

representar a posic;ao social do autor." (Cervoni, 1989: 45)<br />

Ora, mas nao sera justamente para <strong>da</strong>r saliencia a tudo 0 que representa esse eu, <strong>em</strong><br />

termos sociais, que 0 enunciador escolhe a marca por excelencia <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, como num<br />

convite ao <strong>de</strong>stinatario para que se veja no mesmo contexto criado? Preferimos, por isso, dizer<br />

que os pessoais sao selecionados, <strong>em</strong> situayoes como a <strong>de</strong> (2), acima, nao para impessoalizar os<br />

pronomes, ja subjetivos <strong>em</strong> essencia, mas, pelo contrario, para, sutilmente, por meio <strong>de</strong>les,<br />

injetar subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> num contexto normal mente impessoal, perfeitamente comutavel com urn<br />

in<strong>de</strong>terminador <strong>de</strong> 3' pessoa seguido <strong>de</strong> se.<br />

Dessa forma, quando se alega que as estruturas in<strong>de</strong>terminadoras marca<strong>da</strong>s com pronomes<br />

<strong>de</strong> primeira e segun<strong>da</strong> pes soa imprim<strong>em</strong> urn grau <strong>de</strong> generalizac;ao tao alto que caberia duvi<strong>da</strong>r<br />

<strong>de</strong> sua <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se contra-argumentar que a presenc;a do sujeito e tao marcante que,<br />

mesmo quando se imagina sua <strong>de</strong>bili<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal, ela entao irrompe com enorme po<strong>de</strong>r<br />

persuaslvo.<br />

Ja e possivel, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, compreen<strong>de</strong>r que exist<strong>em</strong> diferentes graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>, que<br />

influenciam diretamente 0 discurso, mas que por ele tamb<strong>em</strong> se <strong>de</strong>ixam graduar. Estritamente<br />

no caso dos <strong>de</strong>iticos pessoais, Fiorin (1996) menciona na<strong>da</strong> menos que vinte possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

neutralizayao <strong>de</strong> oposiyoes no interior <strong>da</strong> categoria <strong>de</strong> pessoa. Ate mesmo a forma <strong>de</strong> terceira<br />

pessoa po<strong>de</strong> subverter a norma e <strong>em</strong>pregar-se <strong>de</strong>iticamente com 0 valor <strong>de</strong> primeira ou <strong>de</strong><br />

segun<strong>da</strong>. Vejam-se alguns ex<strong>em</strong>plos fornecidos pelo autor:


(3) "0 Papa Joao Paulo II se <strong>de</strong>spediu ont<strong>em</strong> dos brasileiros,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma visita <strong>de</strong> <strong>de</strong>z dias a <strong>de</strong>z capitais (...):<br />

- 0 Papa leva no fundo do corayao 0 <strong>de</strong>sejo e a esperanya <strong>de</strong><br />

que a Nayao brasileira trilhe s<strong>em</strong>pre a sen<strong>da</strong> <strong>da</strong> valorizayao <strong>da</strong><br />

digni<strong>da</strong><strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> - disse." (Fiorin, 1996:85)<br />

Note-se 0 usa <strong>da</strong> terceira pessoa <strong>em</strong> negrito no lugar <strong>da</strong> primeira, num processo auto-<br />

referencial, urn recurso <strong>de</strong> que muitas vezes nos val<strong>em</strong>os, como <strong>em</strong> documentos oficiais:<br />

requerimentos, abaixo-assinados, e ate <strong>em</strong> certas situac;oes cotidianas do tipo:<br />

(4) "Filhinho, 0 papai nao quer que voce faya mais isso." (ver<br />

<strong>em</strong> Fiorin, 1996:86)<br />

Muito natural e tamb<strong>em</strong> 0 usa <strong>da</strong> terceira pessoa pela segun<strong>da</strong>, como nos seguintes<br />

ex<strong>em</strong>plos citados pelo autor:<br />

(5) "Era bilhete <strong>de</strong> Dona Esmeral<strong>da</strong>, com parab<strong>em</strong>s pelo que<br />

diziam <strong>de</strong> mim as gazetas. Tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong> Fonseca, que encontrei na<br />

rua <strong>de</strong>pois, recebi os cumprimentos:<br />

- Sim, senhor! 0 coronel an<strong>da</strong> por cima <strong>da</strong> carne-seca. Nao sai<br />

<strong>da</strong>s folhas." (Fiorin, 1996:87)<br />

Quando a in<strong>de</strong>terminayao ganha 0 reforyo <strong>da</strong> forma <strong>de</strong> plural na categoria <strong>de</strong> pessoa, os<br />

efeitos alcanc;ados sac ain<strong>da</strong> mais generalizantes. Ao <strong>em</strong>pregar urn <strong>de</strong>itico como a gente, 0<br />

falante migra do ambito pessoal para uma esfera aparent<strong>em</strong>ente impessoal, mas, a nosso ver,<br />

essencialmente subjetiva, porque nao <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> privilegiar 0 sujeito, envolvendo tamb<strong>em</strong> 0<br />

ouvinte, apesar <strong>de</strong> inc1uir outras nao-pessoas. Veja-se 0 ex<strong>em</strong>plo:<br />

(7) "... quer<strong>em</strong> <strong>da</strong>r projetos revolucionarios para educayao num<br />

pais que eu acho que voce podia pegar um predio velho ... reformar e<br />

manter ... 0 fator hist6rico ... 0 fatoL .. 0 fator ... educacional. .. investir 0<br />

t<strong>em</strong>po que ia gastar num novo projeta ... investir <strong>em</strong> professores ... <strong>em</strong><br />

educayao ... se investisse mais nesta parte... entao ja e um gran<strong>de</strong><br />

b<strong>em</strong> ... entao eu acho que tudo e economia ... tudo e dinheiro ... a<br />

gente nao po<strong>de</strong> atingil falar sobre 0 probl<strong>em</strong>a social se a gente nao/<br />

"ah:: ... 0 pais t<strong>em</strong>/ os velhos estao morrendo ... assim ... assim ..." esta<br />

morren<strong>da</strong> por que? muitos <strong>de</strong>les ficam <strong>em</strong> fila <strong>de</strong> aposentado ...<br />

por que fila <strong>de</strong> aposentado? pra ganhar 0 dinheiro ... e quanta ganha?<br />

e pouco ... e uma miseria ... entao se a gente for pensar <strong>em</strong> todos os<br />

casos ... a gente volta no economico ..." (F035 - exposiyao<br />

informal- NELFE)


A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> estar no plural, abrangendo outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a presen~a do eu e bastante<br />

perceptivel, tanto que, <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s situa~5es, 0 nos po<strong>de</strong> representar 0 singular, como na<br />

enuncia~ao <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Em portugues, hit urn revezamento entre a gente e nos na expressao do plural gramatical<br />

<strong>da</strong> primeira pessoa. Mas, como observa Benveniste, nos nao significa urn eu quantificado ou<br />

multiplicado, e sim, "urn eu dilatado al<strong>em</strong> <strong>da</strong> pessoa estrita, ao mesmo t<strong>em</strong>po acrescido e <strong>de</strong><br />

simultaneamente, a si proprio, ao ouvinte e a quaisquer outros individuos <strong>em</strong> situa~ao igual,<br />

pois 0 objetivo e pulverizar sua responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre uma opiniao apresenta<strong>da</strong>, e, sobretudo,<br />

insinuar que ela e compartilha<strong>da</strong> por todos. A sele~ao do <strong>de</strong>itico pessoal mo<strong>da</strong>liza 0 discurso, a<br />

urn so t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>scomprometendo 0 sujeito enunciador, por<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixando s<strong>em</strong>pre inscrita a sua<br />

subjetvi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Algo s<strong>em</strong>elhante ocorre com voce na mesma instancia <strong>de</strong> uso. Embora a forma<br />

pronominal seja <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> pessoa (<strong>de</strong>itica), 0 contexto discursivo faz ampliar a referencia<br />

generica, que passa a abranger tamb<strong>em</strong> 0 falante e muitos outros individuos.<br />

Tal amplia~ao ou centrifuga~ao <strong>da</strong> referencia permite, conseqiient<strong>em</strong>ente, dois <strong>em</strong>pregos<br />

opostos, mas nao contraditorios, como l<strong>em</strong>bra Benveniste:<br />

De urn 1ado, 0 "eu" se amplifica por meio <strong>de</strong> "nos" numa pessoa mais<br />

maciya, mais solene e menos <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>; e 0 "nos" <strong>de</strong> majesta<strong>de</strong>. De outro 1ado,<br />

o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> "nos" atenua a afmnayao muito marca<strong>da</strong> <strong>de</strong> "eu" nurna<br />

expressao mais amp1a e difusa: e 0 "nos" <strong>de</strong> autor ou <strong>de</strong> orador. (Benveniste,<br />

1988:258)<br />

Postas no plural, pnmelra e segun<strong>da</strong> pessoas fragment am, pOlS, sua "auto-<br />

referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>" com a retoma<strong>da</strong> <strong>de</strong> outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s nao-pessoais vagamente sugeri<strong>da</strong>s, 0 que<br />

reduz seu grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po que permite variados graus <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sao do sujeito<br />

ao enunciado produzido.<br />

A mo<strong>da</strong>liza~ao - ou engajamento do sujeito enunciador - <strong>de</strong>ixa marcas no enunciado, e os<br />

in<strong>de</strong>terminadores <strong>de</strong>iticos constitu<strong>em</strong> uma <strong>de</strong>las, ja que a <strong>de</strong>ixis e uma expressao <strong>de</strong><br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A segun<strong>da</strong> especie <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis diretamente <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> a partir do centro <strong>de</strong>itico do falante e a<br />

social. Como e funcionalmente menos produtiva, e como as formas que a codificam reflet<strong>em</strong><br />

relacionamentos sociais, mantidos pelos participantes <strong>da</strong> conversa~ao (Fillmore, 1971)24,<br />

24 Este trabalho, amp1amente divulgado durante mais <strong>de</strong> vinte anos, foi finalmente publicado <strong>em</strong> urn livro com<br />

rarissimos acrescimos <strong>em</strong> Fillmore, 1997,0 qual passamos a referir a partir <strong>de</strong> agora.


<strong>de</strong>cidimos coloca-Ia <strong>em</strong> segundo lugar na escala <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sao as re1ac;oes <strong>em</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(e nao a interac;ao linguistica <strong>em</strong> si mesma) que, ao condicionar a escolha dos niveis <strong>de</strong> maior<br />

ou menor formali<strong>da</strong><strong>de</strong>, fin<strong>da</strong>m por <strong>de</strong>terminar a selec;ao <strong>de</strong> titulos honorificos e outras<br />

expressoes <strong>de</strong> intimi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou <strong>de</strong> poli<strong>de</strong>z. Examinar<strong>em</strong>os, com mais cui<strong>da</strong>do, por<strong>em</strong>, somente a<br />

<strong>de</strong>ixis espacial e a t<strong>em</strong>poral, pela ligac;ao direta com as expressoes indiciais ora <strong>em</strong> estudo.<br />

Segundo Lyons (1977), uma lingua possui t<strong>em</strong>po quando alguma variac;ao sist<strong>em</strong>atica na<br />

estrutura <strong>da</strong>s sentenc;as re1aciona, obrigatoriamente, 0 momento <strong>da</strong> situac;ao <strong>de</strong>scrita com 0 <strong>da</strong><br />

enunciac;ao. Por esse prisma, 0 t<strong>em</strong>po e uma noc;ao s<strong>em</strong>antico-pragmatica, que faz parte <strong>de</strong> urn<br />

esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong>itico <strong>de</strong> referencia t<strong>em</strong>poral, e se inscreve no dominio <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

o t<strong>em</strong>po manifesta gramaticalmente - mas nao apenas pe1a flexao verbal, como levam a<br />

crer os compendios gramaticais - a relac;ao entre 0 instante do est ado <strong>de</strong> coisas <strong>de</strong>scrito e 0<br />

momento <strong>em</strong> que 0 enunciado e proferido. Em portugues, a categoria esta gramaticaliza<strong>da</strong> nao<br />

so nos sufixos modo-t<strong>em</strong>porais, mas tamb<strong>em</strong> <strong>em</strong> expressoes adverbiais circunstanciais e <strong>em</strong><br />

conectores frasicos <strong>de</strong> valor t<strong>em</strong>poral (ver Mateus et alii, 1989). De to<strong>da</strong>s essas formas,<br />

<strong>da</strong>r<strong>em</strong>os enfoque apenas aos itens adverbiais exprimindo circunstancia <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, pela<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tamb<strong>em</strong> ser<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregados como expressoes indiciais <strong>de</strong> recuperac;ao<br />

contextual. Antes, por<strong>em</strong>, san necessarias algumas observac;oes sobre a ambigui<strong>da</strong><strong>de</strong> do termo<br />

t<strong>em</strong>po.<br />

Linguas com esta categoria, como 0 portugues, dispo<strong>em</strong> <strong>de</strong> algumas sentenc;as menos<br />

t<strong>em</strong>porais ("tenseless", para Lyons, 1977) e <strong>de</strong> outras int<strong>em</strong>porais, que simplesmente nao faz<strong>em</strong><br />

este tipo <strong>de</strong> referencia (sao "timeless", como diz Lyons, 1977), ou seja, realmente nao<br />

estabelec<strong>em</strong> referencia t<strong>em</strong>poral (<strong>de</strong>itica ou nao?s. E 0 que acontece nas chama<strong>da</strong>s ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

et<strong>em</strong>as <strong>da</strong> mat<strong>em</strong>atica e <strong>da</strong> teologia. Ex<strong>em</strong>plos:<br />

(8) Dais e <strong>da</strong>is saa quatro.<br />

(9) Urn e a mesma que <strong>de</strong>z <strong>de</strong>cimas. etc. 26<br />

25 Embora reconhe«amos a imbrica~ao t<strong>em</strong>po/aspecto, nao v<strong>em</strong>os necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> envere<strong>da</strong>r, llesta analise, pelas<br />

n~5es aspectuais.<br />

26 as ex<strong>em</strong>plos que aparec<strong>em</strong> s<strong>em</strong> nenhuma referencia foram "fabricados" ad hoc.


Lyons (1977) faz a separac;ao entre os casos acima e as sentenc;as onit<strong>em</strong>parais, que se<br />

refer<strong>em</strong> ao t<strong>em</strong>po, mas <strong>de</strong> maneira irrestrita (sao "time-bound'). 0 estado <strong>de</strong> coisas par elas<br />

<strong>de</strong>scrito ocorre <strong>em</strong> todos os intervalos, como algo que s<strong>em</strong>pre foi, continua sendo e s<strong>em</strong>pre sera.<br />

Ex<strong>em</strong>plos:<br />

(10) A terra gira ao redor <strong>de</strong> si mesma.<br />

(11) Na<strong>da</strong> impe<strong>de</strong> 0 alvorecer.<br />

Nao mantendo nenhuma relac;ao intrinseca com a nOc;ao<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po s<strong>em</strong>antico, as sentenc;as<br />

int<strong>em</strong>porais e onit<strong>em</strong>porais nao sac compativeis com 0 quadro <strong>de</strong> analise <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis, e por isso as<br />

excluimos.<br />

Utilizar<strong>em</strong>os, portanto, somente as sentenc;as com t<strong>em</strong>po, que nao apenas realizam uma<br />

referencia t<strong>em</strong>poral rest rita, como tamb<strong>em</strong> r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a algum momenta exato ou periodo <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po s6 i<strong>de</strong>ntificavel a partir do ponto zero <strong>da</strong> enunciac;ao, <strong>da</strong>s coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> 0<br />

sujeito. S6 nesses contextos discursivos se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis t<strong>em</strong>poral, <strong>de</strong>vido it consi<strong>de</strong>rac;ao<br />

<strong>da</strong> perspectiva do falante no instante do ato <strong>de</strong> fala (isto e, no "coding time", ou "t<strong>em</strong>po <strong>de</strong><br />

formulac;ao", nos termos <strong>de</strong> Fillmore, 1997). Por tal razao se diz que 0 t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>itico e s<strong>em</strong>pre<br />

dinamico.<br />

As express5es indiciais sac construi<strong>da</strong>s par pronomes <strong>de</strong>monstrativos ou por pronomes<br />

adverbiais circunstanciais que po<strong>de</strong>m expressar claramente 0 t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>itico, ou apenas <strong>de</strong>ixa-lo<br />

pressuposto. Quando sac <strong>de</strong>iticos discursivos, usam comumente a mesma forma dos <strong>de</strong>iticos<br />

t<strong>em</strong>porais simulando uma representac;ao do t<strong>em</strong>po linear do texto <strong>em</strong> seu aspecto tipografico.<br />

Eis por que e relevante pon<strong>de</strong>rar sobre 0 <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>ssas express5es.<br />

S<strong>em</strong>pre que se <strong>de</strong>seja assinalar qualquer periodo como estando antes, <strong>de</strong>pois ou durante<br />

urn marco estabelecido, as express5es referenciais (quer <strong>de</strong>iticas, quer nao-<strong>de</strong>iticas) tomam par<br />

base urn referencial no t<strong>em</strong>po.<br />

Po<strong>de</strong>-se falar <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po estatico, quando os eventos sac localizados sobre urn referente<br />

t<strong>em</strong>poral externo, objetivo, absoluto. Neste caso, e necessario consi<strong>de</strong>rar pontos iniciais fixos,<br />

convencionados pelos m<strong>em</strong>bros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Aos termos que indicam medi<strong>da</strong> t<strong>em</strong>poral fixando instantes iniciais no t<strong>em</strong>po, Fillmore<br />

(1997) chamou <strong>de</strong> "uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do calen<strong>da</strong>rio" ("calen<strong>da</strong>ric units,,)27. Muitas <strong>de</strong>ssas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

consi<strong>de</strong>ra como nao sendo urna uni<strong>da</strong><strong>de</strong> do calen<strong>da</strong>no. 0 uso nao-referente ao calen<strong>da</strong>rio <strong>de</strong> uma palavra exprime<br />

apenas a durac;ao <strong>de</strong> urn espac;o <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, como <strong>em</strong> "No dia 30 <strong>de</strong> abril, fara urn mes que ele se int<strong>em</strong>ou." Veja-se<br />

que, neste enunciado, a palavra "mes" nao faz referencia a nenhum ponto do calen<strong>da</strong>rio real, mas somente a uma<br />

extensao t<strong>em</strong>poral, uma medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, que dura <strong>em</strong> media trinta dias. Algo b<strong>em</strong> diferente se passa com a


compo<strong>em</strong> ciclos malOres, por lSSO sao <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s posicionais, por representar<strong>em</strong> uma<br />

posiyao <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma sequencia. Ex<strong>em</strong>plos comuns sao os nomes dos meses, dos dias <strong>da</strong><br />

s<strong>em</strong>ana, <strong>da</strong>s estayoes do ana etc. Quando se diz:<br />

o termo posicional do calen<strong>da</strong>rio, grifado <strong>em</strong> (12), localiza 0 evento "as r<strong>em</strong>arcayoes" <strong>em</strong> urn<br />

t<strong>em</strong>po absoluto, objetivo e estatico - porque in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do lugar do enunciador, e significa<br />

"no dia <strong>de</strong> quart a <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as s<strong>em</strong>anas". As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s assim <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s, com aspecto iterativo,<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham funyao nao-<strong>de</strong>itica.<br />

Se se afirma, por<strong>em</strong>, que:<br />

(13) Na proxima quarta, havera um encontro <strong>de</strong> professores<br />

<strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />

aqui, a expressao do calen<strong>da</strong>rio <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque tern funyao <strong>de</strong>itica, <strong>de</strong> vez que se tomou como<br />

ponto <strong>de</strong> referencia 0 momento <strong>em</strong> que a frase foi enuncia<strong>da</strong> pelo falante (a "pr6xima quarta"<br />

po <strong>de</strong> ser a quarta-feira mais perto do dia <strong>em</strong> que 0 <strong>em</strong>issor se encontra durante 0 ato <strong>de</strong> fala 28 ).<br />

a evento foi localizado a partir <strong>de</strong> uma base t<strong>em</strong>poral mutavel, subjetiva, que varia conforme a<br />

localizayao do enunciador no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulayao (nao importa quao vago ele pareya ser).<br />

A partir do ponto zero t<strong>em</strong>poral <strong>da</strong> enunciayao, e possivel criar variayoes com base no<br />

trayo <strong>de</strong>itico <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> vs. distancia <strong>em</strong> relayao ao <strong>em</strong>issor: sao oposiyoes <strong>de</strong><br />

simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong> vs. nao-simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> vs. nao-proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>, antes vs. <strong>de</strong>pois.<br />

Fillmore compl<strong>em</strong>enta:<br />

o principal proposito <strong>da</strong> categoria <strong>de</strong>itico-t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

i<strong>de</strong>ntificar urn t<strong>em</strong>po particular como coincidindo, estando perto, ou estando<br />

contido na mesma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po maior que 0 momenta <strong>de</strong> fala, ou t<strong>em</strong>po<br />

<strong>de</strong> formula


As expressoes que mais se prestam a esse tipo <strong>de</strong> indicayao, s<strong>em</strong> duvi<strong>da</strong>, saG as <strong>de</strong> valor<br />

circunstancial, como logo, agora mesmo, <strong>de</strong>pois, recent<strong>em</strong>ente, qllalTo dias antes, duas<br />

s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong>pois etc. Muitas vezes, para se localizar um evento no t<strong>em</strong>po, costuma-se tomar <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>prestimo os pronomes <strong>de</strong>monstrativos, como este, esse, aqllele (e flexoes), antece<strong>de</strong>ndo<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do calen<strong>da</strong>rio.<br />

T<strong>em</strong>os <strong>de</strong>fendido que certos tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis se colocam como mais basicos que outros. No<br />

primeiro ponto <strong>da</strong> escala, situamos a <strong>de</strong>ixis <strong>de</strong> pessoa, pela referencia ao falante como 0 centro<br />

<strong>da</strong>s coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s <strong>de</strong>iticas, e tamb<strong>em</strong> pelo fato <strong>de</strong> os <strong>de</strong>mais tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis se <strong>de</strong>finir<strong>em</strong> a partir<br />

<strong>de</strong>la. Em segundo lugar, fixamos a <strong>de</strong>ixis social, que, apesar <strong>de</strong> tamb<strong>em</strong> manter uma relayao<br />

direta com os participantes <strong>da</strong> comunicayao, condiciona-se a aspectos socio-culturais e e<br />

funcionalmente menos produtiva.<br />

Agora, cogitamos sobre qual <strong>de</strong>las <strong>de</strong>ve figurar <strong>em</strong> terceiro lugar na escala, se a <strong>de</strong>ixis <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po ou a <strong>de</strong> espayo. Lyons (1977) argumenta que os <strong>de</strong>iticos <strong>de</strong> lugar este e aqllele po<strong>de</strong>m ser<br />

metaforicamente <strong>em</strong>pregados com nOyao <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, 0 que provaria que a <strong>de</strong>ixis espacial e mais<br />

basica que a t<strong>em</strong>poral. Levinson (1983) contra-argumenta alegando que to<strong>da</strong> localizayao <strong>de</strong>itica<br />

so e concebi<strong>da</strong> segundo a posiyao do falante no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulayao e que, por isso, os <strong>de</strong>iticos<br />

<strong>de</strong> lugar s<strong>em</strong>pre traz<strong>em</strong> implicito urn el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis t<strong>em</strong>poral.<br />

o fato e que, muito comumente, algumas expressoes t<strong>em</strong>porais saG uteis para mensurar 0<br />

lugar, como <strong>em</strong> (14) abaixo, assim como certas expressoes espaciais saG usados para se referir<br />

ao t<strong>em</strong>po.<br />

E incontestavel que urn dominio po<strong>de</strong> fomecer metaforas sobre 0 outro. Tendo <strong>em</strong><br />

consi<strong>de</strong>rayao a relayao intersubjetiva do falante com a linguag<strong>em</strong>, localizar urn el<strong>em</strong>ento exige,<br />

na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, s<strong>em</strong>pre e simultaneamente, urn referencial no t<strong>em</strong>po e no espayo, ain<strong>da</strong> que, <strong>em</strong><br />

geral, seja mais focalizado ora urn, ora outro, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos propositos comunicativos. As<br />

transferencias <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis espacial e t<strong>em</strong>poral para 0 campo <strong>de</strong>itico-discursivo suger<strong>em</strong> muito<br />

mais que lugar e t<strong>em</strong>po SaGinseparaveis e indispensaveis na indica


espacial sena facultativa. Assim 0 afirma c1aramente Fiorin ao pleitear que a categoria <strong>de</strong><br />

espayO tern menor relevancia no processo <strong>de</strong> discursivizayao porque:<br />

nao se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> utilizar, <strong>em</strong> hip6tese alguma, 0 t<strong>em</strong>po e a pessoa na<br />

fala, mesmo porque essas dua,s categorias san expressas por morf<strong>em</strong>as<br />

sufixais necessariamente presentes no vocabulo verbal. Como, por<strong>em</strong>, 0<br />

espa~ e expresso por morf<strong>em</strong>as livres, po<strong>de</strong> nao ser manifestado. Parece que<br />

a linguag<strong>em</strong> valoriza mais a loca1iza


(l) Lourdinha ta dizendo aqui que esse neg6cio <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ira na<br />

cal~a<strong>da</strong> C .. ) (D2-RE-05:26.1130-1131)<br />

Esse transito <strong>de</strong> uma para outra categoria (lugar/t<strong>em</strong>po) e ilustrado <strong>em</strong><br />

ocorrencias <strong>de</strong> adverbio "<strong>de</strong> lugar", indicando t<strong>em</strong>po (...) e <strong>de</strong> adverbio "<strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po" indicando lugar" (Neves, 1993:264)<br />

Entretanto, e necessario admitir, pela evidSncia dos <strong>da</strong>dos, que todos os el<strong>em</strong>entos<br />

indiciais, tanto nos anaforicos quanta nos dSiticos discursivos, apontam para urn local, se nao<br />

no ambiente real <strong>em</strong> que transcorre a enunciayao, pelo menos numa dimensao metaforiza<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>ste espayo: ou <strong>de</strong>ntm do proprio texto, ou <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> m<strong>em</strong>oria comum. Talvez seja essa a<br />

razao por que Pontes sustenta que:<br />

subjacente tanto aos adverbios <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po como aos <strong>de</strong> lugar (e outros<br />

indicadores <strong>de</strong> lugar), esta a concep~ao espacial <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. Ou seja, 0 t<strong>em</strong>po<br />

e concebido como uma linha [!] e e isso que explica que as classes <strong>de</strong><br />

palavras que se usam para indicar espa~o possam ser usa<strong>da</strong>s para indicar<br />

t<strong>em</strong>po. Ou seja, nosso conceito <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e espacial, e uma metafora<br />

espacial- a metmora <strong>da</strong> linha, forma<strong>da</strong> <strong>de</strong> pontos, <strong>em</strong> que os acontecimentos<br />

se suce<strong>de</strong>m, "uns <strong>de</strong>pois dos outros". (pontes, 1992:82 - grifo nosso).<br />

Em vista disso, nao tiramos a razao <strong>de</strong> Levinson (1983) ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que to<strong>da</strong> localizayao<br />

dSitica pressup5e a posiyao do falante no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulayao, mas este argumento se<br />

enfraquece ante a visao <strong>de</strong> que 0 proprio t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>itico so se concebe a partir <strong>de</strong> uma nOyao<br />

espacial.<br />

Se e ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que 0 t<strong>em</strong>po e uma metafora do espayo, e se 0 significado <strong>de</strong> metafora<br />

consiste "na transferencia <strong>de</strong> uma palavra para urn ambito s<strong>em</strong>antico que nao eo do objeto<br />

que ela <strong>de</strong>signa, e que se fun<strong>da</strong>menta numa relayao <strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhanya subentendi<strong>da</strong> entre 0<br />

sentido proprio e 0 figurado" (Ferreira, 1986:1126), entao e viavel afirmar que 0 espayo<br />

<strong>de</strong>itico e 0 sentido proprio, basico, e que a <strong>de</strong>ixis t<strong>em</strong>poral e 0 ambito s<strong>em</strong>antico para 0 qual<br />

as dimens5es subjetivas <strong>de</strong> lugar se transfer<strong>em</strong>.<br />

o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulayao ha <strong>de</strong> estar s<strong>em</strong>pre subentendido, mas nao e, realmente, a<br />

finali<strong>da</strong><strong>de</strong> do direcionamento dSitico. Em seu sentido ostensivo fun<strong>da</strong>mental, <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar<br />

<strong>de</strong>monstrando, a <strong>de</strong>ixis e, por <strong>de</strong>finiyao, urn meio <strong>de</strong> localizar urn el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>ntm <strong>de</strong> urn<br />

espa~o organizado <strong>de</strong> acordo com as coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s do falante.


Po<strong>de</strong>-se informar sobre a posiyao <strong>de</strong> urn referente <strong>de</strong> diferentes modos, e urn <strong>de</strong>les e to mar<br />

<strong>de</strong> parti<strong>da</strong> referenciais fixos, fornecidos por medi<strong>da</strong>s, como, par ex<strong>em</strong>plo, a latitu<strong>de</strong> e a<br />

longitu<strong>de</strong> <strong>em</strong> urn enunciado tal como (15), a seguir. Estes casos tern, obviamente, uso nao-<br />

<strong>de</strong>itico, e serao, par isso, <strong>de</strong>sprezados aqui.:<br />

(15) "Kabul se situa a 34 graus <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong> e a 70 <strong>de</strong> longitu<strong>de</strong>"<br />

(Levinson, 1983:79).<br />

Outra possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> localizar referentes e fazer uso <strong>de</strong> express6es que representam 0<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s do espayO tridimensional: acima/abaixo, frente/tras e esquer<strong>da</strong>Jdireita.<br />

Para Lyons (1977), este recurso e, no fundo, urn meio egocentrico <strong>de</strong> reconhecer a orientayao no<br />

espayO, que se justifica pelo proprio modo <strong>de</strong> ser biologico do hom<strong>em</strong>: as caracteristicas <strong>de</strong> seu<br />

corpo, sua forma <strong>de</strong> locomoyao, etc.<br />

Fillmore (1982) <strong>de</strong>staca que tais express6es construi<strong>da</strong>s com base no sist<strong>em</strong>a<br />

tridimensional nao sao primariamente <strong>de</strong>iticas, <strong>em</strong>bara possam tornar-se <strong>de</strong>iticas se 0 <strong>em</strong>issor<br />

tomar implicitamente seu proprio corpo, ou do seu interlocutor, como ponto zero.<br />

Mas vale ressaltar que, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> nao ser<strong>em</strong> basicamente <strong>de</strong>iticas, elas nao <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong><br />

codificar a intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre 0 sujeito e a lingua, par seu condicionamento egocentrico ou<br />

antropocentrico.<br />

So se falani <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis <strong>de</strong> lugar quando uma expressao tiver como referencial a orienta~ao<br />

espacial do enunciador, ou do <strong>de</strong>stinatario <strong>em</strong> relayao a ele, no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formula~ao (0<br />

negrito e para chamar a atenyao sobre a consi<strong>de</strong>rayao concomitante do aqui-e-agora,<br />

confirmando 0 que foi dito acima).<br />

Al<strong>em</strong> <strong>da</strong>s pon<strong>de</strong>ray6es anteriores, para localizar urn referente no espayo, e preCISO<br />

tamb<strong>em</strong> ter <strong>em</strong> conta, segundo Lyons (1977), que algumas enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s tridimensionais sao<br />

automoviveis, como os seres humanos e os animais; outras sao apenas moviveis; e outras sao<br />

normalmente estaticas, imoveis, como montanhas, predios e arvares.<br />

A ancorag<strong>em</strong> do eixo frente/tras, por ex<strong>em</strong>plo, e, <strong>em</strong> primeira instancia, estabeleci<strong>da</strong> com<br />

relayao a arientac;ao intrinseca <strong>da</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> referencia, e, nesta situayao, a expressao locativa<br />

tenl usa naa-<strong>de</strong>itico. E passivel que haja ambigUi<strong>da</strong><strong>de</strong> nestes casas, porque se po<strong>de</strong> levar <strong>em</strong>


conta a posi


Urn segundo tipo <strong>de</strong> transferencia se <strong>da</strong>ria, <strong>de</strong> acordo com 0 autor, quando, <strong>de</strong> modo<br />

oposto, uma expressao primariamente <strong>de</strong>itica fosse usa<strong>da</strong> nao-<strong>de</strong>iticamente. 0 contexto<br />

favonivel a este fen6meno e a narrativa <strong>de</strong> terceira pessoa, quando 0 narrador assume 0 ponto <strong>de</strong><br />

vista do personag<strong>em</strong> ao apresentar as experiencias pessoais <strong>de</strong>le. Ex<strong>em</strong>plo:<br />

No momenta <strong>em</strong> que 0 narrador <strong>em</strong>prega 0 circunstancial <strong>de</strong> lugar "aqui", b<strong>em</strong> como 0 <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po "atnis", ele se coloca na perspectiva do personag<strong>em</strong> que enuncia este ato <strong>de</strong> fala e se<br />

transfere, assim, para urn outro centro. Para 0 autor, os el<strong>em</strong>entos passariam, entao, a ter uso<br />

nao-<strong>de</strong>itico, pois nao estariam ancorados no evento <strong>de</strong> fala <strong>em</strong> que 0 enunciado e produzido.<br />

Nao conceb<strong>em</strong>os tal usa, por<strong>em</strong>, como nao-<strong>de</strong>itico, a nao ser para urn dos dois tipos <strong>de</strong><br />

enunciac;ao que conviv<strong>em</strong> harmoniosamente nestas situac;6es. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, 0 "outro centro",<br />

para 0 qual se <strong>de</strong>sloca 0 ponto <strong>de</strong> vista do narrador, tamb<strong>em</strong> configura urn campo <strong>de</strong>itico. A<br />

narrativa trabalha dinamicamente com urn duplo cenario enunciativo: 0 <strong>da</strong> hist6ria conta<strong>da</strong> e 0<br />

<strong>da</strong> narrayao <strong>de</strong>ssa hist6ria (e isto fomece urn terreno proficuo para a explorac;ao <strong>de</strong> recursos<br />

literarios). 0 primeiro refere-se ao ambiente <strong>da</strong> pr6pria ficc;ao ou <strong>da</strong> hist6ria narra<strong>da</strong>; 0 segundo,<br />

it enunciac;ao do narrador dirigi<strong>da</strong> a urn leitor.<br />

No primeiro centro <strong>de</strong>itico, on<strong>de</strong> tern lugar a fala direta dos personagens, ou <strong>de</strong> qu<strong>em</strong><br />

narra <strong>em</strong> discurso indireto livre, 0 narrador assume, frequent<strong>em</strong>ente, 0 ponto <strong>de</strong> vista do<br />

personag<strong>em</strong> e, por isso, <strong>em</strong>prega os <strong>de</strong>iticos <strong>de</strong> lugar e <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po fixando como ponto <strong>de</strong><br />

referencia a situac;ao real <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> historia. E como se uma instancia do discurso estivesse<br />

conti<strong>da</strong> <strong>em</strong> outra maior, <strong>em</strong> que 0 narrador se dirige, ain<strong>da</strong> que implicitamente, ao leitor. Sobre<br />

isso, Maingueneau comenta:<br />

Naquilo que se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>em</strong>breag<strong>em</strong> parat6pica, estamos diante<br />

<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns varia<strong>da</strong>s que participam ao mcsmo t<strong>em</strong>po do<br />

mundo rcpresentado pela obra e <strong>da</strong> situa~ao paratopica atraves <strong>da</strong> qual<br />

se <strong>de</strong>fine 0 autor que constroi esse mundo. (Maingueneau, 1995:174).<br />

Num mesmo enunciado, viv<strong>em</strong>, assim, <strong>em</strong> comum os dois mundos, as duas localizac;6es:<br />

a <strong>da</strong> narrac;ao, que e situacional, e a do fato narrado, que, <strong>em</strong>bora sendo textual, tamb<strong>em</strong> traz<br />

marcas <strong>da</strong> instancia discursiva <strong>em</strong> que se movimentam os personagens.<br />

A ultima especie <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis, a discursiva - objeto <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong>sta pesquisa - tamb<strong>em</strong> se<br />

constr6i a partir <strong>de</strong> uma transferencia, mas <strong>de</strong> outra natureza: quando as coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e<br />

espac;o mu<strong>da</strong>m do cenario fisico real para 0 ambiente do texto, conforme se vera <strong>em</strong> 1.5.4.


Antes, por<strong>em</strong>, achamos necessario preClsar 0 que se costuma enten<strong>de</strong>r exatamente por "uso<br />

<strong>de</strong>itico".<br />

Uma forma lingiiistica tern uso <strong>de</strong>itico quando 0 ponto <strong>de</strong> referencia do falante no<br />

momento do ato <strong>de</strong> fala tern que necessariamente ser consi<strong>de</strong>rado, nao importa se <strong>de</strong>ntro do<br />

campo <strong>de</strong>itico <strong>da</strong> situa9ao comunicativa real, ou se no contexto. Se 0 referencial do falante no<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulayao, ou no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> recep9ao, for completamente irrelevante, a expressao tera<br />

uso nao-<strong>de</strong>itico.<br />

Consequent<strong>em</strong>ente, havera uso nao-<strong>de</strong>itico se 0 posicionamento espacio-t<strong>em</strong>poral do<br />

<strong>em</strong>issor for <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rado na retoma<strong>da</strong> <strong>de</strong> urn referente. Tendo <strong>em</strong> conta somente a <strong>de</strong>ixis<br />

espacial, por ex<strong>em</strong>plo, urn locativo como "a esquer<strong>da</strong>" e nao-<strong>de</strong>itico <strong>em</strong> ocorrencias do tipo:<br />

Em uma <strong>da</strong>s interpretay5es <strong>de</strong>ste enunciado 29 , <strong>em</strong> que se toma como referencial 0 lado<br />

esquerdo do professor, a localizayao dos participantes <strong>da</strong> comunicayao nao tern a menor<br />

imporUlncia para a compreensao do sentido.<br />

A mesma expressao teria uso <strong>de</strong>itico se assim <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>:<br />

Neste caso, a posiyao do <strong>em</strong>issor e do <strong>de</strong>stinatario e fun<strong>da</strong>mental para a i<strong>de</strong>ntificayao do<br />

el<strong>em</strong>ento referido, porque 0 ouvinte aceita a orientayao do corpo do falante como 0 centro do<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s, que po<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>r conforme seus movimentos. Urn coqueiro nao tern<br />

orientayao intrinseca <strong>de</strong> lados. "A esquer<strong>da</strong> do coqueiro" significa "do lado do coqueiro que<br />

correspon<strong>de</strong> a esquer<strong>da</strong> do falante" no t<strong>em</strong>po <strong>da</strong> enunciayao, ain<strong>da</strong> que este centro <strong>de</strong>itico esteja<br />

implicito.<br />

Em <strong>de</strong>terminados contextos, uma forma primariamente <strong>de</strong>itica tern sua funyao transferi<strong>da</strong><br />

para urn <strong>em</strong>prego nao-<strong>de</strong>itico. Levinson (1983) ilustra situayoes <strong>de</strong>ssa natureza com alguns<br />

ex<strong>em</strong>plos curiosos com formas representativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis pessoal, t<strong>em</strong>poral e espacial usa<strong>da</strong>s<br />

nao-<strong>de</strong>iticamente, segundo ele:<br />

29 Levinson faz ver que enunciados <strong>de</strong>sse tipo favorec<strong>em</strong> uma ambigili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>itica/ nao-<strong>de</strong>itica. Isto se <strong>de</strong>ve ao<br />

fato <strong>de</strong> que alguns objetos, al<strong>em</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ter uma orienta9ao <strong>de</strong>iti~ com base nas coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s do falante.<br />

permit<strong>em</strong> tamb<strong>em</strong> uma referen<strong>da</strong> nao-<strong>de</strong>iti~ s<strong>em</strong>pre que apresentar<strong>em</strong> orienta~6es intrinsecas <strong>de</strong> frente, 1ado,<br />

costas etc. Ex<strong>em</strong>p10do autor: "Bob e 0 hom<strong>em</strong> it esquer<strong>da</strong> <strong>de</strong> Mark", <strong>em</strong> que Bob po<strong>de</strong> estar a esquer<strong>da</strong> do proprio<br />

Mark (uso nao-<strong>de</strong>itico), ou it esquer<strong>da</strong> a partir do ponto <strong>de</strong> vista do falante (uso <strong>de</strong>itico) (Levinson, 1983:83).


(21) "Voce nunca po<strong>de</strong> dizer qual e 0 sexo <strong>de</strong>les hoje <strong>em</strong> dia.<br />

Agora, isto nao e 0 que eu disse.<br />

La vamos nos." (Levinson, 1983:66).<br />

Os termos negritados <strong>em</strong> (21) sofreram uma especie <strong>de</strong> gramaticalizayao, <strong>em</strong> que se<br />

neutralizou gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seu significado originario, sobretudo <strong>de</strong> sua funyao, <strong>em</strong> proveito <strong>de</strong><br />

outra funyao discursiva. Levinson (1983), <strong>em</strong> vista disso, ere no esvaziamento do valor <strong>de</strong>itico<br />

nesses casos. Mas e precise urn pouco <strong>de</strong> cautela antes <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r it tentayao <strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhantes<br />

generalizayoes. Seria mais a<strong>de</strong>quado falar <strong>de</strong> baixo grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>, e <strong>de</strong> doses varia<strong>da</strong>s.<br />

Tome-se, <strong>de</strong> inicio, 0 ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> "voce", acima. Certamente, nao se justifica imputar-lhe<br />

o mesmo grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong> que tern "agora" e "la". Conforme analisamos no it<strong>em</strong> 1.5.1, a<br />

transferencia <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> pessoa <strong>de</strong>itica para urn contexto nao-<strong>de</strong>itico, muito pr6prio <strong>da</strong> terceira<br />

pessoa, e com valor in<strong>de</strong>terminado, tern urn papel argumentative importante no discurso.<br />

"Voce", <strong>em</strong> tais condiyoes, nao equivale simplesmente a urn se in<strong>de</strong>terminador, nao-pessoal;<br />

pelo contrario, ele tern 0 po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> dotar 0 contexto <strong>de</strong> pessoali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao inc1uir<br />

os participantes <strong>da</strong> comunicayao, enfatizando a forma <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> pessoa. E, nesse sentido, ele<br />

nao <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>itico.<br />

Se nao se po<strong>de</strong> dizer 0 mesmo <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos como "agora" e "la", po<strong>de</strong>-se, pelo menos,<br />

por <strong>em</strong> duvi<strong>da</strong> a anulayao <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que a forma que alu<strong>de</strong> ao presente<br />

<strong>de</strong>itico acentua a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> contraste pretendi<strong>da</strong> pelo falante. "Agora" funciona, no discurso,<br />

como urn marcador conversacional, ou, <strong>em</strong> outra perspectiva, como um operador<br />

argumentativo. Nao se opoe t<strong>em</strong>poralmente, <strong>de</strong> fato, a antes, <strong>de</strong>pots, ont<strong>em</strong> ou amanhti, par isso<br />

sua <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong> se a<strong>de</strong>lgaya. Mas seria Hcito negar que esta ancorado no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulayao,<br />

uma vez que marca 0 inicio <strong>de</strong> um argumento oposto exatamente naquele instante <strong>da</strong><br />

enunciayao do falante? Nao sera pela sugestao <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>itico que 0 falante opta por <strong>em</strong>pregar<br />

a forma, sinalizando para 0 receptor que, a partir <strong>da</strong>quele precise momento, sera apresenta<strong>da</strong><br />

uma <strong>de</strong>c1arayao contrast ante?<br />

Do mesmo modo, 0 pro nome circunstancial "la", acima, per<strong>de</strong> quase que totalmente sua<br />

indicayao basica <strong>de</strong> lugar distante do enunciador, chegando a se comportar como urn expletivo.<br />

"La" nao e, <strong>de</strong>certo, 0 <strong>de</strong>stino do movimento - alias, a expressao inteira "la vamos n6s", <strong>em</strong><br />

portugues, po<strong>de</strong> n<strong>em</strong> mesmo significar locomoyao, mas simplesmente uma ayao que principia.


