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Thales Castro - Teoria Das Relações Internacionais - funag

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INTRODuÇãO<br />

Na magnum opus de Gracián, há diretrizes de conduta que, muitas<br />

vezes, se contradizem, entretanto, no mosaico de sua obra, reforçam a<br />

tônica da sobrevivência em um mundo conflituoso. Ora, quer maior<br />

prova de tal ambivalência – muito cara e própria à compreensão crítica<br />

da política internacional 6 – do que os aforismos 68 (Fazer os outros<br />

entender) e 253 (Não se fazer entender facilmente)? Gracián com sua<br />

visão internacionalista chega ao ápice quando assevera no aforismo de<br />

número 71 (Não ser contraditório, nem por temperamento, nem por<br />

afetação): “O sábio é coerente em tudo o que diz respeito à perfeição, o<br />

que justifica sua fama. [...] No tocante à prudência, é feio variar.” Árdua<br />

– quase impossível – tarefa.<br />

A citação de Gracián, no início da introdução, revela a inspiração<br />

do livro: fornecer, de maneira mais ampliada, a tessitura de correntes<br />

clássicas e contemporâneas das RI, como ciência autônoma de raiz<br />

epistêmica política, bem como trazer novos debates atrelados a uma rede<br />

de compreensão do fenômeno internacional. Na verdade, Gracián incita à<br />

reflexão, de forma subliminar, sobre os muitos dilemas, as ambivalências e<br />

os paradoxos da vida internacional e não poderia ser de melhor inspiração<br />

para introdução destes escritos. 7<br />

Diante disso, estejamos, pois, confortáveis com as muitas antinomias<br />

fáticas das <strong>Relações</strong> <strong>Internacionais</strong> com suas ordens mundiais construídas<br />

por meio de lideranças hegemônicas atreladas aos respectivos capitais<br />

de força-poder-interesse (K FPI ), sendo os mesmos contrabalanceados<br />

pelos padrões de dissuasão-normas-valores (P DNV ) da vida internacional. 8<br />

Estejamos confortáveis, porém, não letárgicos nem tampouco acomodados<br />

com as necessidades urgentes de mudanças; estejamos confortáveis ab<br />

initio no concerto das nações, contudo, jamais sejamos passivos diante das<br />

muralhas de opressão e injustiças que se erguem na política internacional.<br />

Este não é um livro sobre uma teoria das relações internacionais prima<br />

facie. Seu título esconde um necessário manuseamento didático-pedagógico<br />

sobre a disciplina. <strong>Teoria</strong> das <strong>Relações</strong> <strong>Internacionais</strong> representa, na verdade, a<br />

6 O termo “política internacional” foi usado de maneira proposital em substituição ao termo sinônimo mais corrente nesta<br />

introdução <strong>Relações</strong> <strong>Internacionais</strong> – tanto como ciência, quanto como práxis – com propósito de revelar alguns dos<br />

pontos principais dos segmentos investigados logo no primeiro capítulo “Fenomenologia das <strong>Relações</strong> <strong>Internacionais</strong>”.<br />

7 No trecho do capítulo II, intitulado Da dialética da razão pura na determinação do conceito de sumo bem, da obra Crítica<br />

da razão pura de Kant, há uma relevante passagem sobre as antinomias (contradições) da razão prática. Parece-nos que<br />

as contradições (antinomias) representam conditio sine qua non, ou melhor, elemento inerente à natureza inexata das<br />

ciências humanas e sociais. Partindo, assim, da constatação fática dessa condicionante, as metáforas do leão e da raposa,<br />

aparentemente, complementares em maquiavel como objetivos últimos de maximização de poder, se repetem alegoricamente<br />

em várias outras obras dentro e fora da seara da política e das <strong>Relações</strong> <strong>Internacionais</strong>, como, por exemplo, no jusfilósofo<br />

alemão do final do século XIX Ihering, quando ressalta: “A espada sem a balança é a força brutal; a balança sem a espada<br />

é a impotência do direito.” IhERING, Rudolf von. A luta pelo direito. 13ª ed. Rio de Janeiro, Forense, 1994. p. 1<br />

8 O quadro 2, contendo ferramentas conceituais, explana sobre os capitais de força-poder-interesse, como tese, e os<br />

padrões de dissuasão-normas-valores, como antítese, gerando a síntese comportamental externa.<br />

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