Maio/Junho - Sociedade Brasileira de Anestesiologia
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2) Finalmente, o tamanho das<br />
gotículas, que num crescendo<br />
po<strong>de</strong>:<br />
a) sofrer fagocitose até promover<br />
resposta infl amatória;<br />
b) favorecer a coalescência, se<br />
houver doses elevadas, o que<br />
leva à embolização gordurosa.<br />
A nanotecnologia avança<br />
entre nós<br />
Naturalmente, como proteção<br />
para esses efeitos colaterais, a nanopartícula<br />
lipídica foi experimentada<br />
na reversão da superdosagem<br />
da bupivacaína. 3 Parece que sua efi -<br />
cácia não foi superior à da emulsão<br />
convencional.<br />
Enquanto isso, a nanotecnologia<br />
ganhou espaço na indústria farmacêutica<br />
brasileira com a novida<strong>de</strong><br />
que foi apresentada na 7ª COPA: a<br />
“nanotecnização” da emulsão lipídica<br />
para veículo do propofol. Esse<br />
veículo “nanotecnizado” reduz as<br />
gotículas da emulsão à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
10-9 (<strong>de</strong>z a menos nove molar), o<br />
que <strong>de</strong>verá prevenir a coalescência<br />
gordurosa que leva à embolização<br />
microvascular, que po<strong>de</strong> acontecer<br />
com altas doses <strong>de</strong> propofol. Pelo<br />
avanço tecnológico que chegou a<br />
nosso país, bem que po<strong>de</strong>ríamos<br />
utilizar a emulsão lipídica nanotecnizada<br />
à guisa <strong>de</strong> experimentação<br />
animal!<br />
Mais importante ainda, po<strong>de</strong>rse-ia<br />
confi rmar se a emulsão lipídica<br />
convencional, <strong>de</strong> fato, é o “antídoto”<br />
inócuo para o “veneno anestésico<br />
local” sem o perigo <strong>de</strong> “morbida<strong>de</strong><br />
e/ou <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> pós-ressuscitação...”<br />
A inexistência <strong>de</strong> referências na<br />
literatura sobre o acompanhamento<br />
(follow-up) dos humanos “salvos”<br />
pela emulsão lipídica a 20% (1,5<br />
mg/kg, seguidos <strong>de</strong> 0,25mg/kg em<br />
infusão contínua) não permite uma<br />
discussão mais abalizada sobre se “é<br />
pior a emenda que o soneto”, consi<strong>de</strong>rando<br />
o cortejo <strong>de</strong> efeitos colaterais<br />
do óleo <strong>de</strong> soja e da gema <strong>de</strong> ovo<br />
injetados na vigência <strong>de</strong> um colapso<br />
cardiocirculatório.<br />
O sal da vida: solução<br />
hipertônica <strong>de</strong> NaCl a 7,5%<br />
Tais efeitos colaterais passíveis <strong>de</strong><br />
acontecer com a emulsão lipídica vêm<br />
se contrapor ao “salgadão” (cloreto<br />
<strong>de</strong> sódio hipertônico), que “equilibra<br />
o <strong>de</strong>sequilíbrio” da homeostase do<br />
organismo causado pela “anestesia”<br />
<strong>de</strong> estruturas vitais induzida pelos<br />
anestésicos locais. E o faz sem danos<br />
e sem a pretensão <strong>de</strong> ser antídoto.<br />
Pena que tem nacionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarada:<br />
brasileira...<br />
O anestésico local do futuro<br />
Se não tem tu, vai tu mesmo, porque<br />
a anestesia regional, na verda<strong>de</strong>, se ressente<br />
do “anestésico local do futuro”,<br />
aquela molécula <strong>de</strong>senhada para ser<br />
seletiva apenas para os receptores dos<br />
canais iônicos resi<strong>de</strong>ntes nas estruturas<br />
neurais passáveis <strong>de</strong> serem bloqueados,<br />
em benefício da anestesia regional: nervos<br />
periféricos e espinhais.<br />
E que essa molécula fosse indiferente<br />
ao coração e ao juízo, pois essas<br />
duas entida<strong>de</strong>s respon<strong>de</strong>m pela harmonia<br />
vital e se dominadas “bagunçam”<br />
a homeostase...<br />
Há muitos anos, quando os relaxantes<br />
musculares <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser<br />
curares, pois passaram a ser filhos<br />
do Chondo<strong>de</strong>ndron tomentosum e<br />
obtidos sinteticamente, pensou-se<br />
em criar um <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte que fosse<br />
seletivo para os receptores da<br />
junção neuromuscular, <strong>de</strong>ixando<br />
os receptores do diafragma livres.<br />
Nunca se conseguiu esse <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato,<br />
apenas foram obtidos agentes<br />
<strong>de</strong> ação mais rápida. Nem por<br />
isso os relaxantes musculares são<br />
consi<strong>de</strong>rados venenos, muito pelo<br />
contrário, <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> sê-los.<br />
A concepção futurística do<br />
anestésico local “i<strong>de</strong>al”<br />
Enquanto isso, esperamos que saia<br />
do Brasil o anestésico local do futuro,<br />
pois aqui não faltam i<strong>de</strong>ias luminosas<br />
que po<strong>de</strong>m exorcizar o espectro <strong>de</strong>moníaco<br />
que paira nas salas cirúrgicas...<br />
Um anestésico local seletivo e<br />
discriminatório seria nosso “tu”... E<br />
com ele po<strong>de</strong>ríamos ir...<br />
Assim, a sigla LAST seria a “última”<br />
(na acepção da tradução) apelação<br />
para nunca mais ser mencionada, graças<br />
ao anestésico local do futuro que<br />
discriminaria canais iônicos “in<strong>de</strong>sejáveis”,<br />
livrando-nos dos espíritos malignos<br />
que andam por este mundo a fi m<br />
<strong>de</strong> perverter as almas... Cor Jesu sacratissimum,<br />
miserere nobis. Amém!<br />
Referências<br />
1 - Simonetti MPBS. A epopeia do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
dos anestésicos<br />
locais. Em: Curso <strong>de</strong> Educação a<br />
Distância em <strong>Anestesiologia</strong>. Vol.<br />
VII; 2007:162-178.<br />
2 - Neal JM et al. ASRA practice advisory<br />
on local anesthetic systemic<br />
toxicity. Reg Anesth Pain Med.<br />
2010; 35:152-161.<br />
3 - Weinberg GI. Treatment of local<br />
anesthetic toxicity (LAST). Reg<br />
Anesth Pain Med. 2010; 35:188-<br />
193.<br />
4 - Simonetti MPB. Emulsão lipídica:<br />
bala <strong>de</strong> prata (silver bullet) ou martelo<br />
dourado (gol<strong>de</strong>m hammer)?<br />
Anestesia em Revista, 2007:18-<br />
20.<br />
*Maria P. B. Simonetti é professora<br />
<strong>de</strong> farmacologia do Instituto <strong>de</strong> Ciências<br />
Biomédicas (ICB) da USP.<br />
Anestesia em revista - mai-jun, 2010 - 17