ENTREVISTA Alberto Silva Franco e Dyrceu Aguiar Dias Cintra Jr ...
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entrevista<br />
expediente sumário editorial entrevista artigos reflexão do história resenhas<br />
estudante<br />
“Vossa Excelência, se eu fosse você eu pediria adiamento do<br />
julgamento e tal”. E eu falava: “Não. O que me chamou a<br />
atenção nesse processo é que a condenação vem porque a prova<br />
de inquérito é muito importante, porque ele estava assistido do<br />
seu advogado e que prestando depoimento, disse que não houve<br />
nenhuma violência policial. Portanto, eu anulo o processo<br />
a partir daí, por que se não houvesse advogado ele poderia<br />
invocar a violência, como os outros invocaram”. E o réu saiu<br />
menos prejudicado. Teve um sujeito lá que ficou bravo.<br />
D.A.D.C.J.<br />
– Havia mais de um réu no processo, é isso?<br />
Ranulfo<br />
– É, isso. Eu sei que esse meu voto chocou, porque ele<br />
chamou a atenção de todos. Eu falei: “Eu não só voto contra,<br />
mas anulo o processo. Porque a partir da nomeação do defensor<br />
que se descuidou, ele sofreu todo o prejuízo do processo”. Teve<br />
uma vez que ele ficou bravo comigo porque eu tinha feito outra<br />
dessas coisas. Ele era parente de um bispo também, parece.<br />
A.S.F.<br />
– Ranulfo, eu gostaria de dizer exatamente isso. A sensibilidade<br />
do Ranulfo era de tal ordem que quando havia o voto vencido<br />
dele, a gente percebia que alguma coisa tinha acontecido.<br />
Embora o voto vencido dele fosse curto, pequeno, aquilo já era<br />
suficiente para a chance a embargos. E a sensibilidade dele era<br />
incomum, para o que era justo e para o que era injusto.<br />
Ranulfo<br />
– Eu quero contar sobre isso. Eu, às vezes, virava para o<br />
<strong>Alberto</strong> assim: “Você tem algum italiano que cuida da matéria?”<br />
O sujeito queria me cobrar os argumentos que eu não tinha.<br />
D.A.D.C.J.<br />
– Resolvia na hora de redigir o acórdão?<br />
Ranulfo<br />
– E uma vez o <strong>Alberto</strong> e o Adauto – eu não sei se foi o<br />
<strong>Alberto</strong> em primeiro ou o Adauto em segundo – cada um pediu<br />
o processo e cada um teve um voto também divergente. E uma<br />
vez, eu fui “cantado” por causa do Maluf, acho que foi o Maluf.<br />
Revista Liberdades - nº 11 - setembro/dezembro de 2012 I Publicação Oficial do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais<br />
A.S.F.<br />
– Mas você já era o Presidente? Do TACrim?<br />
Ranulfo<br />
– É, já era. Mas o advogado era muito simpático. Ele<br />
queria que eu desse uma “cantada” no <strong>Alberto</strong> e no Adauto.<br />
Aí eu falei assim: “Mas isso não tem jeito, vamos torcer por<br />
um bom resultado etc. E quem sabe, não é?. Eles são grandes<br />
magistrados e tal, são pessoas exemplares, mas o meu réu é um<br />
homem inocente, mas também é um homem preocupado com<br />
seu nome”. Acho que era o Maluf até, acho que era o Maluf.<br />
Veio o voto do <strong>Alberto</strong>, e eu acho que anulava, e veio o voto do<br />
outro que desclassificava. E ele mais tarde me procurou e disse:<br />
“Nessa terra é como se diz, a justiça é benigna”.