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Maio/Junho - Sociedade Brasileira de Anestesiologia

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O futuro da anestesia passa pela<br />

criação <strong>de</strong> novos centros <strong>de</strong> ensino e<br />

treinamento (CET) cre<strong>de</strong>nciados e fi scalizados<br />

pela <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Anestesiologia</strong> (SBA), que vai oferecer<br />

novas vagas no mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

A medicina perioperatória já é uma realida<strong>de</strong><br />

em muitos países, e cabe a nós<br />

incluir no treinamento <strong>de</strong> três a quatro<br />

anos futuros, com períodos <strong>de</strong> seis meses<br />

<strong>de</strong> terapia intensiva e seis meses <strong>de</strong><br />

clínica <strong>de</strong> dor. A dor, que, atualmente,<br />

é subtratada por uma plêia<strong>de</strong> <strong>de</strong> profi<br />

ssionais médicos e paramédicos, nos<br />

quais se incluem neurocirurgiões, reumatologistas<br />

e até “doloristas”, <strong>de</strong>ve<br />

ser urgentemente encampada pelos<br />

serviços <strong>de</strong> anestesiologia para não a<br />

<strong>de</strong>ixarmos “escapar”, como ocorreu<br />

com a terapia intensiva.<br />

As revistas <strong>de</strong> anestesiologia têm<br />

proliferado com melhor triagem das<br />

publicações através <strong>de</strong> seus conselhos<br />

editoriais e normas para os autores. A<br />

leitura <strong>de</strong> artigos, através da internet, será<br />

cada vez mais usual, mas não creio que<br />

somente a leitura eletrônica sobreviverá.<br />

Também não haverá mais necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aparelhos <strong>de</strong> anestesia para<br />

administrar agentes anestésicos – todos<br />

eles serão injetados por via venosa,<br />

com controle preciso sobre as concentrações<br />

plasmáticas e seus efeitos. Os<br />

respiradores terão pouco uso, pois a<br />

maioria das drogas não mais provocará<br />

<strong>de</strong>pressão respiratória, até porque os<br />

procedimentos cirúrgicos já estão sendo<br />

minimamente invasivos. Revascularização<br />

coronariana e troca <strong>de</strong> válvulas<br />

já po<strong>de</strong>m ser realizadas em pacientes<br />

que respiram espontaneamente.<br />

No lugar dos vaporizadores, os<br />

anestésicos serão administrados por<br />

meio <strong>de</strong> bombas <strong>de</strong> infusão computadorizadas.<br />

As concentrações alvocontroladas<br />

po<strong>de</strong>rão ser mais apuradas<br />

para obter o efeito <strong>de</strong>sejado nos<br />

sítios <strong>de</strong> ação. Mo<strong>de</strong>los matemáticos<br />

para calcular o ritmo <strong>de</strong> infusão serão<br />

comuns para se conseguirem concentrações<br />

necessárias para combater estímulos<br />

e obter os efeitos <strong>de</strong>sejados.<br />

Monitores transcutâneos não invasivos<br />

<strong>de</strong> concentrações plasmáticas i<strong>de</strong>ais<br />

12 - mai-jun, 2010 - Anestesia em revista<br />

darão feedback; monitores verda<strong>de</strong>iros<br />

<strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> anestésica po<strong>de</strong>rão<br />

reconhecer os estímulos neuronais<br />

primários e do sistema reticular.<br />

O nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> nos centros cerebrais<br />

superiores também será mostrado,<br />

e o anestesiologista ajustará drogas<br />

altamente específi cas, a fi m <strong>de</strong> obter<br />

o alvo <strong>de</strong>sejado para as vias nervosas<br />

e espinhais, que vão produzir sedação<br />

ou anestesia a<strong>de</strong>quada para cada tipo <strong>de</strong><br />

paciente farmacogeneticamente triado.<br />

Daqui a 40 anos, através também <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>los mutidimensionais, po<strong>de</strong>remos<br />

calcular o sinergismo entre os vários tipos<br />

<strong>de</strong> agente anestésico que sugerirão<br />

combinações a<strong>de</strong>quadas, ou seja, sedação<br />

ou anestesia dirigida alvo-controlada.<br />

4<br />

No futuro, as formas <strong>de</strong> realizar<br />

anestesia terão, ainda, que passar necessariamente<br />

por um acesso venoso.<br />

Daqui a 40 anos, a robótica permitirá<br />

que acessemos uma veia periférica ou<br />

central com o uso <strong>de</strong> ultrassonografi a,<br />

múltiplos sensores, fl uxo sanguíneo<br />

e refl exão <strong>de</strong> ondas eletromagnéticas,<br />

através da hemoglobina e <strong>de</strong> outros<br />

constituintes do sangue, para aplicar<br />

certos artefatos intravenosos. Similarmente,<br />

a entubação traqueal po<strong>de</strong>rá ser<br />

realizada por tecnologia robótica, o que<br />

nos ajudará a alcançar as vias aéreas <strong>de</strong><br />

forma rápida e segura. A maioria dos<br />

pacientes respirará ar ambiente, e não<br />

será necessário oxigênio adicional, pois<br />

a <strong>de</strong>pressão respiratória será mínima. 5<br />

O impacto da tecnologia em nossa<br />

prática tem sido dramática nesses últimos<br />

anos. O potencial <strong>de</strong>sta na anestesiologia<br />

é limitado por nossa inabilida<strong>de</strong> clínica<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntifi car e resolver os problemas.<br />

Não po<strong>de</strong>mos também esquecer<br />

que as tradicionais relações <strong>de</strong> trabalho<br />

estão se modifi cando e estão<br />

se <strong>de</strong>senvolvendo novas abordagens<br />

éticas, médico-legais e <strong>de</strong> controle <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong>. Estamos, <strong>de</strong> um lado, com<br />

menos pessoal treinado para administrar<br />

a anestesia, o que exige maior<br />

número <strong>de</strong> profi ssionais, e <strong>de</strong> outro,<br />

sofrendo imposição para redução <strong>de</strong><br />

custos. Assim, o futuro da anestesiologia<br />

está na medicina perioperatória.<br />

O futuro passa, ainda, por alterações<br />

dos mo<strong>de</strong>los ora vigentes,<br />

aos quais somos apegados. Como<br />

especialistas, <strong>de</strong>vemos tomar <strong>de</strong>cisões<br />

conscientes, agir e direcionar a<br />

anestesiologia para que ela sobreviva<br />

nos próximos 40 anos. Decisões impensadas<br />

po<strong>de</strong>rão gerar graves consequências.<br />

Sem a <strong>de</strong>vida posição e<br />

mantendo as regras vigentes, po<strong>de</strong><br />

ser pior. Devemos nos engajar, juntos<br />

com as socieda<strong>de</strong>s e os conselhos médicos,<br />

para que sejamos reconhecidos<br />

e tenhamos igual lugar entre as especialida<strong>de</strong>s<br />

médicas. Deveríamos fazer<br />

parte da solução ou do problema? 6<br />

As novas tecnologias <strong>de</strong> administração<br />

<strong>de</strong> agentes anestésicos serão<br />

baseadas em parâmetros infi nitamente<br />

mais complexos. Tal é a magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

interação <strong>de</strong>sses parâmetros que, por<br />

certo, só daqui a 40 anos po<strong>de</strong>rão ser<br />

operados em bases científi cas, que exigirão<br />

dos profi ssionais maior e melhor<br />

conhecimento do que os empregados<br />

atualmente; esse profi ssional será necessariamente<br />

o médico anestesiologista.<br />

Para fi nalizar, citamos John F. Kennedy:<br />

“Mudança é uma lei da vida.<br />

Aqueles que olham somente para o<br />

passado ou para o presente serão certamente<br />

os que per<strong>de</strong>rão o futuro.”<br />

Referências<br />

1 - Beecher HK, Todd DP. A study of <strong>de</strong>aths<br />

association with anesthesia and<br />

surgery. Ann Surg, 149:2-34; 1954.<br />

2 - Feldman JM. Anesthesia technology.<br />

ASA Newsletter, 68:5-6; 2004.<br />

3 - Lienhart A, Auroy Y, Péquignot F<br />

et al. Survey of anesthesia-related<br />

mortality in France. Anesthesiology,<br />

105:1087-1097; 2006.<br />

4 - Johnstone RE. The future of anesthesia<br />

practices: views from the conference<br />

on practice management.<br />

ASA Newsletter, 71:7-10; 2007.<br />

5 - Murray WB. The future of anesthesia <strong>de</strong>livery.<br />

ASA Newsletter, 68:7-8; 2004.<br />

6 - Bacon DR. Changing the status quo.<br />

ASA Newsletter, 71:1-2; 2007.<br />

*Carlos Alberto da Silva Júnior é<br />

anestesiologista do Hospital Infantil Joana <strong>de</strong><br />

Gusmão, em Florianópolis, SC. Foi professor titular<br />

<strong>de</strong> anestesiologia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina, é corresponsável pelo CET Integrado da<br />

Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Catarina e<br />

ex-Clinical Research Fellow do Hospital Infantil da<br />

Colúmbia Britânica (BC), Canadá.

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