To<strong>da</strong>via, exist<strong>em</strong> urn t<strong>em</strong>po e urn lugar <strong>de</strong> refen3ncia pressupostos ao uso <strong>da</strong> expressao, que<br />

permit<strong>em</strong> ao falante escolher entre "ai vamos nos", ou "aqui vamos nos", por ex<strong>em</strong>plo30.<br />

Trata-se, pois, <strong>de</strong> infiltrayoes sutis <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, suficientes para nos autorizar a<br />

afirmayao <strong>de</strong> que a lingua convencionou usos assim tendo <strong>em</strong> vista a preservayao, ain<strong>da</strong> que<br />

disfan;a<strong>da</strong>, do referencial do falante.<br />

Quando el<strong>em</strong>entos gramaticais e lexicais, <strong>de</strong>ntre eles os pronomes circunstanciais e<br />

<strong>de</strong>monstrativos, mu<strong>da</strong>m do campo dSitico canonico para 0 ambiente textual, t<strong>em</strong>-se a chama<strong>da</strong><br />

dSixis discursiva. Por essa peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> r<strong>em</strong>eter nao ao espayo do <strong>em</strong>issor na instancia do<br />

discurso real, mas <strong>de</strong> localizar poryoes do discurso <strong>em</strong> an<strong>da</strong>mento, t<strong>em</strong>os pleiteado que a dSixis<br />

discursiva nao tern 0 mesmo status que as outras, e se apresenta como urn tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivayao <strong>da</strong>s<br />

dSixis t<strong>em</strong>poral e espacial, as quais, por sua vez, sao organiza<strong>da</strong>s conforme a dSixis <strong>de</strong> pessoa.<br />

As mesmas express5es dSiticas <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po po<strong>de</strong>m ser metaforicamente <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s como<br />

dSiticos discursivos, numa referencia a disposiyao <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s graficas no texto. Sob esse<br />

prisma <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nayao, qualquer ponto no discurso po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como ocorrendo antes,<br />

durante ou <strong>de</strong>pois, como Fillmore explica:<br />

Um ponto no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um discurso po<strong>de</strong> ser tornado como<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formula~ao, <strong>de</strong> tal modo que no


(25) Como procurar<strong>em</strong>os <strong>de</strong>monstrar na analise <strong>da</strong> narrativa<br />

abaixo transcrita ...<br />

"Aqui" ou "este trabalho" se refer<strong>em</strong> ao pr6prio local do texto produzido pelo enunciador;<br />

"acima" e "abaixo" tern como ponto <strong>de</strong> referencia 0 ultimo enunciado do falante e a arruma~ao<br />

vertical do texto. Logo, quando se <strong>em</strong>pregam dSiticos discursivos <strong>de</strong>sta natureza, a distancia<br />

avalia<strong>da</strong> no t<strong>em</strong>po/espa~o textual nao per<strong>de</strong> <strong>de</strong> vista a no~ao <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> rela~ao ao<br />

enunciador e, por isso mesmo, mant<strong>em</strong> 0 subjetivismo pr6prio <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis.<br />

Uma vez que esse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis discursiva tamb<strong>em</strong> toma por referencial 0 marco zero do<br />

enunciador, como 0 faz<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as outras especies <strong>de</strong>iticas, nao po<strong>de</strong>mos sustentar que seu<br />

status seja mais baixo que 0 <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>vido a urn "baixo grau <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>". Com efeito,<br />

o t<strong>em</strong>po dSitico pressuposto na aplica~ao dos dSiticos discursivos continua sendo 0 coding time<br />

real, 0 momento <strong>em</strong> que 0 falante formula ca<strong>da</strong> enunciado. A diferen~a e que as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

posicionais usa<strong>da</strong>s se refer<strong>em</strong> a uma extensao t<strong>em</strong>poral muitissimo breve, porque compreen<strong>de</strong>m<br />

somente 0 intervalo que dura a enuncia


transfigura, por urn <strong>de</strong>talhe fun<strong>da</strong>mental: 0 espayO e 0 t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>iticos (apoiados no referencial<br />

do falante) sac reinventados <strong>de</strong>ntro dos limites do texto.<br />

Existe uma especie <strong>de</strong> <strong>de</strong>itico discursivo, por<strong>em</strong>, que nao assinala com precisao os lugares<br />

no texto e prescin<strong>de</strong> do referencial do falante no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulayao, como mostrar<strong>em</strong>os no<br />

it<strong>em</strong> 4.3.1. 4.<br />

Outro aspecto quase s<strong>em</strong>pre observado na <strong>de</strong>scriyao <strong>da</strong> maioria dos <strong>de</strong>iticos discursivos e<br />

a relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> retoma<strong>da</strong>: a informayao referi<strong>da</strong> nao costuma estar pontualiza<strong>da</strong>,<br />

mas dilui<strong>da</strong> no discurso prece<strong>de</strong>nte ou consequente. Como diz Levinson: "A <strong>de</strong>ixis discursiva<br />

ou textual conc<strong>em</strong>e ao uso <strong>de</strong> expressoes <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn enunciado para referir uma poryao do<br />

discurso conti<strong>da</strong> neste enunciado (0 que po <strong>de</strong> inc1uir ate a ele proprio)" (Levinson, 1983:85).<br />

o autor salienta a estreita ligayao entre a <strong>de</strong>ixis discursiva e as citayoes (ou menyoes), ja<br />

que a referencia e feita a segmentos <strong>de</strong> urn texto, no caso, do proprio discurso <strong>em</strong> an<strong>da</strong>mento.<br />

Assim, expressoes como essa jra


Po<strong>de</strong> acontecer que 0 dSitico discursivo nao recupere urn conteudo proposicional diluido<br />

<strong>em</strong> segmentos do contexto, e sim, a forma pura (neste caso, excepcionalmente pontual).<br />

Repetimos, abaixo, 0 celebre ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Lyons, cuja traduyao po<strong>de</strong>ria ser a seguinte:<br />

(26) "(X diz) Aquilo e urn rinoceronte!<br />

(e Y respon<strong>de</strong>) Urn 0 que? Soletre isso para rnirn." (Lyons,<br />

1977: 667).<br />

o autor <strong>de</strong>signa como "dSixis textual pura" urn <strong>em</strong>prego como "is so", <strong>em</strong> (26), quando foi<br />

retoma<strong>da</strong> uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> linguistica (<strong>em</strong> sentido estrutural). Este caso se diferencia do outro tipo<br />

(na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, b<strong>em</strong> mais comum), que, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> se referir a propria forma, resgata 0 conteudo<br />

nao-pontual <strong>de</strong> fatos, proposiyoes e enunciados inteiros, s<strong>em</strong> ser correferencial com eles.<br />

Ex<strong>em</strong>plifica 0 autor:<br />

(27) "(X diz) Eu nunca 0 tinha visto antes.<br />

(e Y respon<strong>de</strong>) Isso e rnentira." (Lyons, 1977:668).<br />

Reconhecendo a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> discernir este ultimo tipo (a que <strong>de</strong>nomina "dSixis textual<br />

impura") do anterior, e tamb<strong>em</strong> admitindo sua vizinhanya com a situayao <strong>de</strong> anifora, 0 autor<br />

afirma que "sua funyao parece cair <strong>em</strong> algum lugar entre a amifora e a dSixis", pois partilha <strong>da</strong>s<br />

caracteristicas <strong>de</strong> ambas (Lyons, 1977:668).<br />

E exatamente neste ponto <strong>de</strong> encontro, que envolve diretamente aspectos <strong>da</strong><br />

referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que a dSixis discursiva frequent<strong>em</strong>ente e confundi<strong>da</strong> com a nOyaO<strong>de</strong> ana.fora,<br />

e foi este conflito que motivou 0 <strong>de</strong>senvolvimento do presente trabalho.<br />

o entrelayamento <strong>da</strong> dSixis (<strong>em</strong> geral) com a anifora se acentua, pois, com 0 <strong>em</strong>prego <strong>da</strong>s<br />

formas <strong>de</strong> natureza circunstancial e <strong>de</strong>monstrativa, que po<strong>de</strong>m se reportar tanto a referentes<br />

pontuais como a enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s nao-pontuais; e que po<strong>de</strong>m retomar essencialmente a forma ou 0<br />

conteudo proposicionaL Al<strong>em</strong> disso, tanto na anifora quanta na dSixis discursiva, a seleyao <strong>de</strong><br />

este (<strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> esse) po<strong>de</strong> estar condiciona<strong>da</strong> tamb<strong>em</strong> a urn processo ostensivo <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificayao <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos posteriores ou anteriores do contexto, isto e, <strong>de</strong> r<strong>em</strong>issoes cataforicas<br />

e "anaf6ricas" (no sentido <strong>de</strong> direcionamento para tnis).<br />

A escolha do <strong>de</strong>monstrativo a<strong>de</strong>quado po<strong>de</strong> ser motiva<strong>da</strong>, algumas vezes, por fatores<br />

subjetivos dificeis <strong>de</strong> precisar, como no uso <strong>da</strong>s formas this e that do Ingles. Contudo,<br />

guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos assim, 0 fato e que os <strong>de</strong>monstrativos sac


intuitivamente relaciomiveis it nOy3-a <strong>de</strong>itica <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> e nao-proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

gramaticaliza<strong>da</strong> no sist<strong>em</strong>a pronominal <strong>de</strong> inumeras linguas, <strong>de</strong>ntre elas 0 portugues.<br />

o carater ostensive, indicador <strong>de</strong> localizayao, <strong>da</strong>s formas <strong>de</strong>iticas <strong>da</strong> forya ao argumento<br />

<strong>de</strong> Lyons (1977) <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>ixis <strong>de</strong> lugar prevalece sobre a <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, e 0 leva a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a tese<br />

<strong>de</strong> que a <strong>de</strong>ixis t<strong>em</strong>poral, a <strong>de</strong>ixis discursiva e a anafora se fun<strong>da</strong>mentam to<strong>da</strong>s na perspectiva<br />

<strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis espacial:<br />

E a noyao <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> relativa do momenta <strong>da</strong> enuncia~ao, no<br />

cotexto, que une anMora e <strong>de</strong>ixis textual a referencia <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po; e e 0<br />

principio mais geral <strong>de</strong> localiza~ao que relaciona a referencia t<strong>em</strong>poral,<br />

<strong>em</strong> muitas linguas pelo menos, com a n~ao mais basica <strong>de</strong> dcixis<br />

espacial. (Lyons, 1977:669 - grifos nossos)<br />

o mesmo principio geral <strong>de</strong> localizayao que instrui 0 pronome <strong>de</strong>monstrativo e 0<br />

circunstancial a conduzir<strong>em</strong> a atenyao do <strong>de</strong>stinatario para certos referentes <strong>da</strong> situayao,<br />

i<strong>de</strong>ntificando-os a partir <strong>de</strong> sua posiyao <strong>em</strong> relayao ao ponto zero, tamb<strong>em</strong> orienta, <strong>de</strong> modo<br />

anaIogo, outras formas, como 0 artigo <strong>de</strong>finido e pronome ele 32 , para apontar<strong>em</strong>, no texto, os<br />

antece<strong>de</strong>ntes (ou fontes 33 ) <strong>de</strong> expressoes anaf6ricas ou <strong>de</strong>itico-discursivas. A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

ostensiva, ou indicadora, a que Lyons (1977) chama <strong>de</strong> "componente <strong>de</strong>itico" e uma s6, por essa<br />

6tica. A mesma que, a nosso ver, dirige a fum;ao <strong>de</strong> forici<strong>da</strong><strong>de</strong> na retoma<strong>da</strong> <strong>de</strong> referentes.<br />

Com base nisso, 0 autor sustenta que tal componente <strong>de</strong>itico permite ao <strong>de</strong>stinatario<br />

localizar 0 referente no universo do discurso, <strong>em</strong> meio a suas mais diferentes representayoes a<br />

ca<strong>da</strong> momento.<br />

o processo anaf6rico, neste aspecto comum aos dSiticos discursivos, transfere, portanto,<br />

nOyoes <strong>de</strong>iticas espaciais para a dimensao t<strong>em</strong>poral do contexto do enunciado e as reinterpreta<br />

32 Lyons (1977) sup5e que a cri(ul~acom~aria adqui..-indoun1tinieo <strong>de</strong>itico com fun


<strong>em</strong> termos do universo do discurso criado pelo texto. E nesse contexto discursivo como urn<br />

todo, nao no texto <strong>em</strong> si, n<strong>em</strong> no mundo objetivo, que 0 <strong>de</strong>stinatario reconhecera 0 referente.<br />

Como explica 0 autor:<br />

Dizer que 0 referente tern uma localiza


Pronomes <strong>de</strong>monstrativos, circunstanciais <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e lugar, pronomes pessoais e artigos,<br />

assim como formas <strong>de</strong> sufixos flexionais agregados a radicais <strong>de</strong> verbos, constitu<strong>em</strong> <strong>de</strong>iticos,<br />

portanto, mas 0 universo dos <strong>de</strong>iticos nao se restringe, naturalmente, a tais el<strong>em</strong>entos.<br />

Dev<strong>em</strong>os esclarecer que 0 que t<strong>em</strong>os admitido como expressao <strong>de</strong>itica inclui os pronomes<br />

<strong>de</strong>mon strativo s, circunstanciais e certas palavras <strong>em</strong> funvao adjetiva com 0 mesmo valor<br />

<strong>de</strong>monstrativo, al<strong>em</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar tamb<strong>em</strong> os sintagmas nominais que as cont<strong>em</strong>, como "essa<br />

situavao, aquele probl<strong>em</strong>a" etc. To<strong>da</strong>via, exclui os pronomes pessoais <strong>de</strong> terceira pessoa<br />

(exceto quando funcionam <strong>de</strong>iticamente, como no ex<strong>em</strong>plo (29) abaixo), pelos motivos ja<br />

fartamente explicitados anteriormente, e os artigos, por nao pressupor<strong>em</strong> a distancia <strong>em</strong> relavao<br />

ao sujeito.<br />

E born atentar, ain<strong>da</strong>, por outro lado, para 0 flSCO <strong>de</strong> se reconhecer urn termo como<br />

anaf6rico restritivamente por seu valor pronominal, como se po<strong>de</strong>ria, mais uma vez, <strong>de</strong>duzir<br />

equivoca<strong>da</strong>mente do que se Ie na <strong>de</strong>finivao <strong>de</strong> anaforico, no mesmo dicionario supracitado:<br />

Diz-se que urn pronomc pessoal on <strong>de</strong>monstrativo e anaforico<br />

quando ele se refere a urn sintagma nominal anterior ou a urn sintagma<br />

nominal que se segue, como p. ex. ° e aquete <strong>em</strong> Esse artigo, eu 0 escrevi<br />

<strong>em</strong> dois dias e Aprecio AQUELE que jata jrancamente. Esse <strong>em</strong>prego<br />

anaf6rico se op5e ao <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>itico do <strong>de</strong>monstrativo, como nas frases:<br />

Prefiro esta gravata aqueta, Eta esta surpresa (eta referindo-se a uma pessoa<br />

presente, mas nao <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> anteriormente). (Dubois et alii, 1993:46 -<br />

negrito nosso).<br />

o que t<strong>em</strong>os aceitado como anaf6rico se obt<strong>em</strong> a partir <strong>de</strong> varios expedientes linguisticos,<br />

como a mera repetil;ao <strong>de</strong> urn vocabulo, a co-significal;ao, a hiponimia/hiperonimia, a<br />

associavao, a aspectualizac;ao etc. e tamb<strong>em</strong> a pronominalizac;ao. Al<strong>em</strong> disso, 0 criterio que<br />

<strong>de</strong>fine urn anaf6rico nao po<strong>de</strong> encerrar-se na retoma<strong>da</strong> <strong>de</strong> referentes no contexto anterior ou<br />

posterior, uma vez que tamb<strong>em</strong> os <strong>de</strong>iticos discursivos funcionam <strong>de</strong>ssa maneira. N<strong>em</strong><br />

tampouco se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir urn <strong>de</strong>itico pela r<strong>em</strong>issao a objetos extralingliisticos, sob pena <strong>de</strong><br />

expungir <strong>da</strong> classe os <strong>de</strong>iticos discursivos.<br />

A diferenl;a entre <strong>de</strong>iticos e anaf6ricos se toma, as vezes, muito sutil. Costuma-se dizer<br />

que, enquanto 0 <strong>de</strong>itico aponta para a situavao real <strong>de</strong> comunicac;ao, 0 anaf6rico r<strong>em</strong>ete apenas<br />

ao ambiente do texto. Mas sab<strong>em</strong>os que esse criterio e reinterpretado na perspectiva do campo<br />

<strong>de</strong>itico textual quando se consi<strong>de</strong>ram os <strong>de</strong>iticos discursivos, <strong>de</strong> maneira que a separal;ao entre<br />

os dois se faz particularmente dificil.


Os probl<strong>em</strong>as aumentam quando se menciona a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma "<strong>de</strong>ixis anaforica".<br />

De acordo com Fillmore (1997), exist<strong>em</strong> tres especies <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>itico: 0 gestual, 0 simbolico e 0<br />

anaforico.<br />

A primeira pergunta que sobrev<strong>em</strong> a uma classificayao <strong>de</strong>sta especie e 0 que po<strong>de</strong>ria<br />

significar exatamente urn <strong>em</strong>prego "anaforico" <strong>de</strong> uma expressao <strong>de</strong>itica. A segun<strong>da</strong> e sob qual<br />

criterio esse uso se op6e aos outros dois tipos.<br />

To<strong>da</strong> vez que uma expressao referencial so pu<strong>de</strong>r ser interpreta<strong>da</strong> por qu<strong>em</strong> estiver<br />

presente no ambiente fisico e acompanhar, momento a momento, a situayao comunicativa, ela<br />

apresentani, segundo Fillmore (1997), usa <strong>de</strong>itico gestual. Examine-se 0 seguinte ex<strong>em</strong>plo:<br />

Seria necessario, <strong>em</strong> (28), acompanhar com 0 olhar para on<strong>de</strong> 0 falante estava apontando,<br />

para i<strong>de</strong>ntificar 0 lugar indicado, <strong>da</strong>i a <strong>de</strong>nominayao <strong>de</strong> gestual.<br />

Ate mesmo urn pronome pessoal <strong>de</strong> terceira pessoa po<strong>de</strong> apresentar este uso s<strong>em</strong>pre que<br />

o enunciador lanyar mao <strong>de</strong> pistas extralingtiisticas para assegurar 0 reconhecimento pelo<br />

ouvinte. E possivel, e ate frequente, encontrar urn ele com a seguinte aplicayao:<br />

(29) "olha, voce quase que repete 0 que ele disse" (Monteiro,<br />

1991:47),<br />

o pronome, <strong>em</strong> (29), se reporta a urn referente que s6 0 contexte situacional permite<br />

reconhecer. Quando certos trayos prosodicos sac acrescidos as formas acima, estas assum<strong>em</strong><br />

uma funyao principalmente ostensiva. Acontece, neste caso, uma neutralizayao <strong>da</strong> funyao<br />

primariamente anaf6rica <strong>em</strong> proveito <strong>de</strong> urn <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>itico, 0 que so se verifica com 0 uso<br />

gestual.<br />

a uso <strong>de</strong>itico simbolico, ao contnirio, nao necessita <strong>de</strong> pistas extralingiiisticas, <strong>em</strong>bora<br />

tamb<strong>em</strong> s6 se cumpra quando a interpretayao pelo <strong>de</strong>stinatario exige ciencia <strong>da</strong> situayao <strong>em</strong><br />

curso Oa que a expressao se orienta pelas coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s contextuais anteriores ao enunciado).<br />

Levinson cita alguns ex<strong>em</strong>plos bastante uteis para separar 0 gestual do simb6lico. Express6es<br />

com uso <strong>de</strong>itico gestual seriam:<br />

(30) "Voce, voce, mas nao voce, estao <strong>de</strong>spedidos.<br />

Este <strong>de</strong>do doL<br />

Nao aquele, idiota, mas aquele." (Levinson, 1983:66).


S6 0 acompanhamento perceptual e fisico pela audiencia permite a i<strong>de</strong>ntifica


a. gestuais<br />

b. simbOlicos<br />

2. Niio-<strong>de</strong>iticos: a. nao-anaf6ricos<br />

b. anaf6ricos (Levinson, 1983:68)<br />

E importante perceber que, no esqu<strong>em</strong>a, os anaf6ricos (e nao-anaf6ricos) entram na<br />

composiyao dos nao-<strong>de</strong>iticos, ao passo que os gestuais e simb6licos sao s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>iticos. Note-<br />

se, ain<strong>da</strong>, que, pelo titulo do quadro, s6 e possivel atribuir a "termos <strong>de</strong>iticos" urn conceito<br />

puramente formal; do contrario, a <strong>de</strong>signayao nao po<strong>de</strong>ria subagrupar "termos nao-<strong>de</strong>iticos" ...<br />

Malgrado os disponha, assim, como <strong>em</strong> dois conjuntos aparent<strong>em</strong>ente exclu<strong>de</strong>ntes,<br />

Levinson (1983) admite a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> funcionar<strong>em</strong> simultaneamente. Urn el<strong>em</strong>ento po<strong>de</strong>ria<br />

ter, portanto, <strong>em</strong>prego ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>itico e anaf6rico. Comentando urn ex<strong>em</strong>plo ja<br />

discutido por Lyons (1977):<br />

(32) "Nasci <strong>em</strong> Londres e s<strong>em</strong>pre morei la" (Levinson,<br />

1983:67),<br />

o autor assevera que 0 pronome adverbial <strong>em</strong> negrito opera como urn anaf6rico par retomar urn<br />

lugar a que "Londres" se refere, e que, par outro lado, se caracteriza como urn "<strong>de</strong>itico" por<br />

pressupor a localizayao do falante. 0 <strong>em</strong>issor selecionou a forma "hi", <strong>em</strong> oposiyao a "aqui",<br />

para assinalar que e1e nao se encontrava <strong>em</strong> Londres, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente.<br />

Mas, antes <strong>de</strong> a1canyar 0 amago do probl<strong>em</strong>a dos "anaf6ricos <strong>de</strong>iticos", urn outro aspecto<br />

<strong>da</strong> classificayao <strong>de</strong> Fillmore (1997) precisa ser discutido. Se 0 uso simb6lico, <strong>de</strong> acordo com 0<br />

autor, diferencia-se por se <strong>de</strong>sobrigar do monitoramento <strong>da</strong>s pistas extralinguisticas, ancorando-<br />

se nas coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s pragmaticamente pressupostas do <strong>em</strong>issor, entao e justo afirmar que urn uso<br />

<strong>de</strong>itico anaf6rico tamb<strong>em</strong> nao <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser simb6lico, ja que nao dispensa essa proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Assim sendo, melhor seria organiza-los, num primeiro nive1, apenas como gestuais e<br />

simb6licos, e reservar a urn segundo plano a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> urn uso anaf6rico ou nao. Algo<br />

como 0 esqu<strong>em</strong>a abaixo:


maiores ...reserva <strong>de</strong> petr6leo" «F) 02-45 - conversa esponttmea -<br />

PORCUFORT)<br />

o pronome circunstancial "la", <strong>em</strong> (34), realiza 0 que sera aqui <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> retoma<strong>da</strong><br />

hibri<strong>da</strong>, pois se trata <strong>de</strong> uma dupla indiciali<strong>da</strong><strong>de</strong>: uma se dirige a regi6es ja menciona<strong>da</strong>s no<br />

contexto; outra aponta para urn espa~o fisico distante <strong>da</strong> posi~ao real dos interlocutores, <strong>em</strong>bora<br />

este marco referencial esteja irnplicito. "La" tern, pois, urn uso dSitico simb6lico e, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, resgata anaforicamente uma fonte do contexto, 0 que endossa a tese <strong>de</strong> que dSixis e<br />

anafora po<strong>de</strong>rn coabitar pacificamente.<br />

Urn outro aspecto <strong>de</strong>ve ain<strong>da</strong> ser ressaltado. Se arrumamos no esqu<strong>em</strong>a 0 uso anaf6rico<br />

como urn subtipo <strong>de</strong> uso dSitico, t<strong>em</strong>os logo a impressao <strong>de</strong> que ele possui menor status. No<br />

entanto, se analisarmos atentamente 0 comportamento dos "dSiticos anaf6ricos" no discurso,<br />

ver<strong>em</strong>os que seria rnais justa <strong>de</strong>signa-los como "anaforicos <strong>de</strong>iticos". Observe-se 0 ex<strong>em</strong>plo:<br />

(35) "Levou 0 fen6meno (0 carne, nao a casa) ate a Prefeitura.<br />

La <strong>de</strong>scobriu que 0 responsavel e uma tal <strong>de</strong> 'aerocarta'." «E)<br />

cr6nica Alexandrino - cr6nica - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Quando 0 falante codifica 0 referente como "la", visa, <strong>de</strong> fato, a retomar a enti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

"Prefeitura", rnais do que a localizar a posi~ao do objeto discursivo como distante dos<br />

interlocutores. Ern outras palavras: a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>em</strong>prego e muito mais anaf6rica do que<br />

dSitica stricto sensu; a primeira e uma informayao dita; a segun<strong>da</strong> e nao-dita, para usar os<br />

termos <strong>de</strong> Ducrot (1977). De modo que, para esses casos <strong>de</strong> concomitancia anaf6rica e dSitica, 0<br />

quadro cIassificat6rio apresentado acima <strong>de</strong>veria estar invertido.<br />

Seguindo este raciocinio, na<strong>da</strong> obsta a que urn dSitico discursivo possa igualmente ter<br />

como objetivo retomar urn segrnento do contexto, ao mesmo t<strong>em</strong>po pressupondo 0 lugar do<br />

falante no ambiente real e acumulando, assim, urn outro uso dSitico, gestual ou simb6lico.<br />

Imagine-se que urn aluno, <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> urn texto escrito, pergunte a urn professor <strong>de</strong> portugues:<br />

(36) Professor, essa frase aqui: 'A maioria <strong>da</strong> turma tiraram<br />

nota baixa' esta correta?<br />

"Essa frase aqui", <strong>de</strong>certo, nao e urn anaf6rico, pois r<strong>em</strong>ete, metalinguisticamente, a uma<br />

forma do pr6prio texto; trata-se, portanto, urn dSitico discursivo. Por outro angulo, 0<br />

<strong>de</strong>monstrativo reforyado pelo circunstancial indica urn espayo real <strong>da</strong> situayao comunicativa,<br />

recebendo urn apoio gestual, que e acompanhado peloouvinte.


A localiza


o diseurso quebra eonstant<strong>em</strong>ente sua<br />

lineari<strong>da</strong><strong>de</strong>, e sua opaei<strong>da</strong><strong>de</strong>; <strong>em</strong> sua tentativa <strong>de</strong><br />

superar os obstaeulos, mu<strong>da</strong> sua planijiea9fio e<br />

modifiea ad hoc seu modo <strong>de</strong> organizar-se.<br />

(Mon<strong>da</strong><strong>da</strong>)<br />

o termo referir velO do latim "referre", que, por sua vez, se ongmou do grego<br />

"anapherein", corn 0 significado <strong>de</strong> "trazer para tnis", "l<strong>em</strong>brar" ou "repetir". Corn base nesse<br />

valor etimol6gico, sustentou-se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a amifora 35 acontece quando urn pronome se<br />

refere a seu antece<strong>de</strong>nte. A lingiHstica mo<strong>de</strong>rna, por<strong>em</strong> (ver, por ex<strong>em</strong>plo, Lyons, 1977), tern<br />

adotado tradicionalmente outra concepc;ao: a <strong>de</strong> que urn el<strong>em</strong>ento anaf6rico (enten<strong>da</strong>-se: f6rico)<br />

se refere aquilo a que seu antece<strong>de</strong>nte se refere. Levinson (1983) tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong>clara que urn uso<br />

anaf6rico se <strong>da</strong> quando algum el<strong>em</strong>ento escolhe como referente a mesma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> seleciona<strong>da</strong><br />

por outro termo anterior no discurso.<br />

Este conceito, no entanto, al<strong>em</strong> <strong>de</strong> presumir que a linguag<strong>em</strong> se refere diretamente ao<br />

mundo, enclausura a anafora nos lin<strong>de</strong>s estreitos <strong>da</strong> correferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, 0 que nao se coaduna<br />

com 0 suporte te6rico <strong>de</strong> nosso estudo.<br />

A perspectiva tradicional, concebendo a referencia como uma associac;ao direta <strong>da</strong>s<br />

seqiH~ncias <strong>da</strong> lingua a <strong>de</strong>terminados segmentos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, v<strong>em</strong>-se perpetuando <strong>em</strong> muitos<br />

estudos linguisticos, ain<strong>da</strong> que, por vezes, <strong>de</strong> forma vela<strong>da</strong>. Tome-se como representac;ao clara<br />

<strong>de</strong>ste ponto <strong>de</strong> vista a proposta <strong>de</strong> Milner (1982), ora analisa<strong>da</strong> brev<strong>em</strong>ente para fins <strong>de</strong><br />

contestac;ao.<br />

A referencia <strong>de</strong> uma sequencia nominal, para Milner, sena 0 segmento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ao<br />

qual esta associa<strong>da</strong>, mas, uma vez que os "segmentos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>" nao precisam ser,<br />

necessariamente, espacio-t<strong>em</strong>porais, entao seria possivel que os nomes abstratos, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

35 A palavra anajora adveio do latim "anaphora", que se formou <strong>da</strong> jun


a ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> lexical individual, e relacionado urn conjunto <strong>de</strong> condiyoes<br />

que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> satisfazer urn segmento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> para po<strong>de</strong>r ser a referencia <strong>de</strong><br />

uma sequencia on<strong>de</strong> intervira crucialmente a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> lexical <strong>em</strong> causa. Este<br />

conjunto <strong>de</strong> condiyoes <strong>de</strong>screve, entiio, urn tipo (ou, se quiser, uma classe)<br />

<strong>de</strong> referencia possivel (Milner, 1982: 10)<br />

Haveria, assim, uma especie <strong>de</strong> "referencia virtual", que se estabeleceria, potencial mente,<br />

entre a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> lexical e as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e condiyoes caracterizadoras. No lexico <strong>de</strong> uma lingua,<br />

os itens se distinguiriam, portanto, <strong>de</strong>ntre outros aspectos, consoante esse tipo <strong>de</strong> refen3ncia, e as<br />

classes seriam nomea<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acordo com urn conjunto <strong>de</strong> condiyoes a ser<strong>em</strong> atendi<strong>da</strong>s.<br />

Por outro lado, existiria uma "referencia real", que se manteria entre as classes <strong>de</strong><br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do lexico e as coisas do mundo, urn conceito que traduz exatamente 0 que a<br />

concepyao tradicional enten<strong>de</strong> por referencia propriamente dita, ou seja, aquela <strong>em</strong> que 0<br />

enunciador, ao <strong>em</strong>pregar <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s sequencias lingliisticas, r<strong>em</strong>ete aos objetos mun<strong>da</strong>nos.<br />

Quando se Ie, por ex<strong>em</strong>plo:<br />

enten<strong>de</strong>-se, pela <strong>de</strong>scriyao <strong>de</strong> Milner, que a referencia real <strong>da</strong> expressao <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque<br />

correspon<strong>de</strong>ria a enti<strong>da</strong><strong>de</strong> mun<strong>da</strong>na <strong>em</strong> que se encontra afixado 0 aviso. Sua referencia virtual,<br />

por outro 1ado, representaria os trayos <strong>de</strong>scritivos <strong>de</strong> uma classe concebi<strong>da</strong> como casa, pe10s<br />

quais e possive1 consi<strong>de</strong>rar sua referencia real.<br />

Como admite 0 proprio autor, a referencia virtual guar<strong>da</strong> equivalencia com a nOyaO <strong>de</strong><br />

sentido, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que "representa a <strong>de</strong>finiyao do diciomirio" (Milner, 1982: 10). As<br />

condiyoes implica<strong>da</strong>s pela referencia virtual correspon<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> fato, ao significado <strong>de</strong>scritivo do<br />

1ex<strong>em</strong>a. Mas enten<strong>de</strong>mos que tamb<strong>em</strong> se aproximam do que se caracteriza como <strong>de</strong>notayao,<br />

pois, assim como 0 conceito <strong>de</strong> sentido, a <strong>de</strong>notayao so e apIicavel as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Iexicais como<br />

classes, nao como expressoes <strong>em</strong> US0 36 . Por esse trayo, sentido e <strong>de</strong>notayao, conforme Lyons<br />

(1977), val<strong>em</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> enunciados particulares.<br />

A <strong>de</strong>notayao diz respeito ao relacionamento entre os lex<strong>em</strong>as e as pessoas, coisas, lugares,<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, processos e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s exteriores ao sist<strong>em</strong>a Iinguistico (Lyons, 1977), ou seja,<br />

36 As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Iexicais vistas como classes, Lyons (1977 ) chama <strong>de</strong> "Iexernas"; as que se encontram <strong>em</strong><br />

ocorrencia <strong>de</strong> uso, eIe <strong>de</strong>signa como "expressoes referenciais".


entre as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do lexico e as classes <strong>de</strong> individuos por elas <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s. Por se processar<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> abstrato, sentido e <strong>de</strong>nota


(39) "Com efeito, Rui <strong>de</strong> Leao s6 ingere 0 elixir <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum<br />

t<strong>em</strong>po, quando se ve doente e <strong>de</strong>senganado pelo curan<strong>de</strong>iro <strong>da</strong> tribo;<br />

e mesmo assim 0 faz achando que aquele Iiquido iria, quando<br />

muito, cura-Io <strong>da</strong> febre maligna." ((E) ensaio - artigo cientffico -<br />

corpus compl<strong>em</strong>entar).<br />

Por sua vez, a correferencia virtual exigiria i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> material <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s linguisticas,<br />

isto e, requereria co-significavao <strong>da</strong>s expressoes referenciais, pelo recurso <strong>da</strong> reiteravao, como<br />

no ex<strong>em</strong>plo:<br />

(40) "As variay6es do fantastico sac tao numerosas que<br />

subvert<strong>em</strong> a or<strong>de</strong>m preestabeleci<strong>da</strong> pelas teorias; 0 que nao quer<br />

dizer que essas varia~oes impossibilit<strong>em</strong> a caracterizac;ao do<br />

fantastico como genero. ((E) ensaio - artigo cientlfico - corpus<br />

compl<strong>em</strong>entar)<br />

Note-se que a correferencia virtual presume uma visao <strong>de</strong> sinonimia perfeita, que 0<br />

proprio autor admite ser uma imag<strong>em</strong> utopica, por isso inviavel. Al<strong>em</strong> disso, como observa<br />

Corblin (1985), as linguas nao codificam uma forma especifica para recuperar referentes, <strong>de</strong><br />

modo que n<strong>em</strong> mesmo a repetivao literal <strong>de</strong> urn termo garante que se va retomar,<br />

necessariamente, a mesma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> ja menciona<strong>da</strong>. As estruturas usa<strong>da</strong>s para referir urn objeto<br />

do contexte po<strong>de</strong>m ser as mesmas <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s para indicar urn el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> situavao<br />

extralinguistica ou trechos inteiros do discurso. Por isso a amifora, correferencial ou nao, nao<br />

dispoe, a ca<strong>da</strong> vez, <strong>de</strong> uma categoria formal que a represente. Trata-se <strong>de</strong> relavoes referenciais<br />

multiformes e nao-especializa<strong>da</strong>s.<br />

Embora ciente <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>ssas limita90es, Milner (1982), para <strong>da</strong>r suporte a sua tese <strong>da</strong><br />

correferencia virtual, trabalha, entao, com a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> "intersevao referencial" e <strong>de</strong><br />

"inc1usao", permitindo, <strong>de</strong>ssa maneira, que duas referencias virtuais distintas possam ser<br />

virtualmente correferentes por dividir<strong>em</strong> certos travos <strong>em</strong> comum.<br />

Conquanto, na anafora nominal, a correferencia virtual se caracterize pela novao <strong>de</strong><br />

"i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>" dos tra90s lexicais, as duas i<strong>de</strong>ias nao se equival<strong>em</strong>. Vma forte evi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong>sta<br />

afirmavao e a existencia <strong>da</strong> anafora pronominal, pois nao se po<strong>de</strong>ria falar <strong>de</strong> "i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

material (lexical)" entre nomes e pronomes. Milner (1982) sugere, <strong>em</strong> vista disso, que 0<br />

pronome <strong>de</strong>veria ter a mesma referencia virtual que seu antece<strong>de</strong>nte (ou fonte), ratificando,<br />

assim, a hipotese <strong>de</strong> correferencia virtual. Enten<strong>da</strong>-se, <strong>de</strong>ste artificio, que, enquanto, na anafora<br />

nominal, a referencia virtual estaria relaciona<strong>da</strong> com a retoma<strong>da</strong> <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>em</strong> comum <strong>da</strong>s<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s lexicais, nos pronomes, ela estaria liga<strong>da</strong> it recupera'Yao dos tra90s do nome-<br />

antece<strong>de</strong>nte.


A correferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> efetiva<strong>da</strong> pelo pronome anaf6rico po<strong>de</strong>ria, entao, por esse recurso,<br />

ser real ou virtual. IJuas gran<strong>de</strong>s situac;oes <strong>de</strong> correferencia seriam provaveis <strong>de</strong> ocorrer: uma<br />

prototipica, <strong>em</strong> que as referencias reais seriam i<strong>de</strong>nticas; outra, mais complexa, <strong>em</strong> que, nao<br />

apresentando correferencia real, a anafora s6 se justificaria pela correferencia virtual. Veja-se 0<br />

ex<strong>em</strong>plo seguinte:<br />

(41) 0 processo contra os inconfi<strong>de</strong>ntes se arrastou ate 1792.<br />

Dos onze con<strong>de</strong>nados a fo rca , s6 Tira<strong>de</strong>ntes foi executa do. 0 Foi<br />

enforcado no Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>em</strong> 21 <strong>de</strong> abril do mesmo ano.<br />

(ex<strong>em</strong>plo a<strong>da</strong>ptado para esta situa


genero, numa totali<strong>da</strong><strong>de</strong> constante <strong>em</strong> si mesma, como "<strong>em</strong>pregador" neste ex<strong>em</strong>plo, mas ca<strong>da</strong><br />

valor, variavel quanta a sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> substancial. Nao v<strong>em</strong>os como afirmar que "ele", por esse<br />

vies <strong>de</strong> analise, tenha correferencia real com urn <strong>em</strong>pregador a ca<strong>da</strong> vez, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

substancial <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> individuo, pois nao e esta interpretayaO <strong>de</strong> individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> - par <strong>de</strong>finiyao,<br />

oposta a <strong>de</strong> generici<strong>da</strong><strong>de</strong> - que v<strong>em</strong> a mente do <strong>de</strong>stinatario.<br />

Exigir <strong>da</strong> anafora 0 trayo <strong>de</strong> correferencia po<strong>de</strong> mesmo conduzir a serios impasses, como<br />

o <strong>da</strong> caracterizavao <strong>de</strong> certos usos do pronome pessoal <strong>de</strong> terceira pessoa. Levinson (1983),<br />

baseado numa situar;ao ja reanalisa<strong>da</strong> por Lyons (1977), e por outros, chega a conceber 0<br />

pronome obliquo do ex<strong>em</strong>plo seguinte como <strong>de</strong>itico discursivo, pela simples ausencia <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> correferencial, que 0 autor sup5e muito propria <strong>da</strong> anafora:<br />

'0 hom<strong>em</strong> que <strong>de</strong>u seu cheque-sabirio para sua mulher era mais<br />

sensato do que aquele que 0 <strong>de</strong>u para sua camareira.' Neste caso, 0 pronome 0<br />

roo e correferencial com seu cheque-salano C.. ). Talvez se possa dizer que 0<br />

pronome se refere com sucesso par meio <strong>de</strong> uma referencia <strong>de</strong>itico-discursiva<br />

a urn SN anterior (Levinson, 1983:86-87).<br />

o obliquo acima nao partilha, por<strong>em</strong>, <strong>da</strong>s caracteristicas comuns aos <strong>de</strong>iticos discursivos;<br />

representa, antes, uma retoma<strong>da</strong> parcial do referente, correspon<strong>de</strong>nte a urn "recorte" do<br />

sintagma. Apenas por uma questao <strong>de</strong> "comodi<strong>da</strong><strong>de</strong> gramatical"38, aproveita-se <strong>de</strong>le somente a<br />

forma e 0 significado do nucleo, para realizar uma outra referenciayao.<br />

Corblin (1985) cita urn ex<strong>em</strong>plo s<strong>em</strong>elhante para mostrar que a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> referencial (ou<br />

correferencia) nao correspon<strong>de</strong> a uma categoria <strong>da</strong> lingua, e que anafora e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

referencial sac duas nOyoes aut6nomas:<br />

(43) "Maria pes seu salario no banco e Jeane 0 gastou logo."<br />

(Corblin, 1985: 177)<br />

Milner (1982) consi<strong>de</strong>raria ocorrencias assim como casos <strong>de</strong> correferencia apenas virtual.<br />

Mas admitir a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que tais pronomes sac co-significativos com 0 SN-fonte (do mesmo<br />

modo que acontece com "0 <strong>em</strong>pregador" e "ele", acima) e toma-los como vazios, como se<br />

assumiss<strong>em</strong> 0 significado do sintagma nominal que recuperam, conforme prop5e 0 autor.<br />

38 Leia-se, sobre isso, a opiniao <strong>de</strong> Lyons: "Sob a interpreta((ao<strong>de</strong> (15) que nos interessa aqui, 0 pronome '0' roo<br />

e correferencial com 'seu cheque-salano'; e nao havia nenhuma men~o previa a enti<strong>da</strong><strong>de</strong> a qual '0' se refere. Para<br />

a a:n:llise<strong>de</strong> (15), Partee (1973) propoe 0 tratamento que, seguindo Geach (1962), chama <strong>de</strong> 'pronomes <strong>de</strong><br />

comodi<strong>da</strong><strong>de</strong>'. :It caracteristica dos pronomes <strong>de</strong> 'comodi<strong>da</strong><strong>de</strong>' po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ser substituidos por e:x:pressoes<br />

i<strong>de</strong>nticas, mas nao necessariamente correferenciais, as expressoes antece<strong>de</strong>ntes." (Lyons, 1977:674 - negrito<br />

nosso).


Sabe-se, por<strong>em</strong>, que os pronomes apresentam, s<strong>em</strong>elhant<strong>em</strong>ente aos nomes, suas<br />

particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s s<strong>em</strong>anticas e urn significado fiX0 39 : 0 <strong>de</strong>monstrativo 0, par ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong>nota<br />

nao-pessoa, porta 0 trayo <strong>de</strong> inanimado, e singular etc. E qualquer enti<strong>da</strong><strong>de</strong> a que se refira <strong>de</strong>ve<br />

ajustar -se minimamente a essas caracteristicas. Nao aceitamos, par isso, que os anaforicos<br />

pronominais sejam co-significativos, ou, nas palavras <strong>de</strong> Milner (1982), que tenham<br />

correferencia virtual com suas fontes. 0 criterio <strong>da</strong> virtuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e, alias, incompativel com os<br />

processos <strong>de</strong> referenciayao, incluindo correferencia, anafora e <strong>de</strong>ixis discursiva, to<strong>da</strong>s<br />

instaura<strong>da</strong>s pelo discurso.<br />

Po<strong>de</strong>-se falar <strong>de</strong> anafora no ex<strong>em</strong>plo acima, como salienta Corblin (1985), mas nao <strong>de</strong><br />

correferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, 0 que <strong>de</strong>monstra que os dois conceitos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> fato, urn do outro.<br />

Mais urn porno <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e a afirmayao, <strong>de</strong> Milner (1982), <strong>de</strong> que a relayao<br />

anaforica e exclusivamente interpretavel pelo contexto lingiiistico, s<strong>em</strong> que se precise recorrer<br />

a informayoes extralingilisticas pressupostas. Entretanto, basta urn ex<strong>em</strong>plo corriqueiro para<br />

compreen<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> imediato, que as informayoes respal<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo conhecimento compartilhado<br />

sac imprescindiveis para a interpretayao do anaforico. Urn ex<strong>em</strong>plo, ja reanalisado por<br />

Apotheloz; Reichler-Beguelin (1995), e muito divulgado na literatura sobre 0 assunto, reforya 0<br />

que diss<strong>em</strong>os. Em portugues, 0 texto seria mais ou menos assim:<br />

(44) "[0 guar<strong>da</strong> traz a refeic;ao.]<br />

Primeiro preso: - Que e isso?<br />

Guar<strong>da</strong>: - Urn consome a mo<strong>da</strong> do chefe ...<br />

[as homens comeyam a comer. ..]<br />

Segundo presQ: - Ela nao e "tomavel".<br />

(Apotheloz; Reichler-Beguelin (1995:255)<br />

Nao fosse 0 esforyo cooperative (no sentido <strong>de</strong> Grice, 1975) do receptor para estabelecer,<br />

por meio <strong>de</strong> urn conteudo compartilhado, a ligayao entre "consome" e "sopa", a relayao<br />

anaforica entre "ela" e "sopa" nao seria reconheci<strong>da</strong>. Ain<strong>da</strong> que nao explicite, 0 falante<br />

seleciona a expressao recategorizadora "a sopa" <strong>em</strong> funyao dos propositos que preten<strong>de</strong> atingir,<br />

e so 0 faz consi<strong>de</strong>rando 0 background do ouvinte sobre as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s que permit<strong>em</strong><br />

caracterizar 0 referente como tal.<br />

39 Vale conferir a discussao <strong>de</strong> Monteiro (1991:36) sobre 0 assunto. Afirma 0 autor que "talvez a situa


Isto <strong>de</strong>monstra que a apreensao dos processos anaf6ricos nao se alcanc;a somente par meio<br />

<strong>de</strong> recursos estritamente linguisticos, como preten<strong>de</strong> a autor. A recategorizac;ao "sopa" tern urn<br />

objetivo discursivo muito claro: a preso <strong>de</strong>seja sustentar a ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> que a refeiC;ao era<br />

pessima. Enquanto "canso me" sugere urn manjar mais au menos refinado, "sopa" po<strong>de</strong> ter,<br />

inclusive, valor pejarativo. Ejustamente para explorar essa conotac;ao negativa que "canso me"<br />

e implicitamente recategorizado como "sopa", e <strong>de</strong>signado, posteriormente, par "ela". Para<br />

interpretar as processos <strong>de</strong> referenciac;ao, e, portanto, fun<strong>da</strong>mental ter <strong>em</strong> conta, <strong>de</strong>ntre outros<br />

aspectos, a intenc;ao argumentativa do falante.<br />

As expressoes anaf6ricas sao, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, incompletas, porque nao somente necessitam <strong>da</strong><br />

informac;ao presente no discurso, como tamb<strong>em</strong>, muitas vezes, s6 sao i<strong>de</strong>ntificaveis par meio <strong>de</strong><br />

uma "ponte inferencial" (Kleiber et alii, 1991:32 4 °), que estabelece a elo entre a termo<br />

anaf6rico e a fonte.<br />

Constatamos, assim, a quanta e insuficiente e insatisfat6rio aceitar a referencia como uma<br />

relaC;ao direta "entre as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do lexica e as coisas do mundo". Para manter a noC;ao <strong>de</strong><br />

correferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, nao s6 nesta como <strong>em</strong> diversas situac;oes, e necessaria alterar a pr6pria<br />

concepc;ao <strong>de</strong> referencia Do contrario, inumeros enunciados nao se ajustariam as <strong>de</strong>finic;oes<br />

postula<strong>da</strong>s, e teriam que merecer consi<strong>de</strong>rac;ao a parte.<br />

Vma mu<strong>da</strong>nc;a <strong>de</strong> perspectiva <strong>de</strong>ssa natureza <strong>de</strong>sfigura a pr6prio conceito <strong>de</strong> referencia<br />

fincado no ponto <strong>de</strong> vista classico, filosoficamente realista, com que Milner e outros tern li<strong>da</strong>do.<br />

Este trabalho assume, com ApotMloz; Reichler-Beguelin (1995), Mon<strong>da</strong><strong>da</strong>; Dubois (1995), e<br />

ain<strong>da</strong> outros, uma noc;ao representacional e construtivista <strong>da</strong> referencia. Par esta visao, as<br />

referentes nao r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> diretamente aos segmentos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e nao sao, portanto, objetos do<br />

mundo, mas "construtos culturais". ApotMloz; Reichler-Beguelin (1995) prefer<strong>em</strong> chama-los<br />

<strong>de</strong> "objetos do discurso" (e Mon<strong>da</strong><strong>da</strong>, <strong>de</strong> "objetos <strong>de</strong> discurso", confarme ja dito <strong>em</strong> 1.2.2),<br />

"representac;ao alimenta<strong>da</strong> pela ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> linguistica" (ApotMloz; Reichler-Beguelin,<br />

1995:239). Os objetos <strong>de</strong> discurso sofr<strong>em</strong> transformac;oes a medi<strong>da</strong> que se modifica a estado <strong>da</strong><br />

m<strong>em</strong>6ria discursiva (au dos esqu<strong>em</strong>as que vao se ampliando ao longo <strong>da</strong> enunciac;ao). E a<br />

processo que se verifica na relac;ao entre "consome" e "sopa" do ex<strong>em</strong>plo anterior. 0 que<br />

i<strong>de</strong>ntifica a referente e, agora, a bagag<strong>em</strong> <strong>de</strong> conhecimento sabre a assunto <strong>de</strong> que dispo<strong>em</strong> as<br />

interlocutores a ca<strong>da</strong> momenta <strong>da</strong> interac;ao. 0 reconhecimento do referente (au do objeto <strong>de</strong><br />

40 Como afirma 0 autor: "To<strong>da</strong> arullora precisa, para sua resolu~o, <strong>de</strong> urn processo <strong>de</strong> inferencia, ain<strong>da</strong> que<br />

normalmente so se fale <strong>de</strong> inferencia para as amiforas nao-eorreferenciais. Isto pela boa e simples razao <strong>de</strong><br />

que as express5es arulioricas sao express5es incompletas, que necessitam do recurso a informac;ao presente<br />

anteriormente no discurso, uma compl<strong>em</strong>entac;ao<strong>de</strong> sentido que precisa <strong>de</strong> uma ponte inferencial." (Apotheloz;<br />

Reichler-Beguelin, 1995:32 - grifo nosso).


discurso) e 0 produto <strong>de</strong> uma intera


As express5es que <strong>de</strong>signam a anafora e a <strong>de</strong>ixis discursiva po<strong>de</strong>m, assim, a todo instante,<br />

softer urn processo <strong>de</strong> (re)categorizac;a0 41 . Neste estudo, investigamos se ambas po<strong>de</strong>m<br />

recategorizar-se pelos mesmos recursos e se isso, <strong>de</strong> alguma mane ira, redun<strong>da</strong> na diferenc;a<br />

entre e1as.<br />

De acordo com Marcuschi; Koch (1998), n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre urn anaf6rico e pronominal,<br />

correferencial n<strong>em</strong> co-significativo; tamb<strong>em</strong> n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre tern uma fonte explicita no contexto.<br />

E urn sentido <strong>de</strong> anafora, portanto, b<strong>em</strong> mais largo do que aquele consi<strong>de</strong>rado par Halli<strong>da</strong>y;<br />

Hasan (1973).<br />

o primeiro tipo <strong>de</strong> anaf6rico, e mais representativo, e <strong>de</strong> fato aquele que correfere, isto e,<br />

que retoma total mente urn referente, e que, al<strong>em</strong> disso, mant<strong>em</strong> 0 significado <strong>da</strong> expressao<br />

referi<strong>da</strong>, ou seja, estabe1ece com ela uma relac;ao <strong>de</strong> co-significac;ao (s<strong>em</strong>, naturalmente,<br />

constituir urn sin6nimo perfeito), como no ex<strong>em</strong>plo abaixo:<br />

(45) "A significa


etoma<strong>da</strong> se pren<strong>de</strong> a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> urn ponto central <strong>de</strong> referencia, que nao implica<br />

necessariamente i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> (correferencia). Portanto, ain<strong>da</strong> que coexistam, as duas nOyoes nao<br />

coinci<strong>de</strong>m, porque se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> segundo criterios b<strong>em</strong> distintos.<br />

Prosseguindo a <strong>de</strong>scriyao dos anaf6ricos, 0 segundo tipo, tamb<strong>em</strong> correferencial, <strong>da</strong>-se<br />

quando 0 el<strong>em</strong>ento anaforizante e codificado nao por um SN, mas por um pronome, manifesto<br />

ou nao no texto. Ex<strong>em</strong>plos:<br />

(46) "um relatorio reservado do centro experimental. .. <strong>de</strong>screve<br />

o aci<strong>de</strong>nte do operador E. G... ele teve as mElDs contamina<strong>da</strong>s ... ao<br />

utilizar uma torneira... que estava impregna<strong>da</strong> <strong>de</strong> material<br />

radioativo ... <strong>de</strong>rivado do uranio ..." (F041 - noticia <strong>de</strong> TV - NELFE)<br />

(47) "viu Eronaldo ... papai foi pra Natal e 10 nao falou na<strong>da</strong>"<br />

(F027 - conversa espontanea - NELFE)<br />

o pronome "ele", <strong>em</strong> (46), retoma explicitamente a fonte "operador E.G.", e 0 zero<br />

tamb<strong>em</strong> mant<strong>em</strong> a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> referencial <strong>de</strong> "papai". To<strong>da</strong>via, como ja explicamos, nao se<br />

po<strong>de</strong> afirmar que 0 anaf6rico e seu correferente co-signifiqu<strong>em</strong>. N<strong>em</strong> tampouco e possivel<br />

encontrar nisto urn processo <strong>de</strong> recategorizayao 42.<br />

Um terceiro tipo <strong>de</strong> anaf6rico, ain<strong>da</strong> correferencial, verifica-se quando a expressao<br />

antece<strong>de</strong>nte e recategoriza<strong>da</strong> (e ai, obviamente, nao ha co-significayao). Conforme analisa<br />

Marcuschi (1998), neste caso nao acontece uma retoma<strong>da</strong> explicita como nos dois anteriores. A<br />

transformayao po<strong>de</strong> ser opera<strong>da</strong> por sinonimia, parafrase, associayao, metonimia etc. Ex<strong>em</strong>plo:<br />

(48) "lnf.2 0 mundo todo fala nesse principe ...ne?<br />

Inf.1 televisao {tudo ne?<br />

Inf.2 quer dizer 0 CAra que que e que 0 cara t<strong>em</strong>? ..pra<br />

<strong>da</strong>r? ...pro mundo? na<strong>da</strong> ...<br />

Inf.1 e<br />

Inf.2 ne?.. e esse hom<strong>em</strong> e::: e manchete <strong>em</strong> to<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

todo mun<strong>da</strong> isso e que Ita totalmente errado ..." ((F) 02-45 -<br />

conversa espontanea - PORCUFORT)<br />

Observe-se que 0 mesma referente <strong>de</strong> "esse principe" e primeiro retomado como "0 cara"<br />

e, <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, como "esse homern".<br />

Outras situac;oes <strong>de</strong> anafora se afastam, por<strong>em</strong>, <strong>de</strong>sse padrao <strong>de</strong> correferencia, como se<br />

nota no excerto abaixo:<br />

42 Deve-se enten<strong>de</strong>r, portanto, que, <strong>em</strong>bora to<strong>da</strong> recategoriza


(49) "mas hoje ja exist<strong>em</strong> aparelhos ... ou DObro do tamanho<br />

do Palomar ... no Havaf... 0 Malmequer ja tern onze metro ...<br />

Palomar t<strong>em</strong> cinco metrol por <strong>de</strong>zoito ... Ita certo? .. entao com todo<br />

esse avanyo <strong>da</strong> puxa<strong>da</strong> e a imag<strong>em</strong> trabalha<strong>da</strong> no computador ( ) 0<br />

GAY ... eu ja tenho uma camera que tern gay... significa urn<br />

intensificador <strong>de</strong> imag<strong>em</strong> quer dizer ... e uma mesma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

voce ver luz ... a ponto <strong>de</strong> praticamente voce ver 0 que 0 olho nao<br />

registra... quer dizer ela Ita imitando ja <strong>de</strong> PERto 0 olho humano ...<br />

ne?.. TODA essa tecnologia tern permitido a gente pegar<br />

estrelas mais pr6ximas e super ampliar e tentar verificar 0 que que<br />

tern ao redor <strong>de</strong>las ..." «F) EF-53 - aula - PORCUFORT)<br />

A expressao referencial, <strong>em</strong> (49), retoma implicitamente, mas s<strong>em</strong> correferir, uma serie <strong>de</strong><br />

aparelhos ou <strong>de</strong> dispositivos que possibilitam a ciencia maior grau <strong>de</strong> precisao. Trata-se <strong>de</strong> uma<br />

rela~ao hiperonimica. "To<strong>da</strong> essa tecnologia", conforme e visivel, nao e co-signitificativa com<br />

nenhum termo anterior; as fontes sao transforma<strong>da</strong>s e dimensiona<strong>da</strong>s por uma generaliza~ao que<br />

aju<strong>da</strong> a conduzir 0 ponto <strong>de</strong> vista do enunciador. Este quarto tipo <strong>de</strong> anafora nao po<strong>de</strong>, portanto,<br />

ser caracterizado como correferencial. As vezes, a recupera~ao do el<strong>em</strong>ento se faz simplesmente<br />

por inferencia~ao, como <strong>em</strong> (50):<br />

(50) "C: nao ... e que eu num t6 a fim <strong>de</strong> trabalhar. .. viu S...<br />

esse e que e 0 probl<strong>em</strong>a (...)<br />

S: nao po<strong>de</strong> <strong>de</strong>svirtuar hein meu ... precisamos trabalhar e a<br />

grana?<br />

C: [ahn?<br />

S: [e a grana?<br />

(. ..)<br />

C: «falando rapi<strong>da</strong>)) [a gente pa<strong>de</strong> inventar outro programa al"<br />

(F034 - canversa espontanea - NELFE)<br />

A expressao anaf6rica "outro programa ai" nao recupera um referente explicito no<br />

contexto. Possivelmente, primeiro verificou-se uma nominaliza


enti<strong>da</strong><strong>de</strong> nao previamente introduzi<strong>da</strong> no discurso, e so e i<strong>de</strong>ntificavel por inferencia a partir <strong>da</strong>s<br />

informavoes contextuais.<br />

E preciso reconhecer que a anafora associativa nao retoma referentes do mesmo modo que<br />

a anafora comum. Veja-se 0 seguinte ex<strong>em</strong>plo:<br />

(51) Men<strong>em</strong> ja fez uma reforma substancial, privatizou tudo.<br />

Seu probl<strong>em</strong>a e diferente: e 0 esgotamento <strong>de</strong>sse processo, ja que a<br />

Argentina nao t<strong>em</strong> mais na<strong>da</strong> para privatizar e a pirotecnia acabou.<br />

Fernando Henrique esta num paIs que t<strong>em</strong> uma economia fecha<strong>da</strong> e<br />

com monopolios gigantescos, como a Petrobras e as<br />

telecomunica96es. Ou seja, no Brasil 0 processo esta comevando.<br />

Os fogos ain<strong>da</strong> vao queimar. (E015 entrevista <strong>em</strong> revista -<br />

NELFE)<br />

o sintagma nominal <strong>de</strong>finido, <strong>em</strong> (51), tern uma certa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia interpretativa do<br />

referente <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador, com 0 qual esta lexical mente ligado por uma relavao <strong>de</strong> inclusao <strong>de</strong><br />

"fogos" no significado <strong>de</strong> "pirotecnia". 0 ex<strong>em</strong>plo aten<strong>de</strong> aos parametros <strong>de</strong>scritos par Kleiber<br />

et alii (1991) para a caracterizavao do fenomeno, porque:<br />

• introduz urn referente novo sob 0 modo do conhecido 43 (ou do <strong>de</strong>finido, ou ain<strong>da</strong><br />

do <strong>de</strong>terminado), ja que pressupoe 0 conhecimento compartilhado dos interlocutores para<br />

estabelecer a relavao entre "fogos" e "pirotecnia";<br />

• retoma urn referente diferente <strong>da</strong>quele que ja foi mencionado previamente, e e este<br />

referente anterior que permite completar ou saturar 0 sentido pretendido. Trata-se <strong>de</strong> uma<br />

"anafora indireta", ja que e apenas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>da</strong> por uma fonte.<br />

Exist<strong>em</strong>, <strong>de</strong> maneira geral, duas especies <strong>de</strong> analise <strong>da</strong> anafora associativa: uma amp la,<br />

outra estreita. A gran<strong>de</strong> questao, que tern gerado muita pol<strong>em</strong>ica entre os parti<strong>da</strong>rios <strong>da</strong>s duas<br />

concepvoes, e saber que restrivoes lingiiisticas (formais) estao implica<strong>da</strong>s na relavao entre 0 SN<br />

fonte e 0 sintagma <strong>em</strong> anafora associativa. Explicam Kleiber et alii:<br />

A oposi~ao entre concep~ao ampla e concep~ao estreita se traduz por<br />

uma extensao sensivelmente diferente: a <strong>de</strong>fini~ao ampla aceita todo<br />

pronome anaf6rico indireto e todo <strong>de</strong>monstrativo anaf6rico indireto como<br />

anMora associativa, enquanto que a <strong>de</strong>fini~o estreita impe<strong>de</strong> tal reuniao, s6<br />

reconhecendo como anMora associativa possivel 0 SN com artigo <strong>de</strong>finido.


