digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE - PPGL ...
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A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> estar no plural, abrangendo outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a presen~a do eu e bastante<br />
perceptivel, tanto que, <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s situa~5es, 0 nos po<strong>de</strong> representar 0 singular, como na<br />
enuncia~ao <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Em portugues, hit urn revezamento entre a gente e nos na expressao do plural gramatical<br />
<strong>da</strong> primeira pessoa. Mas, como observa Benveniste, nos nao significa urn eu quantificado ou<br />
multiplicado, e sim, "urn eu dilatado al<strong>em</strong> <strong>da</strong> pessoa estrita, ao mesmo t<strong>em</strong>po acrescido e <strong>de</strong><br />
simultaneamente, a si proprio, ao ouvinte e a quaisquer outros individuos <strong>em</strong> situa~ao igual,<br />
pois 0 objetivo e pulverizar sua responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre uma opiniao apresenta<strong>da</strong>, e, sobretudo,<br />
insinuar que ela e compartilha<strong>da</strong> por todos. A sele~ao do <strong>de</strong>itico pessoal mo<strong>da</strong>liza 0 discurso, a<br />
urn so t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>scomprometendo 0 sujeito enunciador, por<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixando s<strong>em</strong>pre inscrita a sua<br />
subjetvi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Algo s<strong>em</strong>elhante ocorre com voce na mesma instancia <strong>de</strong> uso. Embora a forma<br />
pronominal seja <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> pessoa (<strong>de</strong>itica), 0 contexto discursivo faz ampliar a referencia<br />
generica, que passa a abranger tamb<strong>em</strong> 0 falante e muitos outros individuos.<br />
Tal amplia~ao ou centrifuga~ao <strong>da</strong> referencia permite, conseqiient<strong>em</strong>ente, dois <strong>em</strong>pregos<br />
opostos, mas nao contraditorios, como l<strong>em</strong>bra Benveniste:<br />
De urn 1ado, 0 "eu" se amplifica por meio <strong>de</strong> "nos" numa pessoa mais<br />
maciya, mais solene e menos <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>; e 0 "nos" <strong>de</strong> majesta<strong>de</strong>. De outro 1ado,<br />
o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> "nos" atenua a afmnayao muito marca<strong>da</strong> <strong>de</strong> "eu" nurna<br />
expressao mais amp1a e difusa: e 0 "nos" <strong>de</strong> autor ou <strong>de</strong> orador. (Benveniste,<br />
1988:258)<br />
Postas no plural, pnmelra e segun<strong>da</strong> pessoas fragment am, pOlS, sua "auto-<br />
referenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>" com a retoma<strong>da</strong> <strong>de</strong> outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s nao-pessoais vagamente sugeri<strong>da</strong>s, 0 que<br />
reduz seu grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>itici<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po que permite variados graus <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sao do sujeito<br />
ao enunciado produzido.<br />
A mo<strong>da</strong>liza~ao - ou engajamento do sujeito enunciador - <strong>de</strong>ixa marcas no enunciado, e os<br />
in<strong>de</strong>terminadores <strong>de</strong>iticos constitu<strong>em</strong> uma <strong>de</strong>las, ja que a <strong>de</strong>ixis e uma expressao <strong>de</strong><br />
subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
A segun<strong>da</strong> especie <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis diretamente <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> a partir do centro <strong>de</strong>itico do falante e a<br />
social. Como e funcionalmente menos produtiva, e como as formas que a codificam reflet<strong>em</strong><br />
relacionamentos sociais, mantidos pelos participantes <strong>da</strong> conversa~ao (Fillmore, 1971)24,<br />
24 Este trabalho, amp1amente divulgado durante mais <strong>de</strong> vinte anos, foi finalmente publicado <strong>em</strong> urn livro com<br />
rarissimos acrescimos <strong>em</strong> Fillmore, 1997,0 qual passamos a referir a partir <strong>de</strong> agora.