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Thales Castro - Teoria Das Relações Internacionais - funag

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INTRODuÇãO<br />

Habsburgos e por isso não hesitou em usar, plenamente, as artimanhas da<br />

força a serviço do poder estatal francês, tendo como prumo seus interesses<br />

estratégicos de longo prazo. À época, a França católica deveria, como se<br />

pressupunha pela aliança religiosa, apoiar a Espanha e a Áustria-Hungria<br />

dos Habsburgos, porém, influenciada pela raison d’état de Richelieu,<br />

acabou entrando na guerra, a partir de 1635, ao lado dos principados<br />

sueco-germânicos de linha protestante. A lógica de força-poder-interesse<br />

de Richelieu era a de derrotar e enfraquecer a Espanha e a própria<br />

Áustria-Hungria mesmo contradizendo sua vinculação religiosa católica<br />

e lealdade ao papado. O jogo de poder do religioso era, essencialmente,<br />

amoral, levando às últimas consequências o cálculo utilitarista no tabuleiro<br />

de xadrez do coração da Europa. O Cardeal Mazarin 13 sucedeu Richelieu<br />

na condição de Primeiro Ministro de Luís XIII e de Luís XIV até sua morte<br />

em 1661, mantendo a mesma linha de estratégia calculista-realista do seu<br />

antecessor, cuja frieza visava ao aumento do poderio francês por meio de<br />

alianças unilateralmente interessadas, com a imposição de força militar<br />

quando necessário. 14 Nesse tocante, Mazarin foi, igualmente, pródigo<br />

como demonstra em seus escritos clássicos no Breviário dos políticos<br />

quando revelava na segunda parte de Os homens em sociedade seu cálculo<br />

de maximização de poder pelo jogo diplomático:<br />

Se és ministro plenipotenciário e tens a missão de negociar com o chefe de uma potência<br />

inimiga, aceita seus presentes mas previne teu príncipe disso – caso contrário ele<br />

poderia suspeitar de que o trais. Em toda circunstância comparável, observa a mesma<br />

regra de conduta. Não envies em embaixada um homem que possa se revelar teu<br />

adversário ou pretender usurpar teu poder: ele agiria contra teus interesses.<br />

Subjacente ao ponto de inflexão e de união entre ambos –<br />

Richelieu e Mazarin – Gracián reforça o conteúdo de política triplamente<br />

qualificado: política como técnica, como arte e como instrumento. 15 O uso<br />

cauteloso deste delicado artifício de triplo desdobramento – adverte-nos<br />

Gracián – requer serenidade, sabedoria e habilidade para evitar as muitas<br />

armadilhas e encruzilhadas. 16 Neste ponto, há uma consonância entre os<br />

13 mAzARIN, Cardeal. Breviário dos políticos. 2ª. ed. São Paulo, Editora 34, 2000. p. 119.<br />

14 Outra marca maior da contradição fática do jogo político realista de Richelieu e mazarin foi o resultado (output) final<br />

de suas estratégias de articulação e manipulação fetichista do poder internacional. Neste caso, embora ambos sendo<br />

de forte formação e tradição religiosa, os mesmos contribuíram para o crescente processo de secularização da política<br />

internacional, separando as esferas do poder temporal e do poder espiritual na configuração do Estado moderno.<br />

15 A mesma lógica de qualificação tripla tmabém se aplica à diplomacia: diplomacia como arte, como técnica e como política.<br />

maiores detalhes sobre tais discussões encontram-se no Capítulo VII do livro (Praxeologia das <strong>Relações</strong> <strong>Internacionais</strong>).<br />

16 Quase quatro séculos separam os religiosos Gracián, Richelieu e mazarin das artimanhas da política internacional articulada<br />

e praticada nos primeiros momentos do século XXI. Os três religiosos representam mais que importantes testemunhos<br />

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