A causa essencial do <strong>de</strong>sacordo, parece-nos, resi<strong>de</strong> no tipo particular<br />

<strong>de</strong> categoria lingiiistica que constitui a amuora associativa. (Kleiber et alii,<br />

1991:8-9)<br />

Alegam os <strong>de</strong>fensores <strong>da</strong> concepc;ao estreita que 0 simples fato <strong>de</strong> a recuperac;ao ser<br />

inferencial e nao haver correferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> nao legitima a distinc;ao <strong>de</strong> uma categoria anaf6rica<br />

a parte, diferente <strong>da</strong> comum. As restric;oes formais seriam <strong>de</strong>cisivas na <strong>de</strong>terminac;ao <strong>da</strong> anafora<br />

associativa, portanto. Vma mu<strong>da</strong>nc;a <strong>de</strong> categoria lingiiistica formal (como 0 uso do pronome<br />

<strong>de</strong>monstrativo, por ex<strong>em</strong>plo, no lugar do artigo <strong>de</strong>finido) implicaria, assim, uma outra<br />

c1assificac;ao <strong>de</strong> anafora.<br />

Na visao ampla, por outro lado, postula-se que a anafora associativa nao se acha<br />

restringi<strong>da</strong> pela forma, mas que ela tern uma pertinencia linguistica <strong>em</strong> si me sma. Ou seja,<br />

justifica-se reagrupar sob uma base {mica <strong>de</strong> configurac;ao conceitual situac;oes que apresentam<br />

categorias lingliisticas diferentes. (Kleiber et alii, 1991: 10)<br />

As duas concepc;oes conflu<strong>em</strong>, entretanto, para 0 reconhecimento <strong>de</strong> que 0 mecanismo<br />

que viabiliza a amifora associativa repousa sobre conhecimentos gerais, supostamente<br />

partilhados, que po<strong>em</strong> <strong>em</strong> relac;ao referencias genericas.<br />

A menc;ao previa <strong>de</strong> urn referente diferente saturando a interpretac;ao, e sua re1ac;aolexical<br />

com ele, e 0 criterio mais importante para justificar a separac;ao <strong>da</strong> aml.fora associativa (ou<br />

indireta, ou inferencial) <strong>da</strong> anafora comum.<br />

Em situac;oes como:<br />

(52) "lnf.1 ... e as <strong>de</strong>z hora{s ... na igreja do:: Sao Benedito<br />

Inf.2 la na::: ... igreja do Sao Benedito ...{ah<br />

Inf.1 eh... entao nos vamos eh a investidura vai ser eu<br />

acredito que 0 papai nao POssa {ir porQUE. ..<br />

Inf.2 nao vai nao<br />

Inf.1 e MUlto <strong>de</strong>morado<br />

Inf.2 <strong>de</strong>pois tern que subir aquela esca<strong>da</strong> ali na frente <strong>da</strong><br />

igreja e ele num consegue mais" ((F) 02-39 - conversa<br />

espontanea - PORCUFORT),<br />

o referente <strong>de</strong> "aquela esca<strong>da</strong>" foi saturado a partir do sintagma "na igreja do Sao Benedito",<br />

mas e novo para 0 discurso, porque a id6ia <strong>de</strong> "esca<strong>da</strong>" foi acrescenta<strong>da</strong> agora ao texto. Para a<br />

visao estreita, tal reconhecimento nao bastaria para c1assifica-la como anafora indireta, porque 0<br />

uso do <strong>de</strong>monstrativo ja assinalaria uma retoma<strong>da</strong> direta, correferencial. Desse modo, como<br />

diz<strong>em</strong> os autores:


E1as (as anMoras associativas] introduz<strong>em</strong> urn refercnte novo, porque<br />

nilo se trata <strong>de</strong> urn SN <strong>de</strong>finido <strong>de</strong> scgun<strong>da</strong> menc;ao,mas 0 aprcsentam sob 0<br />

modo do "<strong>de</strong>finido" ou do conhecido, porque sua incomp1etu<strong>de</strong> exige uma<br />

saturac;aoreferencial.<br />

Este fator tern per conseqiiencia separar a anMora associativa <strong>de</strong><br />

restric;oes s<strong>em</strong>elhantes que comportam 0 possessive ou Uln pronome<br />

(<strong>de</strong>monstrativo]. Seqiiencias assim esmo muito pr6ximas <strong>da</strong>s sequencias com<br />

anMora associativa: introduz<strong>em</strong> igualmente urn novo referente com a aju<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> urn referente mencionado anteriormente. Se nao sao cataloga<strong>da</strong>s como<br />

anMora associativa e porquc a aprescntac;ao do referente novo introduzido<br />

nilo e opera<strong>da</strong> precisamente sob 0 modo do conhecido: sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

explicitamente <strong>da</strong><strong>da</strong> como <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um outro referente per intermedio<br />

do possessivo e do pronome adnomina1 [<strong>de</strong>monstrativo]. (Kleiber et alii,<br />

1991:12)<br />

Com essa limitavao, nenhuma <strong>da</strong>s express5es indiciais analisa<strong>da</strong>s aqui (a imensa maioria<br />

assinala<strong>da</strong> par <strong>de</strong>monstrativo ou circunstancial) constituiria uma ocorrencia <strong>de</strong> amifora<br />

associativa. Tampouco se po<strong>de</strong>ria cogitar numa especie <strong>de</strong> "<strong>de</strong>ixis discursiva associativa". Os<br />

autares acrescentam que a amifora associativa:<br />

esta <strong>em</strong> re1ac;aoanaf6rica indireta (ou nao-correferencial) com 0 referente ja<br />

mencionado, enquanto que 0 SN possessivo ou a sequencia com urn pronome<br />

adnominal [<strong>de</strong>monstrativo] <strong>da</strong>o 1ugar a uma anMora direta ou<br />

correferenciaI com este referente. (Kleiber et alii, 1992:13 - grifo nosso).<br />

A menos, por<strong>em</strong>, que se re<strong>de</strong>fina a novao <strong>de</strong> correferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, nao se po<strong>de</strong> afirmar que<br />

a mera presenva do <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong>termine a "i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> referencial". Urn uso como "aquela<br />

esca<strong>da</strong>", <strong>em</strong> (52), na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, nao correfere, e sim, alu<strong>de</strong> a urn referente que a experiencia<br />

compartilha<strong>da</strong> permite construir e que as enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s do contexto anterior aju<strong>da</strong>m a completar<br />

E necessario precisar melhor os criterios que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> 0 fenomeno, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar<strong>de</strong> lado<br />

as restriv5es lexicais, mas tamb<strong>em</strong> s<strong>em</strong> se sujeitar as armadilhas <strong>da</strong> forma. A novao <strong>de</strong> anifora<br />

associativa manti<strong>da</strong> nesta pesquisa nao aceita totalmente as amarras <strong>da</strong> restrivao lexico-<br />

estereotipica. Nao por causa do rigor formal que os estudiosos tern conferido ao fenomeno, mas<br />

pelo s<strong>em</strong>-numero <strong>de</strong> ocorrencias que sobram inexplica<strong>da</strong>s, porque nos parec<strong>em</strong> tamb<strong>em</strong><br />

apresentar uma relavao associativa com uma fonte.<br />

Em sintese, po<strong>de</strong>mos dizer que existe anifora quando urn el<strong>em</strong>ento pronominal ou<br />

nominal, co-significativo ou nao, r<strong>em</strong>ete a urn referente presente no universo do discurso, mas<br />

nao necessariamente explicito no contexto, as vezes apenas inferido. Essa retoma<strong>da</strong> do objeto<br />

discursivo po<strong>de</strong> ser correferencial, au seja, total, au apenas parcial. Ou po<strong>de</strong> ser, ain<strong>da</strong>, que 0


anaf6rico, mesmo sendo urn el<strong>em</strong>ento novo para 0 discurso, recupere indiretamente urn objeto<br />

do contexto com 0 qual esta lexical mente associado.<br />

Marcuschi (1998) faz men


correferencial ~<br />

SN recategorizador (nao-co-significativo) ou categorizador<br />

reconstruido par inferencia<br />

SN inferido par associayao lexical, novo para 0 discurso,<br />

mas ligado a fonte por relayoes <strong>de</strong> inclusao<br />

SN categorizado, por urn processo indutivo, a partir <strong>de</strong><br />

pistas do contexto e <strong>da</strong> ativayao <strong>de</strong>frames.<br />

Contudo, conforme analisar<strong>em</strong>os no proximo capitulo, ao tentar<strong>em</strong> separar anaforicos e<br />

<strong>de</strong>iticos discursivos, alguns autores ain<strong>da</strong> persist<strong>em</strong> na equivalencia dos dois, contribuindo,<br />

<strong>de</strong>s sa forma, para a imprecisao dos criterios distintivos.


CAPITULO 3 - ANAFORA vs. DEIXIS DISCURSIV A E AS DUAS FACES<br />

DAMOEDA<br />

Os anaforicos aparec<strong>em</strong>, entlio, como termos <strong>de</strong><br />

natureza e funflio muito diferentes <strong>da</strong>quelas dos<br />

dfhticos, quando estes slio <strong>de</strong>jinidos como signos<br />

relacionando 0 enunciado a enunciaflio. (Lahud)<br />

Quando l<strong>em</strong>os uma explicayao como a <strong>de</strong> Levinson, abaixo, sobre 0 parametro que divi<strong>de</strong><br />

anaf6ricos e <strong>de</strong>iticos discursivos, v<strong>em</strong>-nos it mente dois pensamentos possiveis: ou os <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos s6 se diferenciam <strong>da</strong>s anaforas correferenciais, ou 0 autor opera com urn conceito<br />

excessivamente restritivo dos dois fenomenos. Senao vejamos:<br />

Harry tern born cora


(5) Pedro foi preso como estelionatirio. ISTO nao e <strong>de</strong> admirar.<br />

(Favero; Koch, 1983:39-40).<br />

Interessa-nos, particularmente, 0 ex<strong>em</strong>plo (5) <strong>da</strong>s autoras, <strong>em</strong> que 0 el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>stacado,<br />

uma vez retomando, nao-pontualmente, a proposiyao anterior, seria tipicamente caracterizado<br />

como <strong>de</strong>itico discursivo.<br />

o motivo <strong>da</strong> separayao entre amifora e <strong>de</strong>ixis discursiva provavelmente adveio <strong>de</strong> uma<br />

comprovayao dos diferentes tipos <strong>de</strong> referenciayao que os dois processos <strong>em</strong>preendiam.<br />

Percebeu-se que certas express5es resgatando el<strong>em</strong>entos do pr6prio texto, sobretudo os que<br />

resumiam pe<strong>da</strong>yos discursivos maio res, nao eram exatamente correferenciais. AMm disso,<br />

verificava-se uma relayao· intima entre <strong>de</strong>terminados pronomes (<strong>em</strong> geral, <strong>de</strong> valor<br />

<strong>de</strong>monstrativo ou circunstancial <strong>de</strong> lugar) e as men


Quando se diz que os <strong>de</strong>iticos discursivos faz<strong>em</strong> referencia ao conteudo proposicional <strong>de</strong><br />

trechos inteiros, t<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> mente uma ocorrencia do tipo:<br />

(54) "Por nao expressar a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> do que foi sua relayao <strong>de</strong><br />

prestayao <strong>de</strong> serviyos para com a ora reclama<strong>da</strong>, sendo a presente<br />

reclamat6ria total mente inconsistente e s<strong>em</strong> qualquer amparo legal<br />

que a acoberte e a legitime, isto sera <strong>de</strong>monstrado e comprovado no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>fesa." (E008 - documento judicial -<br />

NELFE)<br />

o <strong>de</strong>itico discursivo "isto", aClma, refere-se a todo 0 conteudo <strong>da</strong> justificativa<br />

anteriormente apresenta<strong>da</strong>. No que respeita a referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> - hi!. que se admitir -, a<br />

s<strong>em</strong>elhanya com um anaf6rico e muito gran<strong>de</strong> (recor<strong>de</strong>-se 0 ex<strong>em</strong>plo (5) <strong>de</strong> Favero; Koch,<br />

1983, supracitado). Como vimos <strong>em</strong> 1.5.4, esta e a situayao que Lyons (1977) <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong><br />

"<strong>de</strong>ixis textual impura", por se tratar <strong>de</strong> uma circunstancia intermediaria, <strong>em</strong> parte <strong>de</strong>ixis, <strong>em</strong><br />

parte anafora.<br />

Efetivamente, vista sob 0 pnsma exclusivo <strong>da</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a <strong>de</strong>ixis discursiva<br />

po<strong>de</strong>ria perfeitamente ser concebi<strong>da</strong> como um subtipo <strong>de</strong> anafora, <strong>de</strong> vez que os dois processos<br />

se <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> por criterios i<strong>de</strong>nticos, mu<strong>da</strong>ndo apenas a abrangencia referencial. Foi<br />

possivelmente pela consi<strong>de</strong>rayao <strong>de</strong>ssas formas como el<strong>em</strong>entos referenciais, principalmente<br />

como recursos coesivos, que elas foram s<strong>em</strong>pre reuni<strong>da</strong>s na categoria maior <strong>de</strong> anafora.<br />

Por essa perspectiva, seria, entao, sensato afirmar que, nos enunciados abaixo, as<br />

express5es referenciais <strong>em</strong> negrito sac ambas anaf6ricas porque, s<strong>em</strong> duvi<strong>da</strong>, exerc<strong>em</strong> a mesma<br />

funyao <strong>de</strong> recuperar enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s no discurso:<br />

(55) "CPI - Deputado, estamos impressionados com a fortuna<br />

que 0 senhor conseguiu amealhar com os seus rendimentos como<br />

parlamentar.<br />

ALVES - Por favor, eu sou um hom<strong>em</strong> honrado! Eu nunca<br />

disse que 0 meu patrim6nio foi feito com 0 meu salario <strong>de</strong> <strong>de</strong>putadol<br />

Eu sou um hom<strong>em</strong> honrado!<br />

CPI - Mas, entao, <strong>de</strong>putado, como e que foi acumulado esse<br />

patrim6nio?" (E165 - texto humoristico <strong>em</strong> revista - NELFE)<br />

(56) "Sou assinante <strong>de</strong> Veja e tive a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comparar<br />

as reportagens publica<strong>da</strong>s por estas revistas a respeito do novo CD<br />

<strong>de</strong> Chico Buarque. Quero parabeniza-Ios pela capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> captar<br />

todo 0 valor que 0 novo CD possui. Reconhecer a geniali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Chico e uma <strong>de</strong>monstrayao <strong>de</strong> intelig€mcia e sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Fatores<br />

como estes cativam leitores e conquistam novos. "Os velhos olhos<br />

ver<strong>de</strong>s" (ISTO~ 1519)." (E) Sr. editor - carta ao editor - corpus<br />

compl<strong>em</strong>entar)


A (mica discrepancia seria que "esse patrimonio", <strong>em</strong> (55), retoma urn referente pontual<br />

anterior, enquanto que "estes (fatores)", <strong>em</strong> (56), resum<strong>em</strong> uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva difusa.<br />

Mas, conquanto pareya plausivel simplesmente classificar os <strong>de</strong>iticos discursivos como<br />

urn subtipo <strong>de</strong> anafora, vendo a ambos como meros indicadores <strong>de</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, esta atitu<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar s<strong>em</strong> resposta uma pergunta obvia: se eles for<strong>em</strong> apenas uma especie <strong>de</strong> anaforico<br />

que retoma urn conteudo proposicional, ou que recupera metalinguisticamente uma forma do<br />

texto, entao 0 que exatamente justificaria <strong>de</strong>sigmi-los como "<strong>de</strong>iticos" discursivos? A<br />

<strong>de</strong>limitayao do escopo referencial nao bastaria para alya-los it categoria dos <strong>de</strong>iticos. Seria ate<br />

mais coerente e s<strong>em</strong> duvi<strong>da</strong> mais economico, no caso <strong>de</strong> manter esse criterio unico, reuni-los<br />

todos sob 0 rotulo <strong>de</strong> anaforicos. Ou, qu<strong>em</strong> sabe, chama-Ios <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos, ignorando, do mesmo<br />

modo, 0 proprio fun<strong>da</strong>mento que sustenta 0 termo <strong>de</strong>ixis, e afirmar que urn realizaria urn tipo <strong>de</strong><br />

"<strong>de</strong>ixis anaforica", aopasso que 0 outro, faria uma especie <strong>de</strong> "<strong>de</strong>ixis indicial".<br />

Entretanto, como critica Lahud (1979), <strong>de</strong>cis5es assim so se admitiriam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />

visao lacunar dos dois fenomenos como meros indicadores <strong>de</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Quando se<br />

consi<strong>de</strong>ra, por<strong>em</strong>, a orientayao intersubjetiva (e pessoal) que <strong>de</strong>fine 0 sentido primitivo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixis (reveja-se 0 capitulo 1) compreen<strong>de</strong>-se que, para ter 0 direito <strong>de</strong> integrar 0 grupo dos<br />

<strong>de</strong>iticos (nao importa <strong>de</strong> que especie), uma expressao referencial <strong>de</strong>ve instaurar urn elo com a<br />

situayao enunciativa. Do contririo, e melhor que seja nomea<strong>da</strong> <strong>de</strong> outra forma.<br />

Ja argumentamos, <strong>em</strong> 1.5, que os <strong>de</strong>iticos discursivos nao saD menos dotados <strong>de</strong><br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do que qualquer outro <strong>de</strong>itico. Ehlich (1982) explica que eles tamb<strong>em</strong> pressup5<strong>em</strong><br />

uma situayao <strong>de</strong> fala, por<strong>em</strong> codifica<strong>da</strong> no texto, 0 qual nao <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser urn lugar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstrayao, urn espayO textual.<br />

S<strong>em</strong>elhante <strong>de</strong>scriyao confere aos <strong>de</strong>iticos discursivos, portanto, 0 mesmo estatuto <strong>de</strong><br />

qualquer <strong>de</strong>itico, e continuarao a ser assim consi<strong>de</strong>rados neste trabalho. No entanto, isso ain<strong>da</strong><br />

nao e suficiente para contrapo-los aos anaforicos, pois a justificativa acima e, <strong>de</strong> resto, a<br />

orientayao que encontramos na teoria <strong>de</strong> Buhler - <strong>em</strong> que se inspira a Pragmitica Funcional, <strong>de</strong><br />

Ehlich - para trayar 0 comportamento dos anaforicos no discurso! Vejamos <strong>em</strong> que pontos<br />

coinci<strong>de</strong>m as caracterizay5es.<br />

Postula Buhler (1982) que todo anaforico transfere 0 apontar fisico, enquanto ayao<br />

cognitiva, para 0 contexto linguistico; e constitui, portanto, uma especie <strong>de</strong> "mostrayao<br />

<strong>de</strong>riva<strong>da</strong>". Dentro do que autor convencionou chamar <strong>de</strong> "campo <strong>de</strong>itico", distingu<strong>em</strong>-se tres<br />

subcampos mostrativos:


a <strong>de</strong>ixis ad oeulos,<br />

a anafora<br />

e a <strong>de</strong>ixis am Phantasma.<br />

Os dois ultimos, por<strong>em</strong>, se origin am do primeiro par analogia.<br />

Pela <strong>de</strong>ixis ad oculos, os referentes sac captaveis sensorialmente (<strong>da</strong>i a alusao aos<br />

"olhos"), localizando-se, assim, no campo mostrativo situacional, aquele <strong>em</strong> que se realiza 0<br />

proprio ate comunicativo. Esta e a caracteriza


o estudo do autor ultrapassa as rela


Note-se que a <strong>de</strong>scri


o autor troca 0 anaf6rico pelo <strong>de</strong>itico e conc1ui que a estranheza do texto acima se <strong>de</strong>ve<br />

ao <strong>de</strong>svirtuamento <strong>da</strong>s instruyoes <strong>da</strong><strong>da</strong>s ao leitor. Em vez <strong>de</strong> pedir que sua atenyao continue a<br />

focalizar 0 velho hom<strong>em</strong>, ja previamente ressaltado na situayao comunicativa, pe<strong>de</strong>-se que<br />

reoriente sua observayao para urn novo it<strong>em</strong>. Por<strong>em</strong>, conforme Ehlich observa:<br />

na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que e1eaten<strong>de</strong> a nossa exigencia, e tenta orientar sua aten


Entretanto, n<strong>em</strong> mesmo a funyao operacional soluciona todos os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

discriminayao dos anaf6ricos e <strong>de</strong>iticos discursivos. Os trabalhos que trataram <strong>de</strong>s sa distinyao<br />

ou se ocuparam apenas dos fen6menos gerais <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis e anafora, como os <strong>de</strong> Buhler (1982),<br />

Benveniste (1988) e Lahud (1979); ou, reconhecendo a <strong>de</strong>ixis discursiva, opuseram-na somente<br />

ao anaf6rico ele, frequent<strong>em</strong>ente preso it condiyao <strong>de</strong> correferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, como encontramos<br />

<strong>em</strong> Fillmore (1997), Levinson (1983) e, como ver<strong>em</strong>os a seguir, tamb<strong>em</strong> Ehlich (1982). Muitas<br />

express5es contendo <strong>de</strong>iticos terminam, por isso, caindo <strong>em</strong> campos <strong>de</strong> interseyao, como os<br />

ex<strong>em</strong>plos (58) e (59), e, por esse motivo, carec<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scriyao mais criteriosa:<br />

(58) "Observa¢es:<br />

=> coloque apenas um disco por vez no compartimento;<br />

=> utilize somente discos com 0 sambolo abaixo." (E218instru¢es<br />

<strong>de</strong> usa - NELFE)<br />

(59) "A estrategia <strong>da</strong> nominaliza


diferencia 0 fato <strong>de</strong> que nao or<strong>de</strong>nam macro-segmentos do discurso, como frases, paragrafos,<br />

itens etc., e sim, enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s pontuais.<br />

Dir<strong>em</strong>os, por isso, que tamb6m os <strong>de</strong>monstrativos este/aquele exerc<strong>em</strong> procedimento<br />

<strong>de</strong>itico, cumprindo a mesma funyao metatextual sugeri<strong>da</strong> por Apoth6loz (1995), a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong><br />

compor<strong>em</strong> expressoes anaf6ricas. Em conseqiiencia, arrefece 0 argumento <strong>de</strong> Ehlich <strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>iticos e anaf6ricos tern funyoes cognitivas opostas. 0 estudo <strong>de</strong> Matras (1998) caminha para<br />

conclusoes afins.<br />

o autor nao partilha <strong>da</strong> visao <strong>de</strong> Ehlich <strong>de</strong> que as manifestayoes formais <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos e<br />

anaf6ricos se diferenciam <strong>em</strong> funyao <strong>de</strong> procedimentos discursivos distintos. Matras nega que a<br />

funyao <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> foco referencial seja urn processo operacional especifico <strong>da</strong>s<br />

anaforas, pois algumas linguas convencionam codifica-la por anaf6ricos; outras, por <strong>de</strong>iticos.<br />

A conclusao se esten<strong>de</strong> ao procedimento <strong>de</strong>itico.<br />

Apresentando evi<strong>de</strong>ncias do romani 50 , 0 autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, ain<strong>da</strong>, que a funyao refocalizadora<br />

do procedimento <strong>de</strong>itico no texto representa uma ayao cognitiva <strong>em</strong> si mesma, e nao uma<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> do mesmo procedimento <strong>de</strong> mostrar enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s no espayo real, conforme<br />

sugere Ehlich (1982).<br />

Nao se infira, contudo, que tais id6ias po<strong>em</strong> <strong>em</strong> xeque os pr6prios tipos <strong>de</strong> funyao<br />

operacional: 0 procedimento anaf6rico, <strong>de</strong> fato, expressa a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> foco, enquanto que 0<br />

procedimento <strong>de</strong>itico opera a refocalizayao. A proposta <strong>de</strong> Matras (1998) se at6m apenas ao<br />

correlato forma-funyao, que, com efeito, nao se revel a igual <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as linguas. Enquanto no<br />

al<strong>em</strong>ao, consoante Ehlich (1982), os <strong>de</strong>monstrativos pr6ximos e distantes, por ex<strong>em</strong>plo, saD<br />

fixados pelo paradigma <strong>de</strong>itico, no hebraico pertenc<strong>em</strong> ao quadro dos anaf6ricos. Al<strong>em</strong> disso,<br />

vimos, acima, que, <strong>em</strong> portugues, 0 contraste entre os <strong>de</strong>monstrativos este/aquele, que<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham procedimento <strong>de</strong>itico, acontece entre os anaf6ricos.<br />

No romani, Matras (1998) i<strong>de</strong>ntificou urn sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>itico <strong>de</strong> oposiyoes, com alternancia<br />

vocalic a <strong>de</strong> formas <strong>em</strong> a (ou <strong>de</strong>ixis-a) e <strong>em</strong> 0 (ou <strong>de</strong>ixis-o). Propoe 0 autor que os dois grupos<br />

formais diverg<strong>em</strong> <strong>em</strong> conseqiiencia do contraste entre 0 aces so perceptual (ou situacional) ao<br />

objeto <strong>de</strong> referencia e 0 acesso conceptual (ou contextual).<br />

A <strong>de</strong>ixis-o, ou <strong>de</strong>ixis conceptuallcontextuaZS 1 , constitui uma convencionalizayao estrutural<br />

<strong>da</strong> classe <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis discursiva, porque individualiza enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s ja introduzi<strong>da</strong>s, ou inferi<strong>da</strong>s a<br />

50 Romani: lingua fala<strong>da</strong> pelos ciganos <strong>da</strong> Europa Oriental<br />

51 "Contextual", nesta classificacao <strong>de</strong> Matras (1998), se opOe a "situacional": "0 'contexto' e, assim, usado para<br />

significar contexto estritamente lingiiistico e e, portanto, congruente com 'discurso', mas se opoe a 'situacao'." (cf.<br />

p.403)


partir <strong>de</strong> informavoes implicitas no contexto. A <strong>de</strong>ixis-a, por sua vez, codifica 0 acesso direto a<br />

situavao, as enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s percebi<strong>da</strong>s na comunicavao real.<br />

Ambos os tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis focalizam urn objeto <strong>de</strong> referencia reconhecivel <strong>em</strong> urn ambiente<br />

<strong>de</strong>monstrativo compartilhado (0 que, neste aspecto, esta <strong>em</strong> conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a caracterizavao<br />

<strong>de</strong> Ehlich, 1982), eo componente vocalico <strong>da</strong> expressao <strong>de</strong>itica <strong>em</strong> romani especifica a natureza<br />

<strong>de</strong>ste espavo. Quando <strong>em</strong>pregam os <strong>de</strong>iticos-o, que Matras (1998) classifica como <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos, os falantes retomam representavoes mentais processa<strong>da</strong>s por uma serie <strong>de</strong> atos <strong>de</strong><br />

fala. Por isso, para referi-las, nao importa se ja tenham sido menciona<strong>da</strong>s ou nao. Ji a <strong>de</strong>ixis-a<br />

viabiliza a referenciavao <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s extralingiilsticas, isto e, que s6 estao presentes na situavao<br />

e nao foram aludi<strong>da</strong>s no discurso.<br />

De acordo com a analise do autor, 0 romani apresentaria, <strong>de</strong> par com os <strong>de</strong>iticos, urn<br />

conjunto <strong>de</strong> formas anaf6ricas, que englobam pronome ele (e variavoes) e pronomes reflexivos.<br />

Tais formas cumpririam 0 procedimento anaf6rico <strong>de</strong> manter 0 foco referencial para referentes<br />

"unicos", nomeados ou inferidos. L<strong>em</strong>os "unicos" como "pontuais", pois 0 anaf6rico do<br />

romani s6 po<strong>de</strong> se referir a enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s individuais, enquanto que a <strong>de</strong>ixis-o costuma ser usa<strong>da</strong><br />

para retomar extensoes inteiras do conteudo discursivo: i<strong>de</strong>ias, ou proposivoes; i.e.,<br />

representavoes abstratas.<br />

Al<strong>em</strong> disso, os anaf6ricos nao po<strong>de</strong>riam ser utilizados, <strong>em</strong> romam, como pronomes<br />

<strong>de</strong>monstrativos <strong>em</strong> funvao adjetiva, por restrivoes estruturais, ao passo que os <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos (ou <strong>de</strong>iticos-o), sim. Por fim, os anaf6ricos s6 po<strong>de</strong>riam retomar referentes<br />

animados, mas nao enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s inanima<strong>da</strong>s ou abstratas. Este ultimo travo e, para Matras (1998),<br />

o mais <strong>de</strong>cisivo na separavao <strong>da</strong>s duas classes <strong>de</strong> expressoes, pois estaria correlacionado a<br />

novao <strong>de</strong> "intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> referencial" (cf Giv6n, 1990). A fon;a referencial <strong>da</strong> anafora s6<br />

indicaria continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> referencia, por isso nao seria representa<strong>da</strong> por formas que conduz<strong>em</strong> 0<br />

centro <strong>de</strong> atenvao. Os anaf6ricos funcionam, <strong>em</strong> geral, como t6picos, <strong>de</strong> acordo com Giv6n, <strong>da</strong>i<br />

por que abrern uma expectativa <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> referencial e, consequent<strong>em</strong>ente, sao pouco<br />

pro<strong>em</strong>inentes no discurso. Em romani, os anaf6ricos (manifestados por pronomes pessoais), ao<br />

contrario dos <strong>de</strong>iticos discursivos (expressos por pronomes <strong>de</strong>monstrativos), assinalam, pois, a<br />

topicali<strong>da</strong><strong>de</strong> continua e marcam mais a proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> menvao previa <strong>da</strong> fonte. Os<br />

<strong>de</strong>monstrativos:<br />

silo freqiient<strong>em</strong>ente usados para significar 0 restabelecimento <strong>da</strong><br />

topicali<strong>da</strong><strong>de</strong> ligando uma distiincia referencial maior. Assim fazendo, eles<br />

tra~ suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s intrinsecas <strong>de</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> referenciaI, OU, para<br />

seguir EhIich (1977), <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>m uma transferencia <strong>de</strong> foco <strong>de</strong> atenc;:ao<br />

(Matras, 1998:404 - grifo nosso).


No romani, portanto, a classe dos <strong>de</strong>iticos discursivos e utiliza<strong>da</strong> para enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s com alta<br />

forva referencial, muito salientes no discurso, por isso e a {mica capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar 0 foco <strong>de</strong><br />

atenvao dos interlocutores.<br />

Alguns pontos <strong>da</strong> <strong>de</strong>scrivao do autor sao lacunosos, mas permit<strong>em</strong>, pelo menos, <strong>de</strong>duzir<br />

aspectos importantes, como 0 <strong>da</strong> nao-equivalencia entre forma e funvao discursiva, pois alguns<br />

dos <strong>de</strong>iticos-a correspon<strong>de</strong>m a certos anaf6ricos <strong>em</strong> outras Hnguas. Em portugues, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, as r<strong>em</strong>iss5es ao espavo real tanto po<strong>de</strong>m ser <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong>s por <strong>de</strong>iticos quanta por<br />

anaf6ricos tipicos. 0 pr6prio autor admite e ate <strong>de</strong>staca a alt<strong>em</strong>ancia formal <strong>em</strong> varios idiomas,<br />

quando afirma que "<strong>da</strong><strong>da</strong> a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia do contexto lingtiistico <strong>de</strong> kodo [enten<strong>da</strong>-se <strong>de</strong>ixis-o],<br />

nao e surpreen<strong>de</strong>nte que a <strong>de</strong>ixis conceptual do romani ocasionalmente coinci<strong>da</strong> com a anafora<br />

'genuina' <strong>em</strong> outras linguas, como 0 ingles" (Matras, 1998: 417).<br />

Outra observavao relevante (para nossos objetivos), na <strong>de</strong>scrivao <strong>de</strong> Matras, diz respeito a<br />

urn <strong>em</strong>prego particular <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis-a. Mesmo sendo tipicamente situacional, a <strong>de</strong>ixis-a po<strong>de</strong> ser<br />

usa<strong>da</strong> para r<strong>em</strong>iss5es ao espavo do texto, correspon<strong>de</strong>ndo, mais ou menos, aos <strong>de</strong>iticos textuais,<br />

<strong>de</strong> vez que sao <strong>em</strong>pregados para estruturar e organizar a fala.<br />

Assim, 0 que estamos <strong>de</strong>nominando <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos equivale, <strong>em</strong> romam, nao<br />

apenas a certas estruturas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis-a, ou aos <strong>de</strong>iticos textuais, como tamb<strong>em</strong> a formas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixis-o (ou <strong>de</strong>ixis textual "impura", <strong>de</strong> Lyons, 1977). A relevancia <strong>de</strong>sta observa9ao esta <strong>em</strong><br />

confirmar 0 que ja <strong>de</strong>claramos sobre a existencia <strong>de</strong> dois grupos especificos <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos, <strong>de</strong> certo modo tamb<strong>em</strong> reconhecidos, ain<strong>da</strong> que meio confusamente, por Ehlich <strong>em</strong>:<br />

Muitas vezes, as sentenr;:as nominais incorporando estes el<strong>em</strong>entos<br />

<strong>de</strong>iticos informam ao leitor como ele po<strong>de</strong> digerir e armazenar a informar;:ao<br />

apresenta<strong>da</strong>. Para fazer isso, 0 leitor <strong>de</strong>ve saber on<strong>de</strong> uma parte tennina e a<br />

proxima comer;:a, e 0 contexto <strong>de</strong>ntro do qual ele <strong>de</strong>ve colocar a informa


o procedimento dSitico no texto nao e uma mera transferSncia <strong>da</strong> funyao equivalente<br />

<strong>de</strong> focalizar enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s no espayO extralingufsticos; trata-se <strong>de</strong> duas funyoes cognitivas<br />

potencial mente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes;<br />

exist<strong>em</strong> pelo menos dois subgrupos <strong>de</strong> dSiticos discursivos: os dSiticos textuais (que<br />

organizam e localizam segmentos do discurso, e se ass<strong>em</strong>elham a dSixis-a do romani)<br />

e os que apenas retomam conteudos proposicionais (que se aproximam <strong>da</strong> dSixis-o do<br />

romani).<br />

Nao obstante a relevancia <strong>de</strong>ssas constatayoes, a analise <strong>de</strong> Matras (1998) tamb<strong>em</strong> so<br />

contrasta os dSiticos discursivos com 0 anaf6rico ele, <strong>de</strong>sprezando exatamente 0 objeto do<br />

presente estudo: as expressoes indiciais. Sao elas que reun<strong>em</strong> as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s comuns as duas<br />

partes: tanto pressupo<strong>em</strong> um componente subjetivo (<strong>em</strong> relayao ao procedimento dSitico, ou <strong>em</strong><br />

relayao a mensurayao <strong>de</strong> distancia do falante), quanta refer<strong>em</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, pontuais ou dispersas,<br />

do universo discursivo. E isto que as aproxima, mais do que as separa.<br />

Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, nao se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>scurar n<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma n<strong>em</strong> <strong>de</strong> outra caracteristica. Se os<br />

anaf6ricos indiciais tornam exequiveis os processos <strong>de</strong> referenciayao, por outro aspecto,<br />

supoern, <strong>de</strong> algum modo, 0 ponto zero do falante no campo dSitico <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. E, se os<br />

dSiticos discursivos pressupo<strong>em</strong> a localizayao do falante no espayo/t<strong>em</strong>po do texto, ou dirig<strong>em</strong><br />

o foco <strong>de</strong> atenyao dos interlocutores, por outro lado, tamb<strong>em</strong> se refer<strong>em</strong> a enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

discursivas. Al<strong>em</strong> disso, ambos po<strong>de</strong>rn, <strong>em</strong> <strong>da</strong>dos contextos, cumprir uma funyao organizadora<br />

no discurso, assim como po<strong>de</strong>m, igualmente, <strong>da</strong>r pistas ao interlocutor <strong>de</strong> como ele <strong>de</strong>ve<br />

"digerir e armazenar a informayao apresenta<strong>da</strong>".<br />

E, por fim, ate mesmo 0 escopo <strong>da</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que utilizamos para classificar os<br />

<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra, separando os <strong>de</strong>iticos discursivos pela referSncia difusa e os anaf6ricos pela<br />

retoma<strong>da</strong> pontual, nao e um criterio <strong>de</strong> todo seguro, pois <strong>de</strong>ixa s<strong>em</strong> soluyao um grupo muito<br />

especifico <strong>de</strong> dSiticos textuais ("puros"), <strong>de</strong> funyao estritamente metalingliistica: aqueles que<br />

recuperam exclusivamente a forma <strong>de</strong> palavras e expressoes, e apresentam, <strong>de</strong>sse modo, uma<br />

retoma<strong>da</strong> pontual, propria dos anaf6ricos.<br />

Ate 0 momento, <strong>de</strong>lineamos, entao, 0 seguinte esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> expressoes indiciais, ain<strong>da</strong> um<br />

tanto nebuloso, <strong>da</strong><strong>da</strong> a imprecisao <strong>de</strong> seus limites:


1) anaforicos indiciais (por enquanto, apenas com urn subgrupo <strong>de</strong><br />

comportamento localizador s<strong>em</strong>elhante ao dos <strong>de</strong>iticos textuais)<br />

<<br />

<strong>de</strong>iticos textuais<br />

/ 2) <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

~<br />

<strong>de</strong>iticos textuais "impuros"<br />

(que recuperam conteudos proposicionais)<br />

Verificamos, <strong>de</strong>ssa forma, quae insuficientes ain<strong>da</strong> sac os criterios diferenciadores <strong>da</strong>s<br />

express6es indiciais <strong>em</strong> estudo. Por isso, proce<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os a investiga


a) diferentes graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong> estabelecidos pelo criterio <strong>de</strong><br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>/distancia do falante;<br />

b) funyao organizadora dos referentes no espayo textual;<br />

c) diferentes motivayoes do el<strong>em</strong>ento indicial;<br />

d) forma pronominal ou nominal <strong>da</strong> expressao <strong>de</strong>itica;<br />

e) funyao do el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>itico;<br />

f) valor s<strong>em</strong>antico do <strong>de</strong>itico;<br />

g) co-significayao ou (re)categorizayao;<br />

h) status informacional <strong>da</strong>s expressoes indiciais.


o nome faz parte, <strong>de</strong> maneira tflo necessaria quanta 0<br />

gesto, do alo <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar;ao. (0. Ducrot)<br />

T<strong>em</strong>os <strong>em</strong>pregado pacificamente 0 termo expressoes indiciais, tangenciando<br />

questionamentos importantes e apenas mantendo as opinioes consensuais sobre 0 assunto. No<br />

entanto, algumas in<strong>da</strong>gac;oes <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> quando se examinam certas particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s formais e<br />

s<strong>em</strong>anticas. Vma quesHio mais simples diz respeito ao valor s<strong>em</strong>antico dos el<strong>em</strong>entos capazes<br />

<strong>de</strong> qualificar uma expressao como "indicial", isto e, como <strong>de</strong>itica. Dutra reflexao, <strong>de</strong> maior<br />

complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e anterior a primeira, esta Iiga<strong>da</strong> ao relacionamento entre a func;ao referencial, os<br />

pressupostos <strong>de</strong> existencia e as classes toma<strong>da</strong>s como expressoes "referenciais".<br />

Admitimos como "referenciais" to<strong>da</strong>s as expressoes que <strong>de</strong>signam objetos <strong>de</strong> discurso,<br />

isto e, as que possibilitam aos interlocutores construir processos <strong>de</strong> referenciac;ao. Diss<strong>em</strong>os<br />

que nos limitariamos as estruturas marca<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> urn modo ou <strong>de</strong> outro, por trac;os <strong>de</strong> <strong>de</strong>finitu<strong>de</strong>,<br />

o que, na falta <strong>de</strong> outras restric;oes, permitiria a inclusao <strong>de</strong> todos os sintagmas elencados<br />

abaixo:<br />

a) nomes pr6prios, como Mauro, Luis etc.;<br />

b) pronomes substantivos <strong>de</strong>monstrativos, como isto, isso, aquilo;<br />

c) grupos nominais <strong>de</strong>terminados por pronomes <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo, <strong>em</strong> func;ao<br />

adjetiva, como essas in<strong>da</strong>gm;oes, este meio etc.;<br />

d) grupos nominais precedidos <strong>de</strong> artigo <strong>de</strong>finido (ou as "<strong>de</strong>scric;oes <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s"), do<br />

tipo a reuniCio, os suspiros do escritor etc.;<br />

e) grupos nominais precedidos <strong>de</strong> pronome <strong>de</strong> valor possessivo, <strong>em</strong> func;ao adjetiva,<br />

como tua familia, seus sonhos <strong>de</strong> adulto etc.;<br />

f) estruturas como (d) e (e), juntas ou separa<strong>da</strong>s, mas modifica<strong>da</strong>s por pronomes <strong>de</strong><br />

valor circunstancial, <strong>em</strong> funyao adjetiva (ou compondo locuyoes adjetivas), como<br />

(a) minha nota aqui, as criam;as <strong>de</strong> hoje, os politicos <strong>da</strong>qui etc.;


g) gropos nominais precedidos <strong>de</strong> artigo <strong>de</strong>finido, mas modificados par palavras <strong>de</strong><br />

funyao adjetiva, com valor <strong>de</strong>monstrativo ou numeral, que indiqu<strong>em</strong> a ar<strong>de</strong>nayao<br />

<strong>de</strong> referentes, como 0 it<strong>em</strong> seguinte, 0proximo projeto etc.<br />

Desse conjunto <strong>de</strong> sintagmas <strong>de</strong>finidos, selecionamos exclusivamente (b), (c), (t) e (g)<br />

como constituindo 0 gropo especifico <strong>de</strong> expressoes referenciais indiciais. A caracterisfica que<br />

os une, al<strong>em</strong> <strong>da</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e a natureza ostensiva, acresci<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma avaliayao do<br />

contraste <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>/distancia <strong>em</strong> relayao ao ponto zero do campo <strong>de</strong>itico.<br />

Ducrot (1977) contesta, por<strong>em</strong>, que as express6es indiciais contendo <strong>de</strong>monstrativos<br />

exeryam funyao referencial, ou <strong>de</strong>sign adora, do mesmo modo que as express6es com artigo<br />

<strong>de</strong>finido. Diferent<strong>em</strong>ente do artigo <strong>de</strong>finido, os pronomes <strong>de</strong>monstrativos estao realmente<br />

condicionados as indicay6es <strong>de</strong> existencia e unici<strong>da</strong><strong>de</strong>, por isso 0 autor prop6e que sejam<br />

compreendi<strong>da</strong>s como classes fun<strong>da</strong>mental mente distintas.<br />

V<strong>em</strong>-se afirmando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Frege e Strawson, que a funyao referencial <strong>de</strong> to<strong>da</strong> <strong>de</strong>scriyao<br />

<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pressup6e que, <strong>em</strong> <strong>em</strong>pregos consi<strong>de</strong>rados "normais", existern seres (ou urn unico ser)<br />

para os quais esse conteudo <strong>de</strong>scritivo e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro.<br />

Em primeiro lugar, Ducrot (1977) recusa a concepyao <strong>de</strong> pressuposto como abstrai<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

usos consi<strong>de</strong>rados tipicos, aceitaveis, ou "normais". To<strong>da</strong> pressuposiyao <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> urn ato <strong>de</strong> fala particular, e esta limita<strong>da</strong>, portanto, ao contexto enunciativo.<br />

Em segundo lugar, 0 autor refuta a hip6tese <strong>de</strong> que 0 <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> <strong>de</strong>scriy6es <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s<br />

esteja vinculado ao ate <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar (referir), porque, <strong>em</strong>bora to<strong>da</strong>s pressuponham "indicay6es<br />

existenciais"S2 (Ducrot, 1977:233-4), n<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s e1as, par outro lado, apresentam usa<br />

referencial (urn ex<strong>em</strong>plo muito claro disso eo uso predicativo, atributivo ou equativo, <strong>de</strong> SNs).<br />

Reforya 0 autar:<br />

Mesmo naqueles casos on<strong>de</strong> nao se visa certamente a <strong>de</strong>signar alga, a<br />

chamar a aten9ao do <strong>de</strong>stinatario para um objeto que seria, <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, 0<br />

t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> uma afinna9ao, a <strong>de</strong>scri9ao <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> passui, muito vivaz e ativo, 0<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> indicar que urn objcto (e, eventualrnente, urn unico objcto)<br />

sathfaz certas proprie<strong>da</strong>dcs. (Ducrot, 1977:239 - grifo nasso)<br />

,<br />

Os pressupostos <strong>de</strong> existencia e unici<strong>da</strong><strong>de</strong> val <strong>em</strong>, portanto, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong><br />

qualquer funyao referencial. Urn dos pontos centrais <strong>da</strong> argumentayao <strong>de</strong> Ducrot e que 0<br />

pressuposto existencial esta presente <strong>em</strong> qualquer nome <strong>de</strong> ernprego substantivo. Sao os<br />

52 Ducrat (1977) convencionou charnar <strong>de</strong> "indica95es existenciais" as i<strong>de</strong>ias, juntas. <strong>de</strong> existencia e unici<strong>da</strong>dc<br />

veicula<strong>da</strong>s pelas <strong>de</strong>scri90es <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s.


nomes que constro<strong>em</strong> urn universo <strong>de</strong> objetos on<strong>de</strong> operam os <strong>de</strong>terminantes; SaD eles que<br />

<strong>de</strong>limitam a c1asse que, ern <strong>da</strong><strong>da</strong> situac;ao enunciativa, constituini 0 conjunto dos seres corn 0<br />

qual se relacionam os quantificadores. 0 proprio substantivo institui, no momento ern que e<br />

enunciado, 0 universo <strong>de</strong> discurso.<br />

Criando, assim, urn mundo <strong>de</strong> referentes (e subenten<strong>de</strong>ndo a interac;ao dos interlocutores<br />

corn 0 discurso), urn <strong>em</strong>prego-substantivo pressupoe essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e como que "obriga" 0<br />

<strong>de</strong>stinatano a admitir sua existencia. Essa pressuposic;ao in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> fi.mc;aoreferencial, ou<br />

nao, que venha a ter 0 nome.<br />

Sob esse ponto <strong>de</strong> vista, as indicac;oes existenciais tamb<strong>em</strong> nao se alteram ern relac;ao ao<br />

contraste <strong>de</strong>finido x in<strong>de</strong>finido. A diferenc;a e que 0 <strong>de</strong>finido supoe que 0 predicado valha para<br />

to<strong>da</strong> a c1asse, e 0 in<strong>de</strong>finido e nao-marcado a este respeito. Analogamente, usando urn artigo<br />

singular, afirma-se que 0 predicado vale pelo menos para urn objeto <strong>da</strong> c1asse X, enquanto que,<br />

no plural, se aplicaria a varios.<br />

Quando os interlocutores assum<strong>em</strong> que a classe correspon<strong>de</strong>nte a urn substantivo X nao e<br />

vazia, 0 pressuposto passa a ser introduzido, tamb<strong>em</strong>, por todos os <strong>de</strong>terminantes, <strong>de</strong>finidos ou<br />

Por essa sequencia argumentativa, Ducrot (1977) inverte a afirmac;ao <strong>de</strong> que existencia e<br />

unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma func;ao referencial, ou <strong>de</strong>signativa, supostamente fun<strong>da</strong>mental.<br />

Pelo contnirio, sustenta: par causa <strong>da</strong>s indicac;oes existenciais <strong>da</strong>s <strong>de</strong>scric;oes <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s e que<br />

elas saD frequent<strong>em</strong>ente usa<strong>da</strong>s para referir.<br />

Quanto aos pronomes <strong>de</strong>monstrativos, 0 autor assevera que, <strong>de</strong> manelra oposta, estao<br />

condicionados Ii func;ao referencial, parque todo ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrac;ao so se completa na<br />

presenc;a <strong>de</strong> urn nome, <strong>de</strong> vez que e este que <strong>de</strong>limita 0 universo <strong>de</strong> discurso. lei 0 artigo<br />

