Maio/Junho - Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Maio/Junho - Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Maio/Junho - Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O futuro da anestesia passa pela<br />
criação <strong>de</strong> novos centros <strong>de</strong> ensino e<br />
treinamento (CET) cre<strong>de</strong>nciados e fi scalizados<br />
pela <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Anestesiologia</strong> (SBA), que vai oferecer<br />
novas vagas no mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />
A medicina perioperatória já é uma realida<strong>de</strong><br />
em muitos países, e cabe a nós<br />
incluir no treinamento <strong>de</strong> três a quatro<br />
anos futuros, com períodos <strong>de</strong> seis meses<br />
<strong>de</strong> terapia intensiva e seis meses <strong>de</strong><br />
clínica <strong>de</strong> dor. A dor, que, atualmente,<br />
é subtratada por uma plêia<strong>de</strong> <strong>de</strong> profi<br />
ssionais médicos e paramédicos, nos<br />
quais se incluem neurocirurgiões, reumatologistas<br />
e até “doloristas”, <strong>de</strong>ve<br />
ser urgentemente encampada pelos<br />
serviços <strong>de</strong> anestesiologia para não a<br />
<strong>de</strong>ixarmos “escapar”, como ocorreu<br />
com a terapia intensiva.<br />
As revistas <strong>de</strong> anestesiologia têm<br />
proliferado com melhor triagem das<br />
publicações através <strong>de</strong> seus conselhos<br />
editoriais e normas para os autores. A<br />
leitura <strong>de</strong> artigos, através da internet, será<br />
cada vez mais usual, mas não creio que<br />
somente a leitura eletrônica sobreviverá.<br />
Também não haverá mais necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> aparelhos <strong>de</strong> anestesia para<br />
administrar agentes anestésicos – todos<br />
eles serão injetados por via venosa,<br />
com controle preciso sobre as concentrações<br />
plasmáticas e seus efeitos. Os<br />
respiradores terão pouco uso, pois a<br />
maioria das drogas não mais provocará<br />
<strong>de</strong>pressão respiratória, até porque os<br />
procedimentos cirúrgicos já estão sendo<br />
minimamente invasivos. Revascularização<br />
coronariana e troca <strong>de</strong> válvulas<br />
já po<strong>de</strong>m ser realizadas em pacientes<br />
que respiram espontaneamente.<br />
No lugar dos vaporizadores, os<br />
anestésicos serão administrados por<br />
meio <strong>de</strong> bombas <strong>de</strong> infusão computadorizadas.<br />
As concentrações alvocontroladas<br />
po<strong>de</strong>rão ser mais apuradas<br />
para obter o efeito <strong>de</strong>sejado nos<br />
sítios <strong>de</strong> ação. Mo<strong>de</strong>los matemáticos<br />
para calcular o ritmo <strong>de</strong> infusão serão<br />
comuns para se conseguirem concentrações<br />
necessárias para combater estímulos<br />
e obter os efeitos <strong>de</strong>sejados.<br />
Monitores transcutâneos não invasivos<br />
<strong>de</strong> concentrações plasmáticas i<strong>de</strong>ais<br />
12 - mai-jun, 2010 - Anestesia em revista<br />
darão feedback; monitores verda<strong>de</strong>iros<br />
<strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> anestésica po<strong>de</strong>rão<br />
reconhecer os estímulos neuronais<br />
primários e do sistema reticular.<br />
O nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> nos centros cerebrais<br />
superiores também será mostrado,<br />
e o anestesiologista ajustará drogas<br />
altamente específi cas, a fi m <strong>de</strong> obter<br />
o alvo <strong>de</strong>sejado para as vias nervosas<br />
e espinhais, que vão produzir sedação<br />
ou anestesia a<strong>de</strong>quada para cada tipo <strong>de</strong><br />
paciente farmacogeneticamente triado.<br />
Daqui a 40 anos, através também <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>los mutidimensionais, po<strong>de</strong>remos<br />
calcular o sinergismo entre os vários tipos<br />
<strong>de</strong> agente anestésico que sugerirão<br />
combinações a<strong>de</strong>quadas, ou seja, sedação<br />
ou anestesia dirigida alvo-controlada.<br />
4<br />
No futuro, as formas <strong>de</strong> realizar<br />
anestesia terão, ainda, que passar necessariamente<br />
por um acesso venoso.<br />
Daqui a 40 anos, a robótica permitirá<br />
que acessemos uma veia periférica ou<br />
