digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE - PPGL ...

(39) "Com efeito, Rui de Leao s6 ingere 0 elixir depois de algum
tempo, quando se ve doente e desenganado pelo curandeiro da tribo;
e mesmo assim 0 faz achando que aquele Iiquido iria, quando
muito, cura-Io da febre maligna." ((E) ensaio - artigo cientffico -
corpus complementar).
Por sua vez, a correferencia virtual exigiria identidade material das unidades linguisticas,
isto e, requereria co-significavao das expressoes referenciais, pelo recurso da reiteravao, como
no exemplo:
(40) "As variay6es do fantastico sac tao numerosas que
subvertem a ordem preestabelecida pelas teorias; 0 que nao quer
dizer que essas varia~oes impossibilitem a caracterizac;ao do
fantastico como genero. ((E) ensaio - artigo cientlfico - corpus
complementar)
Note-se que a correferencia virtual presume uma visao de sinonimia perfeita, que 0
proprio autor admite ser uma imagem utopica, por isso inviavel. Alem disso, como observa
Corblin (1985), as linguas nao codificam uma forma especifica para recuperar referentes, de
modo que nem mesmo a repetivao literal de urn termo garante que se va retomar,
necessariamente, a mesma entidade ja mencionada. As estruturas usadas para referir urn objeto
do contexte podem ser as mesmas empregadas para indicar urn elemento da situavao
extralinguistica ou trechos inteiros do discurso. Por isso a amifora, correferencial ou nao, nao
dispoe, a cada vez, de uma categoria formal que a represente. Trata-se de relavoes referenciais
multiformes e nao-especializadas.
Embora ciente de algumas dessas limita90es, Milner (1982), para dar suporte a sua tese da
correferencia virtual, trabalha, entao, com a possibilidade de "intersevao referencial" e de
"inc1usao", permitindo, dessa maneira, que duas referencias virtuais distintas possam ser
virtualmente correferentes por dividirem certos travos em comum.
Conquanto, na anafora nominal, a correferencia virtual se caracterize pela novao de
"identidade" dos tra90s lexicais, as duas ideias nao se equivalem. Vma forte evidencia desta
afirmavao e a existencia da anafora pronominal, pois nao se poderia falar de "identidade
material (lexical)" entre nomes e pronomes. Milner (1982) sugere, em vista disso, que 0
pronome deveria ter a mesma referencia virtual que seu antecedente (ou fonte), ratificando,
assim, a hipotese de correferencia virtual. Entenda-se, deste artificio, que, enquanto, na anafora
nominal, a referencia virtual estaria relacionada com a retomada de propriedades em comum das
unidades lexicais, nos pronomes, ela estaria ligada it recupera'Yao dos tra90s do nome-
antecedente.