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Mil Platôs. Vol 3

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sociais? Determinadas formações sociais têm necessidade de rosto, e<br />

também de paisagem 11 . É toda uma história. Produziu-se, em datas bastante<br />

diversas, um desmoronamento generalizado de todas as semióticas<br />

primitivas, polívocas, heterogêneas, jogando com substâncias e formas de<br />

expressão bastante diversas, em proveito de uma semiótica de significância<br />

e de subjetivação. Quaisquer que sejam as diferenças entre a significância e<br />

a subjetivação, qualquer que seja a prevalência de uma ou da outra nesse ou<br />

naquele caso, quaisquer que sejam as figuras variáveis de sua mixagem de<br />

fato, elas têm em comum exatamente o fato de esmagar qualquer<br />

polivocidade, de erigir a linguagem em forma de expressão exclusiva, de<br />

proceder por biunivocização significante e por binarização subjetiva. A<br />

sobrelinearidade própria à linguagem deixa de ser coordenada por figuras<br />

multidimensionais: ela aplaina agora todos os volumes, subordina todas as<br />

linhas. Será um acaso o fato de a lingüística encontrar sempre, e muito<br />

rapidamente, o problema da homonímia ou dos enunciados ambíguos de<br />

que tratará por um conjunto de reduções binárias? Mais geralmente,<br />

nenhuma polivocidade, nenhum traço de rizoma podem ser suportados:<br />

uma criança que corre, que brinca, que dança, que desenha não pode<br />

concentrar sua atenção na linguagem e na escrita, ela tampouco será um<br />

bom sujeito. Em suma, a nova semiótica tem necessidade de destruir<br />

sistematicamente toda a multiplicidade de semióticas primitivas, mesmo se<br />

mantém resíduos destas em redutos bem determinados.<br />

11 Maurice Ronai mostra como a paisagem, tanto em sua realidade quanto em sua<br />

noção, remete a uma semiótica e a aparelhos de poder muito particulares: a geografia<br />

encontra aí uma de suas fontes, mas também um princípio de sua dependência política (a<br />

paisagem como "rosto da pátria ou da nação"). Cf. "Paysages", in Herodote n" 1, janeiro<br />

1976.<br />

Entretanto, não são as semióticas que guerreiam entre si, apenas com<br />

suas armas. São agenciamentos de poder bastante particulares que impõem<br />

a significância e a subjetivação como sua forma de expressão determinada,<br />

em pressuposição recíproca com novos conteúdos: não há significância sem<br />

um agenciamento despótico, não há subjetivação sem um agenciamento<br />

autoritário, não há mixagem dos dois sem agenciamentos de poder que<br />

agem precisamente por significantes, e se exercem sobre almas ou sujeitos.<br />

Ora, são esses agenciamentos de poder, essas formações despóticas ou<br />

autoritárias, que dão à nova semiótica os meios de seu imperialismo, isto é,<br />

ao mesmo tempo os meios de esmagar os outros e de se proteger de<br />

qualquer ameaça vinda de fora. Trata-se de uma abolição organizada do<br />

corpo e das coordenadas corporais pelas quais passavam as semióticas

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