<strong>de</strong>finido po<strong>de</strong> ser utilizado s<strong>em</strong> que 0 referente esteja na presenc;a dos participantes do ato<br />

comunicativo. Como diz 0 autar:<br />

Nfio posso dizer Este X, se nao existir urn X que, ou c perceptivel para<br />

meu interlocutor no momento <strong>em</strong> que lhe falo, ou C mencionado por outro<br />

meio no discurso: 0 <strong>de</strong>monstrativo s6 se <strong>em</strong>prega na presen


urn referente que jil tenha sido introduzido no universo do discurso, ao passo que a expressao<br />

com <strong>de</strong>finido tern 0 po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> instituir 0 pr6prio referente no discurso. 0 <strong>de</strong>monstrativo<br />

estabelece urn "universo mostrado", ou, como diz Ducrot (1977), uma regiao do espayo, <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>da</strong> qual e possive1 fazer sobressair urn objeto discursivo, jil constituido, <strong>em</strong> re1ayao a outro. Vma<br />

vez que nao se po<strong>de</strong> apontar urn referente s<strong>em</strong> indicar 0 nome que the dil esse estatuto <strong>de</strong><br />

objeto, entao "cumpriril enten<strong>de</strong>r, por 'universo mostrado', nao somente a regiao do espayo <strong>em</strong><br />

direyao ao qual 0 gesto orienta a atenyao, mas 0 conjunto dos X que se encontram nessa zona"<br />

(Ducrot, 1977:254).<br />

E e nesse sentido que Ducrot afirma que to<strong>da</strong> expressao <strong>de</strong>monstrativa esta<br />

necessariamente condiciona<strong>da</strong> pela funyao referencial do nome <strong>de</strong> que se comp5e, com seus<br />

pressupostos <strong>de</strong> existencia e unici<strong>da</strong><strong>de</strong>. :E como se 0 <strong>de</strong>monstrativo s6 servisse para reforyar a<br />

r~striyao <strong>da</strong> classe sobre a qual 0 <strong>de</strong>finido opera.<br />

De acordo com 0 autor, mesmo quando aparent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> ausencia <strong>de</strong> qualquer objeto, a<br />

e~pressao <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo tern a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> induzir 0 <strong>de</strong>stinatario a crer que 0<br />

r~ferente esta "presente" no universo do discurso, para <strong>da</strong>r a enten<strong>de</strong>r que ele esta <strong>em</strong> foco.<br />

E(x<strong>em</strong>plifica:<br />

(61) "Ele fala ingles com aquele sotaque <strong>de</strong> Alagoas.<br />

Com<strong>em</strong>os <strong>da</strong>quele tutu <strong>de</strong> feijao que se faz <strong>em</strong> Juiz <strong>de</strong><br />

Esses tecnocratas sac duros <strong>de</strong> aguentar." (Ducrot,<br />

1977:256)<br />

(62) "Mapuche fala para Beth Carvalho: Oi Beth. Estou<br />

chegando agora mas vou lanc;ando minha pergunta: nao acha que<br />

estes pago<strong>de</strong>s tecnopops an<strong>da</strong>m poluindo <strong>de</strong>mais 0 samba?" ((E)<br />

dialogo - conversa on-line - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Em (62), a referente e introduzido, pela primeira vez, no discurso, mas 0 fato <strong>de</strong> 0 falante<br />

c:odifica-Io como expressao <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong>nota que sua inten


implicita, ou <strong>de</strong> estar sendo construi<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> urn acordo estabe1ecido entre os<br />

interlocutores.<br />

Sab<strong>em</strong>os que n<strong>em</strong> to<strong>da</strong> expressao indicial e marca<strong>da</strong>, no entanto, por urn pro nome <strong>de</strong><br />

valor <strong>de</strong>monstrativo <strong>em</strong> func;ao substantiva ou adjetiva; as vezes, a indiciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e assinala<strong>da</strong><br />

por estruturas que <strong>de</strong>notam circunstancia e funcionam como adverbios. Resta, agora, discutir se<br />

o tipo <strong>de</strong> pressuposic;ao instaura<strong>da</strong> pelo pronome <strong>de</strong>monstrativo (substantivo ou adjetivo) e<br />

s<strong>em</strong>elhante a que se estabelece pelo circunstancial.<br />

Quando se pon<strong>de</strong>ra sobre usos como:<br />

(63) "pois e ja:: na igreja nos t<strong>em</strong>os eh:: al assim festivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>da</strong> igreja e... TANta ... confraternizac;ao e do grupo <strong>de</strong> ora


mesma manelra que 0 pro nome adverbial circunstancial 0 modifica. Dir<strong>em</strong>os que, <strong>em</strong>bora<br />

ambos mensur<strong>em</strong> a distancia do referente <strong>em</strong> relayao ao enunciador, 0 adverbial mais do que<br />

I<strong>de</strong>ntifica 0 objeto <strong>em</strong> meio a outros lugares do "universo mostrado": e1e, <strong>de</strong> fato, Informa a<br />

posiyao do referente <strong>em</strong> relayao ao sujeito enunciativo, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar duvi<strong>da</strong>s quanta a esse tipo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>marcayaO, 0 que the conce<strong>de</strong> maior grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Al<strong>em</strong> disso, conforme explicitar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> 4.3.1, ha usos <strong>de</strong>monstrativos que<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram 0 ponto referencial do falante, <strong>de</strong> modo que, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> atribuir-lhes a funyao<br />

I<strong>de</strong>ntificadora, seria mais a<strong>de</strong>quado imputar-Ihes 0 papel <strong>de</strong> "salientar" 0 objeto mostrado,<br />

comum a todos os <strong>em</strong>pregos que expressam <strong>de</strong>monstrayao.<br />

Quando falamos <strong>em</strong> <strong>de</strong>monstra~ao - note-se b<strong>em</strong> - estamos tratando <strong>de</strong> urn aspecto<br />

s<strong>em</strong>antico. A esse trayo, conforme mostrar<strong>em</strong>os a seguir, opo<strong>em</strong>-se as nOyoes <strong>de</strong> circunstancia<br />

(<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, lugar e modo) e <strong>de</strong> numeral. No it<strong>em</strong> abaixo, examinar<strong>em</strong>os a re1ayaO entre esses<br />

valores s<strong>em</strong>anticos e as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s morfossintaticas dos pronomes, a fim <strong>de</strong> observar que<br />

influencia exerc<strong>em</strong> sobre 0 comportamento discursivo <strong>da</strong>s expressoes indiciais.<br />

Mas nao <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os prosseguir antes <strong>de</strong> esclarecer que t<strong>em</strong>os recusado a distribuiyao<br />

tradicional <strong>da</strong>s classes <strong>de</strong> palavras <strong>em</strong> "substantivos, adjetivos, adverbios, pronomes, verbos"<br />

etc, por ela se assentar sabre uma mixordia <strong>de</strong> criterios formais, funcionais e s<strong>em</strong>anticos. Nao<br />

nos compete, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, propor uma nova classificayao <strong>de</strong> vocabulos, senao apenas<br />

recorrer a uma coerencia estrutural minima, indispensavel it consecuyao <strong>de</strong> resultados<br />

confiaveis.<br />

Em vista disso, tomamos por apoio uma distinyao dos vocabulos, realiza<strong>da</strong> por Monteiro<br />

(1986), basea<strong>da</strong>, <strong>em</strong> primeiro lugar, no aspecto morfologico, pelo qual e possivel constituir duas<br />

classes <strong>de</strong> vocabulos: os variaveis e os invariaveis. as variaveis divi<strong>de</strong>m-se <strong>em</strong> verbos, <strong>de</strong> urn<br />

lado, e nomes e pronomes, <strong>de</strong> outro. as verbos se caracterizam, morficamente, pelas flexoes<br />

modo-t<strong>em</strong>porais e numero-pessoais, enquanto que os nomes e as pronomes, pelas flexoes <strong>de</strong><br />

genero e numero.<br />

Em segundo lugar, numa perspectiva sintatica, os vocabulos po<strong>de</strong>m classificar-se <strong>de</strong><br />

acordo com a funyao que exerc<strong>em</strong> na sentenya. Nomes e pronomes, por ex<strong>em</strong>plo - que nos<br />

interessam nesta pesquisa, po<strong>de</strong>m funcionar como substantivos, adjetivos ou adverbios. Leia-<br />

se a explicayao do autor:<br />

Por esse prisma, enten<strong>de</strong>mos que nao se <strong>de</strong>ve confundir classe com<br />

funyao. 0 nome, 0 pronome e 0 verba san classes; 0 substantivo, 0 adjetivo e<br />

o adverbio sao fuw;5es. As classes san estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> morfologia, as<br />

funyoes pertenc<strong>em</strong> ao dominio <strong>da</strong> sintaxe. Ou enta~, <strong>de</strong>sfayam-se as


fronteiras para mna interpretayiio conjunta, que <strong>de</strong>ve constituir a<br />

morfossintaxe. Isto e aceitavel. 0 que mio parece correto e invadir os !imites<br />

estabe1ecidos, mistunmdo conceitos e criterios heterogeneos. (Monteiro,<br />

1986:204)<br />

Por essa separayao fun<strong>da</strong>mental, <strong>da</strong>r<strong>em</strong>os procedimento a amilise dos <strong>da</strong>dos,<br />

categorizando, primeiramente, as expressoes indiciais como classes formais <strong>de</strong> SNs ou<br />

pronomes. Em segui<strong>da</strong>, ir<strong>em</strong>os ater-nos estritamente aos el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>iticos, investigando-Ihes a<br />

funyao sintatica (<strong>de</strong> substantivo, adjetivo ou adverbio) eo valor s<strong>em</strong>antico.<br />

Com base na funyao sintatica <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha<strong>da</strong> pelos el<strong>em</strong>entos que executam atos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstrayao, e possivel discriminar dois grupos <strong>de</strong> pronomes, s<strong>em</strong>elhantes aos dos nomes: os<br />

substantivos e os adjetivos. Ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> pronome <strong>em</strong> funyao substantiva:<br />

As formas neutras dos pronomes substantivos usualmente se <strong>de</strong>stinam a enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

inanima<strong>da</strong>s, ou a sintetizayao <strong>de</strong> conteudos proposicionais inteiros, como se <strong>da</strong> <strong>em</strong> (64).<br />

Algumas vezes, po<strong>de</strong>m referir-se a animais, e, quando <strong>em</strong>pregados <strong>em</strong> sentido pejorativo,<br />

po<strong>de</strong>m aplicar-se a qualquer referente, inclusive a seres humanos.<br />

Por sua vez, os pronomes adjetivos figuram como <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> nomes <strong>em</strong> sintagmas<br />

nominais, como no ex<strong>em</strong>plo abaixo:<br />

Se invertermos a orientavao <strong>da</strong> analise e classificarmos os pronomes <strong>de</strong> acordo com 0<br />

aspecto s<strong>em</strong>antico, i<strong>de</strong>ntificar<strong>em</strong>os os dois ex<strong>em</strong>plos acima como <strong>de</strong>monstrativos. Embora<br />

reconheyamos tamb<strong>em</strong> nos pronomes <strong>de</strong> funyao adverbial urn sentido <strong>de</strong> mostrayao (razao por<br />

que Fillmore, 1982, os trata como "adverbios <strong>de</strong>monstrativos 53 ,,), julgamos mais apropriado<br />

isola-Ios <strong>em</strong> outro grupo por indicar<strong>em</strong> as nOyoes <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, modo e lugar.<br />

53 A n09ao <strong>de</strong> "adverbios <strong>de</strong>monstrativos" ja era familiar a tradic;aogramatical. Em Rocha Lima, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

encontramos a seguinte observa~ao: "Al<strong>em</strong> <strong>de</strong>stes, exist<strong>em</strong> alguns <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> natureza adverbial. Sao aqui,<br />

ai, /0.e aco/a, que se classificam como pronomes adverbiais <strong>de</strong>monstrativos." (Lima, 1982:101).


Nao se julgue, contudo, que 0 valor circunstancial seJa exc1usivo <strong>da</strong>s formas que<br />

funcionam como adverbios. Em express5es como 0 rapaz aqui, os alunos <strong>de</strong> hoje, os textos<br />

assim, por ex<strong>em</strong>plo, os el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque representam, respectivamente, lugar, t<strong>em</strong>po e<br />

modo e, no entanto, operam no sintagma <strong>em</strong> fun~o adjetiva. Atente-se, portanto, para 0 fato <strong>de</strong><br />

substantivos/adjetivos; circunstancia e pronomes adverbiais.<br />

Ao <strong>de</strong>signar<strong>em</strong> lugar, os pronomes <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo e circunstancial se distribu<strong>em</strong>,<br />

no portugues, obe<strong>de</strong>cendo a tres valores <strong>de</strong> distancia:<br />

• Proximo, que se aplica aos referentes que estao perto do <strong>em</strong>issor;<br />

• Medio, conferido aos referentes mais ou menos perto do <strong>em</strong>issor, por<strong>em</strong> b<strong>em</strong><br />

pr6ximos do receptor;<br />

• e Distante, aos que se acham longe dos interlocutores.<br />

Assim, a lingua mant<strong>em</strong> - <strong>em</strong>bora nao rigorosamente - 0 seguinte quadro <strong>de</strong> equivalencia,<br />

com 0 tra90 Pr6ximo selecionando as formas <strong>de</strong> primeira pessoa; 0 Medio, as <strong>de</strong> segun<strong>da</strong>; e 0<br />

D · d' 54<br />

lstante, as e tercelra :<br />

5"1 Cum pre observar que n<strong>em</strong> todo pronome adverbial pertencente ao quadro acima e necessariamente <strong>de</strong>itico <strong>em</strong><br />

todos os usos, cvi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente. Intentando disc<strong>em</strong>ir a <strong>de</strong>ixis <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po <strong>da</strong> anMora t<strong>em</strong>poral, nari (1993) acentua que<br />

certos adjuntos adverbiais <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, ex-pressando anteriori<strong>da</strong><strong>de</strong> ou posteriori<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m atua~ tanto como <strong>de</strong>iticos<br />

quanto como anaf6ricos. Eo caso <strong>de</strong> anteriormente, antes, <strong>de</strong>pois, logo. Alguns adjuntos, no entanto, sao apenas<br />

dciticos, como ha x atras, agora, atl/almente, no proximo x, amanha. E outros sao apenas anaf6ricos, como entao,<br />

no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> x. Consoanteos alllQres: "A diferen


Pronomes Substantivos/Adjetivos Pronomes Pronomes<br />

D<strong>em</strong>onstrativos Adjetivos Adverbiais<br />

Circunst. Circunst.<br />

Pessoa Masc./F<strong>em</strong>. Neutro - -<br />

1a. pessoa Este,a(s) isto aqUl aqui, agora 55<br />

(Proximo)<br />

2 a . pessoa Esse,a(s) 1SS0 ai ai, antes,<br />

(Media) <strong>de</strong>pois<br />

3 a . pessoa Aquele,a(s) aquilo ali,la,aco1


localiza 0 estado <strong>de</strong> coisas na me sma extensao <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que esta inseri<strong>da</strong> a enunciayao do<br />

falante 57 .<br />

Entretanto, conforme Bechara ressalta, nao se encontra nesta distinyao nenhum rigor<br />

normativo, pais "muitas vezes interfer<strong>em</strong> situayoes especiais que escapam a disciplina <strong>da</strong><br />

gram


Ern (68),0 neutro (mais apropriado para coisas) contribui para distanciar do enunciador 0<br />

que the e motivo <strong>de</strong> repulsa. 0 sentido pejorativo se exacerba ain<strong>da</strong> mais quando 0 falante<br />

escolhe a terceira pessoa, como ern (69):<br />

(69) "Ningu<strong>em</strong> sabe on <strong>de</strong> ele an<strong>da</strong>, Seu Coronel. Aquilo e urn<br />

<strong>de</strong>sgrayado" (Cunha; Cintra, 1985:330).<br />

Por outro lado, e tamb<strong>em</strong> aceitavel 0 <strong>em</strong>prego do pronome revelando urn sentimento<br />

inteiramente oposto, encontravel num ex<strong>em</strong>plo a mesma pagina:<br />

(70) "Bonita mulher. Como aquilo ve-se pouco. Ele teve sorte"<br />

(Cunha; Cintra, 1985:330).<br />

Se os <strong>de</strong>iticos ja constituern, ern si mesmos, uma expressao <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, nestes usos<br />

entao, reflet<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> mais a individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> do falante. Repare-se que, tamb<strong>em</strong> aqui, a sele


Enquanto "este", <strong>em</strong> (72), orienta 0 receptor a recuperar urn objeto discursivo<br />

imediatamente posterior (0 ex<strong>em</strong>plo que seria citado), "disso ai" e "nesse esqu<strong>em</strong>a", <strong>em</strong> (71),<br />

indicam que 0 referente ja foi anteriormente mencionado.<br />

Hoje, por<strong>em</strong>, se usam indistintamente as duas formas, s<strong>em</strong> respeitar, portanto, 0 tra90<br />

condicionante que as opunha. Os compendios gramaticais reconhec<strong>em</strong>, inclusive, que a<br />

distinyao entre este e esse, tamb<strong>em</strong> neste caso, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre apresenta a rigi<strong>de</strong>z espera<strong>da</strong>, por<br />

isso precisamos buscar as raz5es <strong>de</strong> tal neutralizayao. T<strong>em</strong>os observado que entram <strong>em</strong><br />

concorrencia motivay5es varia<strong>da</strong>s para a escolha do <strong>de</strong>monstrativo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos prop6sitos<br />

<strong>da</strong> comunicayao, como analisar<strong>em</strong>os no it<strong>em</strong> seguinte. N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre que se <strong>em</strong>prega este, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, tenciona-se produzir uma r<strong>em</strong>issao cataf6rica, senao apenas intensificar a forya<br />

referencial, <strong>de</strong>sviando 0 foco <strong>de</strong> atenyao do <strong>de</strong>stinatario, como <strong>em</strong> (73):<br />

(73) "a fim <strong>de</strong> que 0 ci<strong>da</strong><strong>da</strong>o : nao faya uso <strong>da</strong> Ido direito<br />

fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> <strong>de</strong>sobedi<strong>em</strong>cia civil na sua forma ativa que esta<br />

impHcito no artigo quinto paragrafo segundo <strong>da</strong> constituiyao po<strong>de</strong>rall<br />

fe<strong>de</strong>ral nos t<strong>em</strong>os uma obra neste sentido <strong>da</strong>: professo:ra Maria<br />

Garcia ..." (F033 - conferencia - NELFE)<br />

Tamb<strong>em</strong> nao se po<strong>de</strong> sustentar que esse se aplique somente a r<strong>em</strong>iss5es para tras, porque,<br />

as vezes, a escolha do pronome adv<strong>em</strong> <strong>de</strong> urn apelo ao conhecimento comum dos participantes<br />

<strong>da</strong> comunicayao, como <strong>em</strong> (74):<br />

(74) "lnf.1 EU TOco outro instrumento ...que:: e POUco<br />

conhecido hoje no Brasil...violao-tenor... violao-tenor e um<br />

instrumento <strong>de</strong> quatro cor<strong>da</strong> muito bonito... e:: pra conJUNto e<br />

uma maravilha viu?.. (...) e diferente <strong>de</strong>sse violao coMUM ...<br />

porque 0 violao-tenor ele e e mais ..." ((F) D2-48 conversa<br />

espontfmea - PORCUFORT)<br />

Ern (74), a seleyao <strong>de</strong> esse nao se <strong>de</strong>ve a uma menyao anterior, mas a uma indicayao <strong>de</strong><br />

que 0 conteudo po<strong>de</strong> ser encontrado na m<strong>em</strong>oria do ouvinte.<br />

Ern vista <strong>de</strong> variayoes assim, este trabalho dispensa atenyao particular a avaliayao dos<br />

condicionamentos que po<strong>de</strong>m levar a uma escolha <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outra. Partimos <strong>da</strong> hipotese<br />

<strong>de</strong> que existe urn forte relacionamento entre estruturayao formal e funyao discursiva.


A fim <strong>de</strong> exammar os diversos tipos <strong>de</strong> motiva~ao, mostrar<strong>em</strong>os, agora, como os<br />

pronomes, <strong>de</strong> diferentes fun~5es e valores s<strong>em</strong>anticos, se distribu<strong>em</strong> na amostra <strong>de</strong> 73 discursos<br />

(falados e escritos). Antes, por<strong>em</strong>, apresentar<strong>em</strong>os com que freqiiencia apareceram os<br />

anaf6ricos indiciais e os <strong>de</strong>iticos discursivos nos corpora examinados.<br />

Os dois tipos <strong>de</strong> express5es indiciais se disp5<strong>em</strong> na amostra <strong>de</strong> modo malS ou menos<br />

equilibrado: <strong>em</strong> 2000 ocorrencias, 1020 sac anaforas 58<br />

e 980 constitu<strong>em</strong> casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis<br />

discursiva, 0 que correspon<strong>de</strong> a urn percentual <strong>de</strong> quase 50% para ca<strong>da</strong> uma, como explicita 0<br />

gnifico a seguir:<br />

Deiticos discursivos<br />

49%<br />

Anaf6ricos<br />

58 Nunca e <strong>de</strong>mais l<strong>em</strong>brar que, nesta pesquisa, 0 conjunto dos anaf6ricos nao esta completo: cont<strong>em</strong> somente os<br />

sintagmas com dciticos. 0 todo, com certeza, compreen<strong>de</strong>ria lUn grupo muito 111315 extenso do que 0 dos <strong>de</strong>ilicos<br />

discursivos.<br />

51%


Neste universo <strong>de</strong> express5es indiciais, 0 subconjunto <strong>de</strong> pronomes adverbiais<br />

expressando circunsHincia e b<strong>em</strong> mais restrito do que 0 <strong>de</strong> pronomes substantivos<br />

<strong>de</strong>monstrativos; e, pelo que exibe 0 Gnifico 2, os pronomes substantivos ou adjetivos <strong>de</strong> valor<br />

numeral sac muito raros:<br />

Ern relavao ao todo, tanto nos anaf6ricos quanta nos <strong>de</strong>iticos discursivos, a concentravao<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrativos e expressivamente maior, mas e mais representativa nos <strong>de</strong>iticos discursivos.<br />

Jeios valores circunstanciais, e mais comum que sejam codificados por anaf6ricos.<br />

Para interpretar melhor este resultado, vamos associei-lo as classes formais <strong>de</strong> SNs e<br />

pronomes. Ern valores numericos (para permitir a visualizavao <strong>da</strong>s quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>s exatas <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />

estrutura), e s<strong>em</strong> contabilizar a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> irrelevante <strong>de</strong> numerais, 0 quadro se apresenta <strong>da</strong><br />

seguinte maneira:<br />

circunstancia <strong>de</strong>moustracao<br />

prouome SN pronome SN<br />

auaf6rico 230 29 104 645<br />

DD 150 16 467 305


seguintes:<br />

Distribui~ao dos valores s<strong>em</strong>anticos<br />

<strong>em</strong> rela~aoas classes formais<br />

70,00% f<br />

i<br />

60,OO%-r---~--<br />

50,00% _.~---<br />

40,00%<br />

30,00%<br />

20,00%<br />

10,00%<br />

0,00%<br />

!---


(77) "Morreu tres horas <strong>de</strong>pois. Longe as vizinhos. Legua e<br />

meia a mais pr6ximo. Belarmino teve <strong>de</strong> ir ate la." «E) conto Moreira<br />

Campos - conto - corpus compl<strong>em</strong>entar);<br />

2) Embora os valores <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstravao aparevam <strong>em</strong> proporvao equivalente nos dois<br />

tipos <strong>de</strong> express5es indiciais, enquanto nos <strong>de</strong>iticos discursivos eles se expressam<br />

predominant<strong>em</strong>ente por pronomes substantivos, nos anaf6ricos manifestam-se<br />

principalmente como pronomes adjetivos <strong>de</strong> sintagmas nominais. Confiram-se os dois<br />

grupos respectivos <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plos:<br />

Dciticos discursivos como pronomes substantivos:<br />

(78) "A dica funcionou corretamente, por<strong>em</strong>, quando 0 jogo<br />

termina, 0 seu t<strong>em</strong>po, mesmo sendo recor<strong>de</strong>, nao e computado para<br />

a Iista dos melhores <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhos. Isto esta correto?" (E276 -<br />

cartas do leitor - NELFE)<br />

(79) "E 0 garoto apertara um botao e, num milesimo <strong>de</strong><br />

segundo, a resposta aparecera na tela mais pr6xima. E entao 0<br />

garoto perguntara:<br />

- Como e que eu sei se isso esta certo?<br />

- Ora, Ele nunca erra." «E) cr6nica Verissimo<br />

corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Anaf6ricos como pronomes adjetivos <strong>em</strong> SNs:<br />

(80) "OBRA: Projeto <strong>de</strong> asfaltamento <strong>de</strong> uma ponte aerea entre<br />

Manaus e Porto Alegre. Essa ponte aerea asfalta<strong>da</strong> evitaria as<br />

turbulencias dos v60s e traria mais tranquili<strong>da</strong><strong>de</strong> aos passageiros<br />

acostumados a viajar <strong>de</strong> autom6vel." (E299 - texto humoristico - NELFE)<br />

(81) "e tiram e colocam 0 sutia e tira e coloca 0 sutia entao a<br />

gente s<strong>em</strong>pre ta ne agora essa baixinha nao agora essa baixinha nao<br />

s6 <strong>da</strong>n98ndo" (F034 - conversa espontfmea - NELFE)<br />

Uma primeira diferenva estrutural importante entre as express6es <strong>em</strong> estudo <strong>de</strong>sponta<br />

<strong>de</strong>sta relayao: po<strong>de</strong>mos inferir que sao os pronomes, operando como substantivos, a principal<br />

forma <strong>de</strong> realizayao dos <strong>de</strong>iticos discursivos, os quais exprim<strong>em</strong>, 0 mais <strong>da</strong>s vezes, valores <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstravao.<br />

Se refletirmos sobre a codificayao <strong>da</strong>s express5es indiciais, exibi<strong>da</strong> no gnifico 4,


<strong>de</strong> pronomes com func;aosubstantiva, ao passoque os anaf6ricos ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> geral sob a forma<br />

<strong>de</strong> pronomes adjetivos <strong>de</strong>terminando nomes no sintagma nominal:<br />

Alguns aspectos justificam, <strong>em</strong> parte, a discrepancia entre essas formas <strong>de</strong> expressao, e<br />

urn <strong>de</strong>les diz respeito a certas restric;oes estruturais. A func;ao <strong>de</strong> adverbio esta estreitamente<br />

relaciona<strong>da</strong> com a noc;ao <strong>de</strong> circunstancia (<strong>em</strong>bora - ja 0 diss<strong>em</strong>os - nao exista entre elas<br />

correspon<strong>de</strong>ncia urn a urn), pois a lingua codifica pronomes especificos para os valores <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po, modo e lugar, como aqui, ai, ta, ali etc., conforme expus<strong>em</strong>os no Quadro 1. Em<br />

contraparti<strong>da</strong>, a lingua tamb<strong>em</strong> reserva pronomes substantivos e adjetivos apropriados a<br />

mostrac;ao,como este, isso, aquila, aquela etc.<br />

A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> existir<strong>em</strong> pronomes <strong>de</strong>monstrativos substantivos e adjetivos indicando<br />

valores circunstanciais, <strong>em</strong> sintagmas como par causa disso, <strong>de</strong>pois disto, <strong>de</strong>sse modo etc., ha<br />

<strong>de</strong> se convir que a noc;ao<strong>de</strong> lugar, t<strong>em</strong>po, causa etc. se esten<strong>de</strong>, nestes casos, a todo 0 sintagma,<br />

e nao se dtlve a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>stes pronomes <strong>em</strong> si. E, conquanto se possa argumentar que, por<br />

outro lado, pronomes como aqui, ai, ali tamb<strong>em</strong> operam como adjetivos <strong>de</strong>monstrativos,<br />

modificando nomes <strong>em</strong> SNs do tipo as professores <strong>da</strong>qui, as recursos <strong>de</strong> la, 0 caipira la, a<br />

curso ta, 0 simbolo abaixo etc., e preciso l<strong>em</strong>brar que, mesmo nestas situac;oes, permanece


ain<strong>da</strong> a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> circunstancia, responsavel, inclusive, pelo reforyo <strong>da</strong>do aos pronomes este,<br />

esse, aquele na localizayao <strong>de</strong> urn referente.<br />

Ve-se, entao, que e tao intima a correspon<strong>de</strong>ncia entre circunstancia e funyao adverbial;<br />

<strong>de</strong>monstrayao e funyao substantivaJadjetiva, e e tao restrito 0 numero <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que<br />

participam <strong>de</strong> tal relayao que a tradiyao gramatical chegou a instituir os pronomes'<br />

<strong>de</strong>monstrativos e adverbios como "classes <strong>de</strong> palavras" (reveja-se a critic a que fiz<strong>em</strong>os <strong>em</strong> 4.1).<br />

Assim, enquanto os pronomes adverbiais se limitam a expressao <strong>de</strong> circunstancias, os<br />

sintagmas nominais contendo pronomes adjetivos <strong>de</strong>monstrativos po<strong>de</strong>m veicular, por meio do<br />

nome que <strong>de</strong>terminam, uma infini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> significados, imprescindiveis a qualquer<br />

<strong>de</strong>senvolvimento argumentativo. De mais a mais, os pronomes substantivos <strong>de</strong>monstrativos sao<br />

mais a<strong>de</strong>quados a representac;ao <strong>de</strong> conteudos extensos ja apresentados, por isso constitu<strong>em</strong> urn<br />

recur so a que os falantes recorr<strong>em</strong> a to do instante. De modo que a predominancia sobre os<br />

pronomes adverbiais se caracteriza, entao, como urn probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> natureza estrutural, imposto<br />

por restriyoes do pr6prio sist<strong>em</strong>a IingUistico, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, como urn probl<strong>em</strong>a<br />

discursivo, <strong>de</strong>terminado por objetivos argumentativos.<br />

Resta, contudo, explicar a razao <strong>da</strong> aha freqiiencia <strong>de</strong> pronomes substantivos entre os<br />

<strong>de</strong>iticos discursivos. Conforme observou Ducrot (1977), as expressoes nominais <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s com<br />

pronome <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong>limitam a classe <strong>de</strong> referentes no "universo mostrado", e estao<br />

condiciona<strong>da</strong>s a fun


Resumir urn conteudo proposicional por melD <strong>de</strong> urn nome, que sirva <strong>de</strong> rotulo para urn<br />

argumento explicado antes, como <strong>em</strong> "por essa <strong>de</strong>ficiencia", exige do falante urn trabalho <strong>de</strong><br />

categorizayao, <strong>de</strong> rotulayao <strong>de</strong> proposiyoes e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificayao <strong>da</strong> forya ilocutoria 59 . Nao se po<strong>de</strong><br />

afirmar 0 mesmo com relayao aos pronomes <strong>de</strong>monstrativos substantivos, pois convenciona-se<br />

que seu <strong>em</strong>prego ja represente esse nome, com seus pressupostos existenciais.<br />

E mais "facil", pois, saltar a etapa <strong>de</strong> rotulayao <strong>da</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva e usar a pro-forma,<br />

como <strong>em</strong> "tudo isso", no ex<strong>em</strong>plo (82). AMm do que, 0 carMer geral, muito proprio do<br />

significado dos pronomes, revigorado pelo efeito ain<strong>da</strong> mais generalizante dos <strong>de</strong>monstrativos<br />

neutros, permite que eles possam aplicar-se a varios objetos, indistintamente. Nisso resi<strong>de</strong><br />

precisamente a funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> que tern para os <strong>de</strong>iticos discursivos: sac as formas mais<br />

apropria<strong>da</strong>s para resumir conteudos dispersos, cuja amplitu<strong>de</strong>, por vezes in<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> ou<br />

ambigua, e compactua<strong>da</strong> tacitamente por falantes e <strong>de</strong>stinatarios.<br />

A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar a imprecisao justifica, ain<strong>da</strong>, a utilizayao <strong>de</strong> certos pronomes<br />

<strong>de</strong>monstrativos modificados oracionalmente, como <strong>em</strong> (83) abaixo:<br />

(83) "...0 que que 0 senhor fala assim <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nya DO Liceu<br />

dos t<strong>em</strong>pos que 0 senhor ensinava por ex<strong>em</strong>plo quando 0 senhor<br />

comeyou nao me l<strong>em</strong>bro n<strong>em</strong> quando ... e dos dias atuais? se e que<br />

o senhor t<strong>em</strong> alguma i<strong>de</strong>ia DAQUllo que se passa la nos dias ...<strong>de</strong><br />

hoje ..." «F) 02-48 - conversa espontanea - PORCUFORT)<br />

"Daquilo", como <strong>de</strong>itico discursivo, resgata urn conteudo proposicional, que se refere as<br />

"mu<strong>da</strong>nyas do Liceu", ain<strong>da</strong> que ultrapasse esse valor s<strong>em</strong>antico e se complete no conhecimento<br />

partilhado.<br />

A estrutura <strong>de</strong> pronome modificado por orayao adjetiva e igualmente admissivel com<br />

anaforicos, apesar <strong>de</strong> rara, como ex<strong>em</strong>plifica (84), abaixo:<br />

(84) "no iNlcio eu tinha que escrever Tudo que eu ia dizer ... e<br />

eu num podia sabe? Tirar a vista <strong>da</strong>quilo que eu estava ... lendo<br />

porque ... SE EU tirasse ..." «F) 02-39 - conversa espontanea -<br />

PORCUFORT)<br />

Aqui, 0 pronome faz uma recuperayao pontualiza<strong>da</strong>, tipica dos anaforicos. Em (83) e (84),<br />

o <strong>de</strong>monstrativo, sozinho, nao satisfaria como conteudo informativo, por isso recebe 0<br />

59 A fOf


modificador, no caso, uma relativa (mas po<strong>de</strong>ria ser tamb<strong>em</strong> uma sintagma preposicionaI 60 ). A<br />

orayao particulariza 0 que 0 <strong>de</strong>itico ja introduziu com status <strong>de</strong> conhecido para 0 ouvinte,<br />

por<strong>em</strong> nao foi capaz <strong>de</strong> restringir <strong>de</strong>ntro do "universo mostrado". Formayoes <strong>de</strong>ssa natureza<br />

apareceram, com mais freqiiencia, nos <strong>de</strong>iticos discursivos (30 ocorrencias contra apenas cinco<br />

<strong>de</strong> anaf6ricos), 0 que se explica exatamente pelo sentido generico, tao necessario a esse tipo <strong>de</strong><br />

expressoes indiciais, conforme ja discutido acima.<br />

o valor <strong>de</strong>monstrativo dos <strong>de</strong>iticos discursivos po<strong>de</strong> esvaZIar-se <strong>de</strong> tal modo que se<br />

tornaria artificial dissocia-Io do pronome relativo. Leia-se 0 ex<strong>em</strong>plo (85):<br />

(85) "Levando-se <strong>em</strong> conta 0 papel ca<strong>da</strong> vez mais importante<br />

que a televisao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha hoje - principal mente <strong>em</strong> relayao aos<br />

mais jovens - planeja-se realizar urn vi<strong>de</strong>o <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> espetaculo que<br />

vier a ser realizado, °que ja se tentou com a primeira aulaespetaculo."<br />

(E040 - relat6rio tecnico - NELFE)<br />

Seria pragmaticamente pouco aceitavel substituir "0 que ja se tentou ..." por "aquilo (isso)<br />

que ja se tentou" .... Assim, 0 <strong>de</strong>monstrativo como que se incorpora ao relativo, que e, <strong>de</strong> fato,<br />

qu<strong>em</strong> individualiza 0 conteudo proposicional anterior. Esta e, mais ou menos, a posiyao <strong>de</strong><br />

Apotheloz e Chanet ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> que "as nomina~oes nao faz<strong>em</strong> use, necessariamente, <strong>de</strong><br />

uma expressao lexical; urn pronome <strong>de</strong>monstrativo po<strong>de</strong> muito b<strong>em</strong> executar a mesma<br />

operayad' (Apotheloz; Chanet, 1997: 161). E ilustram a afirmayao com 0 seguinte ex<strong>em</strong>plo:<br />

(86) Salvo cataclismo (natural au provocado), 0 hom<strong>em</strong><br />

terminara inevitavelmente por controlar sua propria evoluyao. Nao<br />

nos engan<strong>em</strong>os: se ele adquirir esta capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, fara uso <strong>de</strong>la<br />

foryosamente. Para 0 melhor ou para 0 pior. Isto, provavelmente,<br />

ain<strong>da</strong> esta muito longe, mas e necessario refletir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ja.<br />

(Apotheloz; Chanet, 1997:161)<br />

Os autores mencionam, ain<strong>da</strong>, 0 caso do <strong>de</strong>monstrativo seguido <strong>da</strong> orayao adjetiva, <strong>em</strong><br />

que a propria construyao 0 que opera a "nomina~ao", pois e ela que retoma as informayoes<br />

60 0 pronome neutro <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo, <strong>em</strong>pregado sozinho, s<strong>em</strong> modificador, roo e suficiente, por nao ter a<br />

mesma autonomia <strong>de</strong>scritiva dos nomes, para suprir a infonna9ilo que se sup6e dividi<strong>da</strong>, <strong>da</strong>ia necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

adjunto, ou constituido <strong>de</strong> ora9ao, como no ex<strong>em</strong>plo (85), ou <strong>de</strong> sintagma preposicional, como <strong>em</strong>: " ... aJ alias<br />

num c n<strong>em</strong> uma conota9ao ... eh:: 0 sentido REAL ... ne? .. porque:: eh:: ... 0 sentido ... conotativo e urn::<br />

sentido figurado ne?.. e n6s ...{ po<strong>de</strong>mos ate l<strong>em</strong>brar «fala rindo lev<strong>em</strong>ente)) {isso <strong>de</strong> portugucs nc? ..."<br />

«F) D2-39 - conversa espontfulea - PORCUFORT). :E pelo modificador "<strong>de</strong> portugues" que se po<strong>de</strong> limitar 0<br />

"universo mostrado" pelo <strong>de</strong>monstrativo.


(87) "Ele jogava com varios registros ao mesmo t<strong>em</strong>po, 0 que<br />

era 0 trac;o essencial <strong>de</strong> sua natureza." (Apotheloz; Chanet,<br />

1997:161)<br />

Apotheloz e Chanet tratam as nomina


Isto e isso sao, com efeito, muito ocorrentes na fala, mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os pesqUlsar se essa<br />

frequencia se atribui ao tipo <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva, ou se outros fatores, como 0 grau <strong>de</strong><br />

espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, nao interfer<strong>em</strong> nesta conclusao. As relayoes entre estruturayaO <strong>da</strong>s expressoes<br />

indiciais e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> discurso/grau <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> serao aprecia<strong>da</strong>s no capitulo final.<br />

No momento, importa reter que as construyoes com isto/isso (sobretudo com isso) reun<strong>em</strong><br />

condiyoes muito favoniveis a urn <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>itico-discursivo.<br />

Uma <strong>de</strong>ssas condiyoes se pren<strong>de</strong> a <strong>de</strong>scriyao s<strong>em</strong>antica dos pronomes neutros. as<br />

referentes pontuais conduz<strong>em</strong> 0 trayo [+ animado], <strong>em</strong> geral incompativel com 0 genero neutro,<br />

ao passo que os referentes difusos, peculiares aos <strong>de</strong>iticos discursivos, nao 0 cont<strong>em</strong>. Por isso,<br />

os <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> genera masculino ou f<strong>em</strong>inino (este(s), esta(.'i)) sac utilizados <strong>em</strong> funyao<br />

substantiva para retomar referentes pontuais nas anaforas (mesmo que muito raramente), por<strong>em</strong><br />

nao para recuperar conteudos proposicionais inteiros. Por isso, conv<strong>em</strong> compreen<strong>de</strong>r: enquanto<br />

nos anaf6ricos, 0 <strong>em</strong>prego dos neutros e opcional (no sentido <strong>de</strong> que se apresentam como uma<br />

<strong>da</strong>s seleyoes possiveis), nos <strong>de</strong>iticos discursivos pronominais, eles constitu<strong>em</strong> uma exigencia.<br />

Reflitamos sobre 0 ex<strong>em</strong>plo seguinte:<br />

(88) HE humilhante a maneira como 0 governo trata 0<br />

trabalhador, principalmente 0 servidor publico, como se este nao<br />

fosse necessario ao Pais." «E) Sr editor - carta ao editor - corpus<br />

compl<strong>em</strong>entar)<br />

Em (88), 0 anaf6rico "este", que se refere ao "trabalhador" (incluindo "0 servidor<br />

publico"), nao seria comutavel com islo, que nao seria a<strong>de</strong>quado a referenciayao <strong>de</strong> uma<br />

enti<strong>da</strong><strong>de</strong> humana 62 . No entanto, <strong>em</strong> outros usos anaf6ricos, s<strong>em</strong> a mesma imposiyao, a troca<br />

seria possivel, ain<strong>da</strong> que estilisticamente con<strong>de</strong>ml.veI. Ex<strong>em</strong>plo:<br />

(89) "... por isso que se diz que 0 Turismo e um e e uma industria mas<br />

is so e uma industria ... indiretamente /tEl? .." «F) EF-52 - aula -<br />

PORCUFORT)<br />

lei entre os <strong>de</strong>iticos discursivos, os pronomes <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo, funcionando<br />

substantivamente, sac s<strong>em</strong>pre neutros. Cont<strong>em</strong> elevado grau <strong>de</strong> generali<strong>da</strong><strong>de</strong>, um forte po<strong>de</strong>r<br />

resumidor e exig<strong>em</strong> um baixo custo <strong>de</strong> elaborayao, por isso, algumas vezes, se manifestam


como pronomes nulos. Dos 467 <strong>de</strong>iticos discursivos pronominais <strong>de</strong>monstrativos <strong>da</strong> amostra, 33<br />

sac nulos, e po<strong>de</strong>m ser ilustrados por ex<strong>em</strong>plos como:<br />

(90) "... ele ficava espeRANdo ... fora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula ... TOdos<br />

os alunos entrasse (...) porque <strong>de</strong>pois que Ele entrasse NINGUEM<br />

MAIS entrava ... ( ) eu achava 0 muito engra9ado porque 0 M. <strong>de</strong><br />

A. tinha aquelas suas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s ..." «F) 02-39 - conversa<br />

espontimea - PORCUFORT)<br />

(91) "Como vai a tia Lour<strong>de</strong>s? Ela vai vlaJar mesmo para a<br />

Inglaterra, <strong>em</strong> janeiro? Ouvi dizer que ela recebeu uma bolsa <strong>de</strong><br />

estudos pela Cultura Inglesa, e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>? Qu<strong>em</strong> me contou 0 foi 0<br />

tio Antonio." «E) carta a um primo - carta pessoal corpus<br />

compl<strong>em</strong>entar)<br />

Nas duas situaC;5es acima, 0 pro nome nulo equivale a "isso, tudo isso", e transforma <strong>em</strong><br />

objeto <strong>de</strong> discurso proposic;5es anteriores. 0 conteudo proposicional n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre carece estar<br />

explicito. Rei enunciados <strong>em</strong> que 0 falante <strong>de</strong>ixa ao <strong>de</strong>stinatario a tarefa <strong>de</strong> reconstruir 0 que<br />

ficou implicito, como <strong>em</strong>:<br />

(92) "Ligue para ele, agora<br />

<strong>de</strong> manha, ele vai estar no<br />

escritorio. Marque a<br />

hora e <strong>de</strong>ixe tamb<strong>em</strong> para<br />

mim. 0 telefone e<br />

455.3538, n<strong>em</strong> precisava 0<br />

nao e mesmo?" (E027 - bilhete - NELFE)<br />

Aqui, 0 pro nome nulo significa "(n<strong>em</strong> precisava) que voce me dissesse qual e 0 numero<br />

do te1efone". Possivelmente, 0 mesmo principio <strong>de</strong> baixo esforc;o cognitivo que dita a escolha<br />

do pronome (<strong>em</strong> vez do SN pleno), opera tamb<strong>em</strong> neste caso. Por<strong>em</strong>, <strong>em</strong> relac;ao aos nulos, esse<br />

principio parece aliar-se a uma regra <strong>de</strong> economia linguistica, pela qual tudo 0 que se toma<br />

como <strong>de</strong>snecesseirio ten<strong>de</strong> a ser suprimido do discurso. Quando uma informac;ao passa a ferir as<br />

submaximas <strong>da</strong> Relevancia e <strong>da</strong> Quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> (ver Grice, 1975), pelas quais se espera que a<br />

contribuic;ao do enunciador seja apropria<strong>da</strong> as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ponto do discurso, e seja<br />

informativa apenas 0 suficiente, enHlo 0 falante ten<strong>de</strong> a omiti-Ia.<br />

Como frisamos na IntroduC;ao, nao nos <strong>de</strong>sviar<strong>em</strong>os, entretanto, para a investigac;ao <strong>de</strong>ssas<br />

formas omissas, que, por si s6, <strong>da</strong>riam uma nova pesquisa, distante do objetivo que nos


Destas observayoes, e bastante constatar que 0 pronome nulo <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo dos<br />

<strong>de</strong>iticos discursivos nao se i<strong>de</strong>ntifica com 0 dos anaf6ricos, por retomar uma ou mais<br />

proposiyoes, e ser substituive1 por um pronome substantivo neutro.<br />

Quando os pronomes adjetivos <strong>de</strong>monstrativos compo<strong>em</strong> sintagmas nominais, os nomes<br />

que eles <strong>de</strong>terminam constitu<strong>em</strong> r6tulos, que, conforme mostrar<strong>em</strong>os no capitulo 5, requer<strong>em</strong><br />

do falante uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reconstruyao <strong>da</strong>s <strong>de</strong>signayoes apropria<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> objeto constituido<br />

no discurso.<br />

Por ora, precisamos analisar, ain<strong>da</strong>, se os pronomes adverbiais circunstanciais processam,<br />

assim como os pronomes substantivos <strong>de</strong>monstrativos, alguma especie <strong>de</strong> nominayao.<br />

Os <strong>de</strong>iticos discursivos representados por pronomes circunstanciais surg<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

realizayoes como:<br />

(93) "B: ai eh: gra


simplesmente reforvando a indicavao <strong>de</strong> este, esse, aquele etc., foram computados como valores<br />

<strong>de</strong>monstrativos. Os ex<strong>em</strong>plos (95) e (96) ilustram 0 caso:<br />

(95) "lnf.1 ai tI ai come que diz::? ..com/e que diz nesta<br />

outra revista sobre 0 silencio? ..<br />

Inf.2 nessa <strong>da</strong>qui e 0 seguinte '0 exercicio do silencio e<br />

tao imporTANTE. .. quanto a pratica <strong>da</strong> palavra' ..." «F) 02-39<br />

conversa espontanea - PORCUFORT)<br />

(96) "nao houVEsse <strong>de</strong>vastavao ... nessas paisagens ... TO<strong>da</strong>s<br />

que existe/ no mundo ... CERtamente num existiria esse metodo<br />

aqui. .." «F) EF-52 - aula - PORCUFORT)<br />

Classificamos todos os circunstanciais adjetivos como <strong>de</strong>monstrativos porque sua tarefa<br />

mats importante, no procedimento discursivo, e aju<strong>da</strong>r 0 pronorne substantivo/adjetivo a<br />

localizar 0 referente no umverso mostrado. De fato, ajuntam-se ao valor <strong>de</strong>monstrativo<br />

exatamente para precisar 0 ponto <strong>de</strong> referencia do enunciador 63 . Cunha ja atentara para 0<br />

fen6meno ao <strong>de</strong>clarar que "quando, por motivo <strong>de</strong> clareza ou <strong>de</strong> enfase,quer<strong>em</strong>os precisar a<br />

situavao <strong>da</strong>s pessoas ou <strong>da</strong>s coisas a que nos referimos, usamos reforvar os <strong>de</strong>monstrativos com<br />

os adverbios" (Cunha, 1977:327).<br />

Esta e uma comprovavao <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> significado, pOlS evi<strong>de</strong>ncia que ar<strong>em</strong>issao dos<br />

circunstanciais e mais subjetiva do que ados <strong>de</strong>monstrativos. A presenva do falante e mais<br />

evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente assinala<strong>da</strong>, e isto garante a estrutura maior graD <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Discutir<strong>em</strong>os, no pr6ximo it<strong>em</strong>, como os graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong> difer<strong>em</strong> <strong>em</strong> funvao do tipo<br />

<strong>de</strong> r<strong>em</strong>issao executa<strong>da</strong>. Mostrar<strong>em</strong>os que exist<strong>em</strong> diferentes motivavoes para 0 <strong>em</strong>prego dos<br />

el<strong>em</strong>entos indiciais, 0 que redun<strong>da</strong> na separavao <strong>de</strong> subconjuntos distintos <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos e anaf6ricos.<br />

To<strong>da</strong>s as expressoes referenciais pinva<strong>da</strong>s para esta pesqmsa retomam urn referente<br />

tamb<strong>em</strong> presente no contexto. Contudo, verificamos que, al<strong>em</strong> <strong>de</strong>ssa caracteristica <strong>de</strong> recuperar<br />

enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s contextuais, muito peculiar as anaforas, os el<strong>em</strong>entos indiciais apontam tamb<strong>em</strong>,<br />

como que <strong>de</strong> modo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, para uma instancia do universo discursivo, que po<strong>de</strong> ser:<br />

63 Sobre iS10, leia-se 0 que cliz Bechara (1978:265): "Em tills situa


• 0 espayo fisico real <strong>da</strong> comunicayao;<br />

• 0 conhecimento comum;<br />

• 0 espayo fisico do texto;<br />

• 0 pr6prio contexto.<br />

Os <strong>de</strong>iticos discursivos e os anaf6ricos indiciais, conquanto funcion<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntm <strong>de</strong> urn<br />

"campo mostrativo textual" (equivalendo ambos a anafora buhleriana), efetivam uma segun<strong>da</strong><br />

indiciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> vez que os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>iticos que os estabelec<strong>em</strong> apontam para urn <strong>de</strong>stes<br />

espayos:<br />

o "campo mostrativo situacional" (como 0 faz<strong>em</strong> os anaf6ricos <strong>de</strong>iticos);<br />

o que po<strong>de</strong>ria tamb<strong>em</strong> representar urn tipo <strong>de</strong> "campo mostrativo imaginario", ja que<br />

os referentes situados na m<strong>em</strong>6ria cultural dos interlocutores nao <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> constituir<br />

uma imag<strong>em</strong> mental;<br />

o pr6prio "campo mostrativo textual", mas consi<strong>de</strong>rando suas dimensoes fisicas a<br />

partir <strong>da</strong> ultima formulayao do falante;<br />

o pr6prio "campo mostrativo textual", mas s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar 0 referencial do falante;<br />

Os quatro subitens seguintes examinam, com mats vagar, como se processa a r<strong>em</strong>issao<br />

dos el<strong>em</strong>entos indiciais a ca<strong>da</strong> urn <strong>de</strong>sses campos <strong>de</strong>iticos, discutindo as consequencias <strong>de</strong><br />

s<strong>em</strong>elhante condicionamento para a caracterizayao <strong>de</strong> subgrupos <strong>de</strong> anaJ6ricos e <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos.<br />

