26.04.2013 Views

D FATO quatro.cdr - Associação do Ministério Público de Pernambuco

D FATO quatro.cdr - Associação do Ministério Público de Pernambuco

D FATO quatro.cdr - Associação do Ministério Público de Pernambuco

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Artigo<br />

A pessoa jurídica como<br />

autora <strong>de</strong> crimes<br />

* Miguel Sales<br />

Em <strong>do</strong>is momentos, a<br />

Constituição <strong>de</strong> 1988, rompen<strong>do</strong><br />

com a tradição da <strong>do</strong>utrina<br />

penal, consi<strong>de</strong>ra a pessoa<br />

jurídica, sem distinguir se<br />

pública ou privada, como ente<br />

capaz <strong>de</strong> cometer crime.<br />

A primeira previsão está situada no<br />

capítulo que trata <strong>do</strong>s princípios gerais<br />

da ativida<strong>de</strong> econômica; a segunda, no<br />

que disciplina o meio ambiente. Quer<br />

dizer, no concernente às relações<br />

econômicas ou<br />

<strong>de</strong> natureza<br />

ambiental a Lei<br />

Maior enten<strong>de</strong>u<br />

que po<strong>de</strong> haver<br />

conduta da<br />

pessoa jurídica a<br />

se tipificar como<br />

crime.<br />

Na primeira<br />

situação, diz a<br />

Constituição: “A<br />

lei, sem prejuízo<br />

da<br />

responsabilida<strong>de</strong><br />

individual <strong>do</strong>s<br />

dirigentes da<br />

pessoa jurídica,<br />

estabelecerá a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta,<br />

sujeitan<strong>do</strong>-a às punições compatíveis<br />

com a sua natureza nos atos pratica<strong>do</strong>s<br />

contra a or<strong>de</strong>m econômica e financeira<br />

e contra a economia popular.” (art. 173,<br />

§ 5º). Por sua vez, na outra hipótese,<br />

preceitua: “as condutas e ativida<strong>de</strong>s<br />

consi<strong>de</strong>radas lesivas ao meio ambiente<br />

sujeitarão os infratores, pessoas físicas<br />

ou jurídicas, a sanções penais e<br />

administrativas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da<br />

obrigação <strong>de</strong> reparar os danos<br />

36<br />

causa<strong>do</strong>s.” (art. 225, § 3º).<br />

Historicamente, o princípio<br />

Societas <strong>de</strong>linquire non potest,<br />

que<br />

ainda é a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> no or<strong>de</strong>namento<br />

jurídico da maioria das nações, foi<br />

quebra<strong>do</strong> após o fim da II Guerra<br />

Mundial, quan<strong>do</strong> o Tribunal Militar<br />

<strong>de</strong> Nuremberg admitiu a<br />

responsabilida<strong>de</strong> criminal <strong>de</strong><br />

corporações ou agrupamentos<br />

nazistas, como, por exemplo, a<br />

Gestapo, ao con<strong>de</strong>ná-la pelos<br />

...Em resumo, a legislação brasileira e <strong>de</strong> alguns países<br />

europeus, para certas situações, vêm incorporan<strong>do</strong> ao direito<br />

penal, em contraponto à velha teoria da culpabilida<strong>de</strong><br />

pessoal, a responsabilida<strong>de</strong> penal da pessoa jurídica, mesmo<br />

que agregada ao po<strong>de</strong>r público...<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> guerra contra<br />

a humanida<strong>de</strong>.<br />

O Brasil, ao la<strong>do</strong> da França,<br />

Portugal e Espanha, foram pioneiros<br />

em admitir a responsabilida<strong>de</strong> penal<br />

da pessoa jurídica. Pelo Código Penal<br />

Francês <strong>de</strong> 1994, que substituiu o<br />

ultrapassa<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1810, à exceção <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>, o ente jurídico respon<strong>de</strong><br />

penalmente por vários tipos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>litos. Os Códigos Penais <strong>de</strong><br />

Portugal, reforma<strong>do</strong> em 1995, e o da<br />

Espanha, revisto em 1996, embora<br />

prevejam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cometimentos <strong>de</strong> crimes pela pessoa<br />

jurídica <strong>de</strong> direito priva<strong>do</strong>, não<br />

apresentam em seus textos disposições<br />

objetivas a respeito <strong>do</strong>s tipos penais a<br />

ela atribuí<strong>do</strong>s.<br />

Mesmo antes da Constituição <strong>de</strong><br />

1988, na legislação brasileira, mas não<br />

no Código Penal, há, em diversas<br />

passagens, a<br />

referência ao<br />

cometimento <strong>de</strong><br />

crime pela pessoa<br />

jurídica,<br />

notadamente se<br />

essa for <strong>de</strong> direito<br />

priva<strong>do</strong>. A<br />

propósito, leia-se o<br />

conti<strong>do</strong> no art. 1º<br />

da Lei 7.492/86, o<br />

art. 14 c/c o<br />

parágrafo único <strong>do</strong><br />

art. 18 da Lei<br />

6.938/81, to<strong>do</strong>s<br />

recepciona<strong>do</strong>s pela<br />

nova Carta Magna,<br />

e após a edição<br />

<strong>de</strong>sta, têm-se,<br />

agora, as disposições contidas nos arts.<br />

1º, 2º e 4º da Lei 8.137/90, no art. 15<br />

da Lei 8.884/94 e, <strong>de</strong> forma mais clara<br />

e ampla, o que estabelece o art. 3º da<br />

9.605/98 - a Lei <strong>de</strong> Crimes Ambientais<br />

-, ao prescrever que "As pessoas<br />

jurídicas serão responsabilizadas<br />

administrativa, civil e penalmente,<br />

conforme o disposto nesta Lei, nos<br />

casos em que a infração seja cometida<br />

por <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> seu representante legal<br />

ou contratual, ou <strong>de</strong> seu órgão

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!