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de Deus", não é tijolo nem cimento. Enquanto no judaísmo o templo foi o lugar de reunião consagrado, no<br />
cristianismo é a comunidade de crentes que constitui o templo.<br />
A localização espacial da reunião cristã primitiva ia diretamente contra os costumes religiosos do primeiro<br />
século. Os judeus tinham designado edifícios para sua adoração corporativa (sinagogas), assim como os pagãos<br />
faziam (santuários). Assim, tanto o judaísmo como o paganismo ensinam que deve haver um lugar consagrado para a<br />
adoração divina. Mas não é assim com o cristianismo. No primeiro século, a igreja primitiva era o único grupo<br />
religioso que se reunia exclusivamente em lares. Embora teria sido muito natural se eles seguissem sua herança judia<br />
e erigissem edifícios que fossem apropriados para suas necessidades, eles se abstiveram de fazer isso. Quiçá os<br />
crentes primitivos conheciam a confusão que os edifícios consagrados teriam de produzir, e portanto, abstinham-se<br />
de erigí-los para preservar a afirmação de que o povo constituía as pedras vivas que formam a habitação de Deus.<br />
Conclusão<br />
O que dissemos até aqui pode ser reduzido a esta simples mas profunda observação: a localização social da<br />
reunião eclesial expressa o caráter da igreja e, ao mesmo tempo, exerce influência sobre ela. Portanto, a<br />
localização espacial da igreja tem um significado teológico. No típico ‘santuário’ ou ‘capela’, o púlpito, os bancos<br />
(ou assentos) e o espaço condensado respiram um ar formal que inibe a interação e a afinidade. Por contraste, as<br />
características peculiares de um lar —a baixa quantidade de cadeiras para sentar-se, a atmosfera casual, o ambiente<br />
de convivência para alimentos compartilhados, o espaço personalizado de sofás macios, etc.— contêm um subtexto<br />
relacional que beneficia o ministério mútuo.<br />
Expresso em forma simples, a igreja primitiva se reunia nas casas de seus membros por razões<br />
espiritualmente viáveis. E a moderna igreja basílica agride essas razões. Com respeito a estas características da<br />
reunião eclesial caseira, Howard Snyder observa sagazmente:<br />
Provavelmente as igrejas caseiras foram a forma mais comum de organização social cristã de toda a<br />
história da igreja... Independente do que pudéssemos pensar , se simplesmente olharmos ao redor de nós aqui,<br />
veremos centenas de milhares de igrejas caseiras cristãs existentes hoje na América do Norte, América do Sul,<br />
Europa, China, Austrália, Europa Oriental, e em muitos outros lugares ao redor do mundo. Em certo sentido, são<br />
uma igreja subterrânea, e como tal, representam uma corrente oculta da história da igreja. Mas mesmo sendo<br />
oculta, e na maior parte dos lugares não sendo a forma culturalmente dominante, provavelmente estas igrejas<br />
caseiras representem o maior número de cristãos em todo mundo ... O Novo Testamento nos ensina que a igreja é<br />
uma comunidade em que todos têm dons e todos têm um ministério. Como o ensinam as Escrituras, a igreja é uma<br />
nova realidade social que modela e encarna o respeito e a solicitação pela pessoa que vemos no próprio Jesus. Este<br />
é nosso elevado apelo. E no entanto, com freqüência, a igreja, de fato, trai este apelo. As igrejas caseiras constituem<br />
uma parte importante para escapar desta traição e deste paradoxo. Uma comunidade que está em contato direto uns<br />
com outros, engendra mútuo respeito, responsabilidade mútua, submissão mútua e ministério mútuo. A sociologia<br />
da igreja caseira fomenta um sentido de igualdade e de mútua dignidade, ainda que a mesma não a garanta, como<br />
mostra a igreja de Corinto... No modelo da igreja caseira, a igualdade e o ministério mútuo não são resultado de<br />
algum programa nem de um processo educacional; são inerentes à própria forma da igreja. Porque na igreja<br />
caseira todos são apreciados e conhecidos —todos têm um lugar por definição. A igreja caseira proporciona um<br />
ambiente de solicitação e estímulo mútuos que tende a fomentar uma ampla gama de dons e ministérios. Os<br />
princípios neotestamentários do sacerdócio dos crentes, dos dons do Espírito e do ministério mútuo se acham mais<br />
naturalmente neste contexto informal... As igrejas caseiras são revolucionárias porque encarnam este ensino radical<br />
de que todos têm dons e todos são ministros. Oferecem alguma esperança de sanar o Corpo do Ungido de algumas<br />
de suas piores heresias: de que alguns crentes são mais valiosos do que outros, de que apenas alguns cristãos são<br />
ministros e de que os dons do Espírito já não funcionam em nossa era. Estas heresias não podem ser sanadas<br />
apenas na teoria ou na teologia. Devem ser sanadas na prática, na relação e na forma social da igreja. (Tomado de<br />
uma dissertação titulada "Why House Churches Today? /Para que igrejas caseiras hoje?/", apresentada no<br />
Seminário Teológico Fuller em 24 de fevereiro de 1996. Usado com licença do autor.)<br />
Enquanto o lugar de reunião normativo para a igreja neotestamentária era claramente o lar, isto não sugere<br />
que nunca é apropriado que uma igreja se reúna num local que não seja um lar. Em ocasiões especiais, quando era<br />
necessário que "toda a igreja" se reunisse, a igreja de Jerusalém se reunia em predios extensos como os átrios abertos<br />
do templo e o pórtico de Salomão (Atos 2:46a; 5:12). Mas semelhantes reuniões de grupos numerosos não<br />
rivalizavam com a localização normativa da reunião eclesial regular, que era a casa (Atos 2:46b). Nem também<br />
representam um precedente bíblico para que os cristãos erigissem seus próprios edifícios. (Os predios do templo e o<br />
pórtico de Salomão eram lugares públicos, ao ar livre, que já existiam antes que aparecessem os primeiros cristãos).<br />
Esses recintos para grupos grandes simplesmente acomodavam "toda a igreja" quando era necessário<br />
congregá-la para um propósito em particular Nos primeiros dias da existência da igreja, os apóstolos os usavam para<br />
ter reuniões de ensino especiais para o vasto número de crentes e inconversos em Jerusalém (Atos 3:11-26; 5:20, 21,<br />
25,42). (Aqueles casos onde vemos apóstolos indo até à sinagoga, não devem ser confundidos com reuniões da<br />
igreja. Tratava-se de reuniões evangelísticas destinadas a pregar o evangelho aos judeus inconversos. Enquanto a<br />
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