Preferimos ja adiantar, neste ponto, contudo, os Quadros 3 e 4 e os Graficos 5 e 6 (que<br />

<strong>de</strong>monstram os resultados dos quadros), a fim <strong>de</strong> encetar a analise <strong>da</strong> relayao forma-funyao-<br />

condicionamento, a partir <strong>de</strong> uma apreensao do todo. Os <strong>da</strong>dos foram exibidos <strong>em</strong> valores<br />

numericos para evitar que os percentuais mascarass<strong>em</strong> as discrepancias <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

relayao ao total:


conb.part. fisico real fisico text. textual<br />

pro cir 1 224 0 5<br />

pro dm 29 17 4 59<br />

SN cir 2 21 0 6<br />

SNdm 196 89 3 357<br />

SNnm 0 0 1 6<br />

totais 228 351 7 427<br />

conb.part. fisico real fisico text. textual<br />

pro cir 0 44 26 81<br />

pro dm 14 8 2 476<br />

SN cir 2 2 6 5<br />

SNdm 35 25 37 208<br />

SNnm 0 0 0 9<br />

totais 53 77 70 780<br />

Atente-se para a distribui


ReJil~a()·~ntr~.f()rrna,.·"a[or •. s.efl1antico•..~~-~1<br />

tiP()•• '<strong>de</strong>Il10tiVa.Qa:on()$an~f6ri¢ ..O......•.......•. S.... '.':..~.~. _,~....<br />

II,I,'<br />

40°<br />

1<br />

•.•. ,••• ,.••.•.<br />

t:.----,,------.-."." .... --- .....<br />

3004-·) ••• ·•·•·•··• lOOconh,part·.ll<br />

1 IUffsicoreallj<br />

20Q·r· ll9ffSjCatext. .ll<br />

-to'o ~.~-.-~--~~ ..~;-~;-; UillTIltexttJa[: _ -1:1<br />

.-...-...•~•..~ ....-. ~'"I<br />

i<br />

!<br />

as <strong>de</strong>iticos discursivos, como se percebe, sac codificados dominant<strong>em</strong>ente por<br />

pronomes <strong>de</strong>monstrativos, que, na gran<strong>de</strong> maioria, r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> aos el<strong>em</strong>entos do proprio texto.<br />

Segu<strong>em</strong> as consi<strong>de</strong>ra~5es sabre as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> tipo <strong>de</strong> r<strong>em</strong>issao.<br />

II


o conjunto dos anaf6ricos que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> ao espayo extralingu.istico e composto pelos<br />

anaforicos <strong>de</strong>iticos (cf. it<strong>em</strong> 1.5.4), aqueles que preservam 0 valor <strong>de</strong>itico <strong>em</strong> seu sentido<br />

original: 0 <strong>de</strong> apontar para 0 espac;o real <strong>da</strong> enunciayao.<br />

A mesma especie <strong>de</strong> r<strong>em</strong>issao po<strong>de</strong> ser alcanya<strong>da</strong> pelos indiciais dos <strong>de</strong>iticos discursivos,<br />

<strong>de</strong> tal modo que estariamos autorizados ate a <strong>de</strong>signa-los, <strong>de</strong> forma redun<strong>da</strong>nte, como "<strong>de</strong>iticos<br />

discursivos <strong>de</strong>iticos", <strong>em</strong> analogi a com os anaf6ricos <strong>de</strong>iticos, que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> ao espayo fisico<br />

real do falante, ou que simplesmente 0 pressup6<strong>em</strong>. Repare-se nos ex<strong>em</strong>plos seguintes:<br />

(97) "ah foi... nao:: ... sabe 0 que foi foi foi um rolo incrivel<br />

aquilo aiL.. meNlna:... atrasou mais por causa disso tamb<strong>em</strong><br />

sabe ..." (F001 - conversa telef6nica - NELFE)<br />

(98) "Esta estrategia <strong>de</strong> textualizayao que erige <strong>de</strong>s<strong>de</strong> simples<br />

verbos ate enunciados inteiros <strong>em</strong> referentes <strong>de</strong>signados por<br />

express6es nominais e mais comum na escrita do que na fala, mas<br />

na fala t<strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sintese e aparece mais <strong>em</strong> gelneros<br />

formais, como e 0 caso <strong>da</strong> aula aqui cita<strong>da</strong>." «E) artigo <strong>de</strong> lingClfstica<br />

- artigo cienUfico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

"Aquilo ali", <strong>em</strong> (97), sup6e uma localizayao no passado do acontecimento narrado. E e 0<br />

pronome substantivo <strong>de</strong>monstrativo, na forma <strong>de</strong> terceira pessoa, fortalecido pelo pronome<br />

adjetivo circunstancial, que marca esse distanciamento no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> rela


sobretudo ao uso do aquele (e variantes), numa r<strong>em</strong>issao ao passado, ou a algo presente no<br />

conhecimento comum dos interlocutores, como <strong>em</strong> (97), com relayao aos <strong>de</strong>iticos discursivos.<br />

Nos anaforicos, a disHincia do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulayao costuma apresentar -se como nos ex<strong>em</strong>plos<br />

abaixo:<br />

(99) "Esta certo, ningu<strong>em</strong> quer morar numa ci<strong>da</strong><strong>de</strong> infesta<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

camel6s, mas que eles ven<strong>de</strong>m umas coisinhas legais, baratinhas,<br />

que nao se encontra <strong>em</strong> ne-nhu-ma loja <strong>de</strong> nenhum bairro, isso e a<br />

maior ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. E quando se esta viajando ningu<strong>em</strong> consegue <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> comprar com eles - <strong>em</strong> Nova York aquela bolsa c6pia <strong>de</strong><br />

Chanel, e por ai vai - isso tamb<strong>em</strong> e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>." ((E) cr6nica Danuza<br />

- cr6nica - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

(100) "Gostaria <strong>de</strong> pedir <strong>de</strong>sculpas por nao te <strong>da</strong>r a atenyao<br />

que voce merece ter; afinal faz<strong>em</strong> seculos que nao te escrevo. Pra<br />

falar a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, eu s6 te escrevi uma carta (I<strong>em</strong>bra?! aquela mais<br />

ou menos apaixona<strong>da</strong>!) e uma centena <strong>de</strong> bilhetinhos." (E004carta<br />

pessoal - NELFE)<br />

E interessante como <strong>em</strong> usos <strong>de</strong>ssa natureza, parec<strong>em</strong> concorrer, ou harmonizar-se, as<br />

motivayoes do espayO real e do saber comum, <strong>de</strong> maneira que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir com<br />

certeza se se trata <strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong> outra. Observe-se urn ex<strong>em</strong>plo com <strong>de</strong>itico discursivo:<br />

(101) "e Al que ele po<strong>de</strong>ria ... ser utilizado ... NAo s6 naquela<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> situa~ao como eu ja falei <strong>de</strong> COMpra <strong>de</strong> ... ven<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

alguma COlsa ... mas <strong>em</strong> OUtras situa


(102) "e a escola hoje ... como que ela trabalha? essa postura<br />

v<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>ndo? ta existindo uma nova consciencia <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

lingua portuguesa na escola... ou ain<strong>da</strong> continua essa visao<br />

tradicional e conservadora <strong>da</strong> lingua portuguesa?" (F037<br />

entrevista na TV - NElFE)<br />

o el<strong>em</strong>ento <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque nao fora mencionado antes, mas uma serie <strong>de</strong> objetos<br />

prece<strong>de</strong>ntes conduz<strong>em</strong> it inferencia <strong>de</strong> uma "visao tradicional e conservadora", que,<br />

simultaneamente, chama 0 ouvinte a procurar <strong>em</strong> sua bagag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mundo tudo 0 que se<br />

relaciona ao assunto, e que 0 falante apresentou como sendo <strong>de</strong> seu conhecimento.<br />

Tamb<strong>em</strong> e compreensivel que, nas amiforas, as r<strong>em</strong>issoes a m<strong>em</strong>oria cultural 64<br />

realiza<strong>da</strong>s por estruturas mais codifica<strong>da</strong>s, para que 0 <strong>de</strong>stinatario disponha <strong>de</strong> pistas suficientes<br />

para estabelecer 0 referente <strong>em</strong> seu arquivo <strong>de</strong> conhecimentos. As formas mais representativas<br />

sac:<br />

mais comumente, sintagmas nominais com pronomes adjetivos <strong>de</strong>monstrativos;<br />

pronomes neutros modificados por orayoes;<br />

pronomes neutros modificados por sintagmas preposicionais.<br />

(103) "agora ... ele expliCOU ... inclusive tamb<strong>em</strong> que s6 ate<br />

aos zJ ao oitenta Anos eles po<strong>de</strong>m... eles po<strong>de</strong>m... ser::...<br />

eleitores:: ... no:: ... na vota


Em (103), e 0 pr6prio nome "hierarquia" que limita, <strong>de</strong>ntro do umverso <strong>de</strong><br />

conhecimentos sobre 0 assunto, 0 campo <strong>em</strong> que se encontra 0 objeto mostrado. Por sua vez, <strong>em</strong><br />

(104), 0 falante faz uma especificayao subsequente, por meio <strong>de</strong> outros SNs, para facilitar 0<br />

processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificayao.<br />

Por isso 0 pronome adverbial, par sua <strong>de</strong>scriyao s<strong>em</strong>antica (rever 0 it<strong>em</strong> 4.3), nao e uma<br />

forma a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> as r<strong>em</strong>iss6es ao conhecimento partilhado pelos interlocutores. Tanto os <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos quanta os anaf6ricos sao quase s<strong>em</strong>pre assinalados por pronomes adjetivos<br />

<strong>de</strong>monstrativos <strong>em</strong> sintagmas nominais. Os poucos casos <strong>de</strong> pronomes substantivos geralmente<br />

nao sac representados par neutros, e valeriam, rigorosamente, como SNs do tipo aquela menina,<br />

aquela garota etc., como no ex<strong>em</strong>plo seguinte:<br />

(105)<br />

V:<br />

B:<br />

V:<br />

B:<br />

V:<br />

B:<br />

comprido<br />

V:<br />

B:<br />

telefonica -<br />

"B: hm:: eh::<br />

[Veruska<br />

[aquela do cabelo [comprido<br />

[do cabelo comprido liso e<br />

liso<br />

sim que tava <strong>de</strong> touca e tinha tava b<strong>em</strong> liso 0 cabelo<br />

nao aquela e Celina ...<br />

aquela e bailarina excelente tamb<strong>em</strong><br />

aquela e manequim nao" (F001<br />

NELFE)<br />

Como <strong>de</strong>claramos no it<strong>em</strong> anterior, os pronomes <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> terceira pessoa tern 0<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> r<strong>em</strong>eter a urn momento distante do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>formulayao. Assim, <strong>em</strong> (105), "aquela"<br />

invoca urn saber comum dos participantes <strong>da</strong> conversa, solicitando ao ouvinte que esquadrinhe,<br />

<strong>em</strong> sua m<strong>em</strong>oria, urn referente i<strong>de</strong>ntificavel por ambos. Por isso a presenya do pronome <strong>de</strong><br />

terceira pessoa <strong>em</strong> contextos assim motivados nao po<strong>de</strong> ser interpreta<strong>da</strong> como urn fato<br />

contingente. Aquele e variantes constitu<strong>em</strong> urn expediente bastante apropriado para as<br />

r<strong>em</strong>issoes ao passado. Por essa interpretayaO, compreen<strong>de</strong>-se por que, <strong>de</strong> urn conjunto <strong>de</strong> 199<br />

anaf6ricos referindo-se ao conhecimento partilhado, 151 sejam pronomes <strong>de</strong> terceira pessoa<br />

<strong>de</strong>monstrativos, 0 que perfaz urn percentual <strong>de</strong> 75,8%. Entre os <strong>de</strong>iticos discursivos, a<br />

freqi.iencia cai para 43, 1%65.<br />

65 Ocorrencias raras <strong>de</strong> <strong>de</strong>itico discursivo codificado par <strong>de</strong>monstrativo neutro <strong>de</strong> terceira pessoa po<strong>de</strong>m ser<br />

ilustra<strong>da</strong>s par casos como: "Mas nao: 0 ar ali estava im6vel, serio, pesado. Nenhuma virayao e 0 ceu baixo, as<br />

nuvens escuras, <strong>de</strong>nsas. Como foi que aquilo aconteceu? A principio apenas 0 mal-estar e 0 calor. Depois qualquer<br />

coisa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la comeyou a crescer." ((E) • canto Lispector - canto - corpus compl<strong>em</strong>entar)


Os <strong>de</strong>iticos discursivos, ordinariamente, sac codificados por pronomes <strong>de</strong>monstrativos<br />

neutros <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> e <strong>de</strong> primeira pessoa. Os <strong>de</strong> terceira surg<strong>em</strong> exatamente para sinalizar a<br />

retoma<strong>da</strong> do saber compartilhado, por isso a r<strong>em</strong>issao realiza<strong>da</strong> pelo <strong>de</strong>monstrativo issa<br />

diverge <strong>da</strong> que se faz por meio <strong>de</strong> aquila, tal como se verifica no ex<strong>em</strong>plo seguinte:<br />

(106) "eh voces nunca pensaram <strong>de</strong>:: ...nao sei talvez<br />

assim ...uhn levar esse grupo pra algum lugar? esse grupo que se<br />

reline aqui todos os domingos? eh voces nunca pensaram <strong>de</strong>:: ...nao<br />

sei talvez assim ...uhn levar esse grupo pra algum lugar? esse grupo<br />

que se reline aqui todos os domingos? levar assim pra um um<br />

BARzinho uma noi::te uma coisa uma vez ao mes:: ... pra fazer com<br />

que esse tipo <strong>de</strong> musica que praticamente esta esquecido<br />

CHEgue ate os ouvidos dos mais jovens" «F) 02-48 - conversa<br />

espontanea - PORCUFORT)<br />

Ao dizer "esse tipo <strong>de</strong> musica", 0 enunciador se refere nao somente as musicas ja<br />

menciona<strong>da</strong>s no discurso, como a tantas outras do mesmo genero registra<strong>da</strong>s no conhecimento<br />

<strong>de</strong> mundo dos interlocutores. Mas ha, aqui, uma diferen


Reve1am os Quadros 3 e 4 que a indicayao do espayo fisico textual nos anaforicos e quase<br />

nula (apenas 8 ocorrencias), ao passo que nos <strong>de</strong>iticos discursivos contabilizam-se 70 casos.<br />

Despontam neste grupo nao somente pronomes adverbiais circunstanciais, mas tamb<strong>em</strong> certos<br />

nomes <strong>em</strong> fi.myao adjetiva, com valor <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrayao, como:<br />

(107) "Tentar<strong>em</strong>os a partir <strong>da</strong> proxima uni<strong>da</strong><strong>de</strong> ;<br />

Como se observa nas passagens seguintes ;<br />

Com a seguinte frase inicial...;<br />

o narrador pinta 0 seguinte quadro ..." «E) ensaio -<br />

artigo cientffico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Po<strong>de</strong>-se perceber que tais nomes adjetivos modificadores <strong>de</strong> sintagmas nominais tamb<strong>em</strong><br />

apontam para lugares especificos no texto. So muito esporadicamente aparec<strong>em</strong> na fala (<strong>de</strong><br />

acordo com nossos <strong>da</strong>dos), mas sac <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> auxilio na or<strong>de</strong>nayao dos discursos escritos.<br />

Conforme diss<strong>em</strong>os, os condicionamentos fisico-textuais sac pouco numerosos: <strong>em</strong> todo a<br />

amostra pesquisa<strong>da</strong>, so i<strong>de</strong>ntificamos 78 ocorrencias, e a expressiva maioria comp6e 0 subgrupo<br />

dos <strong>de</strong>iticos textuais.<br />

as contextos mais tipicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos textuais se verificam quando os el<strong>em</strong>entos indiciais<br />

assinalam, s<strong>em</strong> ambigiii<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a localizayao do referente, 0 que, na maioria <strong>da</strong>s vezes, e obtido<br />

pelo <strong>em</strong>prego dos pronomes adverbiais circunstanciais. Por ex<strong>em</strong>plo:<br />

(108) Utilizamos, acima, alguns termos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

explicitados com algum <strong>de</strong>talhe para maior entendimento. «E) artigo<br />

<strong>de</strong> IingOistica - artigo cientifico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

(109) "Como ja se afirmou antes, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nossas<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, artistas como Eveline Borges ou grupos que se<br />

preocupam com a criac;ao e interpretac;ao <strong>da</strong> Arte brasifeira,<br />

receberao nosso apoio" (E040 - relat6rio tecnico - NELFE)<br />

(110) "e e olho aqui para 0 rel6gio e vejo que 56 estao: me fall<br />

56 estao: ... me restan:do cinco minutos analiso agora 0 probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong><br />

conciliac;ao" (F033 - conferencia - NELFE)<br />

"Acima" e "antes" se refer<strong>em</strong> nao a urn nome, n<strong>em</strong> a algo que 0 substitua, mas a uma<br />

posh;ao anterior it ultima formulayao do falante. Do mesmo jeito acontece com 0 "agora", que<br />

inclui 0 proprio momento <strong>da</strong> enunciayao e 0 instante que vini logo <strong>de</strong>pois.


Po<strong>de</strong>-se ver que alguns referentes, como "antes" e "agora", sao fixados a partir <strong>da</strong>s<br />

coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. Conforme mostramos <strong>em</strong> 1.5.2, 0 paralelismo e muito claro: 0 que se<br />

encontra antes e <strong>de</strong>pois fica distante do ponto zero <strong>da</strong> enunciavao; 0 que se encontra agora fica<br />

proximo a ele. 0 travo <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>/distancia t<strong>em</strong>poral se <strong>de</strong>fine, portanto, por uma novao <strong>de</strong><br />

lugar, pelo que reafirmamos que as duas instancias, <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e espavo, se imbricam<br />

inevitavelmente.<br />

Ratificamos, com lSSO, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os indiciais que <strong>de</strong>monstram prototipicamente 0<br />

ambiente fisico do texto exerc<strong>em</strong>, assim como os que retomam a situavao extralingiiistica, a<br />

funvao <strong>de</strong>itica primaria <strong>de</strong> situar urn <strong>da</strong>do lugar <strong>em</strong> relavao ao falante. Sinalizam igualmente<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn campo <strong>de</strong>itico, mas, agora, circunscrito ao texto. Aqui, sim, vale, com mais<br />

legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a imag<strong>em</strong> biihleriana <strong>da</strong> transposivao do campo mostrativo situacional para 0<br />

campo <strong>de</strong>itico do texto, pois "0 ponto <strong>de</strong> referencia, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste genero <strong>de</strong> <strong>de</strong>signavao, nao e 0<br />

lugar e 0 momenta <strong>da</strong> enunciavao, mas 0 lugar e 0 momenta do texto on<strong>de</strong> aparece a expressao<br />

indicial" (Apotheloz, 1995:34).<br />

Os pronomes adverbiais circunstanciais sac as formas mais eficazes para indicar tamb<strong>em</strong><br />

os espavos do texto, <strong>de</strong>vido it sua propria <strong>de</strong>scrivao s<strong>em</strong>antica. Dai por que se recorre a eles para<br />

reforvar 0 significado dos <strong>de</strong>monstrativos no discurso. Esta peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> estrutural leva-nos a<br />

compreen<strong>de</strong>r que e dos adverbiais que 0 falante precisa se valer quando a <strong>de</strong>terminavao do<br />

"en<strong>de</strong>revo" do referente no texto nao e <strong>de</strong> somenos importancia para 0 discurso, como nos<br />

seguintes ex<strong>em</strong>plos:<br />

(111) "Ja no caso do segundo conjunto t<strong>em</strong>os<br />

significativamente mais casos na fala que na escrita e, <strong>em</strong> certos<br />

casos como 0 do ex<strong>em</strong>plo (3) abaixo, trata-se <strong>de</strong> um processamento<br />

muito peculiar <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong>." «E) artigo <strong>de</strong> lingLiistica artigo<br />

cientffico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

(112) "Para que 0 leitor possa melhor acompanhar a analise<br />

que estamos fazendo, transcrev<strong>em</strong>os a seguir, na integra, esse<br />

paragrafo." «E) ensaio - artigo cientffico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Saliente-se 0 quanta a funvao discursiva <strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos e altamente <strong>de</strong>itica, por fixar 0<br />

lugar dos referentes a partir do ponto zero do falante.<br />

I<strong>de</strong>ntificamos, nos <strong>de</strong>iticos textuais, tamb<strong>em</strong> a presenva <strong>da</strong> construvao 0 seguinte, fazendo


(113) "0 que ela faz e 0 seguinte;<br />

a gente vai ver 0 seguinte;<br />

voce verifiea 0 seguinte" «F) EF-152 aula<br />

PORCUFORT)<br />

Com igual funyao, apareceu ain<strong>da</strong> 0 prefixo supra aplicado a referentes mencionados <strong>em</strong><br />

relayao ao ultimo ate <strong>de</strong> fala. (hoje, essa forma e <strong>em</strong>prega<strong>da</strong> tal como urn pronome adverbial,<br />

equivalendo a acima, tamb<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rando a disposiyao vertical do texto):<br />

(114) "PROCEDE a multa insculpi<strong>da</strong> no paragrafo 8 0 , do<br />

dispositivo legal supra elencado, eonforme postulado no it<strong>em</strong><br />

"e", <strong>da</strong> exordia!." (E062 - ata <strong>de</strong> audieneia - NELFE)<br />

Nao se <strong>de</strong>ve inferir, contudo, que nenhuma utiliza


Comentamos, no capitulo 3, que, ern conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> corn as regras normativas <strong>de</strong> uso do<br />

<strong>de</strong>monstrativo, quando dois referentes ja foram introduzidos, 0 ultimo citado sera referido por<br />

este (como acontece nos ex<strong>em</strong>plos acima), eo primeiro, por aquele. Cunha e Cintra fornec<strong>em</strong>,<br />

para isso, a seguinte <strong>de</strong>scri


novao <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>/distancia <strong>em</strong> relavao ao falante, e, por isso mesmo, se situam num ponto<br />

baixo do continuum <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A r<strong>em</strong>issao a conteudos do texto efetua-se tanto por anaf6ricos quanta por <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos e e realiza<strong>da</strong> mediante 0 uso <strong>de</strong> este/esse, s<strong>em</strong>pre que 0 enunciador os <strong>em</strong>prega nao<br />

levando <strong>em</strong> conta a oposivao <strong>de</strong> distancia que, segundo a tradivao gramatical, <strong>de</strong>veria distingui-<br />

los (ver os comentarios <strong>em</strong> 4.2). Comeyamos por <strong>de</strong>signa-la como motivavao "textual", no<br />

entanto, admitimos que se trata <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>nominayao opaca e perigosamente ambigua, por isso<br />

julgamos mais apropriado chama-la <strong>de</strong> motivavao contextual.<br />

as resultados mostraram que se encontram aqui os <strong>em</strong>pregos malS frequentes dos<br />

pronomes substantivos/adjetivos <strong>de</strong>monstrativos (conferir os grificos 5 e 6). Analise-se 0<br />

ex<strong>em</strong>pl0 abaixo:<br />

(118) "Ela ri. Agora po<strong>de</strong> rir. .. Eu comia caindo, dormia caindo,<br />

vivia caindo. Vou procurar um lugar on<strong>de</strong> per os pes ... / Achou tao<br />

engra9ado esse pensamento que se inclinou sobre 0 muro e pes-se<br />

a rir. Um hom<strong>em</strong> gordo parou a certa distfmcia, olhando-a. Que e que<br />

eu fa90? (...) Pes-se a caminhar e esqueceu 0 hom<strong>em</strong> gordo. / Abre<br />

a boca e sente 0 ar fresco inun<strong>da</strong>-Ia. Por que esperou tanto t<strong>em</strong>po<br />

par essa renavac;aa? S6 hoje, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> doze seculos." «E) conto<br />

Lispector - conto - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

"Por essa renovayao" recupera urn referente aos poucos insinuado no discurso, e 0 <strong>de</strong>itico<br />

"essa" apenas dirige 0 olhar do interlocutor para a area do pr6prio discurso on<strong>de</strong> esse referente<br />

difuso po<strong>de</strong> ser resgatado, mas s<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminar exatamente <strong>em</strong> que lugar no texto. E como se 0<br />

pronome tivesse simplesmente a funyao <strong>de</strong> provoear urn rnovirnento <strong>de</strong> husea, no caso<br />

retroativa, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> chamar a atenyao do <strong>de</strong>stinatario para a enti<strong>da</strong><strong>de</strong> referi<strong>da</strong>.<br />

Essa ou esta, ern (118), sao, por isso, perfeitamente permutaveis no <strong>de</strong>itico discursivo negritado<br />

acima, do mesmo modo que 0 sao <strong>em</strong> (119):<br />

(119) "Sou leitora assfdua <strong>de</strong>sta revista. Tenho todos os<br />

numeros. Que tal capa e reportag<strong>em</strong> com Leandro e Leonardo? Eu<br />

adoro essa dupla." (E226 carta ao editor - se9ao <strong>de</strong> carta <strong>em</strong><br />

revista - NELFE)


Em "essa dupla", t<strong>em</strong>os nao mais urn <strong>de</strong>itico discursivo, mas urn anaf6rico, que admite,<br />

s<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as, a substituic;ao por "esta dupla". Tal possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> inexiste no contraste entre os<br />

anaf6ricos este/aquele, <strong>de</strong> motivac;ao fisico-textuaL A distinc;ao entre pr6ximo e distante, aqui,<br />

per<strong>de</strong> re1evancia, conforme se constata <strong>em</strong> (119). Possivelmente porque nao ha interesse do<br />

enunciador, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus prop6sitos argumentativos, <strong>em</strong> <strong>de</strong>marcar 0 lugar on<strong>de</strong> seencontra 0<br />

objeto discursivo. Do contrario, e1e teria recorrido a pronomes adverbiais cireunstanciais, ou a<br />

outras estruturas com s<strong>em</strong>elhante valor.<br />

Dev<strong>em</strong>os l<strong>em</strong>brar, no entanto, que se verifica, <strong>em</strong> raras ocasi5es, 0 <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> este (e<br />

flex5es) com uma indicac;ao precisamente prospectiva, portanto <strong>de</strong>1imitadora, no texto, como<br />

(120) "Veja-se este ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> um sindicalista ..." ((E)<br />

artigo <strong>de</strong> linguistica - artigo cientifico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Rigorosamente, este caso <strong>de</strong>veria ser inserido no gropo <strong>de</strong> motivac;ao fisico-textual.<br />

Entretanto, reconhec<strong>em</strong>os que po<strong>de</strong>m entrar <strong>em</strong> concorrencia com 0 usa <strong>de</strong>marcador certas<br />

motivac;5es <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m afetiva, que busqu<strong>em</strong> trazer 0 referente mostrado para 0 foco <strong>de</strong> atenc;ao<br />

do <strong>de</strong>stinatario, <strong>de</strong> maneira que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre e segura afirmar se 0 prop6sito do <strong>em</strong>prego e<br />

provocar ou nao uma <strong>de</strong>limitac;ao fisica. E por isso que, por vezes, on<strong>de</strong> se esperaria esse,<br />

aparece este, como no seguinte ex<strong>em</strong>plo:<br />

(121) "pois esta nOC',(3o<strong>de</strong> anilfora e restrita ...;<br />

estas observaC',(oes indicam que ...;<br />

Com isto, admitimos que ..." ((E) artigo <strong>de</strong> lingOistica -<br />

artigo cientifico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Assim, <strong>em</strong> portugues, 0 <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong> primeira pessoa marc a, com mais intensi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

que 0 <strong>de</strong> segun<strong>da</strong>, esse trayo estilistico <strong>de</strong> "interesse do falante", como se nota muito b<strong>em</strong> no<br />

excerto abaixo:<br />

(122) "Os gastos <strong>de</strong> custeio e capital aumentaram 31 %. Nos<br />

programas especiais <strong>de</strong> apoio a p6s-graduac;ao, houve ten<strong>de</strong>ncia<br />

s<strong>em</strong>elhante (...). Passamos <strong>de</strong> 115 milh6es <strong>de</strong> reais para 165<br />

milh6es e criamos um novo programa <strong>de</strong> integrac;ao com a<br />

graduac;ao. Esta evoluC',(30 no volume <strong>de</strong> recursos aplicados nega<br />

afirmac;6es quanta a um suposto processo <strong>de</strong> "sucateamento" <strong>de</strong><br />

nossas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais." (E127 - editorial <strong>de</strong> jornal -<br />

NELFE)


Fac;a-se a troca pelo <strong>de</strong>monstrativo essa e se percebera uma diminuic;ao, ain<strong>da</strong> que sutil,<br />

na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> salientar 0 referente. Talvez por isso 0 pronome este seja b<strong>em</strong> menos<br />

ocorrente, pois, para nao sobrecarregar a m<strong>em</strong>6ria do <strong>de</strong>stinatario, 0 falante seleciona tao-s6 0<br />

que <strong>de</strong>ve ser apresentado como sendo <strong>de</strong> maior importancia. Isto nos leva a compreen<strong>de</strong>r por<br />

que esse (e principalmente isso) constitu<strong>em</strong> maioria significativa na amostra: e urn reflexo <strong>da</strong><br />

tentativa <strong>de</strong> reduzir urn pouco 0 grau <strong>de</strong> saliencia <strong>de</strong> que s<strong>em</strong>pre se revest<strong>em</strong> os pronomes <strong>de</strong><br />

valor <strong>de</strong>monstrativo no momento <strong>de</strong> orientar a atenc;ao do interlocutor 67 .<br />

As express5es <strong>de</strong> condicionamento contextual comparec<strong>em</strong> real mente com muita<br />

freqi.iencia tanto nos anaf6ricos quanta nos <strong>de</strong>iticos discursivos, sobretudo nestes ultimos, <strong>em</strong><br />

que se concentram os casos <strong>de</strong> "<strong>de</strong>ixis textual impura" (cf <strong>em</strong> Lyons, 1977), aquela que r<strong>em</strong>ete<br />

ao pr6prio texto e retoma conteudos proposicionais.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> maior <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos nesse tipo <strong>de</strong> condicionamento,<br />

po<strong>de</strong>-se afirmar que, ironicamente, eles realizam com mais intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> a func;ao que s<strong>em</strong>pre se<br />

reputou como mais caracteristica dos anaf6ricos: a <strong>de</strong> retomar enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s ja introduzi<strong>da</strong>s no<br />

universo do discurso. Ja haviamos observado, pela leitura dos Graficos 5 e 6, que, enquanto nas<br />

express5es anaf6ricas os indiciais se distribu<strong>em</strong> mais equilibra<strong>da</strong>mente entre as diferentes<br />

motivac;5es, nos <strong>de</strong>iticos discursivos estao muito concentrados no condicionamento contextual.<br />

Essa constatac;ao tern urn significado especial para esta pesquisa, juntamente com a<br />

conclusao <strong>de</strong> que as express5es indiciais <strong>de</strong>ste grupo tern baixo grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sabe-se<br />

que os pronomes <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo se <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> a partir <strong>da</strong>s pessoas gramaticais e<br />

segundo 0 trac;o <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>/distancia. Quando, por<strong>em</strong>, passa a nao ter muita funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

no discurso 0 referencial do falante no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulac;ao, como no contraste este/esse, entao<br />

estas formas ficam abala<strong>da</strong>s <strong>em</strong> seu carater mais primariamente <strong>de</strong>itico, reduzindo, assim, seu<br />

grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong> (<strong>em</strong>bora sejam utiliza<strong>da</strong>s para outro recur so <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>: a<br />

refocalizac;ao <strong>de</strong> referentes, pelo procedimento <strong>de</strong>itico). Coloqu<strong>em</strong>os <strong>em</strong> cotejo dois ex<strong>em</strong>plos<br />

<strong>de</strong> anaf6ricos e dois <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos, respectivamente:<br />

(123) "e as sete comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s indigenas <strong>de</strong> Pernambuco, que<br />

receberao, no Projeto, aten9ao especial. Sao elas: a tribo Xucuru, <strong>de</strong><br />

Pesqueira; a Fulni6, <strong>de</strong> "Aguas Belas; a Cambiwa, <strong>de</strong> Ibimirim e<br />

Inaja; a Pankararu, <strong>de</strong> Petrolandia e Tacaratu; a Capinawa, <strong>de</strong><br />

67 Uma outra investiga


BUlque; a Atikum, <strong>de</strong> Floresta e Carnaubeira; e a Truka, <strong>de</strong> Cabrob6.<br />

Para assessorar-nos no trabalho junto a essas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s foi<br />

nomeado" (E040 - relat6rio tecnico - NELFE)<br />

(124) "to<strong>da</strong> tranquili<strong>da</strong><strong>de</strong> espantosa e geradora <strong>de</strong> urn conflito<br />

tamb<strong>em</strong> <strong>em</strong> intensa profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> e uma regra sociol6gica que nao<br />

po<strong>de</strong>mos nunca nos esquecer isso e I essa regra<br />

sociol6gica e tira<strong>da</strong> <strong>da</strong> pr6pria natureza ... "(F033 - confer€mcia<br />

NELFE)<br />

(125) De repente, a gente <strong>de</strong>scobre que certas pessoas<br />

sofr<strong>em</strong> muito mais, e, no entanto, consegu<strong>em</strong> ser felizes com muito<br />

pouco. S6 voce po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar 0 seu caminho, procure-o . Mas<br />

nao <strong>de</strong>ixe 0 t<strong>em</strong>po passar, agarre a vi<strong>da</strong> e tente viver b<strong>em</strong>. Desculpe<br />

por Ihe falar to<strong>da</strong>s essas bobagens, mas e 0 que eu penso. «E)<br />

carta a urn primo - carta pessoal - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

(126) "essa recomen<strong>da</strong>c;ao sera repassa<strong>da</strong>..... (E007 - ata<br />

<strong>de</strong> condominio - NELFE)<br />

Percebe-se a baixa <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong> pela neutralizayao <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> distancia pela qual se<br />

opunha 0 par este(isto)/esse(isso). Nao importa que sejam <strong>de</strong>iticos discursivos ou anaf6ricos:<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra-se igualmente 0 ponto zero do falante. E esta aproximayao que tern sido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

s<strong>em</strong>pre, a pedra no sapato do lingiiista, pois 0 tinico aspecto que passa a distingui-Ios e a<br />

abrangencia <strong>da</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Com efeito, nos dois pares <strong>de</strong> ocorrencias aClma, as expressoes <strong>em</strong> negrito resgatam<br />

objetos discursivos ja introduzidos no discurso, ou explicitamente, como "essas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s" e<br />

"essa regra socioI6gica", ou <strong>de</strong> modo implicito, como <strong>em</strong> "to<strong>da</strong>s essas bobagens" e "essa<br />

recomen<strong>da</strong>yao". Pelos el<strong>em</strong>entos indiciais <strong>em</strong>pregados, que apenas sinalizam vagamente para<br />

enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s ja introduzi<strong>da</strong>s, nao se po<strong>de</strong> diferencia-Ios como <strong>de</strong>iticos discursivos ou anaf6ricos.<br />

Somente pe10 nome rotulador (que po<strong>de</strong> vir, as vezes, representado por urn pronome), e possivel<br />

enten<strong>de</strong>r que os dois primeiros recuperam referentes pontuais e os dois tiltimos, conteudos<br />

difusos.<br />

Em raras ocorrencias, 0 pronome adverbial ai tamb<strong>em</strong> po<strong>de</strong> abran<strong>da</strong>r seu significado <strong>de</strong><br />

lugar pr6ximo ao <strong>de</strong>stinatario e operar como urn <strong>de</strong>monstrativo issa ou isla, recuperando<br />

proposiyoes tal como faz urn <strong>de</strong>itico discursivo. Ex<strong>em</strong>plo<br />

(127) "eu pergunto aos senhores houve continuo <strong>em</strong> nossa<br />

queri<strong>da</strong> ciasse <strong>de</strong> advogados pela nossa queri<strong>da</strong> c1asse <strong>de</strong><br />

advogados pela nossa queri<strong>da</strong> classe <strong>de</strong> procuradores e por n6s<br />

juizes <strong>da</strong> concilia~o "nao..... ditava com a voz b<strong>em</strong> ru<strong>de</strong> ...viu ... que<br />

nao houve possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliayao terminava al aquela<br />

MISSAO constitucional que esta posta no preambulo <strong>de</strong> nossa carta


magna como direito fun<strong>da</strong>menTAL"<br />

NElFE)<br />

Outras manifestayoes <strong>de</strong> pronomes adverbiais nos <strong>de</strong>iticos discursivos <strong>de</strong> motivayao<br />

contextual se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ao uso <strong>de</strong> assim, cuja <strong>de</strong>scrivao s<strong>em</strong>antica nao porta os travos <strong>de</strong><br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>/distancia <strong>em</strong> relavao ao enunciador:<br />

(128) "Se esta posic;ao nos trouxer a pecha <strong>de</strong> puristas, ou <strong>de</strong><br />

arcaicos, n6s a assumir<strong>em</strong>os, convictos que estamos <strong>de</strong> que, assim<br />

agindo, estamos fazendo 0 melhor pela Cultura brasileira, nor<strong>de</strong>stina<br />

e pernambucana." (E040 - relat6rio tecnico - NELFE)<br />

Em (128), 0 pronome adverbial retoma a proposic;ao, <strong>em</strong>bora preserve ain<strong>da</strong> ai<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

modo. Por nao pressupor a posivao do falante, tamb<strong>em</strong> tern baixo grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

E necessario concluir, por<strong>em</strong>, que, <strong>em</strong> todos estes casos <strong>de</strong> condicionamento contextl)al, 0<br />

<strong>de</strong>monstrativo e 0 circunstancial, nao s6 nos <strong>de</strong>iticos discursivos como tamb<strong>em</strong> nos anaf6rieos,<br />

exerc<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> 0 procedimento <strong>de</strong>itico (ver Ehlich,1982) <strong>de</strong> orientar 0 foeo <strong>de</strong> atenvao do<br />

<strong>de</strong>stinatario para eonteudos especificos, como mostramos no capitulo 3.<br />

Defen<strong>de</strong>mos, aqui, a tese <strong>de</strong> que urn el<strong>em</strong>ento indicial po<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar tal funvao<br />

refocalizadora in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>t<strong>em</strong>ente do fato <strong>de</strong> 0 referente <strong>em</strong> saliencia ser difuso ou nao. Nao se<br />

discute que 0 procedimento <strong>de</strong>itico, como b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finiu Ehlich, seja executado por <strong>de</strong>iticos, pois<br />

e esta funvao que, sob urn ponto <strong>de</strong> vista pragmatico-funcional, caracteriza 0 comportamento<br />

<strong>de</strong>stas formas no discurso. Entretanto, nao <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os atrelar 0 procedimento discursivo it<br />

abrangencia <strong>da</strong> referenciayao processa<strong>da</strong>, sob pena <strong>de</strong> tamar insaluvel a probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> separayaa<br />

entre <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos indiciais. De modo que, estando assim <strong>de</strong>sobrigados, os<br />

dois aspectos po<strong>de</strong>m, entao, aplicar-se separa<strong>da</strong>mente it <strong>de</strong>scriyao <strong>de</strong> urn e <strong>de</strong> outro.<br />

o gran<strong>de</strong> equivoco, que tern <strong>de</strong>saguado no conflito classificat6rio, e julgar que as duas<br />

categorias se distingu<strong>em</strong> meramente pela afirmavao ou negayao <strong>de</strong> urn travo ou <strong>de</strong> outro, como<br />

se, por ser<strong>em</strong> supostamente exclu<strong>de</strong>ntes, fosse possivel opo-las <strong>de</strong>ssa maneira.<br />

Esta pesquisa <strong>de</strong>mostrou que, sob 0 criterio <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, 0 subconjunto <strong>da</strong>s<br />

express5es indiciais <strong>de</strong> motivavao contextual <strong>de</strong>stoa dos <strong>de</strong>mais por <strong>de</strong>scurar do posicionamento<br />

espacio-t<strong>em</strong>poral do falante no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulayao. Por esse prisma, po<strong>de</strong>r-se-ia ate pleitear a<br />

isenyao <strong>de</strong>ste grupo do paradigma dos <strong>de</strong>iticos. Entretanto, sob 0 angulo pragmatico-funcional,<br />

as express5es r<strong>em</strong>etendo ao contexto sup5<strong>em</strong> urn outro tipo <strong>de</strong> intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>: aquela pela


Por uma visao cognitiva e interacional, to<strong>da</strong>s as express5es indiciais, s<strong>em</strong> excec;ao,<br />

pertenc<strong>em</strong>, por legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao quadro <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos fenomenos <strong>de</strong>iticos, pela especie<br />

<strong>de</strong> procedimento discursivo que exerc<strong>em</strong>. Mas reuni-Ias num bloco unico, ain<strong>da</strong> que respeitando<br />

as diferentes especies <strong>de</strong> condicionamento, e simples mente fechar os olhos ao que s<strong>em</strong>pre as<br />

dividiu, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a tradic;ao chissica: 0 modo <strong>de</strong> referenciac;ao. Aqui estao finca<strong>da</strong>s as raizes do<br />

probl<strong>em</strong>a.<br />

Propomos uma soluc;ao alternativa <strong>de</strong> conservar a restric;ao do escopo referencial, s<strong>em</strong>pre<br />

subjacente ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisa, aten<strong>de</strong>ndo, assim, a maneira tradicional <strong>de</strong><br />

classificar os anaf6ricos: como el<strong>em</strong>entos que recuperam referentes pontuais no contexto. E, por<br />

outro lado, os anaf6ricos indiciais serao <strong>de</strong>scritos como urn subgrupo muito particular <strong>de</strong><br />

anafora que realiza urn procedimento <strong>de</strong>itico no discurso.<br />

Tendo por base os quatro tipos <strong>de</strong> r<strong>em</strong>issao <strong>de</strong>scritos, a caracterizac;ao dos procedimentos<br />

discursivos e a relac;ao forma-func;ao-significado, sugerimos, no pr6ximo it<strong>em</strong>, 0 <strong>de</strong>lineamento<br />

<strong>de</strong> alguns subconjuntos <strong>de</strong> cad a uma <strong>da</strong>s express5es indiciais <strong>em</strong> estudo, ampliando, assim, 0<br />

esqu<strong>em</strong>a proposto no capitulo 3 .<br />

Preservando, entao, 0 trac;o <strong>de</strong> abrangencia referencial, pelo qual classificamos os <strong>da</strong>dos<br />

<strong>da</strong> amostra, e partindo do criterio <strong>da</strong>s diferentes motivac;5es do el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>itico, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>os<br />

quatro subtipos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> expressao indicial <strong>em</strong> estudo, conforme apresentam os subitens<br />

seguintes. Julgamos que uma caracteriza


- Os anaf6ricos <strong>de</strong>iticos exerc<strong>em</strong> simultaneamente a r<strong>em</strong>issao ao contexto e ao espayo<br />

fisico real. Constam <strong>de</strong>ste grupo usos como:<br />

(129) "entao parece que a coisa e organiza<strong>da</strong>... tudo que a<br />

gente t<strong>em</strong>:: aprendido ate HOje... LEva... a pensar... que<br />

praticamente as lei! sac as mesma! ... se uma gataxia ro<strong>da</strong> la<br />

provavetmente eta esta obe<strong>de</strong>cendo as mesma! lei! <strong>de</strong> um furacao<br />

que ro<strong>da</strong> aqui na Terra ... entao tudo indica que a coisa ... (...) parece<br />

que todos eles t<strong>em</strong> leis muito pareci<strong>da</strong>s ..." «F) EF-53 - aula -<br />

PORCUFORT)<br />

As express5es <strong>em</strong> grifo retomam urn referente do contexto, mas a escolha dos pronomes<br />

<strong>de</strong> terceira e primeira pessoa, respectivamente, esta condiciona<strong>da</strong> ao posicionamento do falante<br />

no campo <strong>de</strong>itico real.<br />

- Na malOna <strong>da</strong>s ocorrencias, saD codificados par classes pronommalS, <strong>de</strong> funyao<br />

adverbial, expressando urn valor s<strong>em</strong>antico <strong>de</strong> circunstancia, como a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> lugar presente <strong>em</strong><br />

"lei" e "aqui na Terra" do ex<strong>em</strong>plo acima. Por vezes, quando se manifestam como pronomes<br />

<strong>de</strong>monstrativos, sao refon;ados por circunstanciais, do tipo:<br />

(130) "uma caixa <strong>de</strong>ssa aqui";<br />

"e essa tubula(,fao ai" «F) EF-152 - aula - PORCUFORT)<br />

Outras vezes, sao realizados por urn pro nome <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong> terceira pessoa para<br />

mensurar a distancia do aqui-agora <strong>da</strong> enunciayao, como <strong>em</strong>:<br />

(131) "entao esses espiGOES (...) MOdifiCAram a aCAO <strong>da</strong>s<br />

correntes marl! maritimas ... ne?.. quer dizer houve um <strong>de</strong>svio ...<br />

TAL la <strong>da</strong> <strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>da</strong>s correntes maritima! ... <strong>de</strong> maNElra que eh a<br />

as as correntes maritimas ... provocaram ON<strong>da</strong>s mais fortes naquela<br />

area provocando assim ... tamb<strong>em</strong> ... a... eo fate esse fato ... ne? .. eo<br />

fato <strong>da</strong>:: ... DA erosao ..." «F) EF-52 - aula - PORCUFORT)<br />

- Por meio do procedimento <strong>de</strong>itico, chamam a atenyao do <strong>de</strong>stinateirio mediante uma<br />

nova abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> do referente: sua localizavao <strong>em</strong> urn lugar real, proximo ou distante do<br />

enunciador.


- Assim como os anaf6ricos <strong>de</strong>iticos, recuperam enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s ja introduzi<strong>da</strong>s no contexto e,<br />

simultaneamente, mant<strong>em</strong> urn elo com 0 espayo extralingiiistico. Mas seu grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong> se<br />

reduz na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que 0 posicionamento do falante, focalizado atraves do procedimento<br />

<strong>de</strong>itico, coinci<strong>de</strong> com 0 espa


- Sao muito pouco representativos. Restring<strong>em</strong>-se ao <strong>em</strong>prego do par contrastivo<br />

este/aquele, e, a mo<strong>da</strong> dos <strong>de</strong>iticos textuais, dirig<strong>em</strong> a aten


Com muita frequencia, sac codificados tamb<strong>em</strong> por pronomes adverbiais circunstanciais,<br />

como agora, acima, abaixo, aqui, a~ antes etc., como nos ex<strong>em</strong>plos (137) e (138) acima.<br />

Os el<strong>em</strong>entos indiciais motivados pelo conhecimento partilhado sac selecionados para por<br />

<strong>em</strong> foco urn aspecto do referente introduzido no discurso (ou inferido a partir do contexto), que<br />

pertenya ao saber comum <strong>de</strong> falantes e <strong>de</strong>stinatarios.<br />

- Os anaf6ricos <strong>da</strong> m<strong>em</strong>6ria <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham 0 procedimento <strong>de</strong>itico <strong>de</strong> refocalizar<br />

referentes acrescentando-Ihes atributos que sejam do conhecimento dos interlocutores. Assim<br />

como nesta ocorrencia:<br />

(139) "quer dizer 0 trabalho vai ser... feito com MUlto mais<br />

facili<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo mar... Ita ok? .. entao Uma <strong>da</strong>s causal t<strong>em</strong> uma<br />

outra causa ai mais complexa... e esta relaciona<strong>da</strong> com os<br />

espiGOES esses el espigoes ... construido aqui na:: ... aqui <strong>em</strong><br />

Fortaleza na nas PRAlas" «F) EF-52 - aula - PORCUFORT)<br />

Como mostra 0 ex<strong>em</strong>plo, para auxiliar 0 <strong>de</strong>stinatario na busca <strong>da</strong> informayao <strong>em</strong> sua<br />

m<strong>em</strong>6ria, 0 falante lanya mao <strong>de</strong> uma forma mais elabora<strong>da</strong>: urn SN pleno, ou uma OrayaO (ou<br />

urn sintagma preposicional) modificando urn pronome substantivo <strong>de</strong>monstrativo neutro.<br />

- Os pronomes substantivos/adjetivos <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> pessoa sac mais tipicos<br />

<strong>de</strong>sta especie <strong>de</strong> anafora, entretanto tern representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> relativamente baixa. A forma mais<br />

ocorrente e 0 <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong> terceir:a pessoa, que acumula, <strong>em</strong> geral, uma motivayao do<br />

espayo/t<strong>em</strong>po enunciativo. Assim sendo, 0 ate <strong>de</strong> <strong>em</strong>prega-lo, por si s6, ja convoca 0<br />

<strong>de</strong>stinatario para uma busca na m<strong>em</strong>6ria, conforme se percebe niti<strong>da</strong>mente por este ex<strong>em</strong>plo:<br />

(140) "lnf.2 sim::: eu{ 0 vi nal naquele filme ...ele morreu?<br />

Inf.1 e foi? ..pois e aquele ...pois e aquele morreu::{aquele<br />

rapaz:: morreu ha uns:::...TRES ana mais ou meno{ ou quatro<br />

nu·m...TRES ou tres ou quatro ne?" «F) 02-48 - conversa<br />

espont~lnea - PORCUFORT)


- Ao se manifestar<strong>em</strong> por esse (e variantes), seu grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong> e mais reduzido do<br />

que 0 dos <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>iticos discursivos, pois passam a peutralizar a avalia


(143) "0 <strong>de</strong>sconhecido e 0 novo; ou 0 novo eo <strong>de</strong>sconhecido.<br />

E tudo aquilo que foge as nossas expectativas funciona como<br />

agente perturbador. Por isso, ao la<strong>de</strong> <strong>da</strong> morte, a i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong><br />

imortali<strong>da</strong><strong>de</strong> t<strong>em</strong> tudo para nos perturbar." «E) ensaio Iiterario -<br />

artigo cientifico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Os el<strong>em</strong>entos indiciais motivados pelos pr6prios conteudos do contexte nao transp5<strong>em</strong> as<br />

fronteiras textuais: sua r<strong>em</strong>issao se superp5e a <strong>da</strong> expressao como urn todo. Ao contrario dos<br />

el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina


o pronome <strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong> primeira pessoa parece ter maiOI capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> salientadora (0<br />

que the intensifica 0 procedimento <strong>de</strong>itico). Por essa razao, e b<strong>em</strong> menos recorrente.<br />

- Como os anaforicos, tern alta saliencia cognitiva, resultante do procedimento <strong>de</strong>itico <strong>de</strong><br />

orientar os flashes <strong>de</strong> atenyao do <strong>de</strong>stinatario, mas para informayoes difusas do texto.<br />

Constitu<strong>em</strong> 0 tipo mais ocorrente <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos.<br />

- Sao tamb<strong>em</strong> manifestados pOI este/esse, mas principalmente por neutros <strong>de</strong> segun<strong>da</strong><br />

pessoa; ex<strong>em</strong>plo:<br />

(146) "0 PSDB t<strong>em</strong> uma enorme co-responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

governo, afinal 0 presi<strong>de</strong>nte e do nosso partido. Todos quer<strong>em</strong>os que<br />

sua administrayao tenha sucesso e por isso estar<strong>em</strong>os prontos para<br />

<strong>da</strong>r nossa cota <strong>de</strong> contribuiyao <strong>em</strong> todos os momentos para que isso<br />

aconte~." ((E) entrevista para revista - entrevista - corpus<br />

compl<strong>em</strong>entar)<br />

Com alguma frequencia, codificam-se pelo pro nome adverbial assim expressando<br />

circunsHlncia <strong>de</strong> modo, como <strong>em</strong>:<br />

(147) "...acabamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir, juntamente com os reitores, um<br />

programa especial <strong>de</strong> bolsas, que furicionara a partir <strong>de</strong> maio.<br />

Destina-se a professores qualificados que, tendo completado 0<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> aposentadoria, nao venham a exercer esse direito por<br />

cinco anos. Estara assim viabiliza<strong>da</strong> a transiyao para 0 novo<br />

sist<strong>em</strong>a." (E127 - pronunciamento politico - NELFE)<br />

- Distingu<strong>em</strong>-se dos anaforicos do texto somente pela abrangencia difusa <strong>da</strong><br />

referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, por isso sao os que mais se confun<strong>de</strong>m corn eles.<br />

Face a tenue separayao <strong>de</strong>stas expressoes <strong>de</strong> motivayao contextual, aelas reservamos 0<br />

proximo capitulo, com 0 intuito <strong>de</strong> investigar especialmente (por<strong>em</strong> nao exc1usivamente) a<br />

funyao argumentativa e 0 status informacional <strong>da</strong>s construyoes nominais plenas, sobretudo dos<br />

<strong>de</strong>iticos discursivos com nomes rotuladores. Discutir<strong>em</strong>os, ain<strong>da</strong>:


) se os processos <strong>de</strong> recategorizac;ao se aplicam do mesmo modo a anaf6ricos indiciais<br />

e <strong>de</strong>iticos discursivos;<br />

c) se, <strong>da</strong><strong>da</strong> a presenc;a do e1<strong>em</strong>ento indicial, os dois tipos <strong>de</strong> expressao tern, via <strong>de</strong> regra,<br />

o mesmo status informacional no <strong>de</strong>senvolvimento do discurso.


