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Thales Castro - Teoria Das Relações Internacionais - funag

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mETODOLOGIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS<br />

não lúcido repartido em imagens, ecos, sons, forma, texturas e, sobretudo, fome na<br />

alma. Entre o nada e a percepção do nada só restam as telenovelas, o conformismo e<br />

a miséria humana repartida também de forma desigual. Estamos na bissetriz de uma<br />

forma revisitada do mal do século.<br />

Passamos de uma cultura ágrafa para uma cultura digital na rapidez de um download<br />

de arquivo anexo à mensagem eletrônica. O amor virtual não mata a sede nem<br />

tampouco elimina a essencialidade do afeto tocado. Os resquícios desse amplo processo<br />

falsamente reformista serão novas exclusões, descumprindo as elevadas promessas de<br />

participação dos “deficientes cívicos” (Milton Santos) no novo processo produtivo<br />

com progresso material legítimo. De forma frustrante, tais promessas de melhoria<br />

e de pacificação pela via democratizante, pelos valores liberais do mercado e pelos<br />

anseios por resgate humanista permanecem inertes. Imperativa é a necessidade não de<br />

maximização incessante de lucro, mas de maximização da justiça social distributiva.<br />

É por isso que o imperativo ético e o idealismo têm se resumido a uma retórica oca e a<br />

uma estética ocidentalizante banal. A impessoalidade do deus mercado somente trouxe<br />

novas formas de opressão, com sutis máscaras de alienação ontológica, formando o<br />

fluxo contínuo do terceiro estado na alvorada do século XXI. Esse terceiro estado<br />

que também se articula em forma de redes moduladas, imbuídas de ondas cíclicas.<br />

Como nada se conclui, então estamos vendo, repetidamente, os caranguejos em cores<br />

matizadas e hologramas dos mangues recifenses que tanto inspiraram Josué de <strong>Castro</strong><br />

e sublimaram o cancioneiro de Chico Science e a Nação Zumbi. É como se fôssemos<br />

atores coadjuvantes no teatro do absurdo em que Godot é que está a nossa espera. A<br />

flexibilização, a verticalização da cadeia produtiva e o pós-fordismo são ferramentas<br />

ingratas da exclusão causada pelo Leviatã exaurido. Nunca chegamos tão perto do<br />

fim – não da história ou do último homem de Fukuyama – mas sim, do mundo da<br />

esperança. Tão mais próximos estamos do necessário renascimento do que durante as<br />

trincheiras da primeira guerra, da desconstrução do humano em Auschwitz-Birkenau<br />

(“Arbeit macht frei”), ou de Hiroshima e Nagasaki, ou ainda da Crise dos Mísseis de<br />

Cuba de 1962. E a flor deverá nascer em meio às rachaduras da rocha torturada pelo sol.<br />

O economicismo, o historicismo, o politicismo – todos inegavelmente – só conseguem<br />

reformar, parcialmente, a reedição freudiana do “mal-estar na civilização”. A pulsão<br />

por morte do ser humano continua altiva em um intuito de obstruir o legado do<br />

iluminismo e a da racionalidade humana. Talvez hoje para servir de unguento<br />

tenhamos que nos bastar com a razoabilidade e não a racionalidade ou mesmo a razão<br />

iluminista dos revolucionários franceses que depuseram o ancien regime sob a égide<br />

tripla da igualdade-liberdade-fraternidade em 1789 ou ainda do idealismo kantiano<br />

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