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Thales Castro - Teoria Das Relações Internacionais - funag

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PRAXEOLOGIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS<br />

disso, as guerras internas ou entre Estados podem trazer, dependendo de sua<br />

intensidade, de sua casus belli ou de suas consequências, questionamentos<br />

da ordem mundial posta na esfera micro, meso e macrossistêmica. Fruto<br />

da percepção equivocada do outro muitas vezes por um processo de<br />

“demonização” ou de “desumanização” do inimigo, 688 e das falhas de<br />

comunicação e análise, as guerras surgem como oportunidade de ganho<br />

sobre a parte adversária, forçando-a a submeter aos objetivos traçados<br />

pela estratégica político-militar. A importância do sentido profundo da<br />

alteridade (essencialidade do outro) pode ser um fato na redução das<br />

animosidades potencializadoras de instabilidade e beligerância.<br />

Outro elemento essencial desse contexto é o planejamento<br />

empregado como input do processo decisório de provocar uma<br />

beligerância. Não convém aqui adentrar na discussão muito rica dos<br />

sistemas de planejamento de emprego das forças armadas de acordo<br />

com o grau de ameaça, pois estaríamos desviando o foco temático do<br />

presente capítulo. De qualquer maneira, fica à guisa de reflexão os muitos<br />

pontos aqui levantados para uma necessária e mais ampla avaliação da<br />

relação entre forças armadas, estratégias políticas e arranjos decisórios<br />

institucionais.<br />

Os atores políticos calculam suas atitudes belicistas por meio<br />

da realidade cognitiva. Isto é, calculam, racionalizam e decidem sobre<br />

o empreendimento da guerra. Ao fazerem isso, devem manter claros<br />

objetivos políticos. Sun Tzu em A Arte da Guerra já nos alertava que uma<br />

guerra não deve ser causada e travada pelo sentimento de vingança ou<br />

mesmo de punitividade. Pelo contrário, a fria racionalidade instrumental<br />

serve de norte para as ações belicistas se desejarem ser exitosas. Aliás, o<br />

próprio Sun Tzu tem uma frase de profundo impacto em sua obra: “O<br />

verdadeiro objetivo da guerra é a paz”.<br />

Em cada ato de beligerância, há muitos custos envolvidos. Para<br />

uma análise crítica, portanto, da segurança internacional e coletiva –<br />

sabendo-se que ambas são distintas – importante é entender as causas<br />

racionalizadas dos conflitos armados na visão do(s) policymaker(s)<br />

capacitado em empreender a beligerância.<br />

É, nesse sentido, que se tem o racionalismo da “utilidade<br />

esperada” do ato de inciar uma guerra. 689 A eclosão de uma guerra pelo<br />

mero ato de vontade unilateral ou unipessoal sem a devida racionalização<br />

688 A propaganda nazista intensificava no processo de desumanização do “inimigo” – as raças inferiores comparando-as a<br />

ratos e baratas. A brutalidade dessa mensagem acabava por justificar a aceitação e cooperação social das atrocidades<br />

nazistas. No genocídio em Ruanda de abril a junho de 1994, a desumanização ocorrida entre os grupos hutus e tutsies<br />

é outro exemplo desse processo de destruição da alteridade (rejeição da importância do outro).<br />

689 ROuRKE, John. International Politics on the World Stage. Op. cit. p. 395.<br />

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