Eu e o Mundo - Feevale

“Bem, eu espero realmente mudar isso.” E piscou para mim. O problema
é que, mesmo sendo morena e tendo os olhos castanhos, eu sempre tive a
facilidade de uma ruiva para corar, e, infelizmente, minhas bochechas me
traíram naquele momento, ficando claramente rosadas.
Era difícil dizer o porquê ou como, mas naquela mesma tarde, eu já
percebera que eu corria um sério risco de jamais conseguir esquecê-lo. Algo
dentro de mim ainda gritava ‘perigo!’ toda a vez que ele se aproximava,
mas, com o tempo, eu fui me acostumando a ignorar esse pensamento. Ele
era gentil, carinhoso. Ele me abraçou quando eu disse que estava com frio e
segurou a minha mão quando eu me assustei; no momento em que sua pele
encontrou a minha, eu percebi que aquela era apenas a primeira das muitas
tardes que passaríamos juntos.
Eu estava certa.
O tempo foi passando, um, dois, três meses e nós continuávamos
grudados, como se fosse a primeira tarde. O sentimento não diminuíra, pelo
contrário, ele só tendia a aumentar. Durante três meses, eu acordava com o
som da sua voz; durante três meses, eu dormia com ele em meu pensamento.
Se fosse listar todas as coisas que ele me dizia, talvez eu passasse o dia inteiro
falando e falando, pois eu ainda me lembro de todas. Ele foi o único sincero
comigo, pois dizia o que sentia. Dava para ver nos olhos dele o quanto se
sentia culpado quando tinha que mentir. Eu amava isso nele, eu amava o jeito
como ele me tratava.
Por um tempo, eu também pensei que nós estaríamos juntos para sempre,
que estaríamos sentados lado a lado, frente a esse lago, de mãos dadas,
como se o tempo tivesse parado naquela tarde de janeiro. Mas a vida não é
como nós gostaríamos que fosse, e, às vezes, o destino nos prega peças.
Começou de repente, e, às vezes, ainda me sinto culpada por não ter
notado antes, mas acho que estava tão envolvida com meus sentimentos,
que não notei que, para ele, as coisas haviam mudado. Não era sempre,
normalmente ele ainda era o mesmo garoto que eu havia conhecido, mas,
com o tempo, a variação de humor se tornou frequente, e a cada dia ia
piorando. Ele já não ria, irritava-se facilmente. Por um tempo, eu achei que
isso iria passar logo, que apenas estava passando por uma fase ruim e seria
injusto acabar com ele por isso. Além de tudo, eu o amava o suficiente para
saber que, mesmo se eu quisesse, eu não conseguiria ir embora.
41