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Maio/Junho - Sociedade Brasileira de Anestesiologia

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são da ação sistêmica <strong>de</strong>sses agentes:<br />

a rotulação <strong>de</strong> veneno maliciosamente<br />

dada aos anestésicos locais. 3 Seguramente,<br />

pela ênfase que o termo pejorativo<br />

suscita, parece mais uma tentativa<br />

para a justifi cativa e a aceitação da<br />

emulsão lipídica – o antídoto para o<br />

“veneno”!<br />

Curiosamente, existe uma periodicida<strong>de</strong><br />

nas publicações que tratam<br />

da intoxicação oriunda dos anestésicos<br />

locais que coinci<strong>de</strong> com o ciclo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sses compostos.<br />

1 Por isso, essa orientação não foi<br />

a primeira a alertar os praticantes da<br />

técnica regional quanto a esses efeitos<br />

potenciais. Assim tivemos:<br />

I – A era da cocaína e <strong>de</strong> seus<br />

sucedâneos:<br />

Quando a cocaína foi introduzida,<br />

suas ações sobre os canais iônicos<br />

<strong>de</strong> outras estruturas offshore<br />

(fora do local aplicado) causaram<br />

êxito letal em gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pacientes.<br />

Isso suscitou a preocupação<br />

dos estudiosos quanto ao diagnóstico<br />

e tratamento dos efeitos in<strong>de</strong>sejados,<br />

e durante mais <strong>de</strong> um século<br />

foram estabelecidas diretrizes para<br />

reverter essa ação a distância, responsável<br />

pelos efeitos <strong>de</strong>sastrosos.<br />

Essa ação ocorria porque o agente<br />

que escapava do local restrito on<strong>de</strong><br />

foi aplicado provocava o mesmo<br />

efeito que se observa no nervo, qual<br />

seja estado <strong>de</strong> anestesia. Lato sensu<br />

os anestésicos locais “anestesiam”<br />

todas as membranas <strong>de</strong> células excitáveis<br />

do organismo, como faz com<br />

as membranas das fi bras nervosas.<br />

Assim, são atingidos os tecidos modifi<br />

cados do sistema <strong>de</strong> condução<br />

do coração (marca-passo, fi bras <strong>de</strong><br />

His e <strong>de</strong> Purkinje), as estruturas<br />

neurais do sistema nervoso central<br />

etc., que se “anestesiados” retardam<br />

e/ou impe<strong>de</strong>m a passagem do impulso<br />

nervoso.<br />

II – A era estereoisomérica ou<br />

do carbono assimétrico:<br />

Com a obtenção do <strong>de</strong>senho<br />

químico que resultou no esqueleto<br />

pipecolilxilidida – a curiosa conjunção<br />

<strong>de</strong> uma porção da molécula<br />

da lidocaína (xilidida) acoplada à<br />

estrutura terminal e modificada da<br />

cocaína (pipecolil) –, este multiplicou<br />

a oferta <strong>de</strong> compostos a serviço<br />

da anestesia regional:<br />

a) em razão da inclusão dos radicas<br />

metil, butil e propril,<br />

que triplicaram a obtenção <strong>de</strong><br />

compostos dotados <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />

anestésica local;<br />

b) porque um carbono assimétrico<br />

foi incluído na fórmula para<br />

conferir duplicação da molécula,<br />

o que permitiu separação<br />

isomérica e combinações através<br />

da manipulação entre isômeros<br />

(simocaína e mixcaína,<br />

por exemplo), ampliando, <strong>de</strong>ssa<br />

maneira, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

obtenção <strong>de</strong> outros compostos<br />

através da estereoisomeria. 1<br />

Os compostos originais mepivacaína,<br />

bupivacaína e propivacaína, com<br />

potências diferentes e longa duração<br />

<strong>de</strong> ação, além <strong>de</strong> serem efi cazes para o<br />

bloqueio do nervo, mostraram também<br />

capacida<strong>de</strong> para as outras entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tentoras<br />

<strong>de</strong> canais iônicos.<br />

Logo, pari passu com a potência<br />

bloqueadora a serviço da clínica,<br />

qualquer escapada do anestésico local<br />

para outras estruturas é motivo para<br />

o mesmo mecanismo <strong>de</strong> ação, porque<br />

carece <strong>de</strong> seletivida<strong>de</strong>. Do que resultam<br />

efeitos mais dramáticos em fi bras<br />

excitáveis, como o já mencionado<br />

sistema <strong>de</strong> condução do coração, as<br />

fi bras <strong>de</strong> contração miocárdicas e<br />

as fi bras nervosas inibitórias do sistema<br />

nervoso central, quando são<br />

“anestesiadas”.<br />

O Relatório Albright agitou os<br />

praticantes da anestesia regional<br />

ante a severida<strong>de</strong> do bloqueio que<br />

os anestésicos locais mais potentes<br />

e <strong>de</strong> duração prolongada provocavam.<br />

E as atenções se voltaram para<br />

a bupivacaína e a etidocaína, que<br />

causavam colapso cardiocirculatório<br />

severíssimo.<br />

As diretrizes adotadas perante<br />

os episódios in<strong>de</strong>sejáveis foram<br />

focadas na dramática toxicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reversão difícil senão<br />

impossível. Teve participação<br />

importante nessas orientações<br />

o venerável professor Daniel<br />

Moore, <strong>de</strong> Seatle, Estados Unidos,<br />

que associou a hipóxia e a<br />

acidose induzida pela ação dos<br />

anestésicos locais aos “estragos”<br />

causados em outras estruturas<br />

que não o nervo periférico. E recomendou<br />

a adoção das normas<br />

constantes do Advanced Cardiac<br />

Life Support, orientação que sobrevive<br />

até hoje, sem discussão<br />

e sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medidas<br />

drásticas.<br />

III – A era isomérica pura ou<br />

homoquiral:<br />

Com o avanço na separação<br />

isomérica, a obtenção da propivacaína<br />

homoquiral (ropivacaína) e a<br />

resolução da mistura racêmica da<br />

bupivacaína (a levobupivacaína),<br />

havia evidência, baseada em experimentos<br />

<strong>de</strong> pesquisas básicas, que<br />

<strong>de</strong>monstrou menor ativida<strong>de</strong> anestésica<br />

local do isômero esquerdo<br />

e, por consequência, menor toxicida<strong>de</strong><br />

sistêmica. Existe um consen-<br />

Anestesia em revista - mai-jun, 2010 - 15

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