CAPiTULO 5 - PROCESSOS DE DESIGNA


duvi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> alguma utili<strong>da</strong><strong>de</strong> para contrapor os dois tipos <strong>de</strong> express5es indiciais ora <strong>em</strong> exame.<br />

Os autores <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> tres especies <strong>de</strong> recategoriza


indignados <strong>de</strong> pais <strong>de</strong> familia - nao quero n<strong>em</strong> l<strong>em</strong>brar 0 que<br />

acontecia entre aquela juventu<strong>de</strong> briosa) ..." ((E) cronica Ubaldo -<br />

cronica - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Em (148), a expressao <strong>em</strong> negrito, mais do que <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r urn processo anaf6rico,<br />

acrescenta uma informac;ao inedita, cujo objetivo e reforc;ar a argumentac;ao do locutor. "Esse<br />

mais caro" nao e co-significativo com "esse restaurante", assim como "aquela juventu<strong>de</strong><br />

briosa" nao significa 0 mesmo que "a nossa juventu<strong>de</strong> exacerba<strong>da</strong> por mulher", <strong>em</strong> (149). Em<br />

ambas as recategorizaC;5es, 0 falante, para retomar 0 referente, modula a forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>signac;ao <strong>de</strong><br />

acordo com 0 que tenciona <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, corroborando, por esse expediente, seu ponto <strong>de</strong> vista e<br />

contribuindo para sua tese.<br />

Agora, analis<strong>em</strong>os <strong>em</strong> que circunstancias urn <strong>de</strong>itico discursivo po<strong>de</strong> realizar esse tipo <strong>de</strong><br />

recategorizac;ao opera<strong>da</strong> por ele mesmo, e exercendo func;ao mo<strong>da</strong>lizadora. Vejamos 0 ex<strong>em</strong>plo<br />

abaixo:<br />

(150) "Candi<strong>da</strong>ta a sucessao <strong>de</strong> Maluf admite que errou ao<br />

governar Sao Paulo s<strong>em</strong> alianc;as e s<strong>em</strong> administrar as crises no PT<br />

Houve urn t<strong>em</strong>po, nos primeiros an os do PT, que a facyao mais<br />

radical do movimento era chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> xiita, referencia ao grupo<br />

fun<strong>da</strong>mentalista iraniano do aiatola Khomeini, 0 mais impaciente e<br />

rebel<strong>de</strong>. "A gente nao queria tudo, agora e ja. E <strong>da</strong>va para enten<strong>de</strong>r:<br />

estavamos saindo <strong>de</strong> uma ditadura, existia uma especie <strong>de</strong> febre <strong>de</strong><br />

realizar, na pratica, to<strong>da</strong>s as teorias. Foi urn erro". Qu<strong>em</strong> faz esta<br />

confissao <strong>de</strong> culpa e Luiza Erundina <strong>de</strong> Sousa ..." (E128<br />

entrevista para jomal - NELFE)<br />

Ao contnirio do anaf6rico indicial, <strong>em</strong> (149), que recategoriza urn referente pontual,<br />

atribuindo-lhe 0 predicado "briosa", 0 <strong>de</strong>itico discursivo "esta confissao <strong>de</strong> culpa", <strong>em</strong> (150),<br />

resume urn conteudo prece<strong>de</strong>nte inteiro, categorizando-o como referente. 0 nome rotulador,<br />

no caso <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> urn verbo, trac;a 0 direcionamento argumentativo do discurso conformando-<br />

o ao lead <strong>da</strong> entrevista.<br />

A transformayao opera<strong>da</strong> pela expressao indicial po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r-se explicitamente, quando<br />

efetua<strong>da</strong> pela pr6pria expressao referencial, como acontece nos casos acima, ou implicitamente,<br />

quando 0 sintagma apenas sugere uma <strong>de</strong>nominayao nao-presente no contexto.<br />

Estando implicita a recategorizac;ao lexical, a expressao referencial s6 e recuperavel<br />

inferencialmente, pelas pistas do contexto. 0 que aparece no texto, para retomar tal expressao,<br />

vinculando-se a ela por regras <strong>de</strong> concor<strong>da</strong>ncia, e urn anaf6rico pronominal. Sao os conhecidos


casos <strong>de</strong> silepse. 0 pronome alu<strong>de</strong> a uma <strong>de</strong>nomina


Neste ultimo tipo <strong>de</strong> recategorizayao examinado pelos autores, 0 referente passa por<br />

diversas transformayoes por meio <strong>da</strong> predica


(153) "De infcio, para meir:


De modo diverso, as homologayoes, no segundo caso, nao costumam acrescer-se <strong>de</strong> novos<br />

atributos, por isso nao pressupo<strong>em</strong> novos comentarios avalia<strong>da</strong>res, e sua retoma<strong>da</strong> parece mais<br />

generica e reiteradora (0 que nao quer dizer, por<strong>em</strong>, que seja menos argumentativa).<br />

As homologayoes se apresentarlm muito mais frequentes do que os sintagmas<br />

atribuidores <strong>de</strong> qualificayoes, indistintamente nos <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos. Mas uma<br />

diferenya basica <strong>de</strong>ve ser ressalta<strong>da</strong> quanta ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>signayao: s6 os anaf6ricos po<strong>de</strong>m<br />

recategorizar referentes ja constituidos no universo do discurso; os dSiticos discursivos os<br />

c{ltegorizam. A c1assificayao <strong>de</strong> Apotheloz; Reichler-Beguelin (1995) po<strong>de</strong>, assim, aplicar-se<br />

tamb<strong>em</strong> as categorizayoes.<br />

Com base nisso, nao mais falar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> "referentes difusos" retomados pelos <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos, mas apenas <strong>em</strong> conteudos proposicionais alyados ao estatuto <strong>de</strong> referentes, atraves<br />

<strong>de</strong> nominayoes, <strong>em</strong> pontos especificos do <strong>de</strong>senvolvimento argumentativo.<br />

Em resumo, constatamos que, enquanto os anaf6ricos indiciais po<strong>de</strong>m vali<strong>da</strong>r<br />

categarizayoes ou recategorizayoes, os <strong>de</strong>iticos discursivos s<strong>em</strong>pre categorizam como referentes<br />

conteudos anteriores. Ass<strong>em</strong>elham-se, por<strong>em</strong>, par colaborar<strong>em</strong> para duas especies <strong>de</strong><br />

(re)categorizayao explicita "<strong>em</strong>bala<strong>da</strong>s" por SNs plenos:<br />

uma <strong>em</strong> que a expressao indicial estabelece a pr6pria transformayao, normalmente<br />

adiantando novos atributos, muito importantes para a construyao do ponto <strong>de</strong> vista;<br />

outra <strong>em</strong> que a transformayao do referente ja se <strong>de</strong>senvolveu anteriormente e a<br />

expressao indicial apenas a confirma.<br />

Quanto aos tipos <strong>de</strong> (re)categorizayao, <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos s6 difer<strong>em</strong>, por<br />

isso, no que toca ao escopo referencial.<br />

As (re)categorizayoes constitu<strong>em</strong> estrategias <strong>de</strong> reiterayao <strong>de</strong> conteudos por intermedio<br />

<strong>de</strong> nomes ora mais genericos, ora mais especificos. Principalmente par meio <strong>de</strong> reiterayoes, 0<br />

falante <strong>da</strong> an<strong>da</strong>mento a progressao referencial, as vezes apenas retomando na integra 0 mesmo<br />

referente (isto e, pelo recurso <strong>da</strong> correferencia), outras, resgatando parte <strong>de</strong>le, .como se<br />

mantivesse uma especie <strong>de</strong> nueleo comum a partir do qual outras transformayoes (ou<br />

categorizayoes <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>yos esparsos do discurso) se tornariam possiveis.<br />

As nOyoes <strong>de</strong> correferencia e recategorizayao sao, por conseguinte, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, apesar<br />

<strong>de</strong> relacionaveis. Ao inquirirmos sobre 0 trayo <strong>de</strong> correferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> nas expressoes indiciais,<br />

chegamos a outra distinyao importante entre as duas categorias <strong>em</strong> analise: nenhum <strong>de</strong>itico<br />

discursivo e correferencial, enquanto que gran<strong>de</strong> parte dos anaf6ricos 0 sao. De 1020<br />

ocorrencias <strong>de</strong> anaf6ricos, 598, au seja, 58,63%, [az<strong>em</strong> a retoma<strong>da</strong> total <strong>de</strong> referentes. Isto se<br />

relaciona com a prevaH~ncia <strong>de</strong> formas recategorizadoras e co-significativas nas anaforas, <strong>em</strong>


contraste com as express5es que geralmente nao recategorizam n<strong>em</strong> co-significam nos dSiticos<br />

discursivos, conforme ver<strong>em</strong>os a seguir.<br />

Exibir<strong>em</strong>os, agora, como se distribu<strong>em</strong> na amostra quatro melOS <strong>de</strong> <strong>de</strong>signavao <strong>de</strong><br />

referentes realizados pelas express5es indiciais <strong>de</strong> motivavao contextual:<br />

quando sac co-significativas;<br />

quando recategorizam urn modo <strong>de</strong> nomear;<br />

quando nao sac recategorizadoras, mas tamb<strong>em</strong> nao sac co-significativas;<br />

quando categorizam referentes inferiveis a partir do contexto.<br />

Colocar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> confronto as formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>signavao <strong>da</strong>s express5es contextualmente<br />

motiva<strong>da</strong>s e as que tern outro tipo <strong>de</strong> condicionamento, para <strong>da</strong>r uma visao geral do jogo <strong>de</strong><br />

escolhas levado a cabo pelo falante <strong>de</strong> acordo com seu projeto <strong>de</strong> discurso. Os Gnificos 7 e 8,<br />

al<strong>em</strong> <strong>de</strong> comparar<strong>em</strong> esses resultados, <strong>em</strong> valores numericos, permit<strong>em</strong> 0 contraste entre<br />

dSiticos discursivos e anaf6ricos.


Relacao entre condicionamento e modo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>signacao nos <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

e ·.r .<br />

lli+--- c'<<br />

~ i ; c~~'."~.~~'~.~~"."---~"""====<br />

'fog +: l = = r 0 ".~;:.;:::---=!<br />

...~.~: ·"::'"'. I.<br />

. .. .. :,'.'-.'0 nao--"'ecatlna-o-co- If1<br />

I' I<br />

. i .. ". '. .... 1 $Ig. !<br />

j IEcategorizador<br />

~o !Iil recategoriz.<br />

~# (/<br />

00~ ~0<br />

0 0<br />

I<br />

Hllco-signffic.<br />

E compreensivel que, <strong>de</strong> acordo com os <strong>da</strong>dos acima,"os anaf6ricos <strong>de</strong> motiva


Tamb<strong>em</strong> e facil enten<strong>de</strong>r por que as express5es motiva<strong>da</strong>s pelo conhecimento<br />

compartilhado sao, na maioria, categorizadoras au recategorizadoras, pois, apelando para a<br />

m<strong>em</strong>6ria comum, 0 falante reaspectualiza a referencia. Outras conc1us5es re1evantes sobre<br />

(re)categorizay5es lexicais <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s serao apresenta<strong>da</strong>s no it<strong>em</strong> seguinte.<br />

Por ora, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os sublinhar uma particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> notavel entre as duas categorias <strong>em</strong><br />

estudo: salvo <strong>em</strong> certas repetiy5es literais, nenhum <strong>de</strong>itico discursivo e co-significativo, ao<br />

passo que os anaf6ricos 0 sac constant<strong>em</strong>ente.<br />

Enten<strong>da</strong>-se, ain<strong>da</strong>, que e nas r<strong>em</strong>iss5es ao contexto que se sobressa<strong>em</strong> as diferenc;as entre<br />

as express5es indiciais <strong>em</strong> analise. Desta analise se infere que os <strong>de</strong>iticos discursivos serv<strong>em</strong><br />

principalmente a retoma<strong>da</strong>s contextuais, quase s<strong>em</strong>pre por meio <strong>de</strong> pronomes ou <strong>de</strong> SNs <strong>de</strong> aha<br />

generici<strong>da</strong><strong>de</strong>, mais resumidores e representativos, que n<strong>em</strong> recategorizam n<strong>em</strong> co-significam.<br />

Por esse modo <strong>de</strong> retomar enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s no discurso, ratificamos que a caracteristica mais<br />

distintiva dos <strong>de</strong>iticos discursivos, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> referenciac;ao, porque revel a urn procedimento<br />

peculiar a e1es, e a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nomina~ao que executam, assim <strong>de</strong>scrita por Apotheloz e<br />

Chanet: "A formulayao <strong>de</strong> urn processo e a enunciayao <strong>de</strong>sta formulayao geram urn conjunto<br />

complexo e heterogeneo <strong>de</strong> informay5es-suporte, a partir <strong>da</strong>s quais diversos objetos discursivos<br />

po<strong>de</strong>m, <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, ser individuados e entao <strong>de</strong>signados" (Apotheloz; Chanet, 1997:165).<br />

Ja comentamos que as nominay5es, <strong>da</strong> forma como foram concebi<strong>da</strong>s pelos autores, nao<br />

se manifestam somente por SNs, senao tamb<strong>em</strong> por pronomes <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo, as vezes<br />

seguidos <strong>de</strong> sintagmas preposicionais ou oray5es relativas. Assim, nao importa 0 tipo <strong>de</strong><br />

condicionamento do e1<strong>em</strong>ento indicial, urn <strong>de</strong>itico discursivo opera <strong>em</strong> geral uma nominayao.<br />

Nos casos <strong>em</strong> que 0 pronome <strong>em</strong> funyao <strong>de</strong> adverbio vale como <strong>de</strong>itico textual, como acima,<br />

abaixo, antes, ocorr<strong>em</strong>, simuhaneamente, uma nominayao e uma indicac;ao <strong>de</strong> lugar etc., mas<br />

isto ain<strong>da</strong> carece <strong>de</strong> maiores reflex5es, como afirmamos <strong>em</strong> 4.3.<br />

Ao se servir <strong>de</strong> pronomes substantivos <strong>de</strong>monstrativos para nommar proposiy5es, 0<br />

falante estabe1ece com 0 <strong>de</strong>stinatario uma especie <strong>de</strong> pacto <strong>de</strong> comodi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou <strong>de</strong> "cooperayao"<br />

(ver Grice, 1975), <strong>de</strong> acordo com 0 qual 0 enunciador se <strong>de</strong>sobriga <strong>de</strong> selecionar urn nome<br />

c1assificador para 0 conteudo retomado. 0 receptor <strong>de</strong>ve ter a boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar no<br />

universo do discurso 0 campo indicado muito vagamente pelo pronome, 0 "universo mostrado".<br />

o it<strong>em</strong> seguinte examina alguns modos <strong>de</strong> nominac;ao <strong>de</strong> informay5es, a que Francis trata<br />

como processos <strong>de</strong> "rotulac;ao" (cf "labelling" <strong>em</strong> Francis, 1994), realizados, segundo a autora,<br />

por anaf6ricos, <strong>em</strong>bora, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, reunam to<strong>da</strong>s as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos <strong>de</strong>iticos discursivos.


Francis (1994) afirma que a rotula


=> nao <strong>de</strong>ixe os discos <strong>em</strong> lugares sujeitos a altas<br />

t<strong>em</strong>peraturas;<br />

=> nao <strong>de</strong>ixe 0 disco <strong>de</strong>ntro do aparelho quando nao estiver <strong>em</strong><br />

uso; (...)" (E218 - NELFE)<br />

Dentro <strong>da</strong> oravao, 0 r6tulo prospectivo ocupa a posivao do novo, como faz 0 <strong>de</strong>itico<br />

discursivo negritado acima, <strong>em</strong> que 0 el<strong>em</strong>ento indicial "seguintes" e 0 nome "instfUvoes"<br />

anunciam para 0 leitor que a informavao vira imediatamente<strong>de</strong>pois, e ja adiantam que<br />

expectativas ele <strong>de</strong>ve ter sobre 0 t6pico.<br />

Contrariamente, 0 r6tulo retrospectivo nao exerce a funyao <strong>de</strong> predizer itens do conteudo<br />

e e, no que tange ao aspecto formal, urn nome nuclear, s<strong>em</strong>anticamente generico, s<strong>em</strong>pre<br />

precedido <strong>de</strong> urn <strong>de</strong>itico especifico (este, aquele, esse, tal etc.), po<strong>de</strong>ndo ou nao ter<br />

modificadores. Por essas caracteristicas <strong>de</strong> portar urn el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>itico, <strong>de</strong> ser bastante<br />

abrangente e <strong>de</strong> retomar uma poryao do discurso e que afirmamos que se enquadram<br />

perfeitamente na <strong>de</strong>scriyao <strong>de</strong> urn <strong>de</strong>itico discursivo (e nao <strong>de</strong> urn anaf6rico). A citayao abaixo<br />

confirma esta opiniao:<br />

Meu criterio maior para i<strong>de</strong>ntificar mn grupo nominal anaforicamente<br />

coesivo como um rotulo retrospectivo e que nao M nenhmn grupo nominal a<br />

que ele se refere: nao e uma repeti


ambfQuas: 'Tal e 0 caso extraordinario, que ha anos, com outro<br />

nome, e por outras palavras, contei a este born povo, que<br />

provavelmente ja os esqueceu a ambos'." «E) Ensaio artigo<br />

cient/fico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Os <strong>de</strong>iticos discursivos prospectivos <strong>em</strong> negrito organizam 0 conteudo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a citat;ao<br />

que vini, preparando 0 leitor para tanto, mas conformam-se a mesma <strong>de</strong>scrit;ao dos r6tulos<br />

retrospectivos, porque:<br />

nao se refer<strong>em</strong> a nenhum grupo nominal especifico;<br />

cont<strong>em</strong> urn nome generico ("quadro", "palavras");<br />

sac antecedidos <strong>de</strong> urn <strong>de</strong>itico;<br />

e encapsulam urn pe<strong>da</strong>t;o amplo do discurso.<br />

A<strong>de</strong>mais, nao sac somente os prospectivos que contribu<strong>em</strong> com novos conteudos para a<br />

construyao do significado; na<strong>da</strong> obsta a que os retrospectivos proce<strong>da</strong>m <strong>de</strong> modo i<strong>de</strong>ntico.<br />

Assim, <strong>em</strong> (160), <strong>em</strong>bora "estas palavras pelo menos ambiguas" sugiram ao receptor como a<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva <strong>de</strong>ve ser entendi<strong>da</strong>, esse r6tulo po<strong>de</strong>ria muito b<strong>em</strong> ser <strong>em</strong>pregado <strong>em</strong><br />

posit;ao <strong>de</strong> retoma<strong>da</strong> retrospectiva, s<strong>em</strong> nenhum <strong>de</strong>merito a sua tarefa <strong>de</strong> persuasao.<br />

o que a autora toma como criterio "principal" se torna, entao, irrelevante para a <strong>de</strong>cisao<br />

entre as duas especies <strong>de</strong> r6tulo. Tipica dos prospectivos e, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a funyao <strong>de</strong> prenunciar<br />

como algumas informayoes estarao arranja<strong>da</strong>s no momenta subsequente <strong>da</strong> enunciat;ao. Cr<strong>em</strong>os<br />

que esse tray


discurso, os <strong>de</strong>mais trayos <strong>de</strong>scritivos po<strong>de</strong>dio valer para todos os r6tulos, <strong>da</strong>ndo-nos 0 perfil<br />

do gropo <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos nominais, <strong>em</strong> oposiyao aos que se manifestam como pronomes<br />

sub stantivo s.<br />

Repare-se, oportunamente, que 0 sentido do movimento r<strong>em</strong>issivo po<strong>de</strong> nao se limitar it<br />

dicotomia para tn'1s ou para £rente. Ha casos <strong>em</strong> que as express6es indiciais, anaf6ricas ou<br />

<strong>de</strong>itico-discursivas, nominais ou pronominais, efetuam uma ayao bidirecional concomitante.<br />

Um <strong>de</strong>itico discursivo reconheci<strong>da</strong>mente prospectivo po<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, recuperar,<br />

simultaneamente, urn referente ja apresentado antes no discurso; ver ex<strong>em</strong>plos abaixo:<br />

(163) "Achei urn barato sua carta, sabia? voce <strong>de</strong>ve ter urn<br />

humor 6timo; eu tamb<strong>em</strong> sou assim. E muito diffcil eu nao estar<br />

rindo; nao fico chateado por qualquer coisa. Alias, carioca <strong>em</strong> geral e<br />

assim: com super born humor, s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>scontrafdo." (E002 - carta<br />

pessoal - NELFE)<br />

(164) "porque se uma pessoa <strong>de</strong>ssa estuOAsse ...<br />

viu? ..estuOAsse ...se aperfeigoasse como ... por ex<strong>em</strong>plo 0 Nonato<br />

LuiS:: ou ... urn Marcos FaCA::nha ... UM:: Jose MeNEzes ... ave-Maria<br />

n6s tfnhamos ... ul uma PLEla<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> bons <strong>de</strong> bons ... musicos bons<br />

maEStros coisa e tal... mal MAS n6s t<strong>em</strong>os essa caracteristica<br />

aqui aqui <strong>em</strong> Fortaleza pelo meno ne?.. gente que apren<strong>de</strong> uma<br />

coiSlnha ... apren<strong>de</strong> urn violaozinho apren<strong>de</strong> urn {cavaquinho entao ...<br />

af pronto" «F) 02-48 - conversa espontanea - PORCUFORT)<br />

Os itens <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque recuperam uma i<strong>de</strong>ia difundi<strong>da</strong> no segmento discursivo prece<strong>de</strong>nte,<br />

mas tamb<strong>em</strong> antecipam, pelo pronome ou pelo r6tulo, uma explanayao mais <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>da</strong> tese<br />

<strong>em</strong> exposivao.<br />

Por vezes, esse tipo <strong>de</strong> r<strong>em</strong>issao "bidirecional" ao contexto t<strong>em</strong> carMer nao apenas<br />

resumidor, senao tamb<strong>em</strong> argumentative (ou resumidor porque argumentativo). Assim<br />

verificamos <strong>em</strong> "essa caracterfstica", que, al<strong>em</strong> <strong>de</strong> sintetizar a <strong>de</strong>scrivao prece<strong>de</strong>nte, ain<strong>da</strong><br />

promove uma categorizayao, ao consi<strong>de</strong>rar, num raciocinio falacioso 72<br />

como sendo 0 comportamento geral dos nativos <strong>de</strong> Fortaleza.<br />

, a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> poucos<br />

Esta especie <strong>de</strong> rotulayao, resultante do que Koch (1977:32) chama <strong>de</strong> "estrategia <strong>de</strong><br />

reformulayao ret6rica", aparece 0 mais <strong>da</strong>s vezes nas r<strong>em</strong>iss5es simples (ou s6 retrospectiva, ou<br />

s6 prospectiva), reforvando a tese <strong>em</strong> construvao.<br />

Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>scer as consi<strong>de</strong>rav5es sobre subtipos <strong>de</strong> nomes rotuladores, e preciso ain<strong>da</strong><br />

in<strong>da</strong>gar se os r6tulos s6 sac possiveis <strong>em</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos, ou se exist<strong>em</strong> express5es<br />

<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s anaf6ricas <strong>de</strong> comportamento s<strong>em</strong>elhante. Apotheloz e Chanet comprovam que a


segun<strong>da</strong> alt<strong>em</strong>ativa e bastante viave1, como no ex<strong>em</strong>plo abaixo, perfeitamente intercambiavel<br />

com 0 sintagma com <strong>de</strong>monstrativo:<br />

(165) " 'Foi grayas a heranya do jazz que 0 hom<strong>em</strong>-macaco se<br />

tornou 0 hom<strong>em</strong>-ajuizado'. 0 preceito, que faz comunicar uma<br />

gera~o <strong>de</strong> rappers <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> boas vibray6es, comeya a fazer<br />

<strong>da</strong>ta." (Apotheloz; Chanet, 1997:164)<br />

Po<strong>de</strong>-se aceitar pacificamente, como se nota, a substituit;ao do artigo <strong>de</strong>finido pelo<br />

pronome <strong>de</strong>monstrativo, <strong>em</strong> "0 preceito". as autores <strong>de</strong>c1aram que ha uma niti<strong>da</strong> propensao<br />

para a assinalat;ao <strong>de</strong>monstrativa nas nominat;oes, mas que e necessario pesquisar os fatores<br />

que orientam a se1et;ao <strong>de</strong> urn ou <strong>de</strong> outro <strong>de</strong>terminante. Nao aprofun<strong>da</strong>r<strong>em</strong>os este aspecto <strong>da</strong><br />

analise porque isso requereria, ain<strong>da</strong>, uma subinvestigat;ao dos contextos <strong>em</strong> que tais formas sac<br />

intersubstituiveis ou nao, 0 que nos <strong>de</strong>sviaria <strong>de</strong> nossa meta.<br />

A selet;ao do <strong>de</strong>monstrativo, consoante Apotheloz; Chanet (1997), po<strong>de</strong>ria estar atrela<strong>da</strong><br />

as seguintes condit;oes:<br />

a) (re)categoriza~ao do referente: quando 0 substantivo comporta uma conotat;ao <strong>de</strong><br />

valor, requalificando 0 objeto discursivo <strong>de</strong> maneira pouco predizivel, par acrescentar<br />

urn ponto <strong>de</strong> vista do falante. Ex<strong>em</strong>plo:<br />

(166) "S<strong>em</strong>pre que a economia vai b<strong>em</strong>, as coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s se<br />

comportam como novos ricos: queimam seus recursos ate 0 ultimo<br />

tostao, e ate mais. Esta imprevi<strong>de</strong>ncia t<strong>em</strong> dois efeitos negativos<br />

maiores." (Apotheloz; Chanet, 1997:167)<br />

Equiparamos este caso ao tipo <strong>de</strong> (re)categorizat;ao <strong>em</strong> que a expressao indicial adiciona<br />

urn novo atributo ao referente. Mais duas outras condit;oes estabeleci<strong>da</strong>s pelos autores po<strong>de</strong>riam<br />

estar aqui subagrupa<strong>da</strong>s:<br />

quando se <strong>em</strong>prega uma <strong>de</strong>nominat;ao "produzi<strong>da</strong> (inventa<strong>da</strong>)";<br />

e quando 0 nome recebe urn modificador nao-<strong>de</strong>terminativo (isto e, com prop6sitos<br />

nao exatamente i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>res).<br />

as ex<strong>em</strong>plos abaixo ilustram ca<strong>da</strong> uma, respectivamente:<br />

(167) "A gran<strong>de</strong> familia (a Comedia Francesa) <strong>de</strong>vera modificar<br />

seus habitos. A sala Richelieu fechara para trabalhos ate meados <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro, os espetaculos 5e <strong>da</strong>rao no Mogador e na Opera Camica.


Simultaneamente a esta '<strong>de</strong>slocaliza~ao', a tropa sera renova<strong>da</strong>,<br />

aumenta<strong>da</strong>." (Apotheloz; Chanet, 1997:167)<br />

(168) "Microsoft e Motorola anunciam que a partilha do sist<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong> explora~o do Windows NT para a arquitetura do Power PC esta<br />

<strong>em</strong> curso. Este anuncio muito importante <strong>da</strong> ain<strong>da</strong> mais<br />

credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e 'peso' ao padrao Power PC." (Apotheloz; Chanet,<br />

1997:168)<br />

Sublinham os autares que 0 <strong>de</strong>monstrativo geralmente nao tern funyao primordialmente<br />

<strong>de</strong>terminativa, 0 que se ajusta as afirmayoes <strong>de</strong> Ducrot (1977) comenta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> 4.1. Qu<strong>em</strong><br />

instaura 0 universo <strong>de</strong> discurso e 0 pr6prio nome (0 <strong>de</strong>monstrativo somente salienta 0 referente<br />

no campo mostrado, para i<strong>de</strong>ntifica-Io ou nao). A funyao nomeadora do substantivo , que<br />

pressupoe indicayoes <strong>de</strong> existencia e unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> uso, continua no <strong>de</strong>finido. a artigo, ao<br />

contrano do <strong>de</strong>monstrativo, torna referencialmente relevantes to<strong>da</strong>s as informayoes que<br />

figuram no sintagma nominal. 0 <strong>de</strong>monstrativo, nao tendo, assim, 0 papel <strong>de</strong> instituir 0<br />

universo discursivo junto com 0 nome, po<strong>de</strong>, entao, ser "liberado" para outra funyao discursiva:<br />

a <strong>de</strong> orientar 0 foco <strong>de</strong> atenyao dos interlocutores no processamento do texto, ou seja, a <strong>de</strong><br />

efetivar 0 procedimento <strong>de</strong>itico (Ehlich, 1982). E tamb<strong>em</strong> esse procedimento que explica 0<br />

pr6ximo tipo <strong>de</strong> condicionamento elencado pelos autores.<br />

b) marca~ao <strong>de</strong> topico: os <strong>de</strong>monstrativos aumentam a acessibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ou a saliencia dos<br />

referentes, par isso sao frequent<strong>em</strong>ente utilizados na abertura <strong>de</strong> t6picos e subt6picos,<br />

<strong>de</strong>marcando sintagmas importantes para certos pontos do <strong>de</strong>senvolvimento textual, e<br />

tornando-os perceptualmente pro<strong>em</strong>inentes. Confira-se 0 ex<strong>em</strong>plo seguinte:<br />

(169) "0 fogo <strong>de</strong>struiu duas linhas <strong>de</strong> transmissao, localiza<strong>da</strong>s<br />

a seis quil6metros <strong>da</strong> se<strong>de</strong> do municipio <strong>de</strong> Milagres, provocando 0<br />

<strong>de</strong>sarme automatico do sist<strong>em</strong>a e a falta <strong>de</strong> luz as 16h41min.<br />

Fortaleza foi uma <strong>da</strong>s regi6es mais atingi<strong>da</strong>s, ficando 20 minutos<br />

s<strong>em</strong> energia. Outros pontos bastante afetados abrang<strong>em</strong> as regi6es<br />

<strong>de</strong> Russas (23 minutos), Banabuiu (18 minutos) e Ic6 (50 minutos).<br />

Essa versao foi <strong>da</strong>d a pelo gerente regional <strong>da</strong> Companhia<br />

Hidroeletrica do Sao Francisco (Chesf), Roberto Pires." «E)<br />

reportag<strong>em</strong> - artigo <strong>de</strong> jornal popular - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Em (169), 0 <strong>de</strong>itico discursivo "esta versao" inaugura urn novo subt6pico e chama a<br />

atenyao do leitor para tanto. Como b<strong>em</strong> observa Antunes:<br />

A <strong>de</strong>limita


e se se admite, igualmente, que os textos sao formados <strong>de</strong> palavras, parece<br />

natural prever-se, tamb<strong>em</strong>, que tais palavras <strong>de</strong>vam interligar-se <strong>de</strong> maneira a<br />

promover<strong>em</strong> e a sinalizar<strong>em</strong> aquela uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. (Antunes, 1996: 60)<br />

Pelo nome rotulador "versao", 0 segmento discursivo anterior nao apenas e sintetizado,<br />

mas tamb<strong>em</strong> introduz como subt6pico (coerente com urn t6pico global) urn comentario<br />

mo<strong>da</strong>lizador, pelo qual 0 jomal se isenta <strong>de</strong> apresentar como ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira a justificativa divulga<strong>da</strong><br />

pela companhia responsavel. 0 mero <strong>em</strong>prego do <strong>de</strong>finido, ain<strong>da</strong> que sinalizasse para a uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

retoma<strong>da</strong>, nao faria surtir 0 mesmo efeito salientador na condu


(172) "A <strong>em</strong>09ao mais forte e a mais antiga <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e 0<br />

medo, e 0 medo mais antigo e mais forte e 0 do <strong>de</strong>sconhecido. Raros<br />

sac os psic610gos que contestaram estes fatos (...)" (Apotheloz;<br />

Chanet, 1997:179)<br />

c) quando 0 substantivo <strong>de</strong>signa urn atributo <strong>da</strong> enuncia


o que se costuma chamar <strong>de</strong> saliencia local esta ligado a estrutura sequencial do texto.<br />

Urn objeto discursivo localmente saliente e aque1e que foi ativado mais recent<strong>em</strong>ente, ou seja, e<br />

o que foi mencionado por ultimo na disposiyao dos el<strong>em</strong>entos no texto e, por isso, tern aver<br />

com evi<strong>de</strong>ncias perceptivas.<br />

A saliencia cognitiva, por outro lado, se baseia <strong>em</strong> conhecimentos e representayoes<br />

mentais. Urn referente e cognitivamente saliente quando, <strong>em</strong> meio a outros objetos do universo<br />

discursivo, tern mais pertinencia do que eles, quer dizer, e mais central, tendo, por isso, forte<br />

efeito organizador.<br />

Com base nisso, Apotheloz afirma que os sintagmas nominais <strong>de</strong>monstrativos sac dotados<br />

<strong>de</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> operativa pr6pria, <strong>de</strong> vez que orientam dinamicamente os flashes <strong>de</strong> atenyao<br />

do <strong>de</strong>stinatario, e exig<strong>em</strong> que 0 referente tenha saliencia local ou cognitiva.<br />

E, portanto, para 0 procedimento <strong>de</strong>itico que converg<strong>em</strong> as nOyoes <strong>de</strong> saliencia e atenyao.<br />

Como diz Ehlich, as expressoes <strong>de</strong>iticas representam urn dos principais meios <strong>de</strong> focalizar a<br />

atenyao do <strong>de</strong>stinatario, pois "0 falante traz 0 ouvinte para 0 foco <strong>de</strong> algum el<strong>em</strong>ento<br />

especifico, diretamente acessivel, fazendo uso do espayO do ate discursivo" (Ehlich, 1982:325).<br />

Em termos <strong>de</strong> processamento cognitivo, as expressoes <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s, aSSlm como qualquer<br />

anaf6rico nao-indicial, mant<strong>em</strong> a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> foco. Desse modo, 0 <strong>de</strong>monstrativo negritado<br />

no ex<strong>em</strong>plo abaixo ate po<strong>de</strong>ria ser trocado pe10 artigo, cumprindo a mesma retoma<strong>da</strong><br />

proposicional, mas passaria a <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar urn procedimento anaf6rico <strong>de</strong> manutenyao do foco<br />

<strong>de</strong> atenyao sobre 0 referente, 0 que repercutiria na arquitetura argumentativa construi<strong>da</strong> pelo<br />

falante:<br />

(173) ". Quer dizer que houve excesso <strong>de</strong> confianqa na sua<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> administrar sozinha ?<br />

ERUNDINA : Quer dizer que houve erro <strong>de</strong> interpretac;ao.<br />

Quando comecei meu governo, achei que 0 PT, por ser honesto,<br />

limpo, integra, teria 0 apoio incondicional <strong>de</strong> todo mundo. Po<strong>de</strong><br />

chamar esta atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingenua, se quiser." (E 128 - entrevista <strong>de</strong><br />

jornal - NELFE)<br />

Pass<strong>em</strong>os, agora, it subc1assificayao dos r6tulos apresenta<strong>da</strong> por Francis (1994), a fim <strong>de</strong><br />

obter mais instrumentos para a diferenciayao <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos.


Francis <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> "r6tulos metalingiiisticos" os que faz<strong>em</strong> a nominayao <strong>de</strong> uma<br />

extensao discursiva como sendo urn tipo particular <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, ou seja, eles "instru<strong>em</strong> 0<br />

leitor a interpretar <strong>de</strong> modo especifico 0 status linguistico <strong>de</strong> uma proposiC;ao" (Francis,<br />

1994:89).<br />

A autora os disp5e <strong>em</strong> quatro categorias, mas admite a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sobreposiC;ao; sac<br />

elas: os nomes <strong>de</strong> "ato ilocuciomlrio", <strong>de</strong> "ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> lingiiistica", <strong>de</strong> "processo mental" e <strong>de</strong><br />

"texto". as ex<strong>em</strong>plos a seguir atestam como muitos dos <strong>de</strong>iticos discursivos se aplicam, com<br />

efeito, a esta classificaC;ao:<br />

• Nomes <strong>de</strong> ato ilocucionario: sac nominalizac;5es <strong>de</strong> processos verbais, tipicamente<br />

representados por cognatos <strong>de</strong> verbos ilocucionarios. Ex<strong>em</strong>plos:<br />

(174) "essa recomen<strong>da</strong>~ao sera repassa<strong>da</strong>" (E007 ata <strong>de</strong> '<br />

condomlnio - NELFE);<br />

(175) "tal afirmativa nao merece discussao" (E009 - carta ao editor<br />

<strong>de</strong> jornal - NELFE);<br />

NELFE);<br />

(176) "a proferir a seguinte <strong>de</strong>cisao" (E062 - ata <strong>de</strong> audi<strong>em</strong>cia -<br />

(177) "qu<strong>em</strong> faz esta confissao <strong>de</strong> culpa" (E128 - entrevista <strong>de</strong><br />

jornal - NELFE);<br />

(178) "nao ha como algu<strong>em</strong> duvi<strong>da</strong>r <strong>de</strong>ssas explica~oes" (E299<br />

texto humorfstico <strong>em</strong> revista - NELFE)<br />

• Nomes <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> lingiiistiCa: aprmumam-se muito dos ilocucionari0s, mas,<br />

segundo Francis, ao contririo <strong>de</strong>stes, nao correspon<strong>de</strong>m a verbos cognatos. Foram<br />

i<strong>de</strong>ntificados, na amostra, contudo, certos r6tulos tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> formas verbais<br />

com 0 mesmo radical, que, no entanto, apresentavam uma <strong>de</strong>scriC;ao s<strong>em</strong>antica<br />

particular, pois eram nomes mais estativos, enquanto que os ilocucionarios eram<br />

processuais. Tudo leva a crer que os <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> lingiiistica <strong>da</strong>o i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> resultado <strong>de</strong><br />

urn processo e se <strong>em</strong>pregam no discurso como ac;5es ja acaba<strong>da</strong>s, enquanto que os


ilocucionanos se comportam como ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros performativos74~ no sentido <strong>de</strong> Austin<br />

(1962). Sua enunciayao consegue realizar urn ate do falante, e e como se esta ay8.o<br />

verbal fizesse parte do proprio significado do nome. Reconhec<strong>em</strong>os, por<strong>em</strong>, a sutileza<br />

<strong>da</strong> separayao entre os dois gropos, por isso nao vale a pena alongar a discussao, <strong>em</strong><br />

vista <strong>de</strong> nossos interesses. Ex<strong>em</strong>plos:<br />

(179) "Born, essa pequena introdu~ao eu tinha que fazer<br />

logo" (E137 - carta pessoal - NELFE);<br />

(180) "e observe as seguinte instru~6es" «E) E218 -<br />

instru¢es <strong>de</strong> uso - NELFE);<br />

(181) "ele vai <strong>da</strong>ndo essas <strong>de</strong>scri~6es", "esse Tlpo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fini~ao" «F) EF-138 - aula - PORCUFORT);<br />

(182) "estabelecer a seguinte re/agBo" «E) artigo <strong>de</strong><br />

IingOistica - artigo cientffico" - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

• Nomes <strong>de</strong> processo mental: muitos <strong>de</strong>sses nomes <strong>de</strong>signam aspectos <strong>de</strong> .estados (ou<br />

resultados <strong>de</strong> processos) cognitivos obtidos pelo processamento <strong>de</strong> experiencias e<br />

concepyoes. Ex<strong>em</strong>plos:<br />

(183) "que voce acha <strong>de</strong>ssa visao carioca geral" «F) dialogo<br />

- conversa on-line - corpus compl<strong>em</strong>entar);<br />

(184) "pais esta no~ao <strong>de</strong> anatora e restrita" «E) artigo <strong>de</strong><br />

linguistica - artigo cientffico - corpus compl<strong>em</strong>entar);<br />

(185) "contribuiram para essa impressao" «E) ensaio - artigo<br />

cientlfico - corpus compl<strong>em</strong>entar);<br />

(186) "se esta posi~ao nos trouxer a pecha <strong>de</strong> puristas"<br />

(E040 - relat6rio tecnico - NELFE);<br />

Os nomes <strong>de</strong> processo mental ten<strong>de</strong>m a resvalar para uma c1assificayao nao propriamente<br />

"metalinguistica", na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que inc1u<strong>em</strong> modificadores que viabilizam categorizayoes<br />

diversas. Varias ocorrencias estao conti<strong>da</strong>s neste subcaso .<br />

• Nomes <strong>de</strong> texto: simbolizam partes <strong>da</strong> estrutura textual; rotulam pe<strong>da</strong>yos estruturados<br />

do discurso prece<strong>de</strong>nte. Ex<strong>em</strong>plos:


(187) "e:: disse essa FRase"<br />

espontanea - PORCUFORT);<br />

(188) "que essas palavras fiqu<strong>em</strong> inseri<strong>da</strong>s"; "estou te<br />

escrevendo esta cartinha" (E004 - carta pessoal - NELFE);<br />

(189) "como se observa nas passagens seguintes" «E)<br />

ensaio - artigo cientffico - corpus compl<strong>em</strong>entar);<br />

(190) "nesta entrevista exclusiva" (E015 - entrevista <strong>em</strong><br />

revista - NELFE);<br />

(191) "observe-se 0 texto abaixo", "e interessante notar neste<br />

ex<strong>em</strong>plo" «E) artigo <strong>de</strong> lingOfstica artigo cientffico - corpus<br />

compl<strong>em</strong>entar)<br />

Com base na <strong>de</strong>scriyao aCima, por<strong>em</strong> nao entrando numa especificayao <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>,<br />

propomos a existencia <strong>de</strong> tres subvarie<strong>da</strong><strong>de</strong>s fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos, no que toca a<br />

rotulayao:<br />

a) a dos Domes gerais (nao-metalingiiisticos), que foram, antes, i<strong>de</strong>ntificados por<br />

Halli<strong>da</strong>y; Hasan (1973) como pro-formas que partilham <strong>da</strong>s caracteristicas <strong>da</strong><br />

coesao lexical e <strong>da</strong> coesao gramatical;<br />

b) a <strong>de</strong> nomes metalingiiisticos, englobando os quatro gropos i<strong>de</strong>ntificados por Francis<br />

c) e a <strong>de</strong> nomes n<strong>em</strong> muito genericos, n<strong>em</strong> estritamente metalingiiisticos, que<br />

realizam outras categorizayoes ad hoc, e que, por isso, se tomam fronteiriyos <strong>em</strong><br />

relayao aos dois casos anteriores. Referimo-nos a usos como: por este motivo, esta<br />

situar;ao, <strong>de</strong>ssa natureza, nessa circunstancia etc., que nao apresentam valor tao<br />

generalizante a ponto <strong>de</strong> merecer<strong>em</strong> compor 0 conjunto dos nomes gerais, e<br />

tamb<strong>em</strong> nao <strong>da</strong>o nome ao status propriamente lingiiistico <strong>de</strong> uma proposiyao,<br />

estando, portanto, mais pr6ximos dos nao-metalingiiisticos.<br />

Dois criterios orientam 0 disc<strong>em</strong>imento <strong>de</strong>sses gropos: a metalinguag<strong>em</strong> utiliza<strong>da</strong> (ou<br />

nao) pelo r6tulo; e 0 grau <strong>de</strong> generali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Da<strong>da</strong>s as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos diversos contextos <strong>de</strong><br />

uso, com diferentes prop6sitos discursivos, que ora acentuarn, ora abran<strong>da</strong>m estes dois aspectos,<br />

sera mais a<strong>de</strong>quado falar <strong>em</strong> continuum do que <strong>em</strong> categorias estanques. 0 quadro abaixo


sugere grosseiramente a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste fenomeno (0 pontilhado expressa a fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

separayao) :<br />

nomes gerais rotulos rotulos nao<br />

metalingiiisticos estritamente<br />

Generici<strong>da</strong><strong>de</strong> aha<br />

,<br />

baixa ,<br />

metalin~iiisticos<br />

media<br />

Metalinguag<strong>em</strong> nula<br />

, ,<br />

I<br />

,<br />

aha<br />

i,<br />

,<br />

nula ou baixa<br />

as <strong>de</strong>iticos discursivos que figuram como nomes gerais se op5<strong>em</strong> inteiramente, como se<br />

po<strong>de</strong> notar, aos que se realizam por r6tulos metalingi.iisticos. Mas a terceira categoria acusa urn<br />

mundo <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ain<strong>da</strong> pouco caracteriza<strong>da</strong>s, que, a rigor, pertenceriam <strong>em</strong> parte a urn,<br />

<strong>em</strong> parte a outro.<br />

E importante l<strong>em</strong>brar que n<strong>em</strong> todo <strong>de</strong>itico discursivo realiza, necessariamente, uma<br />

categorizayao, pois as formas pronominais, ao <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> a nominayao, "saltam" esta etapa<br />

e representam diretamente 0 conteudo proposicional com pro-formas. Al<strong>em</strong> disso, <strong>de</strong>ntre as<br />

formas nominais, os nomes gerais e os menos genericos nao-metalinguisticos, como no caso<br />

aqui, <strong>de</strong>ssa mane ira, par esse [ado, neste aspecto etc. faz<strong>em</strong> uma categorizayao tao ampla que<br />

mais s<strong>em</strong>elhariam pro-formas.<br />

as r6tulos comportam, assim, diferentes graus <strong>de</strong> generici<strong>da</strong><strong>de</strong>, que variam conforme os<br />

interesses do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>fendido. Quanto mais genericos, <strong>de</strong> modo a encerrar urn conteudo<br />

mais extenso, mais esses hiperonimos 75 que reiteram urn segmento anterior se aproximam <strong>da</strong>s<br />

pro-formas, e mais limitam seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>persuasao. Ex<strong>em</strong>plo:<br />

(192) "Escolheram uma mesinha <strong>de</strong> fundo, pediram doses <strong>de</strong><br />

uisque. Alguns homens, timidos, tomados <strong>de</strong> surpresa e tao fieis aos<br />

seus <strong>de</strong>veres conjugais, limitaram-se a perguntar uns aos outros: 'De<br />

on<strong>de</strong> elas vieram?' Na minha mesa, um estimado amigo, que<br />

conhece b<strong>em</strong> essas coisas, fez uma avaliac;ao <strong>de</strong> bom gosto sobre<br />

75 Segundo Antunes: "Admit<strong>em</strong>-se, para as palavras hiperonimas, niveis distintos <strong>de</strong> generali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Estes reflet<strong>em</strong><br />

a disposi


as ilustres visitantes" (E257<br />

NELFE)<br />

a significado lexical <strong>de</strong> "essas coisas", <strong>em</strong> (192), parece ce<strong>de</strong>r espayo ao valor gramatical<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrativos como isto/isso. as menos gerais tamb<strong>em</strong> pouco somam aos argumentos <strong>da</strong><br />

tese, como <strong>em</strong>:<br />

(193) "gosto <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> voce gravar 0 samba dos blocos"<br />

«F) dialogo - conversa on-line - corpus compl<strong>em</strong>entar);<br />

(194) "0 ap6stolo dos gentios, que foi 0 ap6stoto Paulo, <strong>em</strong><br />

uma <strong>da</strong>s suas cartas, dizia: Tudo posso naquele que me fortalece.<br />

Ele se referia a Jesus. Acredito que seja s<strong>em</strong>pre 0 nosso i<strong>de</strong>al<br />

tamb<strong>em</strong>. Ok? Para sermos aju<strong>da</strong>dos por Deus, se faz necessario<br />

tao somente que reconhegamos esta necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>." (E048<br />

carta <strong>de</strong> aluno para professor - NELFE)<br />

as <strong>da</strong>dos revelaram que os retulos metalinguisticos predominam <strong>em</strong> relayao ao <strong>em</strong>prego<br />

<strong>de</strong> nomes gerais, 0 que evi<strong>de</strong>ncia sua importancia na tessitura dos pontos <strong>de</strong> vista. Se incluirmos<br />

neles os menos gerais nao-metalingliisticos, obter<strong>em</strong>os urn resultado <strong>de</strong> 151 contra apenas 62<br />

nomes gerais, 0 que correspon<strong>de</strong> aos percentuais <strong>de</strong> 70,9% e 29,1%, respectivamente. as<br />

retulos, ou d€iticos discursivos no minais, constitu<strong>em</strong> urn po<strong>de</strong>roso expediente <strong>de</strong> conexao e<br />

organizayao do discurso.<br />

a it<strong>em</strong> seguinte esclareceni, ain<strong>da</strong>, como esse recurso coesivo e argumentativo se<br />

relaciona com a manutenyao <strong>de</strong> referentes velhos e com a introduyao <strong>de</strong> objetos novos no texto.<br />

Ja asseveramos que to<strong>da</strong>s as express6es investiga<strong>da</strong>s neste trabalho sac <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s. Mas<br />

tratar <strong>de</strong> <strong>de</strong>finitu<strong>de</strong> exige a apreciayao <strong>da</strong>s duas facetas <strong>de</strong>ste conceito: e possivel assumi-Io ou<br />

como uma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> formal dos sintagmas nominais, ou como urn trayo conceitual <strong>da</strong>s<br />

enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s discursivas.<br />

A <strong>de</strong> finitu<strong>de</strong> formal - diz Prince (1992) - e, teoricarnente, marca<strong>da</strong> pelo artigo <strong>de</strong>finido,<br />

pelos pronomes <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>rnonstrativo e possessivo, pelos pronomes pessoais e ate mesrno por<br />

pronomes <strong>de</strong> valor numeral. 13. os sintagmas nominais in<strong>de</strong>finidos po<strong>de</strong>m ser assinalados por<br />

artigos in<strong>de</strong>finidos, pelo artigo zero e por outros numerais.


Sabe-se, contudo, que essa correspon<strong>de</strong>ncia nao e perfeita, pois e possivel que urn<br />

sintagma formalmente <strong>de</strong>finido expresse uma informayao inteiramente nova, <strong>da</strong>ndo it enti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

urn caniter <strong>de</strong> "in<strong>de</strong>finitu<strong>de</strong> informacional", plagiando Prince (1992).<br />

Sob uma perspectiva conceitual, portanto, urn conteudo <strong>de</strong>finido vale como "<strong>da</strong>do,<br />

conhecido, velho", <strong>em</strong> oposiyao ao "novo". As noy5es <strong>de</strong> velho e novo representam, assim, 0<br />

status informacional <strong>de</strong> uma informayao (<strong>de</strong> urn referente) e, segundo sugere Prince, <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

ser avalia<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acordo com dois parametros:<br />

a) as crenyas do falante sobre 0 background do ouvinte;<br />

b) 0 mo<strong>de</strong>lo discursivo construido durante 0 processamento do discurso.<br />

Tendo <strong>em</strong> vista a proposta <strong>da</strong> autora, 0 restante <strong>de</strong>ste capitulo analisa <strong>em</strong> que medi<strong>da</strong> 0<br />

status informacional dos conteudos transmitidos pelas express5es indiciais tern relevancia na<br />

caracterizayao dos <strong>de</strong>iticos discursivos, <strong>em</strong> contraste com os anaf6ricos correspon<strong>de</strong>ntes.<br />

Quando 0 falante acredita que a informayao transmiti<strong>da</strong> faz parte do conhecimento<br />

compartilhado pelos participantes, ele ten<strong>de</strong> a apresenta-Ia como velha, codificando-a<br />

tipicamente como urn sintagma <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>. Nesse caso, consoante Prince (1992), 0<br />

referente e "velho para a cabeya do ouvinte". Ex<strong>em</strong>plo:<br />

(195) "A agua tamb<strong>em</strong> mereceu urn investimento <strong>em</strong> uma nova<br />

estayao <strong>de</strong> tratamento com capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reciclar 92% do que e<br />

consumido pel a fabrica <strong>em</strong> Setim. E olha que a Fiat utiliza 1,5 bilhao<br />

<strong>de</strong> Iitros por mes, 0 equivalente ao gasto <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 300.000<br />

habitantes. Se essas iniciativas <strong>de</strong> preservac;ao ambiental<br />

<strong>de</strong>ixararn voce rnuito bern impressionado, nao se surpreen<strong>da</strong>. E<br />

assim que a Fiat trabalha." «E) propagan<strong>da</strong> Fiat texto<br />

publicitario - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Note-se que os <strong>de</strong>iticos discursivos, <strong>em</strong> (195), represent am urn referente i<strong>de</strong>ntificavel<br />

pelos interlocutores, e por isso receb<strong>em</strong> a roupag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finido, nominal e pronominal,<br />

respectivamente.<br />

Por vezes, contudo, ain<strong>da</strong> que 0 <strong>de</strong>stinatario nao tenha conhecimento suficiente <strong>da</strong><br />

informayao veicula<strong>da</strong> pela expressao referencial, 0 falante, assim mesmo, a <strong>em</strong>pacota como<br />

velha, como <strong>em</strong>:


F2 exato... veja bern... 0 que nos querernoshoje aqui<br />

no plenario... foi rnostrar ao conselho <strong>de</strong> senten~... aquilo que<br />

seria consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a participagao <strong>de</strong>le no hornicfdio...<br />

evi<strong>de</strong>nternente... que isso com base <strong>em</strong> tudo aquilo que foi<br />

apurado... eu nao quero... dizer aqui... que... nao havia indfcios..."<br />

(F040 - prograrnapolicial - NELFE)<br />

o locuvao prononimal <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo "tudo aquilo" sinaliza exatamentepara<br />

todos os indicios investigados, dos quais 0 interlocutor n<strong>em</strong> precisa ter tanta ciencia e, no<br />

entanto, 0 falante apresenta 0 fato como velho. Mesmo sendo, pois, urn caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>itico<br />

discursivo <strong>da</strong> m<strong>em</strong>6ria, <strong>em</strong> que se esperaria que 0 referente constituisse urn conhecimento<br />

compartilhado, exige-se do <strong>de</strong>stinatario simplesmente que ele saiba que muito ja foi apurado.<br />

Comportamento s<strong>em</strong>elhante apresenta 0 anaf6rico <strong>da</strong> m<strong>em</strong>6ria <strong>em</strong> (197):<br />

(197) "esse I taria reservado a urna futura vi<strong>da</strong> muito<br />

pareci<strong>da</strong> com a com a <strong>da</strong> Terra... certo? .. e urn filme muito bonito<br />

qu<strong>em</strong> pu<strong>de</strong>r pegar numa locadora e assistir assista... E urn teorista<br />

que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que Jupiter vai ser urnaestrela ... assim como aqueles<br />

que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que ja foL" «F) EF-53 - aula - PORCUFORT)<br />

A escolha <strong>de</strong> urn pronome <strong>de</strong> terceira pessoa atribui-se ao fato <strong>de</strong> 0 enunciador julgar que<br />

a informavao do todo esta presente na m<strong>em</strong>6ria cultural do ouvinte, ain<strong>da</strong> que parte <strong>de</strong>la possa<br />

ate ser nova para ele. E como se 0 <strong>de</strong>monstrativo simbolizasse muito mais urn modo <strong>de</strong><br />

apresentar 0 referente como velho do que urn meio <strong>de</strong> assegurar 0 compartilhamento. Assim<br />

Apotheloz explica a intenvao do falante ao se valer <strong>de</strong>sses usos:<br />

... <strong>de</strong> tal sorte que sera mms justo dizer, por ex<strong>em</strong>plo, que 0 codificador<br />

apresenta, ou simula apresentar, certos referentes como <strong>da</strong>dos ou, ao<br />

contnlrio, como novos. Tal formula9ao tern a vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mostrar que 0<br />

compartilhamento <strong>da</strong>s informa~Oes e dos estados <strong>de</strong> aten~ao e coisa<br />

manipullivel, e que a escolha <strong>da</strong>s expressOes referenciais e justamente um<br />

dos lugares on<strong>de</strong> esta manipula~ao se faz possivel e visivel, por sua vez.<br />

(Apotheloz, 1995: 46 - grifo nosso)<br />

o status <strong>de</strong> velho para 0 ouvinte e urn vizinho muito pr6ximo <strong>da</strong> novao <strong>de</strong><br />

"i<strong>de</strong>ntificabili<strong>da</strong><strong>de</strong>", <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por Chafe (1994). Para 0 autor, urn referente e i<strong>de</strong>ntificavel pelo<br />

<strong>de</strong>stinatario s<strong>em</strong>pre que ele 0 consi<strong>de</strong>ra como:<br />

• ja partilhado, direta ou indiretamente, pelo <strong>de</strong>stinatario;<br />

• verbalizado <strong>de</strong> modo suficiente;


Julgamos que a segun<strong>da</strong> caracterlstica seja, por<strong>em</strong>, <strong>de</strong>corrente <strong>da</strong> primeira, pois, com mais<br />

freqiH~ncia,0 falante "verbaliza <strong>de</strong> modo suficiente" 0 que supOe conhecido pelo <strong>de</strong>stinatario.<br />

Du Bois; Thompson (1991) expressam muito b<strong>em</strong> a proposta <strong>de</strong> Chafe pela seguinte metafora<br />

computacional: quando 0 falante supoe que 0 ouvinte seja capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar 0 referente, ele<br />

encara 0 conteudo como estando "armazenado <strong>em</strong> seu disco rlgido".<br />

Admitir 0 objeto <strong>de</strong> discurso como compartilhado direta ou indiretamente 76 pelo<br />

<strong>de</strong>stinatano e crucial para que 0 falante <strong>de</strong>ci<strong>da</strong> entre 0 que <strong>de</strong>ve ou nao ser apresentado como<br />

i<strong>de</strong>ntificavel, e a <strong>de</strong>finitu<strong>de</strong> formal do sintagma <strong>em</strong>pregado (sua "verbalizavao" como <strong>da</strong><strong>da</strong>)<br />

resulta, portanto, como a expressao <strong>de</strong>sse pressuposto.<br />

Urn referente tamb<strong>em</strong> e i<strong>de</strong>ntificavel quando contextualmente saliente, isto e, quando "se<br />

<strong>de</strong>staca" mais que os outros que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser categorizados <strong>de</strong> modo i<strong>de</strong>ntico. A novao -ja se ve<br />

- e pouco precisa. Segundo Chafe (1994), 0 proprio discurso po<strong>de</strong>ria estabelecer a saliencia, e<br />

aqui entra a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> menvao mais recente ou mais r<strong>em</strong>ota. Tamb<strong>em</strong> 0 espavo situacional, ou 0<br />

grupo social a que pertenc<strong>em</strong> os participantes, ou mesmo a experiencia comum77po<strong>de</strong>m tomar<br />

saliente uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas nao fica <strong>de</strong> todo claro por que parametros <strong>de</strong>ve se guiar<br />

o lingiiista para <strong>de</strong>liberar entre 0 que tern mais ou menos saliencia contextual.<br />

Dizer que urn referente velho esta "suficient<strong>em</strong>ente verbalizado" e afirmar que sua forma<br />

<strong>de</strong> expressao e bastante, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn contexte <strong>de</strong> usa especifico, 0 que consente a escolha <strong>de</strong><br />

tipos variados <strong>de</strong> realizavao78. Po<strong>de</strong>m ser selecionados pronomes pessoals, pronomes<br />

<strong>de</strong>monstrativos, nomes proprios, nomes comuns com artigo <strong>de</strong>finido, sintagmas nominais<br />

modificados por adjetivos, sintagmas preposicionais e oravoes relativas.<br />

o uso <strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong> outra estrutura mu<strong>da</strong>, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, na <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia dos projetos<br />

discursivos. Os pronomes <strong>de</strong>monstrativos este/esse se prestam tipicamente a manifestavao <strong>de</strong><br />

informavoes <strong>da</strong><strong>da</strong>s, pelo que se po<strong>de</strong>, entao, sustentar que os <strong>de</strong>iticos discursivos do contexto,<br />

constituindo-se <strong>de</strong>les, veiculam, <strong>em</strong> geral, conteudos velhos para 0 ouvinte. De resto, por<strong>em</strong>, e 0<br />

76 A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> compartiUmmento indireto e assim explica<strong>da</strong> por Chafe (1994): "Alguns ex<strong>em</strong>plos suger<strong>em</strong> que a<br />

i<strong>de</strong>ntificabili<strong>da</strong><strong>de</strong> 000 e necessariamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do conhecimento partilhado do referente <strong>em</strong> si, mas que ele<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> uma associaC;aocom 0 conhecimento ja partillmdo. Em ex<strong>em</strong>plos como: 'Ele manteve a<br />

buzina gritando', nao h:i nenhuma razao para 0 falante acreditar que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>sta buzina particular ja fizesseparte<br />

do conhecimento do <strong>de</strong>stinatario. Esperava-se, por<strong>em</strong>, que ele soubesse que urn volkswagen tivesse uma buzina, e e<br />

neste sentido que po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar este referente como associado com urn conhecimento ja partillmdo."<br />

77 Chafe (1994) argumenta que os referentes que esmo presentes no ambiente imediato sao mais salientes do que<br />

os que esillo mais distantes e que, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> todo grupo social, exist<strong>em</strong> certos referentes que SaDmais salientes para<br />

os m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> urn grupo, mas nao para outros.<br />

78 Clmfe acrescenta que, as vezes, a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> particular <strong>de</strong> certos referentes nao e <strong>de</strong> nenhum interesse para 0 que<br />

se intenta dizer. E ex<strong>em</strong>p1ifica com 0 telefone, a ca<strong>de</strong>rneta <strong>de</strong> telefone, a farmacia, 0 correia etc., que, <strong>em</strong> <strong>da</strong>dos<br />

contextos, SaD s<strong>em</strong>elhantes a quaisquer outros, para os propOsitos comuns. "E como se os varios referentes<br />

categorizados (...) foss<strong>em</strong> todos equivalentes, <strong>de</strong> modo que verbalizar a categoria e suficiente para criar


mesmo que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as express5es indiciais aqui estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, <strong>de</strong> maneira que 0<br />

status informacional do ponto <strong>de</strong> vista do ouvinte nao colabora <strong>em</strong> na<strong>da</strong> para 0 contraste entre<br />

as express5es indiciais r<strong>em</strong>issivas ao contexto.<br />

Po<strong>de</strong>-se manter somente que e muito proprio dos dSiticos discursivos retomar cont~udos<br />

nao pontualmente i<strong>de</strong>ntificaveis, <strong>de</strong> uma in<strong>de</strong>terminayao pactua<strong>da</strong> pelos interlocutores, os quais<br />

se conformam, as vezes, com uma indicayao minima <strong>de</strong> <strong>de</strong>finitu<strong>de</strong>, como no <strong>em</strong>prego dos<br />

neutros isto/isso resumindo segmentos difusos. 0 reconhecimento pleno e irrelevante para<br />

avaliar 0 conteudo retomado pelo dSitico discursivo como velho, pois a informayao vaga<br />

satisfaz aos participantes <strong>da</strong> comunicayao.<br />

Tenha-se, pois, <strong>em</strong> conta que 0 referente velho para 0 ouvinte <strong>da</strong>s anaforas do contexto<br />

nao e recuperado pelo mesmo processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que 0 referente instituido pelos<br />

<strong>de</strong>iticos discursivos correspon<strong>de</strong>ntes, cuja imprecisao se inscreve no proprio modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fini-los.<br />

Embora os referentes velhos para 0 ouvinte sejam quase s<strong>em</strong>pre codificados como<br />

<strong>de</strong>finidos, a reciproca po<strong>de</strong> nao ser ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira algumas vezes: urn sintagma com <strong>de</strong>finitu<strong>de</strong><br />

formal nao porta, necessariamente, informayao velha79. Dai por que os objetos <strong>de</strong> discurso <strong>da</strong><br />

amostra (todos formalmente <strong>de</strong>finidos) cont<strong>em</strong> alguns referentes novos sob' 0 aspecto<br />

conceitual. Na amostra examina<strong>da</strong>, as unicas ocorrencias <strong>de</strong> objetos novos para 0 ouvinte sac<br />

referidos pelas cataforas, to<strong>da</strong>s <strong>de</strong> motivayao fisico-textual, como ilustram os seguintes<br />

ex<strong>em</strong>plos:<br />

(198) "Se voce quiser comunicar-se<br />

comigo telefone para este numero: 251 4998" (E025 -<br />

bilhete - NELFE)<br />

(199) "com base nas seguintes linhas:" (F018 - entrevista<br />

pessoal - NELFE)<br />

Em (198), t<strong>em</strong>os urn anaforico fisico-textual; <strong>em</strong> (199), urn <strong>de</strong>itico textual. Ambos<br />

anunciam urna inforrnayao que 0 falante sup5e nova para 0 <strong>de</strong>stinatario.<br />

i<strong>de</strong>ntificabili<strong>da</strong><strong>de</strong>." (1994:102). Para muitos referentes genericos, a distin


Como se vera a seguir, 0 que e velho ou novo para 0 ponto <strong>de</strong> vista do ouvinte po <strong>de</strong> nao<br />

ter urn status informacional correspon<strong>de</strong>nte no mo<strong>de</strong>lo discursivo que v<strong>em</strong> sendo construido.<br />

(200) "R. M., porque voce nao<br />

veio no dia 28? Raniele disse<br />

que voce esta <strong>de</strong>vendo essa<br />

a ele." (E026 - bilhete - NELFE)<br />

P J:'. d' 80 ~ •<br />

or sua vez, 0 relerente novo para 0 lscurso , aparece <strong>em</strong> ocorrenClas como:<br />

(201) "Neste momento, interessa explorar <strong>em</strong> especial as<br />

estrategias que se situam entre ~ e ®, que apresentam, entre<br />

outras, estas caracteristicas:" «E) artigo <strong>de</strong> linguistica - artigo<br />

cientffico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Os do is pIanos do status informacional nao correspon<strong>de</strong>m obrigatoriamente, e os<br />

ex<strong>em</strong>plos (200) e (201) sac a prova disso: ambas as ocorrencias sac velhas para 0 ouvinte,<br />

entretanto s6 a primeira e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, velha para 0 discurso. A segun<strong>da</strong> e "<strong>em</strong>pacota<strong>da</strong>"<br />

pelo falante como <strong>da</strong><strong>da</strong>, <strong>em</strong>bora apareya no discurso pela primeira vez, realizando uma r<strong>em</strong>issao<br />

prospectiva. Caso s<strong>em</strong>elhante ocone com as amiforas <strong>da</strong> m<strong>em</strong>oria, como <strong>em</strong>:<br />

80 Fora as duas categorias novas e velhas para 0 ouvinte e para 0 discurso, Prince (1992) sugere urna terceira - a <strong>de</strong><br />

status "inferivel", que po<strong>de</strong>ria perfeitamente enquadrar-se nas anMoras associativas lexicalmente restritas. Cr<strong>em</strong>os<br />

que 0 inferivel se <strong>de</strong>fine, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a partir dos dois criterios <strong>de</strong> novo e velho, por isso rompe a simetria com os<br />

outros dois. Urn ex<strong>em</strong>pl0 seria: "Ele passou pela Bastilha e a porta estava pinta<strong>da</strong> <strong>de</strong> roxo." (Prince, 1992:305). A<br />

autora explica: "Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s inferiveis sao, portanto, como enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s velhas para 0 ouvinte na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que se<br />

ap6iam <strong>em</strong> certas hip6teses sobre 0 que 0 ouvinte realmente conhece. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, SaD tamb<strong>em</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

velhas para 0 discurso, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que se ap6iam no fato <strong>de</strong> ja ter havido no mo<strong>de</strong>lo discursivo alguma<br />

enti<strong>da</strong><strong>de</strong> para engatilhar a inferencia, como a Bastilha, (...). Mas, ao mesmo t<strong>em</strong>po, ain<strong>da</strong>, as enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

inferiveis sao como novas para 0 ouvinte (e, assim sendo, novas para 0 discurso), ja que 0 ouvinte nao esperaja ter<br />

<strong>em</strong> sua mente a enti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> questao. (Prince, 1992:305 - grifo nosso). Note-se que os critenos terminam por se<br />

confundir nesta terceira classe. A justificativa <strong>de</strong> que e novo porque "0 ouvinte nao espera ter 0 referente <strong>em</strong><br />

mente" nos parece contradit6ria com a <strong>de</strong>scri9ao <strong>de</strong> velba "porque se ap6ia <strong>em</strong> certas hip6teses do ouvinte". Por<br />

essa razao os inferiveis, b<strong>em</strong> como 0 subtipo <strong>de</strong> "inferiveis contidos" ("Containing Inftrrables"), foram exc1uidos<br />

<strong>de</strong>sta analise. 0 status <strong>de</strong> inferivel se aproxima, a nosso ver, do estatuto <strong>da</strong> anMora associativa: urn el<strong>em</strong>ento novo<br />

para 0 discurso e introduzido, mas foi engatilhado por urn SN diferente anterior, seudo, por isso, pela rela


(202) "Weill! Ja passa <strong>da</strong> meia-noite e amanha cedo tenho que<br />

trabalhar. You <strong>da</strong>r uma aula particular, YOU pI <strong>UFPE</strong> e a tarqe ao<br />

medico. Sim!!! Tirei aquele sinal <strong>da</strong> perna, l<strong>em</strong>bras?" (E055<br />

carta pessoal - NELFE)<br />

Nesta situal;ao, 0 referente e consi<strong>de</strong>rado velho para 0 ouvinte, porque pertence ao saber<br />

comum dos interlocutores, mas, como se nota, a informal;ao e inteiramente nova para 0<br />

discurso. Assim acontece <strong>em</strong> (203):<br />

(203) "qu<strong>em</strong> mais trabalha A~ sac esses operarios... porque<br />

passam 0 dia TOdinl neste 501. .. <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sete horas <strong>da</strong> manha aTE a<br />

noite... ate cinco seis horas... sac Eles aiL.. eh:: tirando aquela areia<br />

e ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que tern aquele:: aquela pa mecanica ... mas eles estao<br />

LA <strong>em</strong>puRRANdo soCANdo... E... olha at come que eles come? (...)<br />

entao:: eXISte urn trabalho mental sim... ele sabe QUAL... QUAL...<br />

e a hora <strong>de</strong> colocar aquelas estacas <strong>de</strong> FErro ..." «F) D2-39<br />

conversa espontanea - PORCUFORT),<br />

Quando 0 enunciador utiliza a expressao referencial "esses operarios", ele aClOna,<br />

automaticamente, 0frame "openlrios <strong>em</strong> construl;ao" e aposta na habili<strong>da</strong><strong>de</strong> do ouvinte para<br />

inferir a existencia discursiva <strong>da</strong>s outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A retoma<strong>da</strong> se <strong>da</strong> por associal;Ro (por isso<br />

afirmamos, anteriormente, que este configura urn caso <strong>de</strong> anafora associativa): sac el<strong>em</strong>entos<br />

novos no discurso, mas ja conhecidos, pois cultural mente presentes (0 papel do <strong>de</strong>monstrativo<br />

nao e promover a retoma<strong>da</strong> <strong>de</strong> urn el<strong>em</strong>ento do contexto, senao apenas sinalizar para 0 espal;o<br />

<strong>de</strong>itico <strong>da</strong> m<strong>em</strong>6ria comum, on<strong>de</strong> 0 referente <strong>de</strong>ve ser encontrado). 0 <strong>em</strong>issor presume que 0<br />

<strong>de</strong>stinatario tenha, entao, as informal;oes necessarias para saturar a interpretal;ao referencial, e e<br />

a partir <strong>de</strong>ssa crenl;a, e <strong>da</strong> pr6pria relal;ao com a fonte <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adora "esses openirios", que os<br />

sintagmas <strong>em</strong> grifo consegu<strong>em</strong> sua <strong>de</strong>finitu<strong>de</strong> formal.<br />

Os referentes novos para 0 discurso sao b<strong>em</strong> mais frequentes entre os anaf6ricos e<br />

predominam nas express5es motiva<strong>da</strong>s pelo conhecimento compartilhado. Via <strong>de</strong> regra, os<br />

anaf6ricos <strong>da</strong> m<strong>em</strong>6ria, conforme ja dito, recuperam apenas urn aspecto do objeto. discursivo<br />

rnencionado previarnente. Seu referente e construido a partir <strong>de</strong> indicios anteriores, por isso e<br />

natural que surjam novas enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s nessas situayoes.<br />

Entre os <strong>de</strong>iticos discursivos, no entanto, os numeros caern drasticamente, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sua natureza resumidora. Aqui, prevalecern os casos <strong>de</strong> motivayao fisico-textual, consoante 0<br />

Grafico 9:


As raras ocorrencias <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminac;ao fisica sao, na maioria, <strong>de</strong>iticos discursivos <strong>de</strong>iticos,<br />

como: "nesta reuniao", "a presente ata", "nesta entrevista exclusiva", "<strong>de</strong>ste programa", "neste<br />

trabalho" etc.<br />

E, <strong>de</strong> fato, nas express5es que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> ao espac;o fisico do texto, e ao contexto, que os<br />

novos para 0 discurso se <strong>de</strong>stacam entre os <strong>de</strong>iticos discursivos. Nao somente pela maior<br />

quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> nos <strong>de</strong>iticos textuais, mas, principalmente, pela concentrac;ao <strong>de</strong> usos cataf6ricos,<br />

pouco comuns entre as anaforas correspon<strong>de</strong>ntes. Por isso <strong>de</strong>dicamos 0 it<strong>em</strong> seguinte a uma<br />

serie <strong>de</strong> reflex5es sobre as catilforas.<br />

Os el<strong>em</strong>entos cataf6ricos figuram <strong>em</strong> numero muito reduzido: totalizam 84 ocorrencias,<br />

com participac;ao <strong>em</strong> apenas 4,2% na amostra. Se a frequencia e insignificante <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

conjunto, nao 0 e no interior <strong>de</strong>ste pequeno gropo: aparec<strong>em</strong> meramente 7 anaf6ricos contra 77<br />

<strong>de</strong>iticos discursivos. 0 Grafico 10 apresenta os condicionamentos <strong>da</strong>s express5es indiciais <strong>em</strong><br />

que os <strong>em</strong>pregos cataf6ricos costumam acontecer:


Como <strong>de</strong>monstra 0 grafico, os <strong>de</strong>iticos textuais (ou seja, os <strong>de</strong> motivavao fisico-textual) e<br />

os <strong>de</strong>iticos discursivos contextuais representam 0 contexto mais favoravel ao uso cataforico.<br />

Sua forma <strong>de</strong> manifestavao difere bastante <strong>da</strong>s estruturas normalmente <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s nos d~mais<br />

condicionamentos. Ia vimos que sao formulas estereotipa<strong>da</strong>s como: oX seguinte, oX abaixo, °<br />

X a seguir etc., <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> localizadora mais precisa e <strong>de</strong> alto po<strong>de</strong>r preditivo, como neste<br />

<strong>em</strong>prego:<br />

(204) "Instala<strong>da</strong> a audiencia e relatado 0 processo, a Sra.<br />

JUlza-Presi<strong>de</strong>nte propos solugao ao Iitfgio, colheu os votos dos Srs.<br />

Juizes Classistas, passando, a Junta, a proferir a seguinte<br />

DECISAO:" (E062 - ata <strong>de</strong> audiencia - NELFE)<br />

Al<strong>em</strong> <strong>de</strong>stas express6es, verificam-se alguns casos <strong>de</strong> utilizavao <strong>de</strong> formas substantivas ou<br />

adjetivas <strong>de</strong> valor numeral, como:<br />

(205) "Bern! Vamos ao que interessa! Estou te escrevendo<br />

esta cartinha por dois motivos: primeiro pra te pedir <strong>de</strong>sculpas; e,<br />

segundo, pra te agra<strong>de</strong>cer." (E004 - carta pessoal - NELFE)


Nao apenas 0 cardinal "dois", como tamb<strong>em</strong> os ordinais "primeiro" e "segundo" <strong>da</strong><br />

enti<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva referi<strong>da</strong> reforyam a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> organizadora do rotulo prospectivo.<br />

E instigante pensar no que realmente caracteriza uma forma como cataforica. Por que, na<br />

amostra examina<strong>da</strong>, os numerais so indicaram r<strong>em</strong>iss5es para ±fente, se po<strong>de</strong>m tamb<strong>em</strong> apontar<br />

para tnis? 0 que <strong>de</strong>ve conter a expressao <strong>de</strong> valor numeral para <strong>de</strong>signar 0 direcionamento<br />

prospectivo?<br />

Se observados com cui<strong>da</strong>do, os numeralS que <strong>de</strong>terminam expressoes referenciais<br />

retrospectivas costumam acompanhar-se <strong>de</strong> outros el<strong>em</strong>entos que assinal<strong>em</strong> 0 movimento para<br />

tnis. Note-se 0 ex<strong>em</strong>plo:<br />

(206) "Na edic;ao especial HOME PC GAMES nao foi<br />

mencionado nenhum jogo para 0 computador Amiga, <strong>da</strong><br />

Commodore. Eles sac muitos e <strong>de</strong> altfssima quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Jogos como<br />

World Circuit e L<strong>em</strong>mings foram lanc;ados primeiro para 0 Amiga e<br />

<strong>de</strong>pois a<strong>da</strong>ptados para 0 PC e Mac. A revista cita apenas vers6es<br />

para essas duas ultimas plataformas, 0 que nao e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>."<br />

(E276 - sec;ao <strong>de</strong> cartas <strong>em</strong> revista - NELFE)<br />

Para indicar que 0 antece<strong>de</strong>nte se encontra atr~~,.0 falante seleciona, <strong>em</strong> (206), al<strong>em</strong> do<br />

pronome <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> pessoa, 0 nome adjetivo "ultimas", com 0 intuito <strong>de</strong> evitar a imprecisao.<br />

Toma<strong>da</strong> isola<strong>da</strong>mente, e s<strong>em</strong> adjetivo, a expressao "essas duas plataformas" teria plenas<br />

condiyoes <strong>de</strong> realizar 0 procedimento cataforico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que apresentasse a pontuayao a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong><br />

(comumente, dois-pontos e, mais raramente, travessao). Entretanto, quando se <strong>em</strong>prega 0<br />

pronome numeral <strong>em</strong> funyao substantiva, ou quando ele constitui 0 unico <strong>de</strong>terminante do<br />

nome, tal estrutura indica, convencionalmente, uma referenciayao cataforica. Vejamos:<br />

(207) "gostaria <strong>de</strong> te perguntar duas coisas" «F) dialogo -<br />

conversa on-line - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

(209) "tres linhagens do barroco brasileiro" (E040 - relat6rio<br />

tecnico - NELFE)<br />

(210) "n6s t<strong>em</strong>os dois caminhos pela frente" (E129<br />

pronunciamento politico - NELFE);<br />

(211) "nos t<strong>em</strong>o/ duas solucoes" «F) EF-152 aula<br />

PORCUFORT);<br />

(212) "estao <strong>em</strong> ac;ao dois processos cognitivos" «E) artigo<br />

<strong>de</strong> lingOfstica - artigo cientifico - corpus compl<strong>em</strong>entar).


A escrita marca a catafora, na gran<strong>de</strong> maioria dos casos, com dois-pontos ou travessao,<br />

assinalando 0 que, na fala, e expresso por uma pausa e uma entonavao especificas, as quais<br />

geram no <strong>de</strong>stinatario a expeetativa do novo para 0 discurso. A questao ese, na ausencia <strong>da</strong>s<br />

formulavoes tipicamente cataf6ricas, esses recursos graficos e pros6dicos nao bastam para a<br />

caracterizavao <strong>de</strong> uma r<strong>em</strong>issao prospeetiva. Em algumas situavoes, parece que sim, como <strong>em</strong>:<br />

(213) "Esse pioneirismo e mais urn motivo <strong>de</strong> orgulho para<br />

mim, e reforva minha tese: "moqueca <strong>de</strong> peixe, somente capixaba.<br />

o resto e simplesmente peixa<strong>da</strong>". (E275 - seyao <strong>de</strong> cartas <strong>em</strong><br />

revista - NELFE)<br />

(214) "No mes passado, ele levou um baita susto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

o queixo cardo: a conta era mais <strong>de</strong> R$3mil. (...) Eles anotaram<br />

tudo que Luiz tinha <strong>em</strong> casa: tres computadores, urn frigobar, urn<br />

ventilador, quatro televisores, uma gela<strong>de</strong>ira, dois vi<strong>de</strong>os, urn som,<br />

urn ferro <strong>de</strong> passar e 38 luzes." «E) reportag<strong>em</strong> - artigo <strong>de</strong> jornal<br />

popular - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Mesmo no caso abaixo, <strong>em</strong> que a expressao cataf6rica v<strong>em</strong> implicita, 0 receptor<br />

reconhece a presenva <strong>de</strong> uma pro-forma do tipo "isto/este", ou "0 seguinte", predizendo urn<br />

conteudo proposicional:<br />

(215) "Em respeito ao povo <strong>de</strong> Sergipe e ao alto conceito <strong>da</strong><br />

revista ISTOE <strong>em</strong> todo 0 Brasil, especialmente <strong>em</strong> nosso Estado,<br />

venho esclarecer 0:" «E) carta ao editor - sevao <strong>de</strong> cartas <strong>em</strong><br />

revista - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

A r<strong>em</strong>issao para frente nao exige n<strong>em</strong> mesmo, como se nota, uma forma manifesta.<br />

Como c1assificar esses tipos <strong>de</strong> ocorrencia? Com efeito, 0 carMer prospectivo nao <strong>de</strong>ve provir<br />

<strong>da</strong>s expressoes <strong>em</strong> si (salvo nas estruturas cuja <strong>de</strong>scrivao s<strong>em</strong>antica ja <strong>de</strong>nota urn movimento<br />

projetivo, como "0 seguinte, a seguir, 0 seguinte X" etc.), mas do pr6prio <strong>de</strong>senvolvimento<br />

discursivo, do jogo <strong>de</strong> informavoes velhas e novas, e, principalmente, <strong>da</strong> pausa, <strong>da</strong> entonavao<br />

(e/ou <strong>da</strong> pontuavao que a <strong>de</strong>signa). E nao e este mesmo urn dos <strong>em</strong>pregos dos dois-pontos:<br />

marcar a melodia, a entonavao, <strong>de</strong>stacando 0 que se vai dizer <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>? Nao e isso mesmo<br />

que autoriza 0 usa popular a construir, <strong>em</strong> tom <strong>de</strong> galhofa, enunciados como "0 que eu quero<br />

dizer e 0 seguinte dois-pontos..."?<br />

Por isso, e mais conveniente <strong>de</strong>c1arar que ha mais <strong>de</strong> urn recurso para <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r uma<br />

r<strong>em</strong>issao prospeetiva, que nao somente 0 <strong>de</strong> express5es invariavelmente cataf6ricas. Tamb<strong>em</strong><br />

certos adverbios circunstanciais, por seus travos s<strong>em</strong>anticos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong> lugar, s6 permit<strong>em</strong>


urn uso cataforico, uma vez que conduz<strong>em</strong> a urn ponto posterior na or<strong>de</strong>na~ao do discurso.<br />

Trata-se <strong>de</strong> abaixo, aqui e agora, ex<strong>em</strong>plificados a seguir:<br />

(216) "como 0 do ex<strong>em</strong>plo (3) abaixo";<br />

''traz<strong>em</strong>os abaixo um mo<strong>de</strong>lo que ...";<br />

"observe-se 0 texto abaixo" «E) artigo <strong>de</strong> lingufstica -<br />

artigo cientffico - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

Note-se que abaixo se op5e a acima, e os dois apontam, respectivamente, para tn1.se para<br />

frente. 0 que separa os pares antes/<strong>de</strong>pois e acima/abaixo e so uma questao <strong>de</strong> perspectiva, <strong>de</strong><br />

angulo pelo qual 0 falante disp5e mentalmente os espa~os textuais: <strong>de</strong> urn ponto <strong>de</strong> vista<br />

horizontal, ou <strong>de</strong> urn prisma vertical.<br />

Quanto ao locativo aqui e ao t<strong>em</strong>poral agora, que, por <strong>de</strong>fini~ao, <strong>de</strong>veriam assinalar 0<br />

ponto zero do falante, po<strong>de</strong>m apresentar urn <strong>em</strong>prego niti<strong>da</strong>mente prospective no discurso,<br />

como se percebe <strong>em</strong>:<br />

(217) "agora v<strong>em</strong> 0 processo civil"; "analiso agora 0 probl<strong>em</strong>a<br />

<strong>da</strong> ..." (F033 - conferencia - NELFE)<br />

(218) "Aqui vai 0 capitulo (" (E044 - carta <strong>de</strong> aluno para<br />

professor - NELFE);<br />

Nao se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sprezar 0 fato <strong>de</strong> que a natureza cataf6rica <strong>de</strong>sses pronomes adverbiais<br />

tamb<strong>em</strong> nao se limita a pr6pria forma - existe ain<strong>da</strong> 0 amparo do t<strong>em</strong>po verbal, expresso pelo<br />

presente do indicativo com valor <strong>de</strong> futuro pr6xi~081.<br />

Por outro lado, hi certos pronomes adverbiais, como at e assim, que exerc<strong>em</strong> uma<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhante, entretanto nao sac exclusivos do <strong>em</strong>prego cataf6rico. As vezes, 0 t<strong>em</strong>po<br />

<strong>de</strong>itico, manifesto nas flex5es verbais, e que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>, por e1es, 0 sentido do movimento; veja-se:<br />

(219) "ai v<strong>em</strong> mais lenha na fogueira" «E) reportag<strong>em</strong><br />

artigo <strong>de</strong> jomal popular - corpus compl<strong>em</strong>entar)<br />

A orienta~ao prospectiva fica dilui<strong>da</strong> no conjunto "ai v<strong>em</strong>", por lSS0 encontramos<br />

contextos que <strong>de</strong>slocam a indica~ao para 0 sentido retrospectivo, como estes:<br />

81 De acordo com Travaglia (1985): "0 presente do indicativo <strong>em</strong> si marca os aspectos in<strong>de</strong>terminado, habitual,<br />

r..ao-acabado, cursivo e imperfectivo." Mas, <strong>em</strong> alguns casos, "illio atualiza nenhum aspecto. Isto ocorre por<br />

ex<strong>em</strong>plo <strong>em</strong>: a) quando 0 presente do indicativo e usado com valor <strong>de</strong> futuro". E cita ex<strong>em</strong>plos como<br />

"Amanhii compro 0 livro para voce/ 0 anibus chega <strong>da</strong>qui a meia hora" (cf. p.151 - grifo nosso).


(220) "Por ai voce tira a importfmcia" (E002 - carta pessoal -<br />

NELFE);<br />

(221) "Ja houve ai uma etapa <strong>de</strong> supera~o" (E015<br />

entrevista <strong>em</strong> revista - NELFE);<br />

(222) "partindo-se entao <strong>da</strong>i para ";<br />

"e por ai que se chega a <strong>de</strong>finir ";<br />

"por ai, buscar-se-a a cria~o";<br />

"consi<strong>de</strong>rando 0 que ai fica dito" (E040 - relat6rio tecnico -<br />

NELFE) etc.<br />

N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre, contudo, as pistas sintaticas aju<strong>da</strong>m muito a <strong>de</strong>cidir sobre 0 direcionamento.<br />

Observ<strong>em</strong>-se as ocorrencias do assim cataf6rico:<br />

(223) "as pessoas diz<strong>em</strong> assim ah:: e ah terceira i<strong>da</strong><strong>de</strong> hoje<br />

fala-se <strong>de</strong>mais na:: terceira i<strong>da</strong><strong>de</strong>" «F) 02-39 conversa<br />

espontanea - PORCUFORT)<br />

(224) "funciona: s<strong>em</strong>pre assim e:... 0 dia inteiro ne S.?<br />

sessao corri<strong>da</strong> e ... entao" (F034 - conversa espontanea -<br />

NELFE)<br />

(225) "a1 fiCAva aju<strong>da</strong>ndo 0 padre no leHao organizando ai<br />

termiNAva ... a1:: sobrava aqueles FRANgo ne?.. bolo <strong>em</strong> fim <strong>de</strong><br />

festa aquela hist6ria... a1 <strong>de</strong>pois tinha urn Htro <strong>de</strong> rum com Coca-<br />

Cola a gente ficava aTE:: meia-noite la... . fazia a festa nossa ne?<br />

que era 0 fim dO...do lei{lao ne? que eu na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> nunca aju<strong>de</strong>i<br />

padre nao eu s<strong>em</strong>pre atrapalhei padre eu num participava <strong>de</strong><br />

{NA<strong>da</strong> <strong>de</strong> ...<strong>de</strong> igreja nunca participei a gente aju<strong>da</strong>va muito<br />

assim a Igreja" «F) 02-45 - conversa espontanea<br />

PORCUFORT)<br />

Como se <strong>de</strong>duz, n<strong>em</strong> a presenc;a <strong>de</strong> verbos dicendi (classicamente <strong>de</strong>finidos como aqueles<br />

que antece<strong>de</strong>m, mediata ou imediatamente, uma <strong>de</strong>c1arac;ao, ou uma pergunta), n<strong>em</strong> mesmo a<br />

or<strong>de</strong>m <strong>em</strong> que os el<strong>em</strong>entos estao dispostos na sentenc;a <strong>de</strong>terminam 0 sentido <strong>da</strong> r<strong>em</strong>issao do<br />

pronome adverbial assim. 0 fato <strong>de</strong> expressar circunstancia <strong>de</strong> modo, ou seja, <strong>de</strong> se <strong>de</strong>screver<br />

<strong>de</strong> maneira neutra <strong>em</strong> relac;ao ao espac;o ou ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>itico, explica, <strong>em</strong> parte, a dupla<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uso.<br />

Esta conclusao e relevante porque converge para 0 mesmo fato que justifica a alt<strong>em</strong>ancia<br />

entre este e esse nas express6es indiciais contextualmente motiva<strong>da</strong>s: 0 baixo grau <strong>de</strong>


o grupo <strong>da</strong>s cataforas representa, aSSlm, malS urn aspecto sob 0 qual os <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos e os anaf6ricos, sobretudo os <strong>de</strong> motivavao contextual, diferenciam-se no discurso.<br />

Al<strong>em</strong> <strong>de</strong> as cataforas acontecer<strong>em</strong> esporadicamente entre os anaf6ricos, sua estrutura e muito<br />

pouco diversifica<strong>da</strong>: restring<strong>em</strong>-se a express5es <strong>de</strong> valor numeral e a construvoes com este. Ja<br />

os <strong>de</strong>iticos discursivos usam <strong>de</strong> outros recursos estruturais preditivos, que localizam, com mais<br />

precisao, no texto, os conteudos difusos e, par isso, sao importantes instrumentos <strong>de</strong> introduvao<br />

do novo para 0 discurso.<br />

Com 0 objetivo principal <strong>de</strong> acrescentar outros parametros para a distinvao <strong>da</strong>s express5es<br />

indiciais que mais se confun<strong>de</strong>m, este capitulo <strong>de</strong>monstrou, <strong>em</strong> termos amp los, que nenhum<br />

<strong>de</strong>itico discursivo e correferencial ou co-significativo e que seu modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

discursivas se distancia <strong>da</strong>s recategorizav5es anaf6ricas por exercer<strong>em</strong> uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

nominavao <strong>de</strong> conteudos proposicionais, categorizando referentes.<br />

Verificamos, ain<strong>da</strong>, que os <strong>de</strong>iticos discursivos contextuais se val<strong>em</strong> amplamente <strong>de</strong><br />

pronomes ou <strong>de</strong> SNs <strong>de</strong> alta generici<strong>da</strong><strong>de</strong>, mais resumidores e representativos, que n<strong>em</strong><br />

recategorizam n<strong>em</strong> co-significam. Por outro lado, quando se realizam por sintagmas nominais,<br />

utilizam-se <strong>de</strong> express5es rotuladoras, que se <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> ou por nomes gerais, nao-<br />

metalingiiisticos, ou por nomes menos gerais e menos metalingiiisticos, ou por nomes<br />

metalingiiisticos <strong>de</strong> baixa generici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

No que respeita ao status informacional, quase to<strong>da</strong>s as express5es indiciais sao velhas<br />

para 0 ponto <strong>de</strong> vista do ouvinte, <strong>de</strong> modo que somente pela perspectiva do discurso foi possivel<br />

extrair alguma conclusao relevante para os prop6sitos do trabalho. Mostramos que 0 status <strong>de</strong><br />

novo para 0 discurso e b<strong>em</strong> mais freqiiente nas anaforas <strong>da</strong> m<strong>em</strong>6ria do que <strong>em</strong> qualquer outro<br />

tipo <strong>de</strong> expressao indicial. Mas existe uma relavao importante entre status informacional,<br />

motiva~ao do el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>itico, direcionamento r<strong>em</strong>issivo e forma <strong>de</strong> manifesta~ao no subgrupo<br />

dos <strong>de</strong>iticos textuais e dos dSiticos discursivos contextuais.<br />

Por esses parametros, chegamos a comprova~ao <strong>de</strong> que os <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

contextuais, b<strong>em</strong> como os dSiticos textuais, representam os contextos mais propicios a<br />

introdu~ao <strong>de</strong> informa~5es novas para 0 discurso, que ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> expressoes cataf6ricas <strong>de</strong><br />

estrutura~ao tipica.<br />

A ultima etapa <strong>de</strong>sta investiga~ao analisani se a distribui~ao <strong>da</strong>s expressoes indiciais nas<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> discurso falado e escrito acrescenta alguma caracteristica importante para os<br />

objetivos <strong>da</strong> pesquisa.


o continuo lingilistico verificado entre a fala e a<br />

escrita tamb<strong>em</strong> tern seu corre/ato no continuo dos<br />

generos textuais. (A1arcuschi)<br />

Sob a hip6tese <strong>de</strong> que exist<strong>em</strong> diferenvas significativas na distribuivao <strong>de</strong> anaf6ricos<br />

indiciais e <strong>de</strong>iticos discursivos na fala e na escrita, e <strong>em</strong> graus distintos <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

separamos e classificamos to<strong>da</strong>s as expressoes indiciais <strong>de</strong> acordo com esses dois padimetros.<br />

Admitimos, contudo, a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> isolar classes <strong>de</strong> texto quando entram <strong>em</strong> conjunvao<br />

tres aspectos, que, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, variam num continuum - mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> do discurso, grau <strong>de</strong><br />

espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e genero <strong>de</strong> texto segundo principios funcionais.<br />

as generos comunicativos 82 , longe <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> construtos te6ricos, sac formas reconheci<strong>da</strong>s<br />

<strong>em</strong>piricamente, que observam suas condi90es <strong>de</strong> produyao e <strong>de</strong> participa9ao, b<strong>em</strong> como os<br />

recursos atraves dos quais a informa9ao e organiza<strong>da</strong>. Dentro <strong>de</strong> urn mo<strong>de</strong>lo<br />

multidimensional 83 , Marcuschi (1999a) sugere que uma tipologia <strong>de</strong> textos <strong>de</strong>ve distribuir-se<br />

num continuum <strong>de</strong> situayoes textuais, isto e, numa gra<strong>da</strong>9ao <strong>de</strong> realiza90es. as variados pontos<br />

nesta escala <strong>de</strong> generos comunicativos se interseccionam com outros do continuum fala-escrita.<br />

Enquanto ha situa90es textuais s6 manifestaveis na escrita, e outras tipicamente fala<strong>da</strong>s, ha<br />

inumeras intermediarias que estabelec<strong>em</strong> uma rela9ao tipol6gica entre essas duas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> discurso.<br />

Se, numa extr<strong>em</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>, se encontram discursos prototipicamente orais, como as conversas<br />

espontaneas (e ain<strong>da</strong> conversa90es publicas, teleronicas etc.), <strong>em</strong> outra, situam-se textos<br />

82 Fun<strong>da</strong>mentando-se numa perspectiva te6rica que consi<strong>de</strong>ra 0 texto como fruto <strong>de</strong> vanas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

negocia9ao, pelas quais se constro<strong>em</strong> os significados, Marcuschi prop5e que se acolha, urn dia a expressao<br />

"generos comunicativos" <strong>em</strong> substitui9ao a tipos textuais. "Textos sao artefatos ou fenomenos que exorbitam suas<br />

estruturas e s6 tern efeito se se situar<strong>em</strong> <strong>em</strong> algum contexto comunicativo. Assim, 0 termo comunicativo ao lado<br />

<strong>da</strong> expressao genero <strong>da</strong>ria a qualifica9ao mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>." (Marcuschi, 1999a: 31).<br />

83 Marcuschi toma por referencial urn mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Hein<strong>em</strong>annJViehweger (1991), <strong>em</strong> que as representa90es<br />

prototipicas sao consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s <strong>em</strong> mais <strong>de</strong> uma dimensao. Afirma 0 autor: "Essa proposta <strong>em</strong> niveis ou m6dulos<br />

leva <strong>em</strong> conta:<br />

1. funciona1i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

2. situacionali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

3. comunicativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

4. estrutura9ao<br />

dos eventos. E com isto cont<strong>em</strong>pla precisamente os critcrios mais importantes sugeridos pela maioria dos autores,<br />

mas agora <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn conjlmto <strong>de</strong> postulados para sua interpreta9ao que toma a teoria razoavel e aplicavel."<br />

(Marclischi, 1999a:34)


tipicamente escritos, como os artigos cientificos, os documentos oficiais, os relat6rios tecnicos<br />

etc. Porero, mesmo os generos mais representativos <strong>de</strong> uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong>m partilhar ~ertos<br />

travos com algum genero <strong>da</strong> outra. As conversas espontaneas, por ex<strong>em</strong>plo, san comparaveis,<br />

<strong>em</strong> alguns aspectos, as cartas pessoais e aos bilhetes; assim como os artigos cientificos<br />

guar<strong>da</strong>m estreitas re1ayoes com as conferencias e as exposiyoes aca<strong>de</strong>micas. Essa constatayao<br />

re1ativiza qualquer distinyao pretensamente absoluta entre fala e escrita e nos <strong>da</strong> a exata medi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do fen6meno, que po<strong>de</strong> ser avalia<strong>da</strong> na analise <strong>da</strong> seguinte figura i<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong><br />

pelo autor:<br />

Textos <strong>da</strong> Escrita<br />

TEl, TE2... TEn<br />

Textos <strong>da</strong> Fala<br />

TFl, m...TFn<br />

Neste gcifico, observa-se que tanto a fala como a escrita se <strong>da</strong>o <strong>em</strong><br />

dois continua:<br />

(a) na linha dos diversos tipos <strong>de</strong> texto (TF1, TF2...TFn e TEl,<br />

TE2 ...TEn)<br />

(b) na linha <strong>da</strong>s caracteristicas especificas <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

(Marcuschi, 1999a:47)<br />

Quanto mais longe dos extr<strong>em</strong>os, isto e, <strong>da</strong>s situayoes <strong>de</strong> maior ou menor espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

mais caracteristicas, <strong>em</strong> dimensoes diferentes, san compartilha<strong>da</strong>s pelos generos comunicativos<br />

falados e escritos. As reportagens ao vivo, por ex<strong>em</strong>plo, sao muito s<strong>em</strong>elhantes as noticias <strong>de</strong><br />

urn jornal popular, assim como as pia<strong>da</strong>s conta<strong>da</strong>s oralmente estl:lopr6ximas as cr6nicas etc.<br />

Tal inter-relayao se reflete, naturalmente, nas escolhas lexicais, nas estruturas sintaticas e<br />

nos <strong>de</strong>mais recursos lingi.iisticos, <strong>de</strong>ntre os quais a seleyao <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> anaf6ricos e<br />

<strong>de</strong>iticos discursivos. Por isso a investigayao <strong>da</strong> freqi.iencia <strong>de</strong> express6es indiciais no continuum<br />

fala/escrita, mais esponHineo/menos espontaneo nos pareceu pertinente.<br />

Em torno <strong>de</strong> 60% <strong>da</strong>s ocorrencias <strong>da</strong> amostra pertenc<strong>em</strong> a discursos falados. 0 Gratico 11<br />

exibe, agora, como <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos comparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s


Pelos percentuais encontrados, este parametro, sozinho, pouco acrescenta a<br />

caracterizac;ao dos <strong>de</strong>iticos discursivos <strong>em</strong> si, que apresentam a mesma frequencia na fala e<br />

na escrita. Mas e util para <strong>de</strong>monstrar que os anaf6ricos indiciais sac predominam na fala.<br />

Por outro aspecto, quando pesquisamos 0 grau <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, perceb<strong>em</strong>os que ele,<br />

<strong>de</strong> fato, interfere na escolha <strong>de</strong> diferentes expressoes indiciais. Observe-se 0 Gnifico 12:


Os <strong>da</strong>dos mostram que os anaf6ricos prevalec<strong>em</strong> <strong>em</strong> discursos mais espontaneos, ao passe<br />

que os <strong>de</strong>iticos discursivos tern maior frequencia nos menos espontaneos.<br />

Se cruzarmos os dois parametros <strong>de</strong> analise, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os inferir que, juntos, os contextos<br />

menos espontaneos na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> escrita sac os mais favoraveis it ocorrencia <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos, conforme esta exposto no Gnmco 13:<br />

Os resultados aClma refutam uma <strong>da</strong>s hip6teses <strong>de</strong>ste trabalho: <strong>de</strong> que os <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos teriam prepon<strong>de</strong>rancia <strong>em</strong> generos comunicativos muito espontaneos, <strong>de</strong>vido it<br />

recorrencia <strong>de</strong> pro-formas como isto/isso. Com efeito, esses pronomes, <strong>em</strong>bora muito presentes<br />

na fala, nao <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar condicionados exatamente it especie <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> discursiva, e sim,<br />

ao grau <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Esboc;am-se, <strong>de</strong>sse modo, os dois contextos maIS propicios ao aparecimento, ou it<br />

predominancia, <strong>de</strong> express5es indiciais:<br />

a) anaf6ricos indiciais: <strong>em</strong> discursos falados e nas situac;5es <strong>de</strong> maior espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />

b) <strong>de</strong>iticos discursivos: nas situac;5es <strong>de</strong> menor espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, que inclu<strong>em</strong> os<br />

discursos escritos.<br />

Estas consi<strong>de</strong>rac;5es po<strong>de</strong>m nos conduzir a uma matriz <strong>de</strong> comportamento dos <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos <strong>em</strong> contextos caracteristicos. Po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os estabelecer, por ex<strong>em</strong>plo, com base nos<br />

<strong>da</strong>dos, que os <strong>de</strong>iticos discursivos:


sac mais recorrentes <strong>em</strong> textos menos espontaneos, on<strong>de</strong> se manifestam, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong><br />

medi<strong>da</strong>, como pronomes <strong>em</strong> funyao substantiva ou adverbial;<br />

quando se realizam como SNs, sao categorizadores quase s<strong>em</strong>pre marcados par<br />

r6tulos metalingiiisticos, ora menos, ora mais genericos. Portam geralmente<br />

el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo, que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> ao contexte;<br />

por vezes, assinalam, por meio <strong>de</strong> pronomes adverbiais ou formulayoes com adjetivos<br />

<strong>de</strong>monstrativos, 0 local flsico do texto <strong>em</strong> que a fonte <strong>de</strong>ve ser i<strong>de</strong>ntiflca<strong>da</strong>;<br />

apresentam, mais do que os anaf6ricos, expressoes tipicamente cataf6ricas,<br />

responsaveis pela indicayao <strong>de</strong> informayoes novas para 0 discurso.<br />

Compete-nos frisar que, <strong>em</strong>bara nao apresent<strong>em</strong> percentuais representativos, os <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos nas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s fala<strong>da</strong>s mais espontaneas merec<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rayao especial por sua<br />

<strong>de</strong>scriyao singular:<br />

sac muito mais frequent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong>pacotados como pronomes substantivos, muitas<br />

vezes neutros (isto/isso, inclusive com formas vazias);<br />

os poucos sintagmas nominais categorizadores se constitu<strong>em</strong> quase s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> r6tulos<br />

amplamente genericos (como as names gerais e os menos metalinguisticos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

generali<strong>da</strong><strong>de</strong>), que, <strong>em</strong> certos aspectos, se ass<strong>em</strong>e1hama pro-formas;<br />

sua r<strong>em</strong>issao e dominant<strong>em</strong>ente contextual.


Em busca <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scriyao <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis discursiva, chegamos a compreensao <strong>de</strong> que os<br />

tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis nao se disp5<strong>em</strong> num mesmo nivel <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma escala <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. De urn<br />

lado, separamos os <strong>de</strong>iticos pessoais, representados pelo par eu-tu, que estabelec<strong>em</strong> a pr6pria<br />

correlayao <strong>de</strong> pessoali<strong>da</strong><strong>de</strong>. 0 eu se prop5e como sujeito e presume algum interlocutor, tendo,<br />

portanto, transcen<strong>de</strong>ncia sobre ele. Os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>iticos se op5<strong>em</strong> aos pessoais por se inc1uir<strong>em</strong><br />

,~--_._...• _-<br />

na categoria <strong>da</strong> nao-pessoa, e por apresentar<strong>em</strong> uma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> mais representativa do que<br />

intrinsecamente subjetiva.<br />

De outro lado, fora <strong>da</strong> correlayao <strong>de</strong> pessoali<strong>da</strong><strong>de</strong>, conc1uimos que a <strong>de</strong>ixis <strong>de</strong> lugar se<br />

eleva al<strong>em</strong> do nive1 <strong>da</strong>s outras especies porque sup5e 0 trayo ostensivo primario <strong>de</strong> qualquer<br />

<strong>de</strong>itico <strong>de</strong> <strong>de</strong>1imitar 0 espa~o <strong>em</strong> que se localiza 0 objeto <strong>de</strong> discurso instituido peIo nome. A<br />

metafora <strong>de</strong> localizayao no t<strong>em</strong>po exprime b<strong>em</strong> a indissociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s noy5es. espacial e<br />

t<strong>em</strong>poral, mas tamb<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixa patente a prepon<strong>de</strong>rancia <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> situar e <strong>de</strong>marcar 0 referente<br />

no universo mostrado - uma visao que reconhece nos lugares, ou campos, <strong>de</strong>iticos seu<br />

principal ponto <strong>de</strong> apoio.<br />

No ultimo grau <strong>da</strong> escala <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, colocamos a <strong>de</strong>ixis discursiva, ou as especies<br />

distintas que ela abriga sob esse titulo. Apontando, as vezes, para posi95es no texto fixa<strong>da</strong>s s<strong>em</strong><br />

ambigiii<strong>da</strong><strong>de</strong>s pelo falante, a <strong>de</strong>ixis discursiva se aplica a urn entomoespacio-t<strong>em</strong>poral<br />

metaforizado, <strong>em</strong>bora nao represente uma mera transferencia <strong>da</strong> situayao comunicativa real para<br />

a disposiyao dos conteudos no texto. Nesse sentido, mostramos que ela e subjetiva <strong>de</strong> urn outro<br />

modo, ou por urn outro meio.<br />

Os <strong>de</strong>iticos discursivos contextuais, por<strong>em</strong>, que constitu<strong>em</strong> a gran<strong>de</strong> malOna,<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram 0 ponto zero <strong>de</strong> referencia do falante e <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> mensurar a distancia fisica <strong>em</strong><br />

que se localiza 0 objeto. Por esse aspecto, <strong>de</strong>veriam ter grau zero <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto,<br />

tendo <strong>em</strong> vista 0 procedimento <strong>de</strong>itico, que permite ao falante refocalizar objetos discursivos,<br />

direcionando para e1es a aten9ao do <strong>de</strong>stinatario, <strong>de</strong>cidimos que os <strong>de</strong>iticos discursivos<br />

contextuais tamb<strong>em</strong> viabilizam 0 processo intersubjetivo <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis, s6 que <strong>de</strong> outra maneira. Por<br />

isso pleiteamos que a <strong>de</strong>ixis discursiva pertence ao quadro <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis <strong>em</strong> geral e, por essa razao,<br />

nilo po<strong>de</strong> ser encampa<strong>da</strong> pela nOyao <strong>de</strong> anafora.


Pela funyao f6rica <strong>de</strong> retomar enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s no universo do discurso, os <strong>de</strong>iticos ern geral<br />

partilham corn os anaf6ricos uma indicayao <strong>de</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas, enquanto as outros<br />

<strong>de</strong>iticos refer<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro do espayo extralingi.iistico, os discursivos, assim como as anaf6ricos,<br />

faz<strong>em</strong>-no <strong>de</strong>ntro do contexto, e se i<strong>de</strong>ntificam nessa habili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Distingue-os, contudo, 0 escopo<br />

<strong>da</strong> referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois, enquanto a anafora retoma referentes pontuais, a <strong>de</strong>bus discursiva se<br />

refere a informayoes difusas.<br />

D<strong>em</strong>onstramos, por<strong>em</strong>, que a abrangencia referencial e insuficiente, como criterio unico,<br />

para discriminar os dois fenomenos, <strong>de</strong> vez que exist<strong>em</strong> certos <strong>de</strong>iticos textuais que, num<br />

processo metalingliistico, recuperam somente a forma <strong>de</strong> uma expressao, <strong>de</strong> maneira pontual. E<br />

exist<strong>em</strong> certas expressoes <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s, ou seja, anaf6ricas nao-indiciais, que atuam como genuinos<br />

r6tulos <strong>de</strong> conteudos textuais, b<strong>em</strong> a s<strong>em</strong>elhanya <strong>de</strong> urn dSitico discursivo. Por outro lado, n<strong>em</strong><br />

o parametro <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e 0 procedimento dSitico san capazes <strong>de</strong> distinguir, par si s6s,<br />

anaf6ricos indiciais e dSiticos discursivos.<br />

Por isso, investigamos urn conjunto <strong>de</strong> aspectos morfol6gicos, sintaticos, s<strong>em</strong>anticos e<br />

pragmatico-discursivos que nos forneceram el<strong>em</strong>entos adicionais para uma <strong>de</strong>scriyao <strong>da</strong>s<br />

expressoes <strong>em</strong> estudo. Comprovamos que, ao contr8.riodos anaf6ricos, os dSiticos discursivos<br />

nao san correferenciais, n<strong>em</strong> co-significativos. Nao recategorizam objetos introduzidos no<br />

universo discursivo, mas estabelec<strong>em</strong>-nos como referentes, ou seja, categorizam-nos. Os<br />

<strong>de</strong>iticos textuais assinalados por pronomes circunstanciais como acima, a seguir etc parec<strong>em</strong><br />

igualmente nomear conteudos proposicionais, instituindo-os como objetos <strong>de</strong> discurso, apesar<br />

<strong>de</strong> ser<strong>em</strong> selecionados para indicar lugares no texto. Este grupo particular exige, contudo, ain<strong>da</strong>,<br />

uma analise mais acura<strong>da</strong>.<br />

Por seu po<strong>de</strong>r resumidor e, por vezes, rotulador, os <strong>de</strong>iticos discursivos constitu<strong>em</strong><br />

po<strong>de</strong>rosos recursos <strong>de</strong> coesao e po<strong>de</strong>m dispor <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> forya argumentativa. Embora veicul<strong>em</strong><br />

normalmente informayao velha para 0 ouvinte (com exclusao dos cataf6ricos), seu processo <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, diversamente do que se<strong>da</strong> corn os anaf6ricos, caracteriza-se pela imprecisao<br />

<strong>da</strong>s informayoes recupera<strong>da</strong>s.<br />

Reunindo todos os criterios <strong>de</strong> analise, i<strong>de</strong>ntificamos quatro tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos e<br />

quatro anaf6ricos indiciais correspon<strong>de</strong>ntes, classificados <strong>de</strong> acordo com a motivayao do<br />

el<strong>em</strong>ento indicial. De modo conciso, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>-se <strong>da</strong> seguinte maneira:


1) Os anaforicos <strong>de</strong>iticos e os <strong>de</strong>iticos discursivos "<strong>de</strong>iticos":<br />

Os el<strong>em</strong>entos indiciais r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> ao campo <strong>de</strong>itico real, apontando diretamente a<br />

localizayao espacio-t<strong>em</strong>poral do falante. Tal pressuposiyao <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>situa os<br />

anaforicos <strong>de</strong>iticos no ponto mais alto <strong>da</strong> escala <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Sua forma <strong>de</strong> expressao preferencial sao os pronomes adverbiais circunstanciais,<br />

porque sua <strong>de</strong>scriyao s<strong>em</strong>antica trans mite com exati<strong>da</strong>o as nOyoes <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e lugar.<br />

Pe10 procedimento <strong>de</strong>itico, orientam a atenyao do <strong>de</strong>stinatario nao para posiyoes no<br />

texto, mas para 0 posicionamento real do enunciador.<br />

Vma vez que os <strong>de</strong>iticos discursivos "<strong>de</strong>iticos" faz<strong>em</strong> coincidir 0 ponto zero do<br />

falante com 0 do proprio texto como uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> proxima do enunciador, eles<br />

apresentam urn grau mais baixo <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

2) Os anafOricos fisico-textuais e os <strong>de</strong>iticos textuais:<br />

Pelo procedimento <strong>de</strong>itico,dirig<strong>em</strong> osjlashes <strong>de</strong> atenyao do <strong>de</strong>stinatario para 0 lugar<br />

do texto on<strong>de</strong> a fonte foi menciona<strong>da</strong>.<br />

Os anaforicos fisico-textuais manifestam-se <strong>em</strong> geral pelos pronomes <strong>de</strong> valor<br />

<strong>de</strong>monstrativo este/aquele, que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong>, respectivamente, a ultima e a primeira<br />

menyao, tomando 0 t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formulac;ao como referencial. Algumas vezes, recorr<strong>em</strong><br />

a nomes <strong>de</strong> valor numeral, ou a nomes adjetivos <strong>de</strong> significado aproximado.<br />

Tern uso muito restrito e limitam-se a perspectiva horizontal <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nac;ao grafica do<br />

texto.<br />

Os <strong>em</strong>pregos mats legitimos <strong>de</strong> motivayao fisico-textual sao representados pelos<br />

<strong>de</strong>iticos textuais, por sua func;ao ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente organizadora dos segmentos<br />

discursivos. Para assinalar a posic;ao dos trechos referidos, sob 0 angulo horizontal ou<br />

vertical <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nac;ao, recorr<strong>em</strong> a pronomes adverbiais circunstanciais ou a SNs <strong>de</strong><br />

valor <strong>de</strong>monstrativo, com formulac;oes tipicamente cataforicas, responsaveis pela<br />

introduc;ao <strong>de</strong> novos referentes no discurso.<br />

3) Os anaforicos e <strong>de</strong>iticos discursivos <strong>da</strong> m<strong>em</strong>oria:<br />

Seu procedimento <strong>de</strong>itico guia 0 olhar do <strong>de</strong>stinatario para enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s cuja referencia s6<br />

se completa no conhecimento compartilhado pe10s interlocutores. Em vista disso,<br />

val<strong>em</strong>-se quase s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> SNs plenos, ou <strong>de</strong> estruturas mais elabora<strong>da</strong>s, como nomes<br />

ou pronomes modificados por orac;oes ou sintagmas preposicionais.


Em consequencia do acrescimo <strong>de</strong> novos conteudos informativos, os anaforicos <strong>da</strong><br />

m<strong>em</strong>oria constitu<strong>em</strong> 0 mais importante expediente <strong>de</strong> introdw;ao <strong>de</strong> referentes novos<br />

para 0 discurso.<br />

E comum as duas especies, por<strong>em</strong>, realizar<strong>em</strong>-se principalmentepor. pronomes <strong>de</strong><br />

valor <strong>de</strong>monstrativo. Quando se expressam por pronomes <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> pessoa, reduz<strong>em</strong><br />

o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>, por per<strong>de</strong>r<strong>em</strong> <strong>de</strong> vista 0 referencial <strong>de</strong> distancia do enunciador.<br />

Quando ocorr<strong>em</strong> como pronomes <strong>de</strong> terceira pessoa, tomam-se mais altamente<br />

<strong>de</strong>iticos, por pressupor<strong>em</strong> 0 campo <strong>de</strong>itico real.<br />

4) as anaf6ricos e <strong>de</strong>iticos discursivos do contexto:<br />

Destoam <strong>de</strong> todos os tipos anteriores por neutralizar<strong>em</strong> 0 trac;o <strong>de</strong> distancia <strong>em</strong>relac;ao<br />

ao falante, razao por que apresentam 0 menor grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Al<strong>em</strong> disso, diferent<strong>em</strong>ente dos outros, a r<strong>em</strong>issao <strong>de</strong> seus el<strong>em</strong>entos indiciais<br />

coinci<strong>de</strong> com a <strong>da</strong> expressao referencial inteira.<br />

Pelo procedimento <strong>de</strong>itico, orientam 0 foco <strong>de</strong> atenc;ao do <strong>de</strong>stinatario para a pr6pria<br />

expressao indicial.<br />

Sao representados pelos pronomes <strong>de</strong>monstrativos este/esse e s6 r<strong>em</strong>et<strong>em</strong><br />

retrospectivamente.<br />

Vma vez que todo esse comportamento e comum a <strong>de</strong>iticos discursivos e anaf6ricos, 0<br />

unico trac;o que os distingue e a abrangencia referencial.<br />

Verificamos, finalmente, que os contextos menos espontaneos, conjugados com a<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> escrita, sac mais propicios ao aparecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos. Contudo, na<br />

'i<br />

fala mais espontanea, eles apresentam uma formalizac;ao tipica: sao, <strong>em</strong> maioria, as pro-formas<br />

isto/isso (manifestas ou omissas) e, <strong>em</strong> menor proporc;ao, os nomes gerais ou nomes menos<br />

metalingiiisticos.<br />

Ao longo <strong>da</strong>s conclus5es, sugenmos a compara


As contribuiyoes <strong>de</strong>ste trabalho po<strong>de</strong>m, ain<strong>da</strong>, ser bastante uteis para a amilise do<br />

comportamento discursivo <strong>da</strong>s expressoes indiciais como elos coesivos, como instrumentos <strong>de</strong><br />

organizayao <strong>de</strong> segmentos textuais, consoante 0 prop6sito argumentative do enunciador. Dentro<br />

<strong>de</strong> urn estudo <strong>de</strong>s sa natureza, cabe inquirir se, <strong>de</strong> fato, a funyao <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nya <strong>de</strong> t6pico (mu<strong>da</strong>nya<br />

<strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> vista sobre uma seqUencia <strong>de</strong> eventos, passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scriyao a uma narrayao<br />

etc.) po<strong>de</strong> ser atribui<strong>da</strong> a certos usos <strong>de</strong> pronomes <strong>de</strong>mo nstrativo s, e se as transiyoes s6<br />

acontec<strong>em</strong> <strong>em</strong> sintagmas rotuladores.<br />

Embora os resultados tenham apontado para a prevalencia <strong>de</strong> <strong>de</strong>iticos discursivos <strong>em</strong><br />

situayoes <strong>de</strong> uso menos esponHineas, muitas vezes, <strong>em</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> escrita, <strong>de</strong>lineou-se urn<br />

grupo <strong>de</strong> representayao geralmente pronominal, motivado pelo contexto, que parece ocorrer<br />

com mais frequencia <strong>em</strong> discursos mais esponHineos. Cumpre investigar a hip6tese <strong>de</strong> que tais<br />

pronomes, <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>monstrativo, comumente neutros, sac realmente caracteristicos <strong>de</strong> generos<br />

falados e menos cui<strong>da</strong>dos. Sugerimos, ain<strong>da</strong>, que se pesquise a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> os <strong>de</strong>iticos<br />

discursivos contextuais ser<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregados mais regularmente <strong>em</strong> certos generos comunicativos<br />

do que <strong>em</strong> outros.<br />

As constatay5es alusivas aos <strong>de</strong>iticos discursivos nao-manifestos no texto tamb<strong>em</strong><br />

ampliam os horizontes dos estudos sobre compl<strong>em</strong>entos verbais omissos, pois evi<strong>de</strong>nciam que<br />

sua funyao discursiva esta relaciona<strong>da</strong> aos objetivos argumentativos do falante. Interessa ao<br />

enunciador valer-se <strong>de</strong> formas neutras <strong>de</strong> natureza <strong>de</strong>monstrativa para resumir conteudos<br />

anteriores, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r esforyos para rotula-Ios. Se 0 procedimento <strong>de</strong>itico dirige a atenyao<br />

do <strong>de</strong>stinatario para pontos do texto, <strong>da</strong>ndo-Ihes saliencia, e natural que 0 falante recorra as<br />

formas omissas para <strong>de</strong>sfocar 0 que julga discursivamente irrelevante. Conv<strong>em</strong> agregar as<br />

caracteristicas do procedimento discursivo <strong>da</strong>s omissoes as restriyoes sintatico-s<strong>em</strong>anticas<br />

responsaveis pela facultativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entos verbais, para <strong>de</strong>scobrir que variaveis sao,<br />

com efeito, <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong>ste fen6meno.<br />

Deixamos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar, nesta pesquisa, todos os outros anaf6ricos que introduz<strong>em</strong><br />

referentes novos para 0 discurso. Suas formas <strong>de</strong> realizayao mereceriam, no entanto, ser<br />

coloca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> confronto com as expressoes que promov<strong>em</strong> a manutenyao referencial, a fim <strong>de</strong><br />

examinar 0 tipo <strong>de</strong> motivayao dos el<strong>em</strong>entos indiciais.<br />

Dentre esses el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> introduyao referencial, preClsam ser discuti<strong>da</strong>s, mats<br />

criteriosamente, as anaforas associativas e os trayos que as <strong>de</strong>fin<strong>em</strong>. Argumentamos que 0<br />

simples fato <strong>de</strong> as expressoes associativas apresentar<strong>em</strong> urn <strong>de</strong>monstrativo nao justifica que<br />

sejam expurga<strong>da</strong>s do grupo <strong>da</strong>s anaforas associativas. Os estudos sobre 0 assunto nao<br />

<strong>de</strong>spertaram, ain<strong>da</strong>, para a circunstancia <strong>de</strong> que os <strong>de</strong>iticos <strong>da</strong>s express5es indiciais efetivam


uma r<strong>em</strong>issao n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre coinci<strong>de</strong>nte com a do sintagma que os cont<strong>em</strong>. Nao se po<strong>de</strong><br />

sustentar, portanto, que urn <strong>de</strong>monstrativo aponte, necessariamente, para 0 contexto,<br />

assegurando urn relayao <strong>de</strong> correferenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

-~----<br />

Por expressar<strong>em</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, as expressoes indiciais oferecer~]Il ao discurso literario<br />

::,--:,-.:-_.<br />

urn espayo multiplo <strong>de</strong> recriayoes, que permanece ain<strong>da</strong> imperscrutado. No texto literario, a<br />

construyao <strong>da</strong> referencia se processa dinamicamente sobre ambigui<strong>da</strong><strong>de</strong>s contextuais e sobre a<br />

coabitayao <strong>de</strong> diferentes campos enunciativos. Em meio a esse entrelayamento, 0 escritor<br />

constroi a referencia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu proprio mundo criado, e 0 leitor a reconstroi, relativizando-a<br />

<strong>em</strong> dupla proporyao. Estu<strong>da</strong>r as expressoes indiciais no discurso litenirio requer do lingiiista<br />

uma sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> adicional para captar a essencia <strong>de</strong> tantos significados.<br />

As normas prescritas para a utilizayao dos pronomes <strong>de</strong>iticos estao longe <strong>de</strong> cont<strong>em</strong>plar as<br />

diversas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>ssas formas <strong>em</strong> situayoes cotidianas. Compete a escola <strong>da</strong>r aos<br />

alunos a consciencia metalingiiistica dos variados <strong>em</strong>pregos, explorando as nuanyas <strong>de</strong> senti<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> contextos especificos.<br />

A <strong>de</strong>scriyao aqui proposta suscita, assim, outras apreciayoes <strong>da</strong> <strong>de</strong>ixis discursiva e instiga<br />

a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novos trayos que a legitim<strong>em</strong> como fen6meno <strong>de</strong>itico.


ALBANO, Eleonora C. (1990). Da fala it linguag<strong>em</strong> tocando <strong>de</strong> ouvido. Sao Paulo: Martins<br />

Fontes.<br />

ANTUNES, Iran<strong>de</strong> C. M. (1996). Aspectos <strong>da</strong> coesao do texto: uma an8.lise <strong>em</strong> editoriais<br />

jornaHsticos. Recife: Ed. Universitaria <strong>da</strong> <strong>UFPE</strong>.<br />

APOTHELOZ, Denis. (1995). Role et fonctionn<strong>em</strong>ent <strong>de</strong> l'anaphore <strong>da</strong>ns la dynamique<br />

textuelle. Tese (Doutorado) - Universite <strong>de</strong> Neuchatel.<br />

APOTHELOZ, D.; REICHLER-BEGUELIN, Marie-Jose. (1995). Construction <strong>de</strong> la referance<br />

et strategies <strong>de</strong> <strong>de</strong>signation. In: BERRENDONNER, A; REICHLER-BEGUELIN, M-J.<br />

(eds.). Du syntagme nominal aux objets-<strong>de</strong>-discours: SN complexes, nominalizations,<br />

anaphores. Neuchatel: Institute <strong>de</strong> linguistique <strong>de</strong> l'universite <strong>de</strong> Neuchatel . p. 227-71.<br />

APOTHELOZ, D.; CHANET, C. (1997). Defini et <strong>de</strong>monstratif <strong>da</strong>ns les nominalisations. In:<br />

MULDER, W. <strong>de</strong>; RYCK, L.T.; VETTERS, C. (eds.). Relations anaphoriques et<br />

(in) coherence. Amster<strong>da</strong>n: Rodopi. p. 159-86.<br />

BAKHTIN, Mikhail. (1986). Marxismo e filosofia <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. 3. ed. Tradw;ao <strong>de</strong> Michel<br />

Lahud e Yara F. Vieira. Sao Paulo: HUCITEC. Titulo original: Marksizm ifiloss6fia iazikit.<br />

BECHARA, Evanildo. (1978). Mo<strong>de</strong>rna gramatica portuguesa: cursos <strong>de</strong> 1. e 2. graus. 23. ed.<br />

Sao Paulo: Editora Nacional.<br />

BENVENISTE, Emile. (1988). Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> lingiiistica geral. 2. ed. Tradw;ao <strong>de</strong> Maria G.<br />

Novak; Maria L. Neri; revisao do Prof Isaac Nicolau Salurn. Campinas: Pontes. 2v. Titulo<br />

original: Probl<strong>em</strong>es <strong>de</strong> linguistique generale.


BLOHDORN, Har<strong>da</strong>rik. (1999). A codifica9iio <strong>de</strong> informa9iio espacial no al<strong>em</strong>iio e no<br />

portugues do Brasil: adposiyoes e adverbios como meios para especificar relayoes estaticas.<br />

Tese (Livre-Docencia) - Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Sao Paulo (USP).<br />

BUENO, Francisco S. (1988). Gran<strong>de</strong> dicionario etimoI6gico-pros6dico <strong>da</strong> lingua portuguesa.<br />

Sao Paulo: Editora LISA. v. 1 e v. 9.<br />

nOHLER, Karl. (1982). The <strong>de</strong>ictic field oflanguage and <strong>de</strong>ictic words. In: JARVELLA, RJ.;<br />

KLEIN, W. (eds.) Speech, place and action: studies in <strong>de</strong>ixis and related topics. New York:<br />

John Wiley and Sons. p. 9-30.<br />

CAY ALCANTE, Monica M. (1996). A omissiio <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entos verbais no portugues do<br />

Brasil: uma justificativa pragmMica, s<strong>em</strong>antica e sintMica. DissertayaO (Mestrado)<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceara (UFC).<br />

__ . (1997a). A in<strong>de</strong>termina9iio como referencia generica. Macei6: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> 'Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Alagoas (UF AL). /Monografia apresenta<strong>da</strong> no S<strong>em</strong>inario <strong>da</strong> disciplina T6picos <strong>em</strong> Sintaxe<br />

Funcional, promovi<strong>da</strong> pela ABRALIN./<br />

__ . (1997b). Facultativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e omissao <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entos verbais. Revista <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>,<br />

Fortaleza, Ediyoes UFC, v. 19, n. V2.. /No preIo./<br />

__ . (1997c). A omissao <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entos verbais. Revista Lingua e Literatura, Sao Paulo,<br />

USP, Ed. Humanitas, n. 23. p.l71-215.<br />

CERVONI, Jean. (1989). A enuncia9iio. Traduyao <strong>de</strong> L. Garcia dos Santos; revisaQ do Prof.<br />

Valter Kehdi. Sao Paulo: Atica. Titulo original: L '(j.nonciation.<br />

CHAFE, Wallace L. (1994). Discourse, consciousness, and time: the flow and displac<strong>em</strong>ent of<br />

conscious experience in speaking and writing. Chicago: The University of Chicago Press.<br />

COPI, Irving M. (1917). Introdu9ao a 16gica. Traduyao <strong>de</strong> Nvaro Cabral. 2. ed .. Sao Paulo:<br />

Mestre Jou, 1978. Titulo original: Introduction to logic.


CORBLIN, Francis. (1985). R<strong>em</strong>arques sur la notion d'anaphore. Revue quebecoise <strong>de</strong><br />

linguistique, Montreal, Universite du Quebec it Montreal, v. 15, n. 1. p.173-95.<br />

CUNHA, Celso F. <strong>da</strong>. (1977). Gramatica <strong>da</strong> lingua portuguesa. 4. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

FENAME.<br />

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley F. (1985). Nova gramatica do portugues cont<strong>em</strong>poraneo.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira.<br />

DU BOIS, J.W.; THOMPSON, S.A. (1991). Dimensoes <strong>de</strong> uma teoria do fluxo<br />

informacional. California: University of California. /Xerocopiadol<br />

DUCROT, Oswald.; TODOROV, Tzvetan. (1988). Dicionario enciclopedico <strong>da</strong>s ciencias <strong>da</strong><br />

linguag<strong>em</strong>. 2. ed. rev. aum. Sao Paulo: Editora Perspectiva.<br />

DUCROT, Oswald. (1977). Principios <strong>de</strong> s<strong>em</strong>antica lingiiistica ~ dizer e niio dizer. Traduyao<br />

<strong>de</strong> Carlos Vogt; Rodolfo Ilari; Rosa A. Figueira. Sao Paulo: Cultrix. Titulo original: Dire et<br />

ne pas dire: principes <strong>de</strong> s<strong>em</strong>antique linguistique.<br />

ERLICH, Konrad. (1982). Anaphora and <strong>de</strong>ixis: same, similar, or different? In: JARVELLA,<br />

R.J.; KLEIN, W. (eds.) Speech, place and action: studies in <strong>de</strong>ixis and related topics. New<br />

York: John Wiley and Sons. p.315-38.<br />

FAVERO, Leonor L.; KOCH, Ingedore G.v. (1983). Lingiiistica textual: uma introduyao. Sao<br />

Paulo: Cortez.<br />

FERREIRA, Aurelio B. <strong>de</strong> H. et alii. (1986). Novo dicionario <strong>da</strong> lingua portuguesa. 2. ed. rev.<br />

aum. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira.


__ . (1982). Towards a <strong>de</strong>scriptive framework for spatial <strong>de</strong>ixis. In: JARVELLA, RJ.;<br />

KLEIN, W. (eds.) Speech, place and action: studies in <strong>de</strong>ixis and related topics. New York:<br />

John Wiley and Sons. p. 31-59.<br />

FlORIN, Jose Luiz. (1996). As astitcias <strong>da</strong> enuncim;iio - as categorias <strong>de</strong> pessoa, espayo e<br />

t<strong>em</strong>po. Sao Paulo: Atica.<br />

FONSECA, Fernan<strong>da</strong> 1. (1992). Deixis, t<strong>em</strong>po e narrar;iio. Porto: Fun<strong>da</strong>yao Engenheiro<br />

Antonio <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>.<br />

GIVON, Talmy. (1990). The grammar of referencial coherence: a cognitive reinterpretation.<br />

__ . Syntax: afunctional-typological introduction. Amster<strong>da</strong>mIPhila<strong>de</strong>lphia: J. 'Benjamins<br />

. v. 2. P 893-944.<br />

GRICE, Paul (1975). Logic and conversation. In: COLE, P.; MORGAN, J. L. (orgs.). Syntax<br />

and s<strong>em</strong>antics. New York: Aca<strong>de</strong>mic Press. v. 2. p.<br />

HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. (1973). Cohesion in spoken and written english. Londres:<br />

Longman.<br />

HEINEMMAN, Wolfgang; Dieter VIEHWEGER. (1991). Textlinguistik. Eine Einfiihrung.<br />

Tiibingen: Ni<strong>em</strong>eyer. .<br />

ILARI, R. (1993). Sobre os adverbios aspectuais. In: ILARI, Rodolfo (org.). Gramatica do<br />

portuguesfalado: niveis <strong>de</strong> analise lingi.iistica. 2. ed. Campinas: Editora <strong>da</strong> UNICAMP. v.<br />

2. p. 151-92.<br />

JAKOB SON, Roman. (1963). Les <strong>em</strong>brayeurs, les categories verbales et Ie verbe russe. In:<br />

Essais <strong>de</strong> linguistique generale. Paris: Les Editions <strong>de</strong> Minuit. p. 176-96.


JESPERSEN, O. (1922). Language: its nature, <strong>de</strong>velopment and origin. 12. ed. London: George<br />

Allen e Unwin, 1964.<br />

KLEIBER. G. et alii (1991). L'anaphore associative: aspects linguistiques. In:<br />

SCHNEDECKER, C. et alii. L 'anaphore associative (aspects linguistiques,<br />

psycholinguistiques et automatiques). Paris: Faculte <strong>de</strong>s Lettres et Sciences Humaines. p. 5-<br />

64.<br />

LAHUD, Michel. (1979). A prop6sito <strong>da</strong> n09GO<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis. Sao Paulo: Atica.<br />

LIMA, Carlos H. <strong>da</strong> R. (1982). Gramatica normativa <strong>da</strong> lingua portuguesa. 22. ed. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Jose Olympio.<br />

LYONS, John. (1979). Introdu9GO a lingiiistica te6rica. Traduyao <strong>de</strong> Rosa Virginia M. Silva e<br />

H. Pimentel. Sao Paulo: Ed. NacionallEDUSP. Titulo original: Introduction to theoretical<br />

linguistics.<br />

__ . (1982). Deixis and subjectivity: loquor, ergo sum? In: JARVELLA, R.J.; KLEIN, W.<br />

(eds.) Speech, place and action: studies in <strong>de</strong>ixis and related topics. New Yark: John Wiley<br />

and Sons. p. 101-23.<br />

MAINGUENEAU, Dominique. (1995). 0 contexto <strong>da</strong> ohra literaria. Traduyao <strong>de</strong> Marina<br />

Appenzeller. Sao Paulo: Martins Fontes.


(1997). A <strong>de</strong>ixis discursiva como estrategia <strong>de</strong> monitoravao cognitiva. In: KOCH,<br />

Ingedore G.Y.; BARROS, Kazue S.M. (orgs.). T6picos <strong>em</strong> lingii.istica <strong>de</strong> texto e analise <strong>da</strong><br />

conversac;iio. Natal: EDUFRN. p. 156-171.<br />

__ . (1995). Fala e escrita: relac;5es vistas num continuum tipol6gico com especial atenc;ao<br />

para os <strong>de</strong>iticos discursivos. Macei6: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas (UFAL). ITexto<br />

apresentado <strong>em</strong> mesa-redon<strong>da</strong> no II ENCONTRO NACIONAL SOBRE FALA E<br />

ESCRIT A. Xerocopiado.l<br />

__ . (1998). Aspectos <strong>da</strong> progressiio referencial na fala e na escrita no portugues. Bedim.<br />

/Trabalho apresentado no Col6quio Internacional <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Xerocopiado.l<br />

__ . (1999a). Por uma pro posta para a classificac;iio dos generos textuais. Recife: <strong>UFPE</strong>.<br />

N ersao provis6ria. Xerocopiado.l<br />

__ . (1999b). A questiio metodol6gica na analise <strong>da</strong> intera9iio verbal: os aspectos qualitativo<br />

e quantitativo. Brasilia: UNB. ITrabalho apresentado no IV Encontro Nacional <strong>de</strong> Interac;ao<br />

<strong>em</strong> Linguag<strong>em</strong> Verbal e Nao-verbal: metodologias qualitativas. Xerocopiado.l<br />

MARCUSCHI, Luiz A.; KOCH, Ingedore G.V. (1998). Estrategias <strong>de</strong> referenciac;ao e<br />

progressao referencial na linguafala<strong>da</strong>. Recife: <strong>UFPE</strong>. IXerocopiado.l<br />

MATEUS, Maria H. M. et alii. (1989). Gramatica <strong>da</strong> lingua portuguesa. 2. ed rev. aum.<br />

Lisboa: Caminho.<br />

MATRAS, Yaron. (1998) Deixis and <strong>de</strong>ictic oppositions in discourse: evi<strong>de</strong>nce from romani.<br />

Journal of Pragmatics, n. 29. p. 393-428.<br />

MONDADA, Lorenza e DUBOIS, Daniele. (1995). Construc;ao dos objetos do discurso e<br />

categorizac;ao: uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> dos processos <strong>de</strong> referenciayao. TRANEL (Travaux<br />

neuchatelois <strong>de</strong> linguistique), n. 23. p. 273-302.


MONDADA, Lorenza. (1994). Verbalisation <strong>de</strong> l'espace et fabrication du savoir: approche<br />

linguistique <strong>de</strong> la construction <strong>de</strong>s objets <strong>de</strong> discours. Tese (Doutorado) - Universite <strong>de</strong><br />

Lausanne.<br />

MONTEIRO, Jose L. (1991). Os pronomes pessoais no portugues do Brasil. Tese (Doutorado)<br />

- Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ).<br />

__ . (1978). Caniter pronominal do artigo <strong>em</strong> portugues. Revista <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, Fortaleza, v. 1, n.<br />

2. p. 44-60.<br />

NEVES, Maria H.M. (1993). Os adverbios circunstanciais <strong>de</strong> lugar e t<strong>em</strong>po. In: ILARI,<br />

Rodolfo (org.). Gramatica do portugues falado: niveis <strong>de</strong> analise linguistica. 2. ed.<br />

Campinas: Editora <strong>da</strong> UNICAMP. v. 2. p. 261-96.<br />

__ . (1987). A lingua g<strong>em</strong> e seu funcionamento: as formas do discurso. 2. ed. rev. aum.<br />

Campinas: Pontes.<br />

PECREUX, Michel. (1995). S<strong>em</strong>dntica e discurso: uma critica it afirmaC;ao do 6bvio. TraduC;ao<br />

<strong>de</strong> Eni P. Orlandi et alii. 2 ed. Campinas: Editora <strong>da</strong> UNICAMP. Titulo original: Les<br />

verites <strong>de</strong> la palice.<br />

PIAGET, Jean; CHOMSKY, Noam et alii. (sid). Teorias <strong>da</strong> lingua g<strong>em</strong>, te:orias <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>. Lisboa: Edic;oes 70.<br />

PRETI, Dino; URBANO, Hudinilson (orgs.). (1997). A linguag<strong>em</strong> fala<strong>da</strong> culta na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Siio Paulo. Sao Paulo: T.A. QueirozIFapesp. v. 4.


PRINCE, Ellen F. (1981). Towards a taxonomy of given-new information. In: COLE, P. (ed.).<br />

Radical Pragmatics. New York: Aca<strong>de</strong>mic Press. p. 223-55.<br />

__ . (1992). The ZPG Letter: subjects, <strong>de</strong>finiteness, and information-status. In: MANN, W.e.;<br />

THOMPSON, S.A . (eds.) Discourse <strong>de</strong>scription: diverse linguistic analyses of a fund-<br />

raising text. Amster<strong>da</strong>n/Phila<strong>de</strong>lph: J. Benjamins. p. 295-325.<br />

TESNIERE, K. (1959). El<strong>em</strong>ents <strong>de</strong> syntaxe structurale. Paris: Klincksieck.<br />

TRA VAGLIA, Luiz e. (1985). 0 aspecto verbal no portugues - a categoria e sua expressao.<br />

UberUindia: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlandia.<br />

VYGOTSKY, Lev S. (1993). Pensamento e linguag<strong>em</strong>. Traduyao <strong>de</strong> Jeferson Luiz Camargo;<br />

revisao tecnica <strong>de</strong> Jose Cipolla Neto. Sao Paulo: Martins Fontes. Titulo original: Thought<br />

and language.


o acervo do PORCUFORT segue completamente as normas <strong>de</strong> transcriyao utiliza<strong>da</strong>s<br />

pelo projeto NURC. Reproduzo, abaixo, urn quadro e1aborado por Preti e Urbano (1997), com<br />

algumas a<strong>da</strong>ptay5es e omiss5es, <strong>em</strong> que as conveny5es se acham resumi<strong>da</strong>mente dispostas e<br />

ex<strong>em</strong>plifica<strong>da</strong>s:<br />

OCORRENCIAS SINAIS EXEMPLIFICA(:AO<br />

Incompreensao <strong>de</strong> segmentos () do nivel <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> Yt ( )<br />

(dificuldoJes na transcrifiio)<br />

Hip6tese do que se ouviu (hip6tese) (estou) meio preocupado<br />

Truncamento (cortes I e come! e reinicia<br />

sinttiticos bruscos)<br />

Entonayao enfatica MAIiJSCULA porque as pessoas reTEM<br />

Prolongamento <strong>de</strong> vogal e<br />

consoante<br />

Silabayao<br />

.. -<br />

.<br />

....<br />

moe<strong>da</strong>s<br />

ao <strong>em</strong>prestar<strong>em</strong> eh::: ..~<br />

dinheiro<br />

por motive tran-sa-yao<br />

Interrogayao<br />

Qualquer pausa<br />

?<br />

...<br />

eo Banco... Central... certo?<br />

Silotres motivos...ou tres<br />

razoes...<br />

Comentarios <strong>de</strong>scritivos do «mimiscula» ((tosse»<br />

transcritor<br />

Superposivao ifala { (NoNURC)<br />

A. na {casa <strong>de</strong> sua irma<br />

simultanea) [[ (NoNELFE) B. {sexta-feira?


1. IndicQffio dos falantes :<br />

SISTEMA MINIMO DE NOTA


informac;5es <strong>de</strong> natureza pros6dica, que foram ignora<strong>da</strong>s por nao ter<strong>em</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> para as fins<br />

aqui propostos.<br />

7) Sugestiio para grafia <strong>de</strong> hesitUfoes, exclatnafoes e dUvi<strong>da</strong>s:<br />

Os casos mais freqiientes sac: ah ou ah:: ; eh ou eh::; ih ou ih::; oh ou oh::; UhID;<br />

uhum; ahn; ahahn; oxe; vi:xe; i:xe.<br />

8) MarcUflio <strong>de</strong> cortes sintaticos bruscos:<br />

Marca-se 0 corte brusco com uma barra. Vma condic;ao para isso e que nao haja pausa entre 0<br />

corte e 0 novo inicio. Quando houver pausa, esta ja marcara 0 fen6meno do corte. A barra s6 e<br />

usa<strong>da</strong> para indicar que a mu<strong>da</strong>nc;a <strong>de</strong> plano sintatico foi abrupta.<br />

9) MarcUflio <strong>de</strong> silabariio ou escanslio <strong>de</strong> palavra:<br />

Quando 0 falante produz urn segmento discursivo, geralmente uma palavra, silaba<strong>da</strong>mente<br />

(como se estivesse escandindo-a), usa-se 0 hifen para marcar 0 fato:<br />

10) Marcariio <strong>de</strong> comentarios ao segmento transcrito:<br />

Quando se quer fazer algum comentario, usam-se parenteses duplos (( » com 0 comentario<br />

no meio. A colocac;ao do comentario v<strong>em</strong> antes ou <strong>de</strong>pois do segmento a que se refere.<br />

11) Marcariio <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na transcririio:<br />

Em geral, marca-se com urn espac;o vazio 0 segmento nao-compreendido ou ininteligive1, pondo<br />

parenteses simples ( ), s<strong>em</strong> na<strong>da</strong> no meio, ou entao, informa-se: (ininte1igivel). As<br />

suposic;5es s6 sac explicita<strong>da</strong>s <strong>em</strong> situac;5es especiais, para sugerir urn possivel sentido; nestes<br />

casos, p5e-se 0 segmento entre parenteses para indicar que a produc;ao nao foi c1aramente<br />

ouvi<strong>da</strong>.<br />

12) <strong>Letras</strong> maiusculas:<br />

S6 se usa maiuscula para indicar enfase, ou entao <strong>em</strong> nomes pr6prios. Os numeros <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

tamb<strong>em</strong> aparecer s<strong>em</strong>pre escritos por extenso.<br />

13) Marcariio <strong>da</strong>fala simultiinea:<br />

o mais comum e que isso acontec;a quando ha mais <strong>de</strong> dois falantes no evento interativo.<br />

Para essa marcac;ao usam-se colchetes duplos.<br />

14) Grafia <strong>de</strong> palavras <strong>em</strong> situariio <strong>de</strong> pronimcia niio-padriio:<br />

A transcric;ao e ortografica, e as variaC;6es minimas segu<strong>em</strong> alguns criterios, como:<br />

a) redu~oes morfologicas estereotipa<strong>da</strong>s: ta (esta), t6 (estou), tive (estive), ne (nao e), come<br />

(como e) e outras <strong>de</strong>ste tipo.<br />

b) varia~oes <strong>de</strong> caniter sociolingiiistico: fumo (fomos), tame (estamos), s<strong>em</strong>o (somos) e<br />

to<strong>da</strong>s as que se achar<strong>em</strong> nesta linha.


c) corre~oes e truncamentos: "e urn assassi e urn assassinato"; "nos qui queriamos"; "ele pi<br />

prometeu ir", etc.<br />

Obs: As prodw;5es-padrao obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre a norma <strong>da</strong> lingua, como a conjun~ao e,que se<br />

pronuncia "i", ou os finais 0 (com som <strong>de</strong> u) Oll as elimina


3. E009 - Cartas do leitor - Jomal do Comercio (Recife, Pe.)<br />

4. E226 - Cartas do leitor - Revista AnaMaria<br />

5. E275 - Cartas do leitor - revista <strong>de</strong> carros<br />

6. E276 - Cartas do leitor - revista <strong>de</strong> informatica<br />

7. Cronica (<strong>de</strong> Carlos Alexandrino) - Jomal <strong>da</strong> OrIa<br />

8. Cronica (<strong>de</strong> Danuza Leao) - Jomal do Brasil<br />

9. Cronica (<strong>de</strong> 1. Ubaldo Ribeiro) - Jomal do Brasil<br />

10. Cronica (<strong>de</strong> L.A. Verissimo) - Jomal do Brasil<br />

11. EO17 - Artigo <strong>de</strong> revista <strong>de</strong> noticias<br />

12. E040 - Projeto Cultural <strong>da</strong> Sec. <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> P<strong>em</strong>ambuc<br />

13. E044 - Carta <strong>de</strong> aluno para professor<br />

14. E048 - Carta <strong>de</strong> aluno para professor<br />

15. E062 - Ata <strong>de</strong> Julgamento<br />

16. E007 -Ata <strong>de</strong> Condominio<br />

17. El27 - Pronunciamento Politico<br />

18. EI28 - Entrevista para jornal (0 Globo)<br />

19. Entrevista para revista (ISTOE)<br />

20. E015 - Entrevista para revista<br />

21. E 165 - Texto Humoristico <strong>de</strong> revista


22. E175 - Coluna Esportiva sobre futebol (<strong>em</strong>jomal) NELFE<br />

23. Coluna Esportiva sobre Formula 1 (<strong>em</strong>jomal) corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

24. Coluna Esportiva sobre futebol (<strong>em</strong>jomal) corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

25. E180 - Noticia <strong>de</strong>jornal- Jomal do Comercio NELFE<br />

26. E218 - Instru~oespara uso <strong>de</strong> equipamento NELFE<br />

27. E257 - Coluna <strong>de</strong> Opiniao <strong>em</strong>jomal NELFE<br />

28. Se~o <strong>de</strong> Opiniao (<strong>de</strong> Barbosa L. Sobrinho) <strong>em</strong> revista NELFE<br />

29. Coluna (noticias <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>) - Joma1 do Brasil corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

30. Texto Publicitario -laboratorio farmaceutico corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

31. Texto PublicitArio - fabrica <strong>de</strong> automoveis corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

32. Artigo cientifico - ensaio para revista literliria corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

33. Artigo cientifico - para revista <strong>de</strong> Lingiiistica corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

34. Conto - Clarice Lispector corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

35. Conto - Moreira Campos corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

1. EF-138 - Aula (S<strong>em</strong>imirio <strong>de</strong> Sociolingiiistica) .<br />

2. EF-152 - Aula sobre encanamento<br />

3. EF-53 - Aula sobre Geografia Astronomica<br />

4. EF-52 - Aula sobre Metodos <strong>da</strong> Geografia<br />

5. F033 - Conferencia Juridica<br />

6. F036 - Reportag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Radio sobre futeboI<br />

7. F040 - <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Radio (noticias, reportag<strong>em</strong>)<br />

8. F037 - Entrevista para TV sobre ensino <strong>de</strong> portugues<br />

9. F041- <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> TV (teIejomal <strong>da</strong> Globo)<br />

I<br />

PORCUFORT<br />

PORCUFORT<br />

PORCUFORT<br />

PORCUFORT<br />

:N'ELFE<br />

I<br />

1 NELFE<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

NELFE


1. D2-39 - Conversa espontanea entre duas senhoras (religiao) PORCUFORT<br />

2. D2-45 - Conversa espontinea entre colegas (trens, atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>) PORCUFORT<br />

3. D2-48 - Conversa espontanea entre profs. (musica, ensino) PORCUFORT<br />

4. FOOl - Conversa telefOnica (entre amigas - gravayao oculta) NELFE<br />

5. F021- Conversa natural (gravayao oculta) NELFE<br />

6. F027 - Conversa natural (gravayao oculta) NELFE<br />

7. F029 - Conversa natural (gravayao oculta) NELFE<br />

8. F034 - Conversa natural (gravayao oculta) NELFE<br />

9. FO18 - Entrevista espontinea (entre amigos) NELFE<br />

10. F035 - Entrevista espontanea (entre amigos) NELFE


1. Conversa on-line (com Beth Carvalho e fas)<br />

2. E002 - Carta pessoal (amigo para amiga)<br />

3. E003 - Carta pessoal (amiga para amiga)<br />

4. E004 - Carta pessoal (primo para prima)<br />

5. E055 - Carta pessoal (amiga para amigo,a)<br />

6. E100 - Carta pessoal (mae para filha)<br />

7. E136 - Carta pessoal (amiga para amiga)<br />

8. E137 - Carta pessoal (amiga para amiga)<br />

9. E 138 - Carta pessoal (amiga para amiga)<br />

10. E144 - Carta pessoal (amiga para amiga)<br />

11. Carta pessoaI (prima para primo)<br />

12. Carta pessoal (primo para prima)<br />

13. E025-E031 - Bilhetes (entre amigos)<br />

14. E167 - Texto humoristico para revista<br />

15. E299 - Texto humoristico para revista<br />

16. E300 - Texto humoristico para revista<br />

17. Noticia <strong>de</strong> jornal popular sobre a COELCE<br />

18. Noticia <strong>de</strong> jornal popular sobre criminali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

19. Noticia <strong>de</strong> jornal popular sobre homicidio<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

NELFE<br />

NELFE .<br />

NELFE<br />

NELFE<br />

corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

corpus compl<strong>em</strong>entar<br />

corpus compl<strong>em</strong>entar

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!