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Mil Platôs. Vol 3

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Continuum de todas as substâncias em intensidades, mas também de todas<br />

as intensidades em substância. Continuum ininterrupto do CsO. O CsO,<br />

imanência, limite imanente. Os drogados, os masoquistas, os<br />

esquizofrênicos, os amantes, todos os CsO prestam homenagem a Espinosa.<br />

O CsO é o campo de imanência do desejo, o plano de consistência própria<br />

do desejo (ali onde o desejo se define como processo de produção, sem<br />

referência a qualquer instância exterior, falta que viria torná-lo oco, prazer<br />

que viria preenchê-lo).<br />

Cada vez que o desejo é traído, amaldiçoado, arrancado de seu campo<br />

de imanência, é porque há um padre por ali. O padre lançou a tríplice<br />

maldição sobre o desejo: a da lei negativa, a da regra extrínseca, a do ideal<br />

transcendente. Virando-se para o norte, o padre diz: Desejo é falta (como<br />

não seria ele carente daquilo que deseja?). O padre operava o primeiro<br />

sacrifício, denominado castração, e todos os homens e mulheres do norte<br />

vinham enfileirar-se atrás dele, gritando em cadência: "falta, falta, é a lei<br />

comum". Depois, voltado para o sul, o padre relacionou o desejo ao prazer.<br />

Porque existem padres hedonistas, inclusive orgásticos. O desejo aliviar-seá<br />

no prazer, e não somente o prazer obtido para calar um momento o<br />

desejo, mas obtê-lo já é uma maneira de interrompê-lo, de descarregá-lo no<br />

próprio instante e de descarregar-se dele. O prazer-descarga: o padre opera<br />

o segundo sacrifício denominado masturbação. Depois, voltado para o<br />

leste, ele grita: O gozo é impossível, mas o impossível gozo está inscrito no<br />

desejo. Porque assim é o Ideal, em sua própria impossibilidade, "falta-degozo<br />

que é a vida". O padre operava o terceiro sacrifício, fantasma ou mil e<br />

uma noites, cento e vinte dias, enquanto os homens do leste cantavam: sim,<br />

nós seremos vosso fantasma, vosso ideal e vossa impossibilidade, os vossos<br />

e os nossos também. O padre não se havia voltado para o oeste, porque<br />

sabia que esta direção estava preenchida por um plano de consistência, mas<br />

acreditava que ela estava bloqueada pelas colunas de Hércules, sem saída,<br />

não habitada pelos homens. No entanto era ali que o desejo<br />

estava escondido, o oeste era o mais curto caminho que levava ao leste,<br />

e às outras direções redescobertas ou desterritorializadas.<br />

A figura mais recente do padre é o psicanalista com seus três<br />

princípios: Prazer, Morte e Realidade. Sem dúvida, a psicanálise mostrou<br />

que o desejo não se submetia à procriação nem mesmo à genitalidade. Foi<br />

este o seu modernismo. Mas ela conservava o essencial, encontrando<br />

inclusive novos meios para inscrever no desejo a lei negativa da falta, a<br />

regra exterior do prazer, o ideal transcendente do fantasma. Por exemplo, a<br />

interpretação do masoquismo: quando não é invocada a ridícula pulsão de

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