central com o uso <strong>de</strong> ultrassonografi a,<br />
múltiplos sensores, fl uxo sanguíneo<br />
e refl exão <strong>de</strong> ondas eletromagnéticas,<br />
através da hemoglobina e <strong>de</strong> outros<br />
constituintes do sangue, para aplicar<br />
certos artefatos intravenosos. Similarmente,<br />
a entubação traqueal po<strong>de</strong>rá ser<br />
realizada por tecnologia robótica, o que<br />
nos ajudará a alcançar as vias aéreas <strong>de</strong><br />
forma rápida e segura. A maioria dos<br />
pacientes respirará ar ambiente, e não<br />
será necessário oxigênio adicional, pois<br />
a <strong>de</strong>pressão respiratória será mínima. 5<br />
O impacto da tecnologia em nossa<br />
prática tem sido dramática nesses últimos<br />
anos. O potencial <strong>de</strong>sta na anestesiologia<br />
é limitado por nossa inabilida<strong>de</strong> clínica<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntifi car e resolver os problemas.<br />
Não po<strong>de</strong>mos também esquecer<br />
que as tradicionais relações <strong>de</strong> trabalho<br />
estão se modifi cando e estão<br />
se <strong>de</strong>senvolvendo novas abordagens<br />
éticas, médico-legais e <strong>de</strong> controle <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong>. Estamos, <strong>de</strong> um lado, com<br />
menos pessoal treinado para administrar<br />
a anestesia, o que exige maior<br />
número <strong>de</strong> profi ssionais, e <strong>de</strong> outro,<br />
sofrendo imposição para redução <strong>de</strong><br />
custos. Assim, o futuro da anestesiologia<br />
está na medicina perioperatória.<br />
O futuro passa, ainda, por alterações<br />
dos mo<strong>de</strong>los ora vigentes,<br />
aos quais somos apegados. Como<br />
especialistas, <strong>de</strong>vemos tomar <strong>de</strong>cisões<br />
conscientes, agir e direcionar a<br />
anestesiologia para que ela sobreviva<br />
nos próximos 40 anos. Decisões impensadas<br />
po<strong>de</strong>rão gerar graves consequências.<br />
Sem a <strong>de</strong>vida posição e<br />
mantendo as regras vigentes, po<strong>de</strong><br />
ser pior. Devemos nos engajar, juntos<br />
com as socieda<strong>de</strong>s e os conselhos médicos,<br />
para que sejamos reconhecidos<br />
e tenhamos igual lugar entre as especialida<strong>de</strong>s<br />
médicas. Deveríamos fazer<br />
parte da solução ou do problema? 6<br />
As novas tecnologias <strong>de</strong> administração<br />
<strong>de</strong> agentes anestésicos serão<br />
baseadas em parâmetros infi nitamente<br />
mais complexos. Tal é a magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
interação <strong>de</strong>sses parâmetros que, por<br />
certo, só daqui a 40 anos po<strong>de</strong>rão ser<br />
operados em bases científi cas, que exigirão<br />
dos profi ssionais maior e melhor<br />
conhecimento do que os empregados<br />
atualmente; esse profi ssional será necessariamente<br />
o médico anestesiologista.<br />
Para fi nalizar, citamos John F. Kennedy:<br />
“Mudança é uma lei da vida.<br />
Aqueles que olham somente para o<br />
passado ou para o presente serão certamente<br />
os que per<strong>de</strong>rão o futuro.”<br />
Referências<br />
1 - Beecher HK, Todd DP. A study of <strong>de</strong>aths<br />
association with anesthesia and<br />
surgery. Ann Surg, 149:2-34; 1954.<br />
2 - Feldman JM. Anesthesia technology.<br />
ASA Newsletter, 68:5-6; 2004.<br />
3 - Lienhart A, Auroy Y, Péquignot F<br />
et al. Survey of anesthesia-related<br />
mortality in France. Anesthesiology,<br />
105:1087-1097; 2006.<br />
4 - Johnstone RE. The future of anesthesia<br />
practices: views from the conference<br />
on practice management.<br />
ASA Newsletter, 71:7-10; 2007.<br />
5 - Murray WB. The future of anesthesia <strong>de</strong>livery.<br />
ASA Newsletter, 68:7-8; 2004.<br />
6 - Bacon DR. Changing the status quo.<br />
ASA Newsletter, 71:1-2; 2007.<br />
*Carlos Alberto da Silva Júnior é<br />
anestesiologista do Hospital Infantil Joana <strong>de</strong><br />
Gusmão, em Florianópolis, SC. Foi professor titular<br />
<strong>de</strong> anestesiologia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa<br />
Catarina, é corresponsável pelo CET Integrado da<br />
Secretaria Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Catarina e<br />
ex-Clinical Research Fellow do Hospital Infantil da<br />
Colúmbia Britânica (BC), Canadá.