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Mil Platôs. Vol 3

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mais rápido pode já convergir para ele, se conectar com ele, no<br />

desequilíbrio de um desenvolvimento dissincrônico de estratos entretanto<br />

simultâneos, de velocidades diferentes, sem sucessão de estágios. O corpo<br />

não é questão de objetos parciais, mas de velocidades diferenciais. Esses<br />

movimentos são movimentos de desterritorialização. São eles que "dão" ao<br />

corpo um organismo, animal ou humano. Por exemplo, a mão apreensora<br />

implica uma desterritorialização relativa não apenas da pata anterior, mas<br />

da mão locomotora. Ela mesma possui um correlato, que é o objeto de uso<br />

ou ferramenta: o bastão como galho desterritorializado. O seio da mulher<br />

em postura vertical indica uma desterritorialização da glândula mamaria<br />

animal; a boca da criança, dotada de lábios por arregaçamento da mucosa<br />

para o exterior, marca uma desterritorialização da goela ou da boca<br />

animais. E lábios-seios, cada um serve de correlato ao outro 5 .<br />

5 Klaatsch, "L'évolution du genre humain", in L’Univers et l’humanité, por Kreomer, t.<br />

II: "É em vão que tentamos encontrar um traço de contorno vermelho dos lábios nos jovens<br />

chimpanzés vivos que, no mais, assemelham-se tanto ao homem. (...) Como seria o rosto<br />

mais gracioso de uma jovem se a boca aparecesse como uma risca entre duas bordas<br />

brancas? (...) Por outro lado, a região peitoral no antropóide apresenta os dois mamilos das<br />

glândulas mamárias, mas jamais se formam aí as bolsas de gordura comparáveis aos seios".<br />

E a fórmula de Emile Devaux, L'espèce, 1'instinct, 1'homme, ed. Le François, p. 264: "Foi a<br />

criança que fez o seio da mulher e foi a mãe que fez os lábios da criança".<br />

A cabeça humana implica uma desterritorialização em relação ao<br />

animal, ao mesmo tempo em que tem por correlato a organização de um<br />

mundo como meio ele mesmo desterritorializado (a estepe é o primeiro<br />

"mundo" em oposição ao meio florestal). Mas o rosto representa, por sua<br />

vez, uma desterritorialização muito mais intensa, mesmo que mais lenta.<br />

Poder-se-ia dizer que é uma desterritorialização absoluta: deixa de ser<br />

relativa, porque faz sair a cabeça do estrato de organismo — humano não<br />

menos que animal — para conectá-la a outros estratos como os de<br />

significância ou de subjetivação. Ora, o rosto possui um correlato de uma<br />

grande importância, a paisagem, que não é somente um meio mas um<br />

mundo desterritorializado. Múltiplas são as correlações rosto-paisagem,<br />

nesse nível "superior". A educação cristã exerce ao mesmo tempo o<br />

controle espiritual da rostidade e da paisageidade: componham tanto uns<br />

como os outros, coloram-nos, completem-nos, arrangem-nos, em uma<br />

complementaridade em que paisagens e rostos se repercurtem 6 .<br />

6 Os exercícios de rosto desempenham um papel essencial nos princípios pedagógicos<br />

de J.-B. de la Salle. Mas já Inácio de Loyola havia acrescentado a seu ensino exercícios de<br />

paisagem ou "composições de lugar", referentes à vida de Cristo, ao inferno, ao mundo, etc:<br />

trata-se, como diz Barthes, de imagens esqueléticas subordinadas a uma linguagem, mas<br />

também de esquemas ativos a serem completados, coloridos, tais como serão